Um blog que trata de tantos assuntos, não pode ser definido em uma linha…
Autor: Rodrigo30Horas
Com 30 e tantos anos de Pindorama - e, para os mais moderninhos, Ilha de Vera Cruz - Rodrigo é apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior (Guarulhos-SP) ...
Com total compromisso com a clareza e transparência, é preciso que você, meu/minha caro(a) leitor(a), saiba:
Eu sou um Zé Ninguém. Como formações acadêmicas, sou formado em T.I. e Direito, mas quem não é, não é mesmo? Quando falo de medicina, não sou médico, de economia, não sou economista. Você tem de se lembrar disso o tempo todo.
Por uma questão de clareza e separação de papéis, preciso que você saiba que eu trabalho na Microsoft. Minha empregadora e meus superiores não têm conhecimento do conteúdo que veiculo por aqui e nunca me pediram ou me autorizaram para escrever nada, pró ou contra qualquer coisa.
"O trabalho mais importante e mais difícil não é encontrar a resposta correta, mas fazer a pergunta certa."
- Peter Drucker
Está em vigor, desde já, o novo procedimento de inspeção da ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil).
O que isso significa?
Bem, eu sempre me programava para chegar 1h, antes do meu vôo doméstico. Isso não vai funcionar mais.
Eu gastei 30 minutos a mais, só para passar pela inspeção (raio-x, revista e verificação), em um vôo e horário vazio, com baixo volume de passageiros no aeroporto.
Em horários de pico, os passageiros estão levando até 2h só para passar da entrada do aeroporto, até os gates de onde partem os vôos.
O novo procedimento inclui o tradicional raio-x da bagagem de mão, revista corporal “frente e verso”, inspeção minuciosa de todos os compartimentos das malas e mochilas levadas à bordo (eles estão abrindo todas, sem amostragem), e separação do notebook, da bagagem principal.
A operação será mantida ao longo de toda a duração dos Jogos Olímpicos e Para-Olímpicos do Rio de Janeiro.
O motivo do novo procedimento é o alto nível de ameaça terrorista ao país, por conta dos jogos.
Foto de Andréa Farias / Agência O Dia / Rio de Janeiro
Bar·bá·ri·e sf
1 Multidão de bárbaros.
2 Ação própria de bárbaros; atrocidade, barbarismo, crueldade..
3 Hábito de bárbaros.
4 Falta de civilização; atraso, barbarismo, grosseria, selvageria.
– Michaelis Online
Bem, não é preciso ser genial para perceber: O Brasil é um lugar muito inseguro.
“Uau! Parem as prensas! Já foi muita revelação para o meu fraco coração…”. ¬¬
Bem, eu acho que preciso ser mais enfático, mesmo: O Brasil é um lugar muito inseguro, comparado à países em guerra… Acho que melhorou, (a compreensão da desgraça) né?
Segundo o Atlas (também conhecido como “Mapa”) da Violência de 2016 (curiosamente, você não vai achar o estudo no site do IPEA [o link está “quebrado”, às vésperas das Olimpíadas, mas, isso pode ser só mais uma teoria conspiratória infundada, da minha parte], contudo, ele foi encontrado aqui: http://infogbucket.s3.amazonaws.com/arquivos/2016/03/22/atlas_da_violencia_2016.pdf), o Brasil perde 59 mil e 500 indivíduos para a violência, todos os anos, com base no ano de 2014. Não há – ainda – consolidação dos dados para 2015 e 2016, o que é esperado para um estudo de consolidação estatística, feito por um órgão público.
Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica e MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM
Em termos de taxa média, são 29,1 mortos para cada grupo de 100 mil habitantes, e isso é relativamenteimportante para não tornar o número, puro golpe midiático.
Explico-me: Se você mora em um país com 324 milhões de compatriotas (demografia dos EUA), a morte de 2.6 milhões de indivíduos por ano é absolutamente regular (dados, também, de 2014). Se seu país tem menos de 2 milhões de habitantes (como na Irlanda do Norte), por outro lado, 500 mil mortos anuais são 25% de toda a população – e seu país vai falir, ou ficar vazio (não necessariamente nessa ordem), em pouco tempo.
A taxa média nos ajuda a comparar laranjas com laranjas, e bananas com bananas, portanto.
Então, para te fazer perceber a estupidez do nosso número, aqui vai um TOP-5 macabro: Países com conflitos deflagrados (em guerra), os mortos em 2015, e a taxa para cada 100 mil habitantes.
País – População – Mortos em 2015 – Mortos/100 mil habitantes
Afeganistão (desde 1978, em guerra) – 35.6 milhões – 36.345 – 102,09
Iraque (desde 2003) – 37.1 milhões – 21.433 – 57,77
Somália (em guerra civil, enfrentando insurgentes e engolfando até o Quênia, desde 1991) – 55.9 milhões* – 4.365 – 7,81 *Somália e Quênia somados, já que os mortos estão em todos os lados.
África (continente enfrenta o Boko Haram desde 2009) – 235.6* – 11.651 – 4.95 *Nigéria + Camarões + Níger + Chade somados: Todos sob ataque dos insurgentes.
Então, comparando a taxa nacional de mortes violentas para cada 100 mil habitantes, compensa continuar enfrentando o Boko Haram, ou morrendo de fome e na facada na calamitosa Somália. Você está mais seguro lá, do que aqui.
Em números absolutos, isso fica ainda pior. Nós matamos, violentamente, 59.5 mil brasileiros/ano. Isso é 7.7% acima do país com a guerra mais violenta no momento; a Síria. Portanto, matamos uma Síria por ano, mais 8% arredondados. Compensa, pelos 8% a menos de risco, ficar por lá.
E só ficamos “bem na foto” (se é que se pode dizer isto), pela média nacional… Se olharmos a taxa de mortos/100 mil habitantes nordestina, compensa (no, primeiro caso, por MUITO) ficar até mesmo no Iraque:
Alagoas: 63/100 mil;
Ceará: 52,2/100 mil;
Sergipe: 49.4/100 mil.
“Legal, estou convencido: Somos um país muito violento. Mas, o que tem de novo?”
Esse é, sem sombra de dúvidas, o maior problema:Não há nada de novo.
Sequer nos chocamos. Sequer nos apavoramos. Somos, enquanto sociedade, cidadãos, pais, irmãos, amigos, colegas; entorpecidos, anestesiados para “a Síria que morre” violentamente por ano, em nossa pátria. Melhor não citar “a outra Síria”, morta no trânsito brasileiro, anualmente, também.
A guerra do Vietnã durou 12 anos para os EUA (que entrou em 1963), e matou pouco mais de 58 mil norte-americanos. E o choque social dessas 58 mil mortes, ao longo de mais de uma década, pode ser sentido em movimentos sociais e frentes nacionais contemporâneos, ferrenhos em criticar a política externa norte-americana atual; horror e revolta provocada e mantida pela morte de militares, ao longo de uma Guerra de 12 anos e que já completou 36 anos de fracasso.
12 anos de combate. 58 mil militares mortos.
Matamos mais que isso por ano (crianças, mulheres, jovens e, não só militares [não que a vida de alguém valha menos, em função de sua profissão, claro]), sem remorso, sem susto, sem piedade, sem horror; conformados, calados, resolutos, resignados, apáticos… Nada mais nos comove, enquanto nação, enquanto sociedade civil; sociedade civil que é parte tanto da solução, quanto do problema.
Matamos sistematicamente, no que parece um macabro compromisso com a sustentação desses números, ano após ano, como se fosse um record a ser mantido e superado. Nosso maior desafio anual. Sabe como é: Com a gente, o negócio é deixar a meta aberta e dobrar!
Mas, “tristemente”, temos um desafiante nos destronando, e é hora de matar mais, porque o brasileiro não desiste nunca!
No momento, lamentavelmente, a coroa é da Venezuela com 90 mortos por 100 mil habitantes/ano. Oficialmente, o país que não está – declaradamente, ao menos – em guerra, mais violento do mundo.
Um tema pra lá de comum, quando esses números aparecem é:
“Ah, mas, no Brasil, a polícia mata demais! Quem mais morre são os negros, os pobres, os desassistidos e marginalizados!”.
Foto: André Gustavo Stumpf – PM-DF
O mote, acima, tem uma porção de informações comprováveis, e outra porção de mitos, desinformação, e intenções questionáveis. Já adianto…
Verdade é que de 2013 para 2014, a letalidade policial subiu 37,2%.
Estima-se que ~3 mil pessoas foram mortas pelas forças policiais em 2014. Isso representa, no entanto 5% do total de mortes registradas no período. Embora pudesse ser perto de 0% e, embora possamos aceitar uma conspiração no sentido de que esse número está sub-notificado (aceitemos 10%, então, para a alegria dos opositores ao trabalho policial brasileiro; não obstante os dados de SP, RJ, sejam considerados realistas até por entidades ligadas à bandeiras típicas dos Direitos Humanos), ainda há que se falar em 90% dos 53 mil mortos, que não vêm da prática ruim do policiamento.
Mais: Para cada 4 pessoas mortas em confrontos com a Polícia, um policial morreu. A população do Estado de São Paulo? 43 milhões (segundo o SEADE). E a população da Polícia Paulista (PM, Civil, Cientifica)? 138 mil. Faça as contas da taxa por 100 mil, você mesmo, e diga-me quem deveria estar mais aterrorizado.
Também é verdade que jovens negros têm muito mais chances de morrer do que jovens de outras etnias (147% a mais, segundo o Atlas/2014). Mesmo considerando que mais da metade da nossa população é de negros e pardos (51%, segundo o Censo 2010), 147% a mais de chances, não é um número relativizável.
No entanto, o que se ignora é que educação é um fator preponderante de exposição à morte pelo crime. Grupos de jovens de 21 anos, de qualquer etnia e cor de pele, com menos de 7 anos de estudo formal, têm 16,9 vezes mais chances de morrer violentamente, do que aqueles que estudaram. Não é muito difícil supor, então, que há uma grande abstenção escolar (maior do que nas demais etnias), entre os grupos de etnias afro-descendentes.
E, oras: Se mais da metade da nossa população é de negros e pardos, e se a Polícia “só” tem autoria em 5% (convencionamos 10%, para agradar os que acham o número sub-notificado), então é bastante provável que negros e pardos estejam matando negros e pardos, ou, o número de Carecas do ABC seja estrondosamente maior do que apontam as autoridades.
Brincadeiras (de mal gosto, eu sei; como os números que ignoramos) à parte, a guerra entre gangues rivais não é ficção. É a realidade periférica da nação.
Pedro Paulo Soares Pereira, “vulgo” Mano Brown, vocalista dos Racionais MC’s, em uma entrevista ao “Roda Viva” da TV Cultura, em 2007, declarou que para ele, o Brasil convive com 3 grandes enfrentamentos:
Os ricos contra os pobres.
Os negros contra os negros.
Os brancos contra os negros.
Não obstante a minha discordância com os critérios dele para montar a lista, não posso negar que ele está muito mais envolvido com a conscientização do combate à violência, ao menos na periferia de São Paulo, do que eu estou. Deve, portanto, ter algum pesar em assumir essa consideração, tão triste para um líder (oficialmente ou não) do movimento de Consciência Negra.
Vou propor um rápido exercício: Só 5% dos 59 mil brasileiros morrem em confronto policial, então, pelo menos outros 50% têm que, seguindo a lógica, ser fruto do confronto entre os próprios criminosos. E outros 45%, imagino, entre criminosos e população. Não há, no estudo, números separados por “criminosos mortos” e “pais de família mortos”.
Toda essa divisão (exceto pelos 5% mortos pelas forças policiais), é arbitrária, claro.
Logo, tirando o que é morte por confronto com a polícia, não temos como saber quem morre mais: Cidadão por bandido, ou bandido por bandido.
Então, antes de mais nada, longe de ser “bonzinho e amável”, o brasileiro é um indivíduo violento, só pela simples reflexão dos números expostos, até o momento, e sem falar da violência estatal.
Para dar “mais alento” à todos nós, fica o “calmante” de que para toda a criminalidade registrada nas delegacias, não são apurados mais do que 8% dos crimes. Desses 8%, 2% são homicídios.
Eu vou diminuir – só um pouco – nossa vergonha, e não vou contabilizar o fato que juntando a estatística de mortos pela violência, e do mortos no transito brasileiro, matamos 2 guerras da Síria/ano.
Em resumo, sem falar de doenças, velhice, acidentes domésticos (todos estes, grandes ofensores da mortalidade nacional), só o crime e o trânsito superam os 100 mil mortos por ano, com facilidade e margem folgada.
A Segurança Pública como um “braço” da Segurança Nacional.
Foto: Wikipedia.org – Forças Especiais em revista, no 7 de Setembro.
O capítulo “Segurança Nacional”, no Brasil, é bem complicado, controverso e feito de avanços e atrasos mensuráveis em décadas, em atos sub-sequentes.
Por “Segurança Nacional” quero significar aquela que se faz para proteger a Nação de agressores externos e internos, quanto aos interesses do Estado que, por sua vez, representa a sociedade que o empodera, e os interesses desta última, deve defender.
“Segurança Nacional” ≠ “Segurança Pública”
A Segurança Pública, de acordo com a nossa Constituição (art. 144), é assunto destinado aos estados. Daqui, já desdobra-se um dos efeitos dos anos de Ditadura: A desconfiança dos estados, em relação a uma Federação (União) intervencionista, levou os constituintes a garantirem a autonomia estadual quanto ao assunto, no Pacto Federativo.
Portanto, a organização, investimento, e políticas públicas que pautam as polícias civis, militares e órgãos correlatos, é do Chefe do Executivo Estadual (Governador[a]). Já a Polícia Federal é de responsabilidade do Chefe do Executivo Federal (Presidente).
Assim, temos essas situações bizarras de um Estado informatizando suas delegacias e interligando sua polícias com GPS, sistemas de câmera e OCR de placas de carro e etc. (SP), e um Estado onde as novas turmas de Policiais Militares são dispensadas ao meio-dia, todos os dias, por falta de dinheiro para pagar o almoço dos alunos (RJ). No entanto, mesmo sem a carga horária esperada, pode apostar que estes últimos estarão nas ruas, sem nenhuma reposição da carga perdida.
É claro que, sob a lupa, nem SP, nem RJ, têm seriedade no investimento (não só de verba, mas de qualidade e planejamento) que fazem para a Segurança Pública. Mas, essa “liberdade administrativa” total, gerou um desequilíbrio difícil de transpor, aprofundado por anos, e que gera aquele triste mapa do começo desse artigo.
A Segurança Nacional, no entanto, é uma política muito mais abrangente, e essencialmente, mais militarizada.
Segurança Nacional que, aliás, inexiste em nossa lei Federal, e muito menos na Constituição.
Não vou contar a longa história (acreditem, é bem mais longa do que vou expor). Vamos ficar com a curta:
A idéia de “Segurança Nacional” aparece, no Brasil, no pós Segunda Guerra Mundial. Especialmente, os militares de carreira com grau de oficialato, foram mandados para os Estados Unidos da América que treinou e ensinou o conceito norte-americano nesse assunto.
É bom contextualizar que o pós WW-II, é o começo das tensões entre URSS e EUA, e isso leva às páginas da bem conhecida Guerra Fria. Assim, os EUA, abertamente, ajudaram países a “resistir” ao avanço comunista, e esse programa de treinamento de militares era uma das faces desse portfólio.
Dessa leva de militares de carreira, formados nos moldes das escolas dos EUA, nasce a ESG (Escola Superior de Guerra), instituída pela lei 785/49, e diretamente ligada ao Ministério da Defesa.
Não respondendo á nenhuma das 3 forças armadas, mas, formada por todas elas, a ESG tem a missão atual de prover Altos Estudos de Política, Estratégia e Defesa, sendo um órgão de puro desenvolvimento Acadêmico (inclusive para civis), e não tendo desenvolvimento de táticas e exercícios militares práticos em seu currículo. Puras estratégia, política, diplomacia, e inteligência compõem a grade dos cursos.
A ESG tem uma história muito polêmica, pois, era considerada uma Escola de formação do pensamento conservador de Direita. É dessa escola que surge o embasamento para o Ato Institucional nº 1 que, entre várias medidas arbitrárias, tem a agressiva medida de mudar a eleição presidencial para o modelo indireto, colegiado (embora as pessoas apenas se lembrem do nome “AI-5” [que não é uma divisão ou um grupamento, mas, uma lei], é o AI-1 que inicia, legalmente, a ditadura no Brasil).
Mas, é também essa linha de pensamento que fundamenta a ESG, que fundamentaria o capítulo de Segurança Nacional da Constituição de 1946, e mais tarde, a própria ESG aumenta o entendimento de “Segurança Nacional” na CF/1967 (inclusive, com pena de morte para os crimes contra ela), e que estabelece os padrões de atuação, engajamento, e estruturação da proteção Nacional, bem como dos órgãos de inteligência, como o finado SNI (Sistema Nacional de Inteligência), sendo um órgão que, a despeito do seu triste emprego ditatorial, era muito avançado e organizado.
Com a redemocratização brasileira e, tendo em vista a grande fobia militar dos constituintes de 88 (que excluíram o capítulo de Segurança Nacional, e substituíram pelo atual capítulo III, “Segurança Pública”), culminando com a ascensão de Collor, em 1990, o presidente (que viria a ser impedido) decreta o fim do SNI. O fim do órgão não é só um momento de vácuo administrativo e executivo, mas, gera tal desordem na Inteligência brasileira que os operadores do Sistema deflagraram uma crise (que ficou conhecido como Escândalo dos Arapongas, na década de 90) onde espionavam candidatos e oposição, a serviço dos poderosos de Brasília.
Atualmente, o termo “Segurança Nacional” aparece apenas uma vez na CF/88, e sequer dá-se o tom do que ele significa para nossa Nação e para a própria lei. É mera citação, vazia e sem contexto.
Como não temos Segurança Nacional – nem o conceito, nem a lei, nem “nada” – as idéias são difusas, espalhadas, pontuais. Não há um grande plano, esquematizado, construído ao longo dos governos, e incrementado conforme a evolução do cenário global, das ameaças regionais, e dos objetivos do Estado Brasileiro. O que interessa é o agora. O que interessa é a Urna, no próximo turno.
E que Deus salve essa terra, de seus inimigos e vilanescamente interessados. Porque nós, povo, não temos nenhum compromisso respeitável com esse capítulo.
Para não passar total vergonha, podemos citar o SISFRON, projeto elogiado e estudado em países como os EUA, patrocinado e mantido pelo Ministério da Defesa Brasileiro, e que junta um tripé de vigilância, inteligência, captação e triagem de dados e informações, mais o emprego de grupamentos e equipes especializadas, nas áreas de fronteira mais perigosas do Brasil.
Atual e lamentavelmente, o programa só existe na fronteira com a Bolívia e Colômbia. Devido ao forte “tremor” político, o programa perdeu espaço, pauta, destaque, investimento e orçamento.
Seu futuro é, agora, incerto. Mesmo sendo internacionalmente elogiado, o programa que seria um grande aprendizado à Segurança Nacional, não tem prestígio em uma Nação onde população e políticos, só sabem discutir segurança de uma maneira remediativa, pontual, midiática e sensacionalista.
A ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) que foi recentemente instituída no ano de 1999, por FHC, tem seus acertos e melhorias, mas, não é preciso ser genial para saber que inteligência – do ponto de vista militar – é algo mantido com dinheiro. Inteligência não dá votos, em um país que não tem nenhum interesse no assunto.
Afinal, como todos sabem– e se não sabem, não deviam falar com a propriedade que demandam, sobre o assunto – o crime organizado brasileiro é totalmente baseado no tráfico de drogas e armas.
O “senhor do crime e seus asseclas”, nos morros desse Brasil à fora, não mantém seu controle com pistolas .380 (as únicas à disposição da população para auto-defesa, de forma legal) mas, com armas que, por vezes, sequer o Exército brasileiro possui.
A porosidade da nossa fronteira é conhecida para qualquer um que acompanha as apreensões de drogas e contrabando em geral. São dezenas de toneladas anuais.
A droga é a mercadoria do Morro. E a droga é a moeda que faz o caixa, o capital do crime. E a droga não é feita aqui (via de regra).
Então, quando pensamos em Segurança Pública de qualidade, ela é, na verdade, uma necessária decorrência de uma política séria, embasada, e de longo prazo, sobre o assunto “Segurança Nacional”. Sufocamos o contrabando internacional, e as drogas param de abastecer os morros, e as armas de longo alcance ficam sem munição e reposição.
Já vimos que, como programa, projeto de Estado (e não de governos que se sobrepõem e se recusam a continuar as idéias boas dos antecessores) a Segurança Pública é minada pela “liberdade administrativa”, como me referi, anteriormente.
E agora, com a completa ausência de um plano previsto, elaborado e amparado em lei, para falar em Segurança Nacional e começar a combater a origem do dinheiro do crime (as drogas que entram por todas as fronteiras nacionais), e a força que este emprega em sua manutenção territorial (as armas de grosso calibre e letalidade de “nível militar”, também, “imigrantes” em abundância, via fronteiras), fica bastante claro que a solução para a violência, no Brasil, está muito, muito distante.
O Brasil, diante das Olimpíadas, e a missão aterradora de fazer um evento pacifico, diante das ameaças do DAESH, e de uma ameaça bem mais presente: O crime do Rio.
Colagens do DAESH, Comunidades do Rio ocupadas, e os Anéis das Olimpíadas. Imagens com reuso e modificação, para fins não-comerciais, autorizados.
Não quero me estender nesse tópico, mas, sinceramente, como um dos futuros expectadores dos Jogos, estou severamente preocupado com as Olimpíadas do Rio, a iniciarem-se em 4 de Agosto de 2016.
Mais do que com minha própria segurança, não consigo deixar de ver a falência de estratégias de Defesa e Segurança Nacional com décadas de bagagem, como é o caso da França, da Turquia (esta que, ao contrário da Europa, vive com a violência terrorista há muito tempo) e pensar: Como um país tão imaturo em, praticamente, tudo… Estamos prontos para enfrentar as ameaças externas e internas, à segurança e integridade de um “mini-mundo” a estadiar no Rio, pelos próximos 2 meses???
A França acaba de sofrer mais um atentado em seu território, e não faz nem um ano do Massacre na Casa de Shows de Paris. A Turquia lida com carros-bomba, regularmente. A estratégia de Defesa e Inteligência das duas nações (em especial, da França), está ano-luz do que engatinhamos por aqui. E não foi suficiente.
O Chefe do Estado Maior, Almirante Ademir Sobrinho, fez questão de demonstrar profunda tranquilidade com as informações disponíveis, e ratificou que as agências norte-americanas, europeias, e até Israel, trabalham ativamente com a ABIN e as Forças Armadas brasileiras, para detectar qualquer ameaça aos jogos. Mas, saberia a CIA, ou o Mossad, como monitorar as favelas da Maré, ou o Complexo do Alemão?
A pacificação do Rio falhou, miseravelmente, e basta ver o resgaste cinematográfico, recentemente perpetrado no Hospital do Rio, ver as faixas das organizações Policiais no saguão dos aeroportos, mais as recentes declarações de Eduardo Paes à jornais estrangeiros, para saber que, não: Não está tudo bem.
Polícia Interligada, Inteligência, Melhor armamento, Treinamento… É isso? Essa é a solução para a violência cotidiana, no Brasil?
Foto: Wikipedia.org – Criança em lixão no Distrito Federal.
Não… Infelizmente, diferente dos vídeo-games de simulação, colocar delegacias, aumentar a verba da Segurança (Nacional e/ou Pública), abrir acadêmias de Inteligência… Nada disso; nada disso resolve o índice de “sucesso” do crime no Brasil.
A teoria básica para um Estado bem-sucedido, é fundada em três pilares:
Educação Pública, de qualidade, do fundamental ao médio (procurem os dados da nossa performance no PISA; é para morrer de desgosto).
Saúde Pública, Universalizada, ou, pelo menos, saúde privada, plenamente acessível (procurem o teste que o SUS idealizou [IDSUS] e em que ele mesmo não passou).
Segurança, em toda a sua complexidade e dimensão (releiam o post :-p ).
O Brasil é péssimo, em todos esses aspectos. Quero ver algum contra-argumento. Sério: Quero ver. Por favor, me animem com alguma boa notícia, em algum desses temas… É sério: Vou ficar grato.
Quando penso nas fileiras de candidatos às carreiras das Ciências exatas (famosas por gerar tecnologia, patentes, indústria, empregos)…
Quando penso no perfil estudantil da maior parte dos candidatos às carreiras de professorado (os piores alunos são esmagadora maioria dos que querem lecionar, no Brasil)…
Mas, principalmente, quando penso nos salários das profissões disponíveis para quem tem uma escolaridade tão triste, como a grande maioria da periferia… E comparo com o dinheiro (e o poder) que o tráfico e o crime oferecem à todos eles…
Colocando-me nos calçados (quando tem) de um menino, cujo pai é inexistente, e a mãe é uma viciada em crack; frequentando uma escola falida, com uma quadra esburacada, livros didáticos com erros de matemática, português, grafia de palavras… Professores com dificuldades de ler e compreender um texto…
Quando penso nesse menino… Nessa menina… Não consigo ver como pode o Estado Brasileiro; como pode a lei brasileira do Estado legítimo, ser o caminho escolhido para trilhar, desse futuro “projeto de problema social”.
Não: Não estou a fazer NENHUMA abonação, atenuação, ou sequer relativização sobre o certo e o errado: Obrigação de cada cidadão é de fazer o bem e ponto, independente da história de vida, pois, não existe Estado; não existe Nação, não existe nenhuma dessas construções sociais, sem a presença de cidadãos responsáveis, honestos, dedicados ao bem; exatamente o que esperam do país em que moram.
Mas, isto tudo dito e ratificado… Insisto que, não vejo como convencer um jovem engolido por esse mundo nefasto em que nasceu e cresceu, e como convencê-lo da validade de jamais desistir do bom caminho.
Afinal, diante da total privação de esperança, o homem deixa de temer o mal.
Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois, quem não espera o bem, não teme o mal.
Os motivos que me tiraram do Facebook, e me levaram a fazer o “Sobre Tudo e Todos”…
3 décadas, 30 anos, 10.950 dias, 262.860 horas… O último grande texto (o maior); E os próximos passos…
Para dar um pouco de contexto a quem não me conheceu pelo Facebook: Em 31 de maio de 2016, anunciei aos amigos e seguidores que deixaria de utilizar a rede social. Os motivos estão todos neste post (que é, também, o motivo inicial para eu ter criado este Blog).
Mini-game! Um universitário mediano dos EUA leria esse texto em 8 minutos. Marque quantos minutos você leva e descubra se seu hábito de ler está enferrujado ou não.
Aviso: Esse é um texto reflexivo, trata de como me sinto sobre alguns aspectos da convivência com a sociedade digital contemporânea e, sinceramente, eu entendo que ele pode não ser do interesse da maioria da minha rede de contatos.
Sinto por isso e por poluir a rede social com mais essa “potencial” inutilidade, mas, também, é uma espécie de despedida que merece alguma explicação, ainda mais, em consideração aos 36 leitores (no Facebook) regulares que tenho, e por quem sou profundamente grato por me honrarem com a atenção.
“Pobre Rei Lear; tornou-se velho antes de torna-se sábio…”, diz o bobo da corte ao rei traído e renegado por todos.
É o resumo do ato I, cena IV, da peça “King Lear” de Shakespeare.
Desde que fui apresentado à essa peça, pelo excelentíssimo Professor Leandro Karnal, percebi como esse pensamento passou a perseguir minha paz: O risco de estar ficando velho sem me tornar sábio parece-me o maior risco que corro neste momento.
E isso me entristece e tem impacto sobre minha ansiedade com alguns tópicos. Não que o medo de morrer para uma “bala encontrada” por minha cabeça ou em uma colisão veicular com um embriagado ao volante não seja bem mais factível e sensato de se ter, no país em que vivo (a violência com armas de fogo fez mais de 61 mil mortos, e colisões automotivas mataram mais de 37 mil pessoas, em 2016)…
A escolha pelo estudo e, em especial, o gosto pelas áreas de Política, Sociologia, e Direito, sempre foi – eu acho – uma escolha ligada às chances: Os livros sempre estiveram ao alcance de quem estivesse disposto a lê-los e a verdade é que a maioria do meu povo não está. Em 2014, 71% dos brasileiros não leram um único livro, e somente um em cada três formados no nível médio de ensino têm alfabetização suficiente para ler [entender] um livro qualquer. E eu senti nisso a oportunidade de não ser mais um na multidão, já que eu tenho o que boa maioria não tem (a vontade de ler e aprender).
Esse era meu plano para saltar da mediocridade para um lugar de destaque. “Vaidade” é um termo que explica parte deste comportamento, mas, por outro lado, peço que me aponte o ser humano minimamente são que faz questão de ser idêntico aos outros 7 bilhões de sua espécie, ao ponto de escolher não fazer falta na face da Terra.
Bem, como isso tudo me leva ao desconforto, tal qual sentiu o Rei ao ser confrontado pelo bobo de “King Lear”?
Eu acho que venho emburrecendo. E eu tenho certeza – pela data de nascimento que consta no meu RG – que “novo” não é mais o preciso sinônimo para minha situação…
Então, eu começo, lentamente, a caber na sentença “tornou-se velho, antes de tornar-se sábio”.
A sabedoria é um dos principais atributos de beleza de um candidato a ancião. Não há nada mais chato do que falar com uma pessoa idosa que não tem nenhuma sabedoria. E não, não acho que só os livros e diplomas atendem ao requisito anterior. Na verdade, eles só provam que você abordou – ou tentou – algo de maneira sistemática e científica.
Aqui, falo da sabedoria de maneira holística: A sabedoria empírica, a pragmática, a experimental, a teorética…
Sabedoria: Acúmulo de conhecimentos; ciência. Justo conhecimento das verdades.
Ser um velho inepto é tudo o que eu mais temo. E não se engane: Assim como os canalhas, os burros também envelhecem… Velhice nunca foi sinônimo, nem de bondade, nem de sabedoria.
O que você ganhou participando da minha neurose eu realmente não sei, mas, já que você chegou até esse ponto, vou descer um pouco mais nessa psicose e tentar chamar sua atenção para alguns movimentos e fatos que podem lhe interessar; vai ser minha contraparte por sua paciência.
Bem, eu acho, também, que estamos TODOS ficando mais burros (desculpem-me: É só o que acho) e, acho, adicionalmente e não sem alguma análise, que a culpa disso está, em parte, nas redes sociais como o Facebook e nos modelos de vivência e convivência que tais redes ensejam, quando não, impõem.
Motivo pelo qual pretendo, a partir da próxima semana, abandonar o uso dessa rede (o Facebook).
Vou me explicar, prometo. Não está havendo um “facebookcídio”; o objetivo final não é obter um tapinha nas costas, nem um pitoresco “fica, brother” coletivo. Seria engraçado, confesso, mas não é isso. Vou me explicar; aguente aí.
Quero compartilhar como conclui que não só o Facebook não me ajuda a me tornar mais sábio (nada de novo) como, também, ele tem colaborado para que eu fique mais burro (um risco que, talvez, você não tenha percebido, ainda).
Mas, primeiro, alguém arrisca qual é a missão do Facebook como empresa? Eu compartilho:
“Fundado em 2004, a missão do Facebook é dar às pessoas o poder de compartilhar e tornar o mundo mais aberto e conectado. As pessoas usam o Facebook para ficar conectadas com amigos e familiares, para descobrir o que está acontecendo no mundo, e para compartilhar e expressar o que importa para elas. ”.
Oras! Tem algo MUITO errado com a execução dessa missão, seu Mark! (Obviamente, a culpa não é mais dele do que é de quem utiliza e constrói as regras deste espaço social [se estiver em dúvida: nós]).
O primeiro artigo que convido à leitura, é este aqui: Facebook Manipulated User News Feeds To Create Emotional Responses
Para quem não tiver a paciência, ou mesmo para os que não gostam da língua inglesa, a matéria denuncia que o Facebook controla – ou já controlou – sem contar a ninguém, o seu feed de novos posts para obter resultados psicológicos, emocionais, de você (na verdade, dos estados-unidenses mas, se fizeram com eles sem avisar… Penso no que fazem conosco…).
O estudo conduzido por “cientistas” (faltou alguma ética para ser mais “científico”, né…) da empresa verificava como as pessoas reagiam ao serem expostas a posts e reações com maior tendência negativa ou positiva, em relação a elas e suas opiniões iniciais. Burrhus Skinner e seus ratinhos morreriam de inveja.
Pior do que isso: Outra matéria que li em revista impressa demonstrou que o Facebook “aprende” o tipo de post e fonte de conteúdo que lhe interessa e, a partir disso, passa a lhe expor somente ao que você mais gosta, criando uma “falsa bolha”, tanto de “felicidade” como de “pertencimento”, onde você, meu nobre leitor, é o experimento.
Trocando em miúdos, se você só curte páginas “de Esquerda”, chances são que o Facebook exponha mais conteúdo relacionado a isto do que “à Direita” política (e vice-versa), fazendo com que você “seja feliz” pois “o mundo concorda com você”. É o que seu feed lhe indica, não?
Outro estudo (Social Media Sparked, Accelerated Egypt’s Revolutionary Fire) relata como o Facebook e Twitter foram fundamentais na primavera Árabe. Quebrar as correntes de ditadores, eu acho ótimo. Parece-me um uso nobre do espaço de convívio social virtual. Mas, outra matéria revela que o Pentágono norte-americano tem gastado alguns milhares de dólares para manipular redes sociais com “bots” e perfis falsos para conseguir apoio popular às metas das forças armadas daquele país (Revealed: US spy operation that manipulates social media).
Em resumo, com a manipulação “certa”, o Facebook pode ser usado para construir e destruir conceitos, pessoas, e governos.
Como qualquer Jornalista poderá explicar e demonstrar a consequência: A neutralidade da rede é zero. Como – não posso negar – também costuma tender a zero para qualquer veículo de comunicação, impresso, radio-difuso ou televisivo; é verdade.
O problema, para mim, está na legitimidade: Por motivos que, talvez, um sociólogo possa teorizar, as redes sociais ganharam status de verdade incontestável. Talvez por sua pluralidade, talvez, por não ser um veículo com uma fonte de mão única de transmissão; as pessoas têm uma tendência a tomar como fato, com muita facilidade, o que as redes sociais ecoam.
E como a Wikipedia (com a qual contribuo inclusive com doações financeiras, por acreditar no valor da utopia do “conhecimento para todos, de graça”), as redes sociais podem ser fascinantes na transmissão de informação legitima, ou uma fossa sanitária de idéias enviesadas e ideologias mascaradas. Falando de Brasil (eu vivo aqui, e é dessa parte do mundo que eu “não-sei” menos), a segunda hipótese tem sido bem mais verdadeira do que o primeira, para meu total pesar.
Quando ingressei no Facebook em 2009~2010, a maioria dos meus amigos e colegas permanecia no Orkut. Ingressei por questões profissionais (todos os colegas de companhia estavam lá, afinal, o Orkut era do Google 🙂 ).
Na época – outra vantagem de ter 30 anos: Poder usar expressões como “na minha época” – o Facebook era majoritariamente feito por recursos de texto. Imagens, só no álbum pessoal e nada no mural (não sei se a função não existia ou se as pessoas não tinham o hábito).
Quando eu vejo as pessoas “de saco cheio dos textões” acho até engraçado porque, originalmente, era disso que o Facebook se tratava: Textos. Pessoas troncando idéias sobre tudo e todos. Qual bom livro não é um “textão”? Embora, um textão não seja – por si só – garantia de qualidade, a boa ideia, respeitosa e bem-intencionada, deve ser bem explicada e enseja o cuidado que leva – ok, “quase sempre” se faz necessário aqui – ao longo texto. Não: Não estou supondo – nem me ocorreu isso – que um texto longo é necessariamente bom. Só disse que todo bom texto costuma ser longo.
Claro que acho graça nos gif’s animados; claro que gosto dos vídeos engraçados e absurdos. Vivo compartilhando eles todos. Não é que o Face seria melhor se “elitizado” fosse… Não precisa ser o “cafofo de Homero” onde, todo dia, discorremos uma Ilíada.
Mas eu realmente acho que o Facebook foi para a “outra ponta da corda” entre o enfadonho (ou pomposo) e o fútil. E eu odeio futilidade como tônica da existência; pelo menos, da minha.
Usar uma rede social para socializar (procurem no dicionário: “Socializar” não se resume a fazer pose em fotos, nem ficar de porre em festas… Vão se surpreender…), é a última coisa que as pessoas querem e isso remove de mim o propósito de “socializar” por aqui.
A socialização só é bem-vinda se for rasa, oca, simulada. E, desculpem os amigos que só gostam disto, mas, eu odeio conversas rasas como parte integral do meu dia a dia.
O filósofo Orterga y Gasset, em seu livro “A rebelião das Massas”, adverte, em 1929:
“Por toda a parte surgiu o homem-massa(…), um tipo de homem feito à pressa, montado apenas sobre umas quantas abstrações e que, por isso mesmo, é idêntico de uma ponta à outra (…) A ele, se deve o triste aspecto de monotonia asfixiante que a vida vai tomando(…) Este homem-massa é o homem previamente esvaziado de sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil a todas as disciplinas(…)”
Nesse alerta, Ortega y Gasset demonstra que a sociedade ocidental vem premiando a mediocridade e reconhecendo nela o verdadeiro antro de formação da verdade. E mais do que isso: A vontade, o desejo, de se destacar por uma sólida base racional, lógica e/ou bibliográfica, são combatidos como conduta reprovável, sendo uma espécie de “nova classe burguesa” a ser enfrentada e rechaçada: A classe dos que leem e estudam antes de abrir a boca.
Uma espécie de “nova oligarquia nefasta” que comete “o crime” de desqualificar alguém que não sabe sobre o que está falando, através de argumentação embasada…
(Preciso acrescentar algo que é óbvio pra mim, mas pode não ser para quem lê: EU NÃO FAÇO PARTE desse grupo atacado. Tenho total noção da minha mediocridade acadêmica e intelectual. Estou estudando para fazer mais que isso, um dia, mas não o faço, agora… O que estou tratando aqui é sobre o desrespeito à opinião de gente que dedicou a vida inteira ao estudo e que é ridicularizada pelo Zé da Esquina em um post ou thread).
Nem mesmo os espaços digitais destinados ao debate funcionam mais para isso. São, antes, lugares de pregação e massificação de ideologia. Qualquer tentativa de questionar com qualidade o que ali se advoga é repreendida com o bloqueio de quem discordou. “Você pode ter opinião, contanto que seja igual a nossa” deveria ser o slogan das páginas “pensadoras” do Facebook.
Aí vem outro problema do mundo contemporâneo: Opinião. Todo mundo tem uma opinião. TODO MUNDO TEM QUE TER. Não ter é outro “crime” dos nossos tempos. E disto, surgem opiniões quase sempre prontas, inquestionáveis e irrefutáveis (assim pensa seu dono). Formadas, muitas vezes, em cima de desinformação, fontes não verificadas, boatos, preconceitos, e nenhuma leitura de autores com alguma autoridade sobre o assunto (“autoridade” que não é mero título, mas, consequência de anos – em geral, décadas – de estudo de um único tema, senão de um sub-aspecto desse tema maior).
Exemplos parecem ensinar mais do que teorias, então… Aqui vai um:
Eu debatia com um amigo que dizia que movimentos sociais sempre lutam por progresso social. Eu discorri que os movimentos trabalhistas na França e o movimento estudantil de Mato Grosso, estão em uma luta CONSERVADORA, tentando manter um Status Quo que não necessariamente vai de encontro aos interesses das sociedades em questão, como um todo.
Logo, esses NÃO são movimentos progressistas por “osmose” (ou, o tempo todo)… Em resumo, esse foi um debate com alguém que tem opinião pronta. Até aí, tudo bem, já que eu também tinha uma: Mas quando expus novos fatos (ou pontos de vista), nada mudou para ele; e aí está o problema. Não houve evolução (não estou pedindo por conversão, esclareço) do tema e dos envolvidos, esperada em um debate. Ele entende que quando alguém grita “companheiro”, não pode ser outra coisa senão um progressista. Fim de papo.
Umberto Eco, filósofo italiano, criou polêmica em recente declaração em 2011 em que disse:
“Embora tenha trazido muitas vantagens, a Internet também democratizou a imbecilidade” e “promoveu o idiota da aldeia, a porta-voz da verdade”.
Ele disse, ainda: “Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas, agora, eles têm o mesmo direito à palavra que tem um Prêmio Nobel”.
Umberto gerou revolta; as pessoas o acusaram de retrógrado, antidemocrático, reacionário, arrogante…
Eu deveria ser um dos primeiros a ficar revoltado com Umberto, já que quem assina meus textos sou eu mesmo. Não há um curador/historiador, um editor; ninguém revendo minhas fontes e validando que não estou distorcendo a verdade. Eu tenho um compromisso de validar o que escrevo, mas, isso não anula o que Umberto enunciou. O idiota pode mesmo ser alçado ao grau de arauto da verdade.
Mas, eu não vi como um ataque. Para mim, ele não criticou o direito ao debate. Ele questionou o fato de que alguém que não leu um livro de história inteiro sinta-se pronto a dizer sobre “as benesses da ditadura” ou “Como o Socialismo/Comunismo é melhor que o Capitalismo” e por aí vai. Ele questiona, na verdade, essa capacidade triste que a Internet revela de potencializar gente pronta a questionar, formar juízo de valor e criar proposições sem nenhum estudo do que já foi proposto quanto ao tema – de preferência, a favor e contra, pois opinião não costuma ser legitima se nega a chance do contraditório.
Como Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, postulou sobre o “mundo líquido” em que vivemos:
“(…)os tempos são tais que o fim das utopias representa a perda do caráter reflexivo em relação a sociedade e, por consequência, a perda da noção de progresso como um bem que deve ser partilhado. (…) Uma corrente de incerteza e insegurança guia o sujeito pós-moderno, que não tem mais referencial nenhum para construir sua vida, a não ser ele mesmo.”.
Para quem não entendeu o cerne da teoria de Bauman, aí vai o exemplo:
Um garoto de 20 anos sente-se pronto para questionar todo um conceito e invalidar Immanuel Kant e sua filosofia moral do Imperativo Categórico após ler um resumo da Wikipédia; as décadas de Kant, dedicadas ao estudo das classificações aristotélicas e o fato de ele ser “pai” da linhagem moderna de pensadores alemães do quilate de Hegel e Schopenhauer (para citar os principais) são solenemente renegadas e desqualificadas por um garoto que só leu o resumo da obra e a tabela do Brasileirão 2016; os valores pessoais desse garoto, em plena formação, são muito mais válidos do que os valores construídos por centenas de anos (juntando Aristóteles e Kant) em iteração, revisão, contestação, conceito, prova e crítica.
Esse garoto pode vir a ser o próximo Kant? Pode. Sem estudar filosofia (e Kant) a fundo? Nunca.
Talvez, esse garoto, em específico, seja assustadoramente genial, construa conceitos muito mais profundos que Kant, sem jamais estudar, e faça eu me calar mais tarde; mas, as chances de todos nós sermos essa “peça rara” são as mesmas de eu ser um alienígena. Não: Não me sinto fazendo “uma defesa da aristocracia intelectual” ao esperar que a opinião de alguém sobre algo que não se resume a gosto (exemplo de gosto: Odeio queijo, não importa o que os suíços mais importantes pensem disso), seja embasada no que já se estudou, contra e em favor do ponto defendido para que, depois, haja formulação de nova postulação (exemplo de teoria sobre um sistema de governo existente e já teorizado: Democracia não deve ser um sistema de governo que atende só à maioria; não importa sua opinião pessoal sobre isso).
Isso, na verdade, é pedir por honestidade intelectual. “Honestidade”, aliás, uma palavra que vem se tornando antiquada.
E eu entendo uma parte disso: O Facebook é feito de personagens. As pessoas aqui não são as pessoas do mundo real. Seus posts, suas falas, suas frases de efeito… Tudo aqui costuma ser encenado e – mesmo que elas não se deem conta – em certo grau, premeditado.
Somos todos personagens. Eu sou um personagem. O Rodrigo da rede social não é o Rodrigo do dia a dia; impossível ser.
Além disso, a rede tem baixa – ou nenhuma – aceitação por pessoas que expõem outra face de seus sentimentos além da positiva. Por este motivo, Karnal diz que “Shakespeare é anti-Facebook”: Seus personagens têm “profundidade demais” e riem e choram publicamente, o que os tornaria detestáveis nessa rede.
E aqui vem outra crítica: O Facebook não serve para discutir – já constatei e provei – mas, tampouco serve para eu conhecer as pessoas, fazer e manter amizades e conviver mais com os que eu quero bem.
Como todos estão ocupados encenando felicidade e ostentando suas conquistas, eu estou fazendo um trabalho porco como amigo ao dar likes e usar frases como “aí sim!” quando o cara tira uma foto na piscina com uma cerveja, sem que eu saiba que em seu dia a dia, ele está às vésperas de se divorciar e perder o emprego, ou atravessando uma grande depressão emocional sozinho.
Um amigo “à moda antiga” saberia, porque na confidencialidade de uma conversa particular que não será julgada por centenas, senão milhares, ele pode ser o ser humano que ele precisa ser, para desabafar, para dizer que “não, não está tudo bem” e daí por diante…
A vida que se compartilha no Facebook é a vida simulada e dissimulada. O Facebook, sem querer, ou querendo, traiu sua própria missão empresarial. E não é diferente nas outras redes. Na verdade, em redes como o Instagram, isso fica ainda pior.
As pessoas que são contra o abandono da rede dizem “você vai perder o contato com seus amigos!”. A verdade é que eu já perdi. O Facebook não me fez ver mais as pessoas. Pelo contrário. Agora, vejo fotos delas; facetas delas; só parte delas. Uma espécie de “melhores momentos”, eternamente. Mas, essa não é a vida real.
Não vejo, nem convivo, com as pessoas “de verdade”. Ouso dizer que o falso sentimento de que elas estão ali todo o dia, “ao alcance do click”, me fez mais preguiçoso e descuidado no trato e no carinho com essas relações.
Substituímos o insubstituível contato humano e pessoal por um like virtual, aqui e ali. Ok! O descuido pode ser só meu, admito essa hipótese. Mas, sinceramente, eu duvido que sou caso isolado.
Não é meu interesse encerrar a conta do Facebook. Isso poderia significar um pouco como “ei, olhem pra mim! estou indo embora!”.
Essa realmente não é a intenção disso tudo, como tentei demonstrar.
Só vou remover os aplicativos de acesso e “esquecer” a senha. O Messenger do FB – para quem precisar falar comigo – segue funcionando. 🙂
Outra pergunta que devem me fazer: Vou continuar escrevendo em outro lugar? Improvável. Mas, se eu mudar de ideia, farei com que saibam. 🙂 (PS: Agora, vocês já sabem que sim, pois, estão lendo isso no meu Blog.) 🙂
E, de onde tirei que o Facebook era relevante para a problemática que discorro? Para ter uma ideia do quão significante era meu investimento de tempo na rede, eu instalei um programa no meu celular (“QualityTime” para quem se interessar) para medir quanto tempo passo por aqui. Em geral, uso o Facebook para debater e escrever sobre o que me interessa. Nos últimos 3 meses, eu superei 60 horas de uso do Facebook, fora algum momento em que usei o PC como método de acesso. Então, coloquemos 80 horas (um terço a mais).
Bem, um aluno universitário mediano deveria ler, em média, 450 palavras por minuto (Do You Read Fast Enough To Be Successful?). Usando uma fonte Arial, 12, com espaço simples, isso dá (também, em média) uma página por minuto.
Isto me leva a concluir que eu poderia ter lido umas 4.800 páginas de teorias importantes, sobre os temas que mais gosto como Direito, Filosofia, Economia, Política, mas, fiquei aqui, debatendo com meia dúzia de bons argumentadores (obrigado a todos vocês, deverdade – são fundamentais na minha evolução e o motivo de eu continuar pesquisando, aprendendo e escrevendo) e um bocado de gente que já me acusou de pedante, de inventar textos para ser bajulado, de gente que escreve “não concordo” mas, não consegue ou não tem como defender o ponto que quer sustentar e de gente que não perde tempo “com textão”… Eu não conheço nenhum bom livro feito com “textinho”, repito. É arrogância minha comparar um “textão” meu, com um bom livro? Definitivamente. Nem queria significar isso.
De todo modo e como nenhum dos que reclamam jamais leu um dos meus textos por inteiro, eles não têm como denunciar as falhas que fazem dos meus grandes textos (no sentido literal) apenas textos grandes (também, literalmente) e sem qualidade. Em suma, você só saberá se um “textão” é apenas um texto grande, lendo. Depois, com o tempo, você já sabe o que esperar daquela fonte. Para o bem e para o mal.
Há quem diga “não concordo” só para marcar uma posição que, como um torcedor de clube de futebol, sente ser a coisa certa a fazer. Mesmo que, na lógica e na argumentação, não caiba a paixão como motor de uma discussão… Paixão leva a irracionalidade, e a irracionalidade leva a qualquer coisa menos ao bom argumento.
O outro lado dessa história também não é muito motivador.
Eu não escrevo o que escrevo para que batam no meu ombro e digam “pô cara, que legal”.
Óbvio que fico feliz quando meu texto atinge padrão de construção textual e lógica ao ponto de merecer a parabenização, mas, mais do que isso, fico muito emocionado que ele mereça o tempo (este que é sempre menos do que ontem) de tantas pessoas.
Isso tudo realmente me deixa orgulhoso e feliz, mas, não: esse não é objetivo central da escrita que faço.
Bem mais que o “parabéns”, quando sou confrontado com opinião contrária, o melhor possível ocorre: Sou obrigado a defender meus argumentos e melhorar a qualidade deles, com novos autores e novos fatos. Isso é o melhor dos mundos, para mim. E se não consigo melhorar meus argumentos, melhor ainda. Acabo descobrindo que minha visão de mundo não é perfeita e não resiste à toda a complexidade da realidade. E aí aprendo com quem está falando e me mostrando algo que não posso justificar com a visão atual.
Mas, isso já não acontece mais. As pessoas não querem debater. Querem vencer. E se não vislumbram como “ganhar”, não se envolvem.
“Aprendizado” não é tido como prêmio suficiente de um debate. Os novos advogados só aceitam causas ganhas…
Outro grande objetivo com o que escrevo e escrevi, até hoje, era (e é) ajudar quem não tem uma opinião formada a procurar os autores e os argumentos que possam ajudar a embasar uma opinião, seja a favor ou seja contra o que exponho; de repente, quando escrevo algo que incomoda, meu texto leva a pessoa do simples “não gostar” ao saber de fato, por ela ter que pesquisar para responder. Ela saiu com opinião contrária à minha, mas teve que aprender o porquê para poder se opor. E aí, sinto que fiz minha parte.
Mas, essa pessoa não existe (mais). Quem não tem opinião e segue “contrariando o Facebook” e a necessidade de ter uma opinião sempre (o que é péssimo), geralmente odeia os “textões”. Talvez – e aqui, sou um pouco desleal, pois, não tenho provas – essa pessoa esteja na estatística dos 71% que não gostam de ler.
Lamentavelmente, se o Facebook tem esse péssimo habito de criar “bolhas de felicidade” e ele não é nem representação da realidade, nem um espaço de convivência social, mas, um grande massageador de egos, ou um espaço para compartilhar fotos legais e vídeos engraçados, e se essas são as únicas atividades consideradas “corretas” para serem feitas no Facebook, eu prefiro não perder mais tempo com ele.
Melhor do que 80 horas com fotos (fofas, não estou negando) de gatinhos, e vídeo de acidentes engraçados (é preciso rir, claro que é), eu vou tentar combater o que o bobo da corte fica dizendo repetidas vezes na minha cabeça: De que estou ficando inevitavelmente velho sem me tornar sábio – o que poderia ser evitado.
Devo estudar mais, ler mais livros, e buscar conhecimento que autoridades (não por força de lei, mas por esmero e uma vida de dedicação) nos assuntos que me interesso, compartilharam com a raça humana.
Está tudo escrito, quando não está gravado em vídeo – meio que anda ficando mais comum para a divulgação de boas idéias. Como exemplo, os vídeos do TED.com, em grande parte já com legendas em português.
Agradeço, profundamente, a todos que sempre acompanharam, opinaram, e – segundo relatos dos mesmos 🙂 – esperaram pelo próximo texto.
É um grande orgulho que alguém sem a formação acadêmica em Jornalismo, História, Sociologia, Economia(…), como eu, faça textos que mereçam a atenção e o tempo de qualquer pessoa.
Sinto certo orgulho por ter trazido à atenção do cotidiano corrido de cada um, temas que vislumbro atuais e fundamentais para o futuro do lugar e sociedade em que convivemos. É um pouco arrogante supor isso, eu sei, mas gosto de pensar que são temas importantes, sim.
Nesse sentido, sou feliz pelo tempo dedicado a esta rede social.
No entanto, eu sigo ficando mais velho, sem ficar mais sábio. Tudo que posso fazer é tentar usar meu tempo da melhor forma possível para reverter essa tendência já que a idade é “inevitável”.
O Facebook (e outras redes sociais), com tudo que expus, não me parece mais uma boa forma de investir meu tempo.