O permanente silêncio dos bons

Está sendo uma semana muito dura…

No fim de semana, senti a necessidade de falar sobre Democracia e sobre nossa obrigação de não cruzar com a “cadela que está sempre no cio” e vem uivando, mais do que nunca, especialmente através de figuras que deveriam ser os mais ferrenhos defensores do sistema vigente, mas não são.

Um dia depois do post, o filho do Presidente (com letra maiúscula, só em respeito à instituição da Presidência da República) publicou um tweet onde explicou para sua tropa: O país não mudará conforme eles querem, via Democracia. A Democracia é, portanto, um empecilho para o filho do Presidente, democraticamente eleito, e que também é, ele próprio, ocupante de cargo eletivo na Câmara de Vereadores Carioca.

Fiquei “satisfeito” de ter escrito sobre o tema, pouco antes do arroubo do “Pitbull do Clã”. “Clã” … Ainda somos uma Democracia? Sigo insistindo que, por pior que seja (e está “bastante pior”), a Constituição ainda continua válida e as Instituições ainda operam minimamente conforme o ordenamento jurídico, e tão impessoais quanto sempre foram. Mas, já me pego pensando se estou olhando para uma casca saudável de um ovo podre… Tenho que vigiar os pensamentos. É muito fácil afundar na desesperança. Razões para acreditar diminuem dia após dia, notícia após notícia. Tweet após tweet…

Como não é diferente de qualquer família, a minha também tem seu grupo de Whatsapp. Entre os cem “bom dia’s” e os duzentos “feliz aniversário’s” (quando alguém é o felizardo, claro), surge sempre uma frase em prol de um ato totalitário, quase sempre, fake news. Absurdos de todos os tipos e tamanhos… O “esgoto” da fake news política passa por lá. Faço uma pausa para pedir desculpas se um familiar meu ler isto e se ofender. Não foi a intenção. Não foi mesmo. Mas o “esgoto” continua lá, com a ordem do Presidente para prender ministros do STF, a ordem do Ministro da Justiça para invadir “a casa dos Petralhas”, a “prontidão dos militares para fechar o Congresso”, e por aí vai. Tudo tem foto, tudo tem fonte. Nada é de verdade, óbvio. Tão óbvio que seguimos aqui, mesmo que aos trancos e barrancos, e nenhuma das profecias se cumpriu, jamais. Mas isso não importa em nada. Eles seguem “bombando” o fake news de que alguém está para “acabar com a roubalheira” (o nome que dão para Instituições democráticas que, sim, podem estar sob o comando de depravados e vigaristas, mas, já falamos no Domingo sobre o dilema do bebê e da água suja).

Eu nunca entendi o fascínio dos meus compatriotas pela Ditadura. Já refleti sobre isso por horas… Dias, até. Nunca entendi como o país, comandado por homens fardados, sob forte ordem militar, onde quase nunca se questiona o que vem de cima, onde só existe “missão e obstáculos” (se você não ajuda na missão, você é obstáculo), e que sempre dizem, em tom de chacota, “paisano ( = civil; eu e você) é bom, mas tem muito”, pode ser melhor do que o que temos agora. E não é por causa da piada, porque como profissional de TI, eu também tiro sarro de algumas condutas de usuários da Tecnologia. E, novamente, preciso parar e pedir desculpas se ofendo alguém com essa elucubração.

Venho de uma família de militares, pra dizer o mínimo. Tenho admiração e, até os 27 anos, cogitei ingressar na força policial, seriamente. Nunca foi pelo dinheiro (que é ridículo), mas, foi sempre por um forte ideal de entrar, aprender, sofrer, e mudar a instituição, devagar e sempre, e por dentro (o único caminho comprovado e aceito pela tropa. A PM é uma instituição hermética e mudanças vindas de fora são, em sua maioria, descartadas; a despeito da possível validade delas). Já estou longe do argumento inicial…

Meu ponto é que jamais compreendi o fascínio de familiares, amigos, e tantos civis (em 2017, pesquisa realizada em 24 estados, com 95% de confiança, mostrou que um em cada três brasileiros [~35%] apoia uma intervenção militar) com uma possível volta da Ditadura militar. Não porque militares sejam maus. Mas, simplesmente, porque eles foram doutrinados para viver sem inúmeras liberdades. Pensar livremente e tomar decisões por si só, não é, nem de longe, o ideal para o serviço militar.

Eu não achava um mínimo de razão nesse apoio. Até ontem.


Vou adiantar o óbvio: Nada mudou em mim. Só há um lado certo na nossa História, e é o lado que protege e luta pela manutenção (e melhoria) da nossa Democracia. É desse lado que estou e vai ser muito difícil que eu mude, até o fim da minha existência.

Mas, hoje, vários canais de comunicação trouxeram à tona a fala monstruosa do Procurador (como no caso do Presidente, em maiúscula por respeitar o cargo, não o ser que o ocupa) de Minas Gerais, Leonardo Azeredo dos Santos, que alegou em reunião da Procuradoria de Minas Gerais, entre outras alucinações, que seu salário líquido de R$24 mil reais é um “miserê, e que ele já está “deixando de gastar 20 mil no cartão, cortando para só 8 mil, para sobreviver”. Disse, ainda – como se não bastasse o horror que já havia dito – que “infelizmente, não tem origem humilde e não está acostumado a viver com tanta limitação”.

O estado de Minas Gerais está enfrentando uma fortíssima crise fiscal, e está em vias de fechar uma Recuperação Fiscal com a União, o que significa, em palavras mais diretas (e imprecisas), “reconhecer que deve pra geral, e pagará quando puder” …

A história só piora. Segundo o Portal da Transparência de MG, o sofrido servidor (que esqueceu o que “servir” significa) em questão, teve vencimentos na casa dos R$78 mil líquidos, em junho, por uma dúzia de benefícios, auxílios e indenizações. Muitos desses “extras” sequer são alvo de tributação.

Se o Procurador não consegue viver com dignidade com os vencimentos apontados, me parece alucinógeno pensar na situação de cinquenta e cinco milhões de brasileiros (portanto, ¼ da população) que vivem com até 400 reais por mês.

E alguém vai dizer, “nossa, que argumento mais populista”. Não. Não há nada de populista em pensar no próximo, e reconhecer a desgraça que acomete a economia nacional, e que tem demandando sacrifícios de uma classe trabalhadora inteira, que já sabe que não se aposentará (pelo menos, não em breve), que não tem o direito de discutir o próprio salário, senão através da qualificação constante e da troca de empregadores, aqui e ali. Reconhecer tudo isso e reconhecer que seu salário é, sim, assombroso e desproporcional – não importa o quão merecedor dele você seja – e que seu holerite te coloca numa parcela de menos de 2 dígitos percentuais da população, para que você tenha qualquer condição moral de terminar essa discussão sem parecer (com sorte, só parecer) um completo imbecil.

Alguém pode levantar que, digamos, em 10 anos, o MPMG não teve correção da inflação. E eu insistirei: Seu estado está quebrado, sua população passou por duas tragédias ambientais recentes e devastadoras. O desemprego atinge ~11.2% da força de trabalho mineira, estimada em 11.1 milhões de pessoas e, portanto, com 1.24 milhões de desempregados. Repito: É um estado quebrado, procurando proteção para poder parar de pagar dívidas, na tentativa de se reestruturar. O Governador disse, agora há pouco, que os servidores públicos “comuns” ficarão sem receber, se o RRF não for aprovado. A fala do Procurador é tudo, menos consciente.

Agora, se imagine na fila do desemprego. A vida vai mal, todo dia você deixa de consumir uma refeição decente para que o dinheiro renda mais. E você ouve um conterrâneo dizendo que seu salário de 24 mil é pouco, e que se não aumentarem, ele vai passar necessidades. Pronto: Você começa a entender porquê alguém tem coragem de apoiar uma Ditadura militar.

É claro… Eu não estou dizendo a idiotice de que militares são mais honestos, mais leais, mais qualquer coisa, só por usarem farda e marcharem em ordem unida. A farda não faz ninguém melhor ou mais honesto, e militares no Poder podem cometer os mesmos crimes de civis e outros piores. Com o agravante de que, em eventual Ditadura, a mídia sequer poderá fazer o trabalho investigativo que faz e que só ela pode mostrar situações revoltantes como essa do pobre Procurador de Minas. Sem a Imprensa livre, jamais teríamos sabido disto.

Então, não. Esse Blog jamais fará uma defesa pró-Ditadura. Esse post é apenas um reconhecimento da racionalidade do ódio, muito bem alimentado por gente como o Procurador citado. Gente que ocupa cargos públicos não pela vocação, não pelo sonho de fazer um trabalho diferenciado para sua comunidade, mas, com fins de enriquecer às custas de uma sociedade que vem sendo fortemente espremida para se aposentar mais tarde, pagar mais impostos, e viver com menos (muito menos) do que um minúsculo universo de pessoas ganhando mais de 20 mil reais mensais líquidos.

A máquina pública brasileira é um monstro que precisa ser esquartejado

Novamente: Não estou falando contra a Democracia. Se você está entendendo assim, precisa melhorar sua interpretação de texto. O que segue aqui é o cansativo dilema do bebê e da água suja.

Tive uma discussão com o João, bom amigo de outras bandas, e falávamos sobre o duelo entre um Estado grande com fins sociais, e o Liberalismo, cada um com seus defeitos e potências. Foi uma conversa muito boa (eu acho). Diante do que se seguiu, hoje, acho que ele está rindo um pouco mais por estar do lado que defende a redução máxima do Estado, em qualquer caso e cenário. Hoje, eu não o culparia (o que não quer dizer que desisti de tudo o que acreditava ainda ontem; não sou bipolar e minhas opiniões não se formam conforme a banda toca… Mudar assim, de uma hora pra outra, demonstraria um pensamento levianamente fundamentado).

Ocorre que não é a Democracia que inviabiliza a máquina. Tampouco um sistema de Estado preocupado e engajado com os problemas sociais. O que inviabiliza a máquina é um sistema em que benefícios e privilégios se tornam sempre cumulativos, jamais diminuem, e quem decide quanto vale o trabalho é o próprio trabalhador (há uma simplificação aqui: embora exista lei que regule os vencimentos máximos, aqueles que usufruem de altos salários driblam as restrições com manobras que, se não ilegais, são totalmente imorais).

Você já imaginou que insano seria se eu pudesse definir quanto eu devo ganhar? Não obstante eu gerar muito mais dinheiro do que ganho (se não fosse assim, eu seria demitido) minha empresa, uma das maiores do mundo, faliria caso cada colega meu pudesse decidir o valor dos próprios vencimentos.
Mas, é assim que a máquina pública brasileira se estruturou.

CLARO… “A máquina pública”, em áreas bem específicas… No Judiciário e no Legislativo, especialmente. Em todo o resto, nossos funcionários públicos costumam passar maus bocados… Professores, Policiais, Serventes de manutenção pública… Essa massa tão importante não tem qualquer autonomia para decidir o quanto ganha, óbvio.

Poderíamos dizer que a máquina pública é sempre cara e sempre ineficiente. Esse é quase que um lema (ou seria um fetiche?) dos Liberais, mas, além de não ser uma verdade absoluta (já que os EUA têm uma máquina mais cara que a nossa), um pouco de pesquisa mostra que o problema é o Brasil, mesmo. Temos uma das máquinas mais caras e ineficientes do mundo. Para demonstrar, vou compartilhar apenas um gráfico da matéria da BBC:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46427803

Quem dera esse fosse um problema restrito ao Congresso Nacional. Se eu colocar os custos do Judiciário, dos Ministérios, e etc., você e eu enlouqueceremos no processo.

O que você precisa saber é que a máquina é tão inchada que, atualmente, nós brasileiros desembolsamos algo em torno de ~215 bilhões de reais anuais para pagar quase 900 mil funcionários públicos nas mais variadas posições. E, se você tem bom senso, sabe que o grosso desse dinheiro não está acabando no bolso da Professorinha na sala com goteiras e lousa com buracos, nem no bolso do Policial que vai pra rua com colete vencido e arma avariada.

Uma classe unida contra toda uma sociedade

Diz a Bíblia (1 Pedro 3, 18) que devemos “amar o pecador, mas odiar o pecado”, segundo o exemplo de Jesus Cristo. Isso resume bem a minha relação com trabalhadores e seus sindicatos/associações, em quase 100% dos casos.

Essa não é uma discussão nova.

Toda a santa vez que alguém reclamou do custo da máquina ou rebateu uma proposta de um novo imposto com cortes possíveis (auxílio paletó? Auxílio moradia? Para quem ganha mais [muito mais] de 24 mil líquidos? Só pode ser brincadeira), as classes privilegiadas (que, repito, são uma elite dentro do serviço público) se unem, barram, e abafam (porque não podem discutir à luz da sociedade o que realmente pensam) qualquer projeto nesse sentido. Suas associações e sindicatos são perfeitos no Lobby e sempre vencem o debate (que não é um debate, já que nasce morto).

Mas, fatalmente, uma hora, teremos de combater os extremamente privilegiados deste país (~28% da riqueza nacional está nas mãos de ~1% da população). A maior parte deles desempenha funções necessárias e essenciais (acho que ninguém com o juízo no lugar ignora a utilidade do Ministério Público em uma Democracia, só por exemplo). Mas, esse desempenho não pode ser pretexto para que estes vivam em uma realidade tão diabólica ao ponto de fazer um Procurador se sentir mortalmente ultrajado por ter que sobreviver com “apenas” 24 mil reais líquidos mensais, e moralmente sustentado para expor isso, sabendo que era gravado publicamente.

Mas, vou te dizer o que mais me magoou nessa história toda: O que mais me magoou foi ouvir o áudio inteiro, em uma reunião com o Procurador Geral de MG, e outros Procuradores, e diante da fala monstruosa de um playboy que não merece o cargo que tem, nenhum dos colegas de profissão, investidos no gloriosíssimo cargo de Procuradores e Promotores (Promotor = que promove) de Justiça, terem se insurgido contra a barbárie no comentário do colega.

São 5h da manhã, estou acabado. Mas, para ter paz de espírito eu tinha de vir aqui e quebrar o silêncio sobre isso. Incomodou-me de forma que eu não sentia há muito tempo. Vontade de ir embora daqui e outros sentimentos ruins que eu não sentia há tempos. Todo dia, um novo 7 a 1 nessa divisão do inferno que eu ainda chamo de “meu lugar”. E esse 7 a 1 veio até do lugar certo: Minas.

Pra fechar, parafraseio o PhD, Nobel da Paz, Medalha Presidencial da Liberdade (EUA), incessante guerreiro pelos direitos civis de tantos oprimidos, e todo o estandarte de ética e postura digna que o infame Procurador de Minas jamais ostentará:

O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.

No Brasil, o silêncio anda horripilantemente ensurdecedor.

Foi um longo inverno (ou, “Porquê você quer mais Tempo, mesmo que não saiba?”)…

Estou de volta. Foi um longo inverno por aqui, concordo e lamento. Como penitência, faço um texto longuíssimo. (Pensando bem, a penitência é sua que vai tentar ler isso tudo… Me perdoe, de coração).

Acomodar uma nova formação acadêmica em minha vida foi tarefa mais desafiadora do que eu poderia imaginar. Mas, claro, não foi só isso. Escrever só por escrever nunca foi a minha vontade. E 2018 teve tanta pauta e tanta lama, que parecia ser impossível discutir qualquer tema relevante sem muito esforço e muito estudo. E tudo isso demandava tempo. Tempo: O commodity que eu não tinha.

Diz “o Livro da Economia” (Ed. Globo, 2012) que a primeira lição da Economia é a Escassez: Não há nada que queiramos em quantidade suficiente para todos os que querem. Pela diversão, embora fuja ao ponto, a segunda parte dessa lição cita que a primeira lição da Política é ignorar completamente a primeira lição da Economia. Mas, voltando… Commodities

Bem, novamente, no ramo da Economia, as commodities são as matérias-primas de circulação mundial, isso porque sem elas, nada pode ser produzido. O aço, a água, o milho…

Um outro commodity é o Tempo. Ok, não vejo como vender tempo, no sentido literal da tradição, de tal modo que eu venha a viver um ano a menos e você, um ano a mais, mediante um pagamento substancial de dinheiro seu para mim… Outro problema em colocar o Tempo como commodity é que a definição clássica espera que um commodity tenha um preço quase tabelado ao redor do Globo, não importando sua origem ou sua história. Quer dizer: Um saco de milho do Brasil não tem muito motivo para ser 2x mais caro, melhor, mais milho, ou 2x mais barato, pior, ou menos milho do que um saco desse commodity vindo dos EUA. Claro que há todo o problema tarifário, tecnológico, de infraestrutura, mas ei… Não é disso que quero falar… A teoria pura das commodities diz que esses materiais básicos para a produção são 100% fungíveis e têm preços muito semelhantes quando feitos por competidores do mesmo tamanho. Isso porque por serem matérias-primas e, portanto, não refinadas, nem trabalhadas para serem o produto final, o valor agregado é o menor possível. Daí a pasteurização pecuniária.

Não é bem assim com o Tempo… Como Marx propõe no capítulo I do livro “O Capital”, percebemos que o Tempo de um empregado hábil, com ferramentas, tecnologia, ciência, nunca custará o mesmo que o tempo de um empregado sem essas características. E assim é com a vida:

Uma hora a mais de vida para alguém a beira da morte parece valer qualquer esforço. Para um jovem de 17 anos, as horas são um recurso em sobra e até irritantes: Ele não vê a hora de atingir os 18. Pularia todo aquele ano enfadonho se a opção lhe fosse dada.

Pois bem, já me parece razoável a certeza de que a ideia de que as horas de nossas vidas não custam a mesma coisa está clara para quem lê. Não é a mesma sequer para a mesma pessoa (o jovem que pularia todo o tempo dos 17 para os 18, não cederia um minuto de vida, se assim pudesse evitar, quando chegasse a hora derradeira).
Mas afinal, do que estamos falando por aqui? Na verdade, e sendo bem sincero: De nada. Diferente de outros textos que já escrevi, este aqui só quer conversar contigo. Sem pretensões. Só meus achismos.

Com 32, indo para 33, sinto desejo por algo novo: O tempo é tudo que eu quero. Nem casa na praia, nem carro do ano. Troco tudo isso por mais tempo. Você vai dizer “tá bom… Vamos ver se recusará se alguém bater na sua porta e te der tudo isso”. E aí te direi “você entendeu tudo errado: Claro que vou aceitar. Mas, para poder vender tudo e, com esse dinheiro, comprar mais tempo pra mim”.

Aí que está a teoria de tudo: Tempo é commodity. E commodity é um bem que se compra. Já expliquei isso antes. E daqui, ocorre-me outro desdobramento: A insanidade com a qual convivemos pacificamente é que trabalhamos para comprar de volta o que sempre foi nosso: O Tempo. Vamos perder um tempo (já sentiu o prejuízo, hein?) nessa parte…

O que você vende para a empresa onde trabalha é seu tempo. Se for o dono da empresa, a empresa passa a ser sua razão de existir e, com isso, todo seu tempo é dela. Assim, empregado ou dono, você vende seu tempo de vida para alguém (mesmo que o patrão seja você).

Você recebe, em troca, dinheiro. A quantidade desse dinheiro depende de muitos fatores, alguns até imorais (como o incompetente filho do dono, que tem cargo de diretor). Outros são a expressão máxima da ideia de meritocracia, como a faculdade com bom nome, o histórico com notas altas, a pós-graduação, os idiomas, as especializações… Por aí vai.

Porém, embora você, engenheiro, médico, advogado ( = chavões) venda suas ~8h de forma mais cara do que o desqualificado, não necessariamente você vive mais (ou melhor) do que ele. Senão vejamos:

Um gerente de empresas tem um salário – bem – maior do que o estagiário. Mas quando as férias escolares chegam, é o estagiário que vai para a balada e, depois, transa mais que funileiro gaúcho (piada interna, perdão), enquanto o gerente pode estar fazendo turnos de 10 a 12 horas diárias, chegando em casa quando os filhos já dormem e a mulher já saiu do clima de festinha, se é que me entende… Parece exagerado, eu sei. Quem dera o fosse. Não é.

Eu trabalho com as maiores corporações do país, graças ao emprego que tenho (em uma das 5 companhias mais valiosas do mundo). Eu lido rotineiramente com líderes de equipe, quando não com diretores e, em geral, todos sofreram um bocado para estarem onde estão. E o que vejo e ouço na vivência com eles me garante: Eles não são mais livres ou vivem mais que o analista júnior. Comparar com o estagiário é até mancada. Não o farei mais.

Alguém vai me derrubar “do devaneio” que estou construindo. Vão me dizer “Tá bom… Mas o gerente passa as férias nas Bahamas e vai ao Aeroporto de Mercedes. Seu analista júnior não pode comer bife todos os dias da semana, ou vai à falência”.
O argumento é cruel; não posso deixar de reconhecer a obviedade de que meus gostos e meus sonhos só podem ser alcançados sendo o Engenheiro e jamais o Estagiário. Mostra o tipo de sociedade consumista em que nos moldamos. “Você é o que você tem e pode mostrar”, a maioria vai dizer. É uma realidade. Mas também é uma mentira. E eu vou tentar provar o erro que me parece existir nessa filosofia.

O primeiro aspecto a considerar é um tanto óbvio, porém, continuamente ignorado. O Estagiário realmente não vai às Bahamas. Não dá. Não com o que ele ganha. Mas eu tenho CERTEZA que ele se encontra “com os parças”, toda semana. E quando o dinheiro do goró (jovens, vocês ainda usam “goró”?) acaba, isso não importa. Um faz “o corre” do outro. E se ninguém tiver, não tem problema 2.0: Sentam na sala da casa da mãe de um deles e jogam conversa fora. O Tang é bom. A conversa, melhor ainda.

O Gerente, o Diretor, realmente vão às Bahamas. A cada quantos anos? Dois? Três? Só quando o casamento está acabando? Quando pegaram a mulher no Tinder, cansada de se deitar sozinha? Vão levar os filhos também, aquelas crianças que eles não sabem nada a respeito, mas que sabem que trouxeram ao mundo. Eles verão e desfrutarão coisas que o Estagiário só pode sonhar. Por 7 ou 15 dias a cada 2 ou 3 anos.

Não consigo me decidir de quem tenho mais dó.

Não sou hipócrita: Tenho sonhos, gostos e hobbies caros. Tenho um padrão de vida que não pode ser adquirido com sorriso no rosto e vida bucólica. Conheci os EUA em várias partes, o Chile, a África do Sul de Sul a Norte. Não dá para fazer o que faço com mil e duzentos reais por mês. Simplesmente não dá.

Mas eu jamais me permito esquecer: A única coisa que faz valer a pena sair da cama para perder 10 ou 12 horas do meu dia enriquecendo acionistas não é o dinheiro em si. É o que ele me permite fazer.

Daqui, decorrem mais alguns fatos para você analisar – como eu faço agora: Ninguém sobrevive num emprego como o que tenho, trabalhando 8h por dia. Ninguém. Podem lhe contar a mentira que quiserem. Não dá. Os mais “pé no freio”, como eu, fazem 10h. Os gerentes fazem 12h. Os alucinados, esses já não sabem mais dizer ao certo. Outro fato é que, realmente, é mentira se alguém lhe disser que a empresa nos obriga a isso. Ela não obriga. Você apenas não tem condições de entregar o que o cliente final contratou e ainda se manter em dia com as obrigações como funcionário dela. A armadilha está montada. Ela não te pede isso. Apenas é impossível ser um profissional bom sem fazer isso. E os profissionais não-bons, não-duram (com o perdão do “trocadilho gráfico”).

Eu trabalho para viver ou vivo para trabalhar? Tem horas que a diferença é impossível de se ver a olho nu. Porém, é só se lembrar de algo doloroso de se encarar: Você nasceu em uma família e cresceu com amigos. A carreira só veio bem depois na sua vida, lá pelos 16 ou até mesmo 20 anos. E você quer voluntariamente passar mais tempo com a última em preterição aos 2 grupos primeiros?
Que você não se engane: Ninguém aqui está vendendo sonhos. Só pode descansar no galho alto da árvore quem se deu ao trabalho de subir até lá. E se você nasceu pobre como eu, em uma periferia que nem asfalto tinha, a subida é uma merda, eu sei. Só que aqui mora o truque supremo do Diabo: Para que (e não por que) você quer ir até o galho mais alto? A maioria das pessoas com quem falei não soube responder com grande clareza. Algumas ensaiam um “é pela vista”. Ao que retruco “e quem vai subir com você até lá para discutir aquilo tudo que se vê e como foi a viagem até ali?”. A maioria desisti aqui. Alguns são o exército de um homem só: “Quem não aguentar a subida não é digno do que nos aguarda lá no alto”. Ok, Rambo… É seu direito pensar assim. O mundo só pode ser separado em vencedores e perdedores, você me diz. Respeito. É tosco pra mim. Mas respeito que funcione pra você.

Do meu lado, está bem claro: Não faz o menor sentido ter o melhor vinho de 2018 na minha adega para abri-lo sozinho e tomá-lo inteiro, sem ninguém para comentar todos aqueles aromas e sensações. Isso [de tomar uma garrafa, solo] é coisa de alcoólatra; não quero ser um.

Cada um sabe qual é o seu WLB (Work-Life Balance, sigla da nave-mãe onde vendo minha vida), é bem verdade. Para mim, WLB é ter a ajuda do meu gerente para estar na faculdade, por mais 4 anos no mínimo, das 19h às 22h, segunda a sexta, no período tipicamente letivo do Brasil. Para outros colegas, WLB é ter milhas infinitas para viajar de graça. Nenhum dos dois está errado. É só cada um correndo atrás do que quer. Só que tem uma coisa: Eu já passei tempo demais em saguão de aeroporto, hall de hotel e dentro de carros para saber que essas horas não voltam. Nenhuma delas, não importa como você as empregue, voltam, na verdade.

10 horas numa festa com os amigos, ou 10 horas dormindo. Ou ainda, 10 horas em uma UTI de hospital. Já passei por todas. São 10 horas. E nenhuma delas tem o mesmo preço. Marx all over again

Eu vou te contar o melhor que ocorreu em 2018, comigo: Eu passei 4 dias com minha segunda família. Aquela feita pelas amizades que forjei no caminho que já percorri. Nem todos estavam lá, verdade. A vida não deixa que nada seja pleno, perfeito ou eterno. É parte da ironia que nos maltrata e que também a deixa tão bonita. Não foi de graça, claro. Pagar metade de um salário-mínimo é um luxo, num país com 13 milhões de desempregados. Não sou idiota e entendo como eu pude fazer isso.

Mas quer saber?

Somos nós que criamos as prisões em que nos trancafiamos. Nós dizemos qual é o preço. Nós dizemos que para ver os amigos, rir, falar besteira, aos 33 anos de idade, precisa custar X vezes mais do que custava quando éramos todos estudantes pobres em uma escola pública por aí. Novamente, não sou idiota: Eu quero estar com eles, tomar boa cerveja, comer carne na brasa, ter café da manhã com todos os requintes que desejo. E tudo isso custa dinheiro… Mas esse não é o problema… O problema vem abaixo.

Estamos, todos nós, morrendo, o tempo todo. Nesse exato minuto, você e eu estamos mais perto da morte. E ninguém sobrevive a ela. Eu garanto. Só que o sistema que criamos (e se não criamos, no mínimo, sustentamos com cada escolha que fazemos) diz que a única forma de viver com conforto, corretamente, dignamente – use o adjetivo preferido – é vendo o cliente 40 ou 60 horas por semana, e vendo os amigos 3 horas por mês, ou indo com a mulher para as Bahamas a cada 2 anos, por 15 míseros dias. Seu filho deu o primeiro passo e você estava fazendo hora-extra. E você diz “é por ele”. Bem, só tome o cuidado de não pôr tudo na conta dele. Não se assuste se um dia você chegar em casa e ele estiver com barba. A escolha foi sua, nunca dele. Se você for um completo estranho para aquele cara com 15 anos que ainda ontem você trocava fraldas, não diga que foi tudo por ele. Me parece um pouco covarde ou desonesto. Foi por você. Como meus hobbies são por mim. Se eu preciso ter uma adega com 30 garrafas dentro, não é pela adega. Não é pela minha noiva, nem pela minha mãe. É por mim. E tem um preço. O preço é medido em dias da minha vida. Dias e horas que não me pertencem, porque eu os vendo. Se vendo por um preço justo, a história que fiz e faço dirá.

Para todo o apaixonado pelo vil metal, pelo contracheque, pelos zeros que se acumulam na conta… Fica só uma sugestão: Tome cuidado para não gastar tudo que acumulou, sozinho e/ou numa cama de hospital. Ter um milhão é legal, claro. Olhar pro lado e saber que você não poderia estar melhor acompanhado (família, amor, amigos, cachorro, whatever) é muito melhor. Se você conseguiu os dois, te parabenizo e te invejo. Quem sabe um dia. Mas te garanto que conhecer a Savana africana com 30 é melhor do que conhecer com 60 ou 70, quando as costas já não aguentam mais a dor da estrada de terra. O tempo do garoto não custa o mesmo do velho, lembre-se disso sempre.

Toda vez que você vende barato o que não tem preço (a.k.a. seu tempo nesse mundo), você está sempre dizendo que é pelos outros, ou pelo futuro, ou sabe lá em nome do que. Enquanto isso, o que escorre pelas suas mãos é a vida. A única que você terá aqui. Se houver outra, só tem um jeito de saber, e é um preço caro demais para se pagar e confirmar.

Eu disse que não ia vender sonhos. E continuo dizendo: Semana que vem eu vou estar no trabalho. Os boletos continuam chegando. Da faculdade, do aluguel, do vinho. Eu quero tudo isso. Mas as prioridades têm de ser claras para mim. Eu não vou vender o tempo que sempre foi meu para conseguir mais dinheiro, para guardar mais, para ter mais bens que não vou utilizar (porque estarei fazendo hora-extra em algum lugar, para enriquecer alguém que não sou eu), para um dia, quem sabe, se a loucura do hospício que é o mundo adulto não tiver me roubado toda a saúde, eu, enfim, aproveitar isso tudo. Lembrando o que eu já disse: Miami com 30 anos é bem melhor que Miami com 60. E com 20, é melhor que com 30. A disposição, a aventura, a doçura das memórias; essas coisas não podem ser compradas.

Estamos todos em rota de colisão com o fim. A vida é agora. Longe de mim entrar na onda idiota do “Carpe Diem”, lema romano usado no fim do império, já na decadência, para justificar abusos e inconsequências. Quem me conhece sabe muito bem que esse não sou eu.

Mas, 2019 será um ano que dedicarei a viver com menos. Eu vou enxugar os gastos, reduzir o que puder, sem tornar a vida enfadonha, sem tornar o emprego insuportável (eu vou para lá por tudo o que ele me permite fazer fora de lá; nunca me esqueço dessa ordem) e, então, eu vou saber de quanto preciso para manter a roda girando. E em 2020, a meta é trabalhar menos.

O homem planeja e Deus ri, é verdade. Só estou compartilhando um plano. Planos mudam. Nem por isso devemos deixar de fazê-los… Eles nos dão Norte para seguir nas horas mais escuras.

Mas eu sei o que faz a vida valer a pena. E não tem nada a ver com meu cargo, meu e-mail, ou meu currículo. Não que essas coisas sejam ruins. Pelo contrário: É o melhor lugar em que já trabalhei em toda a minha vida. O melhor gerente, a melhor equipe. Mas houve um tempo em que todas as horas da minha vida eram minhas, e como o estagiário, eu via constantemente as pessoas que fazem o mundo ser um lugar que vale a pena estar. É isso que eu quero. O caixão não terá cofre. Só vão lembrar de mim as pessoas com quem eu me relacionei humanamente. Nenhuma empresa em que troquei o servidor de e-mails fará uma homenagem quando eu partir.

Agora, eu vendo minhas horas por um preço que não atinge 13% do valor que elas geram para minha companhia. Detalhe sórdido: Fiz a conta com o salário bruto, como se não houvessem impostos. E alguns dos meus colegas estão determinados a não ver os amigos, não ver os filhos, perder a mulher para o encanador… Alguns porque tem um plano e o sacrifício é valido, com começo, meio e fim. Eles têm minha admiração, no entanto ela valha de nada. Porém, outros tantos o fazem porque disseram para si que “não há outra forma”. Pois, minha meta será achar outra forma. Porque estou morrendo. Todos estamos.

Memento mori, diziam os sábios antigos.

Eu me lembro. Eu realmente me lembro…

2017 acabou… 2018 será um Novo Ano… (Spoiler Alert: Mentira.)

É 31 de dezembro, e uma obsessão toma os corações e mentes dos meus parentes, amigos, e até do desconhecido com quem trombei no mercado, hoje…

… Ele escolhia um vinho e, ao me pedir licença, decidiu fazer votos de Feliz Ano-Novo ao gordinho desconhecido que havia incomodado (com razão, pois, eu o atrapalhava enquanto me decidia). No votos, fez questão de dizer que estava cheio de esperança e fé de que nós todos teríamos um ano brilhante em 2018.
Era o que ele sentia “no ar”. Eu sentia cheiro de Pinho-Sol, porque alguém fez o favor de derrubar uma garrafa no chão.
A encarregada da limpeza, assim como eu, sabia – pelo menos, naquele momento, em que trabalhava em pleno dia 31 de dezembro – que não tinha nada de diferente “no ar”. É um banho de realidade frustrante. E de Pinho-Sol, também. Para ela, 31 vai ser igual à 1 de janeiro – porque ela folgou no Natal inteiro, e vai trabalhar os 2 dias, o que me revelou conforme conversei com ela sobre a infelicidade de lidar com o vinho derramado…

Réveillon:
Do francês, “RÉVEILLER”, ou seja, “acordar”, herança da palavra em Latim, “VELARE”, ou “fazer vigília”.

Sim. É só isso. Nada além.
Não significa, por exemplo, “momento em que os ciclos universais se alinham e tudo na galaxia é reiniciado, para que você tenha mais uma folha em branco, nas mãos, ó ser mais importante do Cosmos: Você.”…

Quanto às reais diferenças entre “2017” e “2018”, fica ainda pior porque, essa medição do tempo (a.k.a.: ” Éon, Eras, Períodos, Épocas, Milênios, Séculos, Décadas, Anos, Meses, Semanas, Dias, Horas, Minutos, Segundos… Décimos (de seg.), Centésimos, Milésimos (e segue))… Essa medição de tempo é artificial.
Como quase toda observação científica que o homem realiza, “medir o tempo” é o jeito que a Ciência achou para “colocar em caixinhas” (= explicar por um modelo reproduzível) a degradação natural do Universo (e tudo [incluindo você] dentro dele) com o passar do Tempo (“Tempo”… Outro conceito humano)…

O problema é que o Universo está TÃO CAGANDO pra nossa medição, que ele SEQUER se dá ao trabalho de fazer a translação da Terra ser “perfeita”…
Bem, vamos lá… A Terra nunca “despencou” no vazio (“cima” e “baixo” no Espaço Sideral são conceitos inúteis… “Despencar”, portanto, é outro desses inúteis conceitos…)… Se ela nunca despencou, falar que a translação “não é perfeita”, é um pouco arrogante da minha parte…
Mas, em minha defesa, a “palhaçada” é  que a Terra leva 365 dias de 24 horas, MAIS 6 horas (Na verdade, o número preciso é 365,256 dias, o que dá uma sobra de pouco mais de 6 horas [6.144 horas]… MAS, QUEM ESTÁ CONTANDO,  NÃO É MESMO??? [Enquanto visto minha roupa branca nova, para a mais importante meia-noite do ano]), para fechar uma volta elliptical em torno do nosso Sol, uma estrela de classe espectral G (tipo G2V), informalmente chamada de “Anã Amarela” (e, antigamente, chamávamos de “Estrela de 5ª grandeza”…); de novo: Definições humanas, para coisas que estavam bem, muito bem mesmo, antes de nós classificarmos todas elas.

Defendo-me, de novo, (os tempos de hostilidade virtual tornam o indivíduo covarde, ao ponto de se defender previamente de quase tudo que ele possa imaginar que vão acusá-lo, mais tarde) dizendo que não sou contra o árduo e valoroso trabalho científico, feito por gerações, para estabelecer padrões, sistemas, regras de classificação e tudo aquilo que nos ajuda a entender o Universo em que vivemos…

A crítica aqui é bem mais simples e bem menos pretensiosa do que desmoralizar todo o sistema de classificação do Tempo, das Estrelas, das dimensões espaciais (e da po@#$@# toda)… A real crítica é:

Não há NADA de mágico, místico, cósmico, e/ou significativo, universalmente perfeito e engendrado…

…para suportar a ideia de que “um novo Ano se inicia, a partir da meia-noite”. E, no lugar da palavra “Ano”, coloque a semântica de “ciclo”, “fase da raça humana”, “nova etapa da sua vida” e etc….

Se você acha que “tudo vai ser diferente”, somente porque “2017 acabou”, ou porque você supõe (incorretamente) que a Terra perfez uma volta completa em torno do Sol, saiba que você se engana em dose dupla.

A Terra não terminou de dar uma volta ao redor do Sol.

Sua vida não vai mudar “um milésimo de segundo” na Bússola imaginaria que a norteia, só porque agora, o calendário de 2017 tem sua última folhinha arrancada, e começa 2018…

Existe um sem número de boas razões para se medir o Tempo, como a importância disso para a Agricultura, nosso modelo de Medicina (da gestão de uma gravidez, até o tratamento contra as Neoplasias e etc….). Tudo isso é balizado com o Tempo em mente.

Mas, por outro lado, existe essa insana tara de que “o ano que vem” vai mudar sua vida, só porque antes era um número impar, e agora vai ser um número par.

“Em 2018, vou emagrecer”… “No Ano Novo, eu assumo o controle da minha carreira”… “Ano que vem, o Brasil vai sair da lama”…
Desculpe-me pela sinceridade e indelicadeza: Quanta bobagem.

O tedioso momento “Paulo Coelho”, e a arte de escrever auto-ajuda em 15 minutos…

…me forçam a dizer algo que é bem óbvio mas que costuma ser a última coisa a ser lembrada: Sua vida – ou algum aspecto dela – não vai mudar de estado “A” para “B”, só porque você se vestiu de branco, comeu lentilha, tomou Champagne (eu não tenho dinheiro para Champagne de verdade… Vou tomar espumante mesmo), pulou ondinha, queimou fogos, abraçou as pessoas que não viu o ano todo… E zaz…

A Mastercard adora isso.
A Vivo também.
Na verdade, a Publicidade sabe como brincar com almas e mentes, em um período tão emocional como as festas de fim de ano, e é por isso que as peças publicitárias de fim de ano são cheias de chavões como “Começar o ano com quem você ama: Não tem preço”, ou “Em 2018, viva mais o sim, e menos o não”, ou ainda “Abrace as novas idéias, e abandone os preconceitos em 2018″…
BULL…SHIT…

Se você ama alguém, melhor amar sempre que possível (mas, não o tempo todo, porque isso não é normal, nem sadio e, de novo, isso não é um comercial de TV), porque é muita presunção sua, achar que ela(e) (ou você!) vai estar viva(o) até a próxima queima de fogos… Se você esperou até o Ano Novo pra notar como essa pessoa muda sua vida (ao ponto de fazer o Novo Ano ser diferente do anterior, só por estar presente), você é muito TAPADO(A).

Se você quer combater preconceitos que você tem e exercita contra os outros – em tempo, ponto pra você por querer mudar isso – pelo amor de qualquer coisa que você acredite: Comece ontem… Comece mês passado. Não espere o Ano Novo, não… É um desserviço o que você está fazendo com os outros e com você…

Se você quer emagrecer… Esperar o Ano Novo é uma dupla roubada:

a) As academias estarão fechadas no dia 1 de janeiro (a menos que sejam de donos retardados e sem humanidade pelos funcionários e suas famílias).

b) Você esperou a época do ano em que mais se come, e em que mais se come pratos de alta caloria para, em seguida, entrar em um regime forte… Significa que seu corpo foi mimado com 4 mil Kilo-calorias numa Semana-Ceia constantes, e agora você espera que ele trabalhe com 1.800 KCal, daqui pra frente… Genial da sua parte…

Todos os exemplos acima, se resumem em uma explicação AGRESSIVAMENTE caricata de livros de auto-ajuda – que eu detesto, por motivos que não tenho como defender aqui, sem misturar demais – :
A única forma de mudar sua vida, os rumos, os aspectos, os resultados e os caminhos dela; é se você quiser mudar suas atitudes, suas opiniões, suas ações e, no fim, você mesmo.

Eu disse que fedia à auto-ajuda… Fazer o que, se é a mensagem correta… Mas isso não promove a auto-ajuda à emissária da verdade… Até um relógio mecânico, quando quebrado, está certo 2 vezes por dia…

E esse é todo o ponto que me motivou a escrever hoje…

Vejo todos esperançosos com 2018… Fazendo o mesmo que fizeram em 2017, que já faziam em 2016, e que já tinham feito em 2015…

A ilusão não é má (por exemplo, o menino que crê no Coelho da Páscoa, ou a menina que acredita na Princesa), exceto quando essa ilusão desvia o foco do iludido para longe do que realmente causa o que o incomodou, em primeiro lugar…

2017 não me engordou uma grama…

…foi bem mais (tipo… 100%) o hábito de comer hambúrgueres deliciosos (mas gordurosos) + ficar no sofá vendo TV, ao invés de ir pra Academia, o que realmente me arrebentou na luta com a balança (“luta” que eu não travei… Não era minha meta emagrecer neste ano; muito embora, estar em dia com o peso seja sempre bem-vindo, não me propus à isso, em primeiro lugar).

Eu prometi ler um livro por mês; sai até do convívio diário com as redes sociais sob a idéia de estudar mais, de ler mais os grandes autores… E terminei lendo apenas 4 dos 12 livros que deveria ter lido… 4 é melhor que zero, claro… Mas, 4 está bem longe dos 12 que eu me propus…

“Em 2018, vou ler os 12!”… Bem, EU (e não 2018) poderia ter quebrado um galho para essa meta e, ao invés de passar 1 hora escrevendo esse texto, ter iniciado “o primeiro livro de 2018”, já em 2017… Preferi procrastinar por aqui…

E é por este tipo de coisa que o Brasil (e a sua e a minha vida) vai seguir sendo uma porcaria em 2018…

…porque, mesmo com 47 mil mortos nas vias públicas brasileiras em 2017 (fonte) – mais que as guerras da Síria e do Iraque mataram no ano que se encerra – a cada 10 veículos vistoriados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), 6 foram multados por infrações graves como cintos de segurança quebrados, pneus carecas, ou embriaguez ao volante (mais combos de criança sem cadeira de segurança no banco de trás, e sem cinto), conforme matéria que foi ao ar na Globo News, ontem.

Assim sendo, o simples desejo de que “o Mundo seja melhor”, contanto que você não precise fazer um único esforço nesse mesmo sentido, é o que mantém as engrenagens da realidade em que vivemos, idênticas, ao longo dos anos. As datas em si, são meras espectadoras da nossa estupidez.

Os políticos do país em 2017, seguem sendo os mesmos em 2018.
As pessoas jogando lixo na rua, pichando muros, ouvindo “música” (à empresa Vivo e sua peça publicitária: Não, não é Cultura. É Lixo, mesmo. Fede. Muito.) alta e incomodando toda a vizinhança, seguem agindo assim.
Você segue sem ir pra academia, e eu sigo sem ler os livros que prometi e queimando tempo nesses posts que – quase – ninguém lê.

Os lunáticos no poder, mundo afora, seguem lunáticos, e com poder (Trump, Kim Jong-Un, Maduro, ISIS, Bashar al-Assad… a lista é enorme), também em 2018…

Tudo está garantido para que 2018 seja idêntico ao ano que termina, hoje – ou pior, a considerar o ano de eleições para a presidência da Republica do Brasil, e as opções que vão se destacando…

Alguns vão ler esse post como um post negativo… Pessimista.
Eu, autor dele, por outro lado, enxergo como uma visita ao espelho: Nada muda em 2018. Nada. A não ser que eu mude primeiro.

Esperar por 2018 ou 20xx (onde “xx” é o seu número predileto) é tão lógico e/ou eficiente quanto descobrir um câncer mas, esperar que ele melhore em 3 ou 4 anos, e suspender as visitas ao médico, até lá.
Boa sorte com essa estratégia!

Ao pensar no porquê lutamos tanto contra mudanças; no estilo de vida, na alimentação, nos horários e atividades,  nas regras trabalhistas (não ouso significar, neste momento, que são boas ou más), nas regras da previdência (idem à anterior), na nossa relação com a Lei e com a Ordem, na nossa conduta um com o outro…
Ocorre-me o que aprendi em uma das leituras sobre psicologia: Mudança SEMPRE causa dor.
E a única forma de empurrar um ser humano saudável no caminho da dor, é se continuar no caminho atual causar mais dor do que trilhar o novo caminho (que seria a mudança, neste caso).

E é por este e outros motivos, que até para cima de uma mudança artificial, e sem respaldo algum da natureza (lembre-se que a Terra não fechará mais 1 ano sideral, hoje, à meia-noite), tentamos – sem sucesso – empurrar a nossa responsabilidade de assumir o que deu errado, e tomar as medidas que precisam ser tomadas para não persistir no erro.
Pensando bem, coitado do Ano Novo: Já nasce com o peso das expectativas de todo o mundo (literalmente) nas suas costas… Expectativas que deveriam recair sobre cada um, e não nele.

Para encerrar, atribui-se erroneamente à Einstein, a frase:

“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”

Mas nem pela incorreta atribuição, a frase deixa de ser verdade. E é essa reflexão que desejo a você, não em 2018 mas, imediatamente.

Porque, disse Paulo Coelho (agora sim, corretamente atribuído): “Há verdades mais verdadeiras que a própria verdade”. E essa é uma delas:

Se você acha que 2018 vai ser diferente, mas pretende fazer tudo como sempre fez até aqui, você é insano(a).

Feliz 2018!

PS: Não se engane: Tendo sentido ou não, eu vou aproveitar a grande festa de Ano Novo com amigos e pessoas queridas, sem dúvidas! Espero que você faça o mesmo. 

Quando se é refém em casa.

Esse é um post feito com raiva e desesperança.

Ele ocorre à partir das 3h da manhã do Sábado para Domingo, e ele só ocorre porque tive meu direito Constitucional de não ser submetido à tortura (art. 5, inc. III), violado, mais uma vez.

Sou refém. Refém da minha própria residência, não tenho outro lugar para ir, e é aqui mesmo onde sou torturado e submetido a tratamento desumano e degradante.

Às 3h da manhã, acordei ao som alto do que alguns chamam de “música”. Claro, não era Beethoven, mas algum “MC”. Em geral, alguém medíocre, sem nenhum talento, idolatrado e seguido por pessoas igualmente, ou ainda mais medíocres.
Na verdade, é ridículo discutir o que era: Ainda que fosse a melhor peça da música clássica, às 3h da manhã e em volume suficiente para me acordar, seria tortura da mesma forma. Exótica (se fosse Beethoven), concordo, mas ainda assim, tortura, degradante e desumana.

O mais insano quanto a narrar este fato cotidiano para muitos é que a maioria das pessoas que lerem vão supor que moro perto de alguma “comunidade” (um nome ridículo, ao qual me oponho sempre, apoiado por gente que gosta do politicamente correto para fazer um lugar desumano e indigno de qualquer cidadão honesto – a favela – parecer melhor e mais digno; já que desistimos, enquanto nação, de tentar resolver esse problema social de décadas, damos um nome que “ofenda menos” – e deixamos as pessoas seguirem vivendo no meio do esgoto, da violência e da precariedade).

O chocante é que não, não moro perto de uma “comunidade” (ou favela, como deve ser dito) mas em uma região recheada de condomínios e apenas um minúsculo cortiço com uma meia dúzia de casas amontoadas por perto. E é este cortiço que aterroriza uma vizinhança inteira.

Vou pegar emprestado do Google.com, um mapa aéreo para que as pessoas possam ter noção do quão surreal é o que passo, vira e mexe:

vizinhanca
No primeiro balão à direita, onde eu resido. No balão do meio, o “T” onde meia-duzia inferniza a vizinhança inteira. No balão mais à esquerda, em cima, uma casa de repouso para idosos funciona ali…Pergunta: Como temos a falta de vergonha de deixar tão poucos afetarem centenas de pessoas?

Primeiro, peço que note a densidade de prédios e condomínios na área. Depois, perceba que 99% das casas tem dimensões e aparências típicas. Por fim, embora a imagem não coopere, veja que o “T” é a única área de construções irregulares, sem telhado ou acabamento, com lonas cobrindo o teto e etc.

Pois bem: É esse grupo de 6~10 casas/barracos que, regularmente, proíbe uma vizinhança composta por não menos do que centenas de famílias de ter paz (não perdi tempo levantando o número afetado mas, fique a vontade para extrapolar: Só o prédio em que moro, com 2 torres de 20 andares e 3 apartamentos cada, já garante 120 famílias atormentadas por um punhado de gente; todos os prédios ao redor do quarteirão são incomodados pelos infelizes que promovem verdadeiros “pancadões”).
Torturam com som alto, música de péssimo gosto (seria muito ruim até com música boa, repito – só é “mais péssimo” com o que eles ouvem), gritaria, quando “a festa” não acaba em violência entre os próprios participantes, o que não é raro.
Não ligaria se matassem uns aos outros, mas a violência só serve para fazer as mulheres, envolvidas no “evento”, gritarem escandalosamente, acordando mais uma vez a todos.

Eu faço tudo, e tão somente o que posso: Abro o site da Policia Militar, cadastro ocorrência por barulho (o famigerado Charlie-1*), e espero uma viatura que nunca veio, nas 2 vezes em que eu decidi acionar a força policial. E adianto o que penso:
É constrangedor remover policiais do verdadeiro serviço policial que deveria ser evitar crimes e ocorrências hediondas, para mediar uma conversa entre alguém torturado psicologicamente e uma porção de bêbados sem nenhum grau de educação ou civilidade.
Se fossem pessoas equilibradas, eu não precisaria da Polícia como salvaguarda para a conversa ocorrer. Mas, inferno, se fossem pessoas equilibradas, eu nem precisaria da conversa, em primeiro lugar.

Mas, por mais constrangido que eu esteja em tirá-los da verdadeira missão deles, isso é tudo e somente tudo o que posso fazer dentro da legalidade.
E a Polícia não vem. Outra vez.
Podem estar realmente ocupados impedindo que pessoas percam o patrimônio ou até mesmo a vida, e eu prefiro pensar assim, mesmo que sinceramente e conhecendo como a Força Policial encara esse tipo de ocorrência, eu saiba que eles não costumam vir por não ter nenhuma vontade de lidar com gente alcoolizada, e que pode ser perigosa (a famosa “desinteligência” [onde o policial é ferido em meio à uma briga] é comum nos C-1*) para, no fim, preencherem mais papel na delegacia do que o dito cujo responsável pelo inferno na Terra…
No país em que o traficante (exceto no flagrante) sai pela porta da frente do DP, após assinar um termo, e antes do policial que faz um boletim civil e outro militar (2 papeladas), o que você acha que acontece com o sujeito que faz um pancadão?
É uma humilhação para eles, os policiais, mas também para mim, que tenho que ir até a delegacia para registrar a queixa, enquanto sou provocado pelo fulaninho que diz que “antes, até ia parar cedo mas agora, vai tocar até às 8h da manhã”…

Depois de toda tortura a qual eles submetem todos nós, os mais temerários desejos e delírios sobre como “resolver” a crise surgem: Às 5h da manhã, morrendo de cansaço, mas, profundamente irritado e com o ruído ainda em curso, não posso deixar de narrar como seria prazeroso tratá-los via a única língua que eles respeitam: O tapa forte na orelha, o cano da pistola na cara, a pesada no equipamento de som pago em 100 vezes na Casas Bahia e vê-lo se quebrar em cem partes, enquanto solta fumaça do tipo que já diz: “Este, nunca mais”…
O horror.
Censuro-me ferozmente, logo após idealizar essa busca por vingança.
O simples fato de eu conceber a cena, já merece reprimenda.
Mas que não se empolguem os falsos moralistas de plantão: Merece bronca, mas não por eles, porque quero mesmo que eles invertam os fios do aparelho e descubram uma propriedade oculta e catastrófica das bobinas dos alto-falantes onde elas atingem massa crítica e detonam como TNT, mandando tudo pelos ares.
O que fazem comigo e com minha família e com todas as outras famílias que moram no mesmo lugar, não me deixa um único milimetro de compaixão ou empatia.
Insisto: Não é por eles que me censuro. Não é porque eles merecem tratamento melhor. Até porque, riem de quem tenta tratá-los respeitosamente. Já vi destratarem o senhor que foi lá, sem reforço policial, exigir o respeito à sua paz.
Mas é por mim que me proíbo. É porque, embora profundamente irritado e raivoso por não ter o direito ao sono; embora exposto à tortura da privação do sono que eles me impõem, eu sei que eu sou melhor do que tudo isso que vocifero em pensamento contra eles.

Eu, quase que em um delírio solitário, brigando por valores superiores que visivelmente não são compartilhados pela sociedade em que vivo, sigo insistindo na quase caduca luta pelo Contrato Social; repúdio a volta do Direito Natural, da superioridade do mais forte, do retorno ao homem primordial e animalesco. Faço isso em toda oportunidade em que alguém quer “resolver no braço” alguma questão…
E como posso discutir isso e pregar isso, quando quero pegar a pistola, a toca ninja, e “resolver as coisas” eu mesmo? (Sinceramente, e com o pingo de frieza que bate entre a raiva e o sono; ao analisar o que escrevo, penso em quanto eu teria que me sujar pelo momento tosco da realização… Um conselho para todos (eu, incluso): Nunca saque uma arma se você não tem a intenção absoluta de usá-la, ou você pode morrer via sua própria munição)…

E lendo os últimos 3 parágrafos, eu vejo de maneira desoladora e pesarosa: Eles venceram.
Sou mais parecido com eles, em meio a fúria que me causam, do que quero que eles sejam parecidos comigo, pela imposição da lei, com uso da força policial se preciso for etc…
Estou proporcionalmente mais perto de desrespeitar o direito deles, como eles fazem comigo, do que conseguir que eles se curvem à lei e respeitem o direito de todos pela via legal e moral.
Tragédia.

Como podemos chegar tão baixo enquanto sociedade? Por que tão poucos tornam reféns, centenas?

Conversei com o porteiro, com quase 20 anos de condomínio e perguntei “Desculpe, mas, eu sou o único que reclama do comportamento deles?”. E o porteiro fez cara de sarro e disse “Vixi… Todo mundo reclama… Mas o pessoal tem medo de ir lá com a Polícia e ficar com inimizade… Aí depois pra sair na rua é complicado”…
Fico pensando “Como é que é? São 6 casas, não a favela da Rocinha! É gente mal educada, e sem respeito aos limites, mas nenhum deles é o Fernandinho Beira-mar!!!”…

Fica claro: A meia-duzia segue vencendo porque é fiel apóstola da teoria que “os incomodados que se mudem”.

Não pagam IPTU, nem compraram o terreno, mas, se fazem mais donos do pedaço do que todos os condomínios e todas as casas, às centenas, juntas. Porque, embora todos se incomodem, a maioria teme as consequências de defender o direito legitimo à paz e ao descanso.
E todos dizem pra si mesmos “alguém tem que resolver isso”, complementando, “contanto que não seja eu”…
Isso explica o Brasil em que vivemos numa centena de outras situações: Ninguém quer o trabalho (às vezes, imenso e cercado de dor de cabeça) de resolver, e todos esperam que alguém (outro) resolva.

Meu martírio está perto do fim: Primeiro porque o Sol já vem, e os vagabundos que assaltam a paz do bairro também se cansam.
Impuseram-me, mais uma vez, o amargo gosto da derrota de só poder dormir quando eles deixaram.
Segundo porque, em alguns meses, meu contrato expira, e vou me mudar. A vantagem suprema de alugar acaba residindo na capacidade de não se ver condenado à convivência com bichos que não podem ser chamados de “cidadãos”.

Não o são, de fato. A Cidadania pressupõe a mínima observância à lei, e eles são incapazes disto.
Muitos tolos vão vir argumentar que eles foram marginalizados e, por isto, não podem dar o que não tiveram. Ao que respondo: E o que meu direito ao sono e à paz tem a ver com isso? Posso eu, tolido de uma das necessidades mais absolutamente básicas – que é o descanso – abdicar da minha obrigação de cumprir a lei e “ir lá resolver”??? Não posso.

De mais a mais, essa é a mentira suprema que torna tantos e tantos reféns de tão poucos: Que porque eles não tiveram apoio A ou B da família, da sociedade, do governo, ganham algum tipo de liberdade poética para não respeitarem o Contrato Social e o mínimo de regras para o convívio com outros indivíduos. Piada de extremo mau gosto.

Não importa o que eles não têm, ou deixam de ter: Enquanto dois erros não valerem um acerto, eles são os vilões e eu sou a vitima. Pouco importa se moram mal e eu moro no condomínio. Não os coloquei nessa situação e nunca desrespeitei uma lei contra eles. Tudo o que espero é a reciprocidade. Em vão.

Há algo profunda e alarmantemente quebrado na Sociedade brasileira. Mas, se não posso dar um diagnóstico completo, uma coisa eu adianto: O ditado “os incomodados que se mudem” é um câncer no coração do nosso povo.

Os incomodados – em todos os aspectos – têm que começar a reagir – por todos os meios necessários – e parar de se mudar.
É, ironicamente, a única forma de mudar o país: O justo parar de se mudar e exigir que mude o outro.

(PS: A zona parou por volta das 6h… Vou deitar, mas o texto só sai às 8h30)….

*obrigado pela correção, Guilherme!

O estranho momento em que precisamos militar contra os militantes…

Quando a repressão vem de quem mais deveria entender o valor da liberdade…

Uma mulher grávida entra pela porta de um Pronto-Socorro após o rompimento da bolsa amniótica, e exige que o procedimento de parto-Cesária seja realizado.

O médico, no entanto, contra-argumenta que a Cesariana desumaniza o nascimento, de acordo com o último Congresso da obstetrícia internacional e decide seguir com o Parto normal.

Se esta cena ocorresse e, baseado somente na informação dada (ignoremos possíveis questões de risco à vida, e etc.), todos nós (eu, incluso) diríamos que houve violência obstétrica.

Então, por que não vemos violência em proibir que alguém com orientação sexual diversa do comum (“comum” que não: Não é sinônimo de “certo”…), peça ajuda profissional para que seja feito o caminho B, ao invés do A?

É difícil não avaliar – com pesar, acrescento –  que se você não está nadando em favor da corrente de uma dada militância, você só pode estar contra ela.
Esse tipo de falsa dualidade levou a tanto confronto e momentos deploráveis da história humana; e não vejo porque será diferente dessa vez, se continuarmos assim.

Militâncias que, tantas e tantas vezes, falam sobre “amar mais”, “compreender mais”, “aceitar mais”… Mas não admitem que alguém seja gay e não milite verborragicamente por onde passa; ou seja gay, mas, não queira sê-lo.

Não é diferente da militância que não admite uma mulher que quer ser dona de casa e cuidar dos filhos, ou da militância que não admite que um negro case-se com uma branca, ou que uma “não-negra” (seja lá o que isso quer dizer) use uma peça de moda com inspiração afro-cultural.
Não quero causar o terror mas, o pesquisador da penicilina (Alexander Fleming) era branco… Acho que vai ser ruim se trilharmos esse caminho em mão dupla…
O Smartphone na sua mão é resultado, muito provavelmente, de uma centena ou um milhar de patentes de origem majoritariamente asiática (indianos, japoneses e etc.)… Já pensou se eles decidem que não posso “me apropriar” (mesmo pagando por isso) do que eles criaram? (editado em 2021: Entendo que a questão da apropriação cultural é maior do que esse utilitarismo, mas essa discussão é comumente utilizada da mesma forma falaciosa que as hipóteses acima).

E seriam só suposições e hipóteses, não fossem todas essas narrativas corroboradas pelo árido deserto da realidade.
Todos os episódios que descrevi aconteceram publicamente e, não é difícil achar essas notícias tristes de como movimentos com causas absolutamente legítimas como os direitos LGBT+, da Mulher, dos Negros e enfim, representantes de todos que não estão no controle do poder político, sócio-econômico, financeiro e etc., repetem-se, em suas vertentes mais radicais (gosto de supor assim), tão infelizes e repugnantes quanto aqueles que eles dizem enfrentar (os homofóbicos, machistas, racistas e etc.).

Eu já falei sobre o conceito de “Efeito-mola”, explorado na Sociologia com nomes mais pomposos mas, basicamente, é a ideia de que a opressão de uma parcela da sociedade causa efeitos semelhantes aos descritos pela Física quanto à pressurização de uma mola e suas decorrências, e leva a efeitos colaterais maiores do que a medida ideal quando “a mola é liberada”.
O mesmo efeito-mola vale para a outra parcela da sociedade que apreciava seu status-quo e se sente ameaçada – sob qualquer aspecto – diante de conquistas de grupos que passam a exigir que estes grupos privilegiados convivam de maneira mais igualitária, ou cedendo espaços de maneira mediada pelo Estado (políticas afirmativas, etc.), para o primeiro grupo.

Enfim, o que resta é o choque de N* grupos que, por sentirem-se reprimidos pelos mais variados motivos e méritos, muitas vezes vão além do que um individuo sóbrio e  isolado de uma comunidade que catalise suas opiniões, consideraria “razoável”.

Não há dúvidas – ao olhar para a História – que “o razoável”, algumas vezes, pode significar até mesmo ir às armas e lutar até a morte.
Pergunte aos judeus, vitimados pelo Nazismo, se eles teriam entrando de bom grado nos trens que conduziam ao extermínio se soubessem disto antes (no começo da agressão). Teria sido “razoável” matar os soldados alemães com todos os meios – inclusive os bestiais – nessa situação…

Mas, em tempos de Paz entre os Estados (e sociedades), a reação dos grupos LGBT e coligados, e a mobilização das celebridades contra a medida do Juiz Federal, Waldemar Cláudio de Carvalho, só demonstra para mim que não há razoabilidade, nem no grupo dos Cristãos que acham que a orientação sexual diversa do comum é coisa de Satã, nem nos grupos LGBT+ que acham que um Gay é, por alguma lógica estranha a meu entendimento, obrigado a amar sua condição de maneira incondicional e incontestável.

Comparo essa incoerência à tentativa de ressuscitar o suicida para, depois, executá-lo por “homicídio de si mesmo”.

A cena seria tragicômica no encontro do cidadão que deseja a liberdade de tratamento com os representantes do movimento:
– VOCÊ TEM QUE SER FELIZ SENDO GAY, SEU FILHO DA P#@%&! (Enquanto espancam o sujeito para que ele “aceite” sua condição e seja “feliz”).

O episódio me dá pesar, ainda mais porque de todas as Ciências ligadas à saúde humana a Psicologia é mais humana de todas elas. Como também, a mais nova, e a que mais precisa pesquisar, crescer e descobrir mitos e verdades sobre o que se sabe da “cabeça” humana, até aqui. É assim com toda Ciência ainda na “infância”.
É o cerne da Psicologia, independentemente de vertentes e interpretações, tentar compreender sem emitir julgamento, cada ser humano, de maneira muito individual, mesmo quando o individuo é interpretado em um contexto e prisma determinado por um dado momento ou espaço social/histórico/cultural.

Em resumo, é quase que “do contrato social” da Psicologia com a humanidade, individualizar o “paciente” (eles não gostam desse termo) e compreender que por mais que ele possa ter um quadro parecido com o individuo anterior, ele é algo totalmente novo e único.

Resumindo: A psicologia deveria ser a primeira a dizer que, por mais não-natural que seja, o Gay tem total direito de não querer sê-lo, e as ferramentas disponíveis para mostrar a ele o que ele é e não é, serão usadas para que ele atinja a coisa que mais pode trazer paz a um individuo: Auto-conhecimento.

Talvez, por circunstâncias-mil, seja simplesmente impossível que ele deixe de sê-lo. Mas, não se começa um acompanhamento psicológico só se o resultado final for o que o cliente desejava.
Até porque, o resultado final desse acompanhamento é sempre imprevisível, devido aos N desdobramentos que cada consulta causa. A verdadeira missão da Psicologia é fazer o individuo se entender, compreender os processos que o transformaram e o edificaram enquanto entidade e personalidade, a fim de que ele, eventualmente, fique em paz com o que é e com o que deixa de ser.

A principal contra-argumentação ao que exponho até aqui é que esse indivíduo só odeia sua orientação porque é reprimido, sofre/sofreu preconceitos, nasceu e cresceu em um lar opressor à sua orientação e etc.
Enquanto tudo isso pode ser absolutamente verdadeiro; novamente, somos nós, Sociedade (ou parcela da Sociedade), proibindo que o individuo, sem fazer mal a qualquer outra pessoa, procure o resultado que desejava atingir. Tudo para que nós – e não ele – nos sintamos satisfeitos (e fiquemos sossegados de que nenhum gay tentou deixar de sê-lo).

Por que é tão difícil ter o mesmo respeito que temos:
Pela grávida que não quer passar pelo trauma do parto natural, ou o paciente terminal que quer manter algum resquício da dignidade e auto-tutelar o fim da vida diante da inevitabilidade do fim doloroso e degradante?

São questões muito, muito sensíveis e multi-facetadas. Cada novo ponto que tento trazer para provar que temos pesos e medidas diferentes, daria uma discussão inteiramente nova que poderia ser desdobrada em várias e várias outras, se estendendo quase que sem fim…

Para o (a) anônimo (a) que pretende se beneficiar do que eu considero um avanço democrático salutar no que diz ao respeito à liberdade de cada individuo, meu entendimento, da maneira mais simples e mais direta possível é que: Se você não está fazendo mal para ninguém a não ser – no máximo – pra si, e se o risco de suas decisões afeta só e somente você; você tem meu total apoio em todo caminho que decidir trilhar.

Do beijaço Gay na avenida mais badalada, a pedir ajuda profissional para tentar sentir tesão por peitos e bundas (se você for um homem homoafetivo, claro… Se fosse hetero, já sentiria.).

Sinceramente, meu caro anônimo Gay que não quer sê-lo: Acho que vai ser difícil você conseguir o que quer, porque, minha crença (e, portanto, é só uma hipótese) pessoal é de que como olhos verdes ou cabelos ruivos, sua atração por pessoas do mesmo sexo esta enraizada em seu DNA.
E, até onde sei, depois de Hitler, não há ninguém sério e com competência suficiente tentando combater as anormalidades (repito para os radicais: “anormal” é simplesmente o que não é “normal” (relativo a norma). E isso não é sinônimo de “certo” ou “errado”) de cor nos olhos e cabelos; então, não vejo como alguém conseguiria “consertar” seu gosto.
Pouco importa: No fim, o que realmente importa é você saber que tentou tudo que era possível e torço para que atinja a paz interior em algum momento dessa jornada, independentemente dos resultados.

Meu pai não me ensinou a gostar de mulheres. Nem era um assunto  que discutíamos, de tão reservado que ele era quanto a isso.
Quando os hormônios da sexualidade circularam pela primeira vez em mim, eu tive certeza que nada superava o prazer de estar com aquela deliciosa forma feminina, em toda sua beleza de curvas e volumes.
Claro: Por educação familiar de valores e postura, e senso de convívio social, os hormônios nunca foram suficientes para que eu “avançasse” nelas como um animal selvagem o faria.
Mas nunca houve dúvidas em mim do que mexia com meu lado animal e que todo ser humano tenta disfarçar e renegar, com mesuras e convenções de convívio. Talvez, um dia, provemos que é a mentira sufocante e omnipresente de que somos absolutamente diferentes dos animais, a causa maior de tantos distúrbios psicossociais e comportamentos inaceitáveis em nossa espécie…

E acredito, caro(a) anônimo(a), que este processo de descobrir o que lhe dava tesão na puberdade não foi diferente contigo mas, você sentiu tudo o que descrevi quando viu alguém do mesmo sexo que você (com os novos olhos da puberdade).
Não é o normal, mas está 100% longe de ser chamado de “errado”. É só e, somente só, diferente.
E “diferente” nunca será sinônimo de “ruim”, pra gente de boa fé.
Se você não está em paz e não quer ser diferente, eu lhe dou meu total apoio para que busque alternativas para ser “só mais um hetero”.
Independentemente das chances estarem contra ou a favor do intento, só lhe desejo que encontre sua paz.
A paz de quem fez tudo o que podia ter feito.

Por fim, eu pergunto: Qual é o limite da intervenção do Estado, e da Sociedade (ou grupos dela), sobre o indivíduo? Quanto da minha liberdade natural (ou original) eu tive de abrir mão para viver em sociedade? O Contrato Social que assinamos de forma tácita, pode exigir de mim minha completa e incondicional aceitação do que eu sou ou pareço?

Mais importante: No fim do dia, vale a pena viver no meio de vós se eu não tiver o último e derradeiro direito sobre eu mesmo e toda a extensão e representação do que compõe o “eu”?

Eu não sei. De verdade. Algumas vezes, parece que vale. Outras, parece que nada poderia ser melhor do que morar na caverna mais distante e mais solitária; só para não ter que assistir uns decidindo sobre como outros devem ou não devem ser, e do que o outro tem de ser para ser feliz.

Sei, contudo, de uma coisa:
Eu, não-militante e não-ativista, nem libertário, nem conservador, nem reacionário, estou muito mais confortável com os Gays que querem ser Gays e os que não querem; com as meninas brancas com lenços afro, e com os atores que não querem “sair do armário”, ou saem sem alarde e sem bandeira.
Estou muito tranquilo com a mulher que quer ser CEO da maior empresa, e com a que sonha com a chance de cuidar dos filhos e cozinhar a janta para o marido até o fim da vida.

Estou muito mais confortável do que a massa mais ativa de qualquer movimento que diz representar os Gays, os Negros, as Mulheres…

Reconheço meus preconceitos, sem dificuldades, e entendo o quão longe de estar em paz com todos eu ainda estou. E esses preconceitos, às vezes, morrem e provam o quão ignorante e pouco evoluído eu ainda sou.
Outras vezes, de “pré-conceitos”, evoluem para conceitos formados e embasados sem que eu tenha motivo para abrir mão deles.
É assim com este assunto.
Aliás, assunto que precisa ser mais discutido. Preconceito não é crime, nem deveria ser. Um “pré-conceito” é simplesmente um conceito que você forma antes de realmente conhecer algo.
E ele pode estar certo, ou errado. A verdadeira questão é o que você faz para validar seu preconceito no mundo real, e como se comporta quando descobre que ele não é verdadeiro.

Ainda assim, eu  sinto que consigo respeitar mais e tolerar mais todas essas pessoas e todas as possibilidades que cada um deles pode decidir ser e parecer, muito mais que os militantes mais extremos dos movimentos que saem “em sua defesa”.
Gente que não consegue superar a cegueira e a paixão “à Causa” (“paixão” que, aliás, vem do grego “Pathos”, a mesma raiz para “patologia”, “excesso” ou “doença”).

Cegueira em nada diferente dos preconceituosos e conservadores que acham que seu jeito é o único jeito certo. Que seu deus é o único verdadeiro e, sua mensagem, a única correta.
A fronteira da extrema-esquerda é, de fato, a extrema-direita.
Estado Islâmico e Pastores que chutam imagens.
Racistas e Ativistas que agridem uma pessoa de cor distinta e que se dispôs voluntariamente a honrar e ostentar a cultura de outro povo em seu corpo.
São todos iguais.

Já era muito trabalhoso lutar contras as mentes pequenas, atrasadas, que pregam conservadorismo extremo, e valores pessoais e religiosos como sendo universais. Mas, tudo valia para que ninguém fosse perseguido ou oprimido por pensar, agir ou ser apenas diferente de mim ou do que eu penso.
E agora, isto…

Estranhos e cansativos os tempos a frente, em que teremos que militar contra as militâncias.

Amor não é Doença. É a Cura.Pelo menos, a mensagem não deixa de ser verdadeira, não obstante tudo isto…

8 de março: O porquê eu respeito a “farsa”…

Entre esperar Papai Noel ou ajudar alguém a ser respeitado, de maneira digna, eu acho que é melhor ficar com a farsa do “Dia das Mulheres”

Símbolos universais do masculino e feminino, combinados com o sinal de igualdade, no centro.
Será que, um dia, a anatomia será apenas um diferencial fisiológico e aparente entre nós?

8 de março, como 25 de dezembro, é uma farsa histórica…

Nem as mulheres foram queimadas vivas na fatídica fábrica têxtil de Nova York, nem Jesus nasceu, respectivamente, nas referidas datas.

No entanto, como todo o mundo (literalmente) insiste em comemorar o Natal no ocorrer do Solstício de Inverno do Hemisfério Norte (uma data originalmente pagã, vale dizer), eu não vejo porquê não lembrar que o mesmo mundo ainda deve muito às mulheres, quando o assunto é “igualdade”; mesmo que através de uma data, também, inventada.
A história inventada do incêndio parece ter ocorrido porque feministas francesas não queriam que a data ficasse ligada à Comuna de Paris, e demais eventos comunistas, muitos destes, comemorados em Março, e que foram berços de algumas das primeiras manifestações dessa bandeira pelas mulheres e a igualdade de gênero.
Era mau (já naquela época) ligar a luta por igualdade, às bandeiras Comunistas, pensaram as moças… Titios Mao Tsung e Marx estão tristes – lá no céu vermelho – com vocês, garotas…

Eu sei, eu sei… Metade da audiência desse post foi perdida, quando eu disse que alguém devia algo para outrem. Ninguém quer ler que o mundo tem algo de errado e que, de alguma forma, este primeiro tem alguma culpa nisso. Incomoda. Muito. Eu sei, eu sei…

Você, meu amigo, sai de casa, faz seu melhor, paga seus impostos, não estupra ninguém… O que mais o sexo oposto pode exigir de você?

Vai minha sugestão, então: Consciência.

“Consciência” é tudo o que você precisa adquirir, , para começar a enxergar o que você diz (ou quer crer) não existir: Desigualdade entre homens e mulheres.

Somente alguém:

a) Cego;
b) Mal informado;
c) Mal intencionado;
d) Uma infeliz junção de tudo isso e, quem sabe, mais um pouco;

… Pode sugerir que toda a reclamação feminina não é mais que “bobagem”, e “mimimi”.

Ok, logo ali na frente, menciono que meu reconhecimento à necessidade da “farsa”, não tem nada a ver com suportar bandeiras político-partidárias de lado b ou lado a e, muito menos, que eu seja uníssono com as ativistas dos movimentos mais barulhentos, ou com seus modus-operandi.

Mas, vamos devagar com o andor, porque a idéia (como o santo) é de barro; e quebra fácil.

Consciência

Quando iniciei em meu primeiro emprego CLT, na Xerox do Brasil, surgiu o primeiro episódio de epifania quanto ao tema, após eu querer fazer algum tipo de reflexão coletiva sobre a data; na data.

Fiz um curto e-mail (juro pelo Solstício de inverno que não era tão longo quanto meus posts), creio que com pouco mais de 200 palavras, onde eu dizia que, embora quisesse felicitar as pouco mais de 20 mulheres com quem eu tinha contato profissional, por uma data simbólica, também queria dizer que reconhecia sua luta por igualdade e valorização na sociedade, e que sabia que estava longe o dia em que a data poderia ser só comemorada; em uma sociedade construída, não somente mas, também, sob suas costas e que, ainda assim, às subtraia o devido valor, à luz do dia, “na caruda”.

A reação das colegas e amigas me chocou porque muitas levantaram de suas mesas e me parabenizaram pessoalmente (seria eu, também, uma mulher? Tenho uns comportamentos estranhos, mas, não é pra tanto, não é?).
Algumas verbalizaram e disseram que, diferente dos chefes, outros amigos, parentes e namorados, e até mesmo do e-mail padrão do RH, eu havia sintetizado o “problema com a data”: A esmagadora maioria delas é feliz por ser mulher, por receber flores e bombons, e parabéns de todos os lados, no 8 de março.
Não há crime em felicitá-las, de verdade… Eu sempre procuro fazer esse tipo de coisa para as mulheres com grande significado em minha vida.

Mas, no fundo, não é uma data que pode ser pura comemoração e, na realidade, elas trocariam tudo isso e aprovariam o fim da data mundial, se isso garantisse a elas, igualdade com o outro sexo que compõe a espécie (tá com dúvida? Sim: Nós homens).

E a primeira coisa que você precisa reconhecer, meu querido amigo, é o tamanho do problema. E não duvide: Escrevo mais por você do que por elas… O que eu direi aqui, elas sentem na pele, todos os dias.

Segundo lugar, teu nome é mulher.

Se Shakespeare fez muita gente (“muita” mesmo, por gerações) suspirar com seu “Romeu e Julieta” (que, na verdade, é tudo, menos um aval poético à loucura de amor; e bem mais um aviso de que é idiota desrespeitar os pais e a sociedade), ele não era… Bem, como posso dizer… Um feminista…

A célebre frase de Hamlet, em contra-cena com Ofélia, em peça homônima ao primeiro citado, é bem conhecida:

“Fragilidade, teu nome é mulher”(…)

Na verdade, como 99.999% (deixei espaço para as exceções: elas sempre existem) dos entes de seu gênero e época, Shakespeare era, muito provavelmente, misógino.

mi·so·gi·ni·a
sf
MED, PSICOL Antipatia ou aversão mórbida às mulheres.

Ah mas, também, quem nunca?

Che Guevara, o Papa, nossos avós e, quem sabe, sua mãe e irmã… Todos tiveram, têm, ou terão uma antipatia com o gênero feminino (eu temo que alguém vá dizer que “mulher” não é gênero. Recomendo conversar com a Associação Americana de Sociologia [ASA] e avisar que a documentação deles está errada).
A frase de Shakespeare, em seu contexto original, é uma mentira. E, como muito do que pensamos do outro sexo, também o é, grande parte de tais conjecturas.
A fragilidade do sexo feminino, em sentido stricto, é mera construção social de dezenas de milhares de anos.
A nossa versão atual da raça humana (a espécie homo sapiens sapiens [isso mesmo: Sapiens que Sapiens]) tem cerca de 70 mil anos de história e, desse período, estima-se que a sedentarização (em oposição ao nomadismo) tenha ocorrido entre 25 e 17 mil anos antes de Cristo (ou, melhor dizendo, do primeiro Solstício geladinho dos Cristãos).
A agricultura surge, então, em torno de 10 mil, antes do “Primeiro grande festão de inverno” da Igreja Católica.
Noves fora, nada, são 12 mil anos executados de modo que o homem caça e guerreia, enquanto as mulheres colhem frutas e cuidam da “cria”.
Logo, se elas, de fato, agora são frágeis, foi por mera imposição, ou escolha (chame como quiser) social, há – mais ou menos – 12 mil anos; e não por uma inerente fraqueza constitutiva, genética, de gênero; como a frase tende a sugerir…
De mais a mais, a mulher mais forte do mundo (da última vez que vi, era Donna Moore, com a “mísera” carga de 330 Kg no Levantamento Terra; uma bobagem…) vai ser infinitamente mais forte do que 99.5% (ah, as exceções) dos homens do mesmo planetinha em que ela mora.
Não importa se você gosta de mulheres musculosas, ou não. O ponto é que elas não são inerente e intrinsecamente fracas.
Se no stricto-sensu é mentira, em sentido lato, também. Muito do que chamamos como fragilidade é, meramente (e novamente), milhares de ano em reiteração de condutas e posturas que visam o fortalecimento do bando, o estreitamento das relações que sustentam a tribo, e em última análise, a evolução darwinista, aplicada à sociedade humana, at its finest (no seu melhor).
E, se por um lado, elas abriram mão do poder natural e absoluto, em prol da comunidade que arquitetavam e suportavam (coisa que leoa alguma fez [ainda são as caçadoras mais letais e fortes de uma alcateia]), elas – as fêmeas de nossa espécie – ganharam em troca, uma banana (e, para o azar delas, nem foi no sentido bíblico [entendedores, entenderão] pois, assim, poderiam, ao menos, ser felizes sozinhas).
Sua abdicação lhes rendeu o título de “frágeis”.
Aliás, “afeminado” não é ofensa para a sociedade ocidental, à toa… Adjetivar um homem em semelhança à uma mulher, é um ótimo jeito de iniciar uma briga, enquanto ofensas ao caráter (como “canalha”, ou “vagabundo”), tem menos chances de chegar ao mesmo resultado… Vai entender o bicho-homem…

Se não são sinônimos de fragilidade ou fraqueza, com toda certeza foram forçadas ao sinônimo de “segundo lugar”…

Como eu disse, antes, foi mal negócio (não, em 1920, não em 1850, mas, há mais ou menos 12 mil anos atrás) para as mulheres, esse negócio de “sossegar o facho”.

Tivessem continuado a arranhar e morder como as leoas e, talvez, hoje fosse dia Internacional do Homem, e a Lei, talvez, chamasse João da Lapa.
Mas, como diria Mano Brown, “aqui é Capão Redondo, ‘tru’, não Pokémon”. Não adianta idealizar no faz de conta…

Não que eu acredite nas BOBAGENS que vejo em algumas homenagens, onde supõem os publicitários de “o Boticário”, ou do Dollynho, que, fosse o mundo governado por mulheres, de fora a fora, só haveria paz, amor e carinho…

“O homem é o lobo do homem”, enunciou o grande Thomas Hobbes… Sempre foi e sempre será a verdade mais triste da nossa espécie.
Com o poder e a força, homens e mulheres podem ser terríveis, ou maravilhosos. Esse fato nada tem a ver com a carga genética do 23º par de cromossomos da nossa espécie.

Mas, fato inegável é que a conjuntura da situação feminina no mundo, quanto à violência, a igualdade de oportunidades, de reconhecimento e de valor (social e econômico), é o que é, não porque assim deveria ser, ou por ser inerente do gênero feminino, mas, porque assim foi construída para ser.

Por todos nós, importante dizer. Que as moças que me leem, não tirem de seu fardo a culpa – em parte, óbvio – dessa construção, pois, “quem cala, consente” e “só tem malandro, porque tem otário“, diria o exímio Sr. embaixador da filosofia brasileira, Bezerra da Silva.
E, acima de tudo, porque o papel de vitima também não ajuda quem precisa ir à guerra. Sinto muito, de coração, meninas: Essa é uma briga que vocês não poderão se esquivar para sempre…

“Rodrigo… Quanto blá-blá-blá… Não vi um argumento bom de que elas sofrem alguma desigualdade real… Talvez, lá no Oriente Médio, mas, aqui no Ocidente, elas não têm do que reclamar…”

Fôlego… Fôlego… É tudo que preciso para não responder por lesão corporal grave, ao ouvir esse tipo de infelicidade… E, sim, eu ouço… Imagino elas…

Enquanto, “meu amigo”, você disser coisas como “eu ajudo em casa” (não se ajuda alguém a cuidar do lugar em que você mora… Se ambos trabalham fora, divide-se tudo por igual, para quem ninguém trabalhe mais, só porque tem xana e não pinto…), ainda que ela não trabalhe fora, a carga de trabalho doméstica é, muitas vezes, pior que a do escritório; sinta na pele para entender (e divida de forma justa);
Enquanto você se gabar da louça que lavou no último aniversário dela;
Enquanto você esperar “parabéns” por tudo que ela faz todos os dias, e você fez só na passagem do cometa Harley…
Bem, eu nem precisava escrever mais pra você pedir perdão (pra ela, não pra mim… Ainda tô decidindo se vale responder o artigo 129 do CP, por conta da sua infelicidade)…

MAS… Os fatos têm essa beleza inerente de bater na cara de babacas, sem que sejam facilmente ignorados… E muita gente contava com alguma pesquisa minha, para dizer o que estou dizendo, há 4 minutos, e não vou decepcionar…
Caro leitor, consciente, e que não diz bobagem à toa… Aos fatos:

Os Fatos… Tristes, e que mudam tão pouco, ou quase nada, ano após ano…

Os fatos são estes:

O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou, na última segunda-feira, dados tenebrosos de como anda a igualdade entre os sexos que você imagina boa, na Ilha de Vera-Cruz (vulgo, Brasil).

Brasileiras trabalham, em média, 7.5 horas a mais que os brasileiros.

90% das brasileiras fazem o trabalho doméstico, enquanto 50% dos brasileiros declararam fazer, também. Esse número, pasmem, é idêntico à 20 anos atrás. Nada mudou, e estamos em 1995 ( o estudo, em questão, finalizou a série histórica em 2015).
Significa, em outras palavras que, embora estejam mais presentes no mercado de trabalho, continuam, elas, as principais responsáveis pelo lar, levando-as a ter jornadas duplas de trabalho. E ainda perguntam porquê elas deveriam se aposentar mais cedo, em uma sociedade tão desigual com elas.

Em 1995, 23% dos lares tinham chefes de família, mulheres. Em 2015, 40% dos lares brasileiros dependiam das mulheres. E isso não significou nenhuma redução da dupla jornada (emprego e residência), nem a equalização dos salários que, na verdade, seguiram inalterados quanto à escala, ao longo dos últimos 20 anos, entre homens e mulheres brasileiras.

Confira por si: Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça – 20 anos

Mesmo que a mulher faça EXATAMENTE o mesmo trabalho do homem, no Brasil, ela ganhará apenas 73.7% do que ele ganharia.
Se você não acha assim tão relevante, pegue a diferença percentual desse montante, e dê para sua colega de função… Afinal, não é realmente relevante, não é mesmo?

Segundo ranking do Fórum Econômico Mundial, o Brasil precisa de 100 à 200 anos, para que homens e mulheres sejam economicamente, tratados como iguais.
As outras desigualdades, só o Pai celestial do dia mais longo do inverno no H.N., pode saber.

Ok… Talvez, o Brasil seja um lugar desigual para elas. Mas, é porque somos terceiro mundo, não?

Ha… Haha…

Não.

Aqui, um pouco do que é ser mulher, no terceiro planeta, de um dos 500 sistemas solares da Via Láctea, a contar a partir da estrela que chamamos de “Sol”…

Nos EUA, há mais CEOs (presidentes de empresa) chamados “John”, do que mulheres nessa posição. Obviamente, o que deveria qualificar alguém para uma vaga não é, nem o nome, nem o aparelho reprodutor, mas “há algo de podre no reino da Dinamarca”, como diria Hamlet, se vários John’s eram tão mais competentes do que todas as mulheres interessadas em ser CEOs, juntas, nessa corrida, naquele país.

A consultoria Ipsos realizou pesquisa com 17 mil pessoas, em 23 países com bons índices de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), e perguntou às mulheres se elas creem ter a mesma chance e oportunidade que os homens. Apenas 4,5 em 10, acreditavam que sim. Já, 6 em 10 homens, pensam que elas têm as mesmas oportunidades.

Nos EUA, a impressão errada só piora. 3/4 dos americanos acham que a sociedade é suficientemente igualitária entre os gêneros, enquanto só 50% das americanas acredita nisso.

Ah, se a violência contra a mulher fosse exclusiva do Brasil… Nos EUA, 1 em cada 4 mulheres sofrerá violência sexual, ao longo da vida. E, ainda por lá, o maior risco físico que uma mulher entre 18 e 44 anos sofre, dentro de sua casa, é o risco físico da violência doméstica. 80% das violentadas vão desenvolver problemas cardiovasculares, e 70% delas vai se tornar alcoólatras.

E, embora o mundo tenha quase a mesma proporção entre os gêneros (101,8 homens para cada 100 mulheres, segundo relatório do Instituto Pew, com base en dados da ONU de 2015), quando se trata de linha da miséria, as mulheres não ficam com o segundo lugar… Entre 10 adultos miseráveis, no mundo todo, 6 serão mulheres.

Desigualdade, ou simples diferença entre os indivíduos?

Talvez, e por incrível que pareça, o ponto em que geralmente as pessoas mais se atém, são os que citam a diferença salarial.

Também, pudera: Uma das mais recentes polêmicas salárias entre homens e mulheres ocorreu na Associação Profissional de Tênis (ATP), entre ninguém menos que Djokovic e Serena Williams. Salário é sempre hot topic….

Especificamente NESSE cenário da ATP, eu não acho que seja um problema central da causa feminista. De fato, em uma liga como essas, o teto salarial é determinado pelo valor que a liga arrecada com os eventos. Se eventos de tênis femininos vendem menos, ou vendem ingressos mais baratos, é uma questão muito mais de contratos, e de imposição das atletas às ligas e organizações, não obstante, é claro, a chance de que a expectativa errada dos organizadores seja de que elas aceitarão ganhar menos, por serem mulheres.
E aqui, sim, teremos um problema.

De todo modo, não estou defendendo que não existem diferenças que justifiquem salários diferentes. É claro que existem.
Só não podem existir se, sem politicagens e discursos ocos e completamente falsos, a real explicação para a diferença salarial seja uma vagina ou um pênis.
E não é só sobre isso que se resume a bandeira de igualdade entre os sexos.
Se há diferenças, vamos entende-las, tratá-las, e endereça-las. O que não pode continuar é a diferenciação por motivos que não determinam capacidade, competência, brilhantismo que cada ser humano (homem ou mulher) é capaz de ter.

Admiro e apóio a causa, mas não quem CAUSA…

Como eu disse, lá no começo, meu apoio à bandeira do feminismo e meu reconhecimento de que há, sim, muita coisa errada na relação social que homens e mulheres construíram, e no que cada um recebe de volta, no que deveria – idealmente – ser algo simbiótico; nada disso e dessa postura significa que eu concorde com práticas de boa parte das ativistas mais barulhentas nessa batalha.

Algumas e alguns dirão que não conseguirão o respeito e a igualdade que buscam, sendo comportados.

Do meu lado, me limito a dizer que, como na questão racial (que, na verdade, leva o nome errado: É uma questão de discriminação dermatológica, já que a raça é só uma: Homo Sapiens²) “jogar o jogo”, causando, é um ótimo jeito de enfrentar repressão, endurecimento do conservadorismo, e quase nenhum avanço.
Quando você me xinga e me convence que sou um monstro, como Maquiavel advertiu, eu posso decidir ser o monstro que você sugere que eu seja. Causas como a “Racial” e a da igualdade de gêneros precisam de gente inteligente e articulada à frente, e não de gente que sabe gritar e ofender (como 4 as feministas que bateram no arcebispo belga, ou os negros e negras que agrediram a brasileira branca com câncer, por “apropriação cultural” ao usar um lenço na cabeça… Bom, deixa pra outro artigo).

Por ser uma questão onde, um lado está “ganhando” e outro está perdendo, somente o diálogo e convencimento de que é um problema para todos os lados, sim, e não um problema “só das mulheres”, (ou “só dos negros”) pode fazer com que ambos os lados trabalhem na questão… Se só o “lado perdedor” se movimentar, e o outro lado “sentar” na causa, 200 anos é até pouco para alguma mudança nesses panoramas.
E a culpa, também é de quem grita demais e de quem causa demais. Essas pessoas podem até achar que estão nos seus direitos, pelo que passam e sofrem, mas, são tão inimigas da boa causa e da verdade, quanto seus carrascos (merecendo a alcunha, ou não).

Da mesma forma, nem toda idéia com a etiqueta “feministas aprovam”, terá o meu apoio. Em primeiro lugar, porque ninguém fala por mim. Em segundo, porque algumas são simplesmente idiotas, e buscam qualquer outra coisa, mas não IGUALDADE… Como a proposta de um número fixo, mínimo, de congressistas mulheres, eleitas.
A idéia de um número mínimo de candidatas me parece correta.
A idéia de candidatas eleitas na marra, não. É incompatível com “democracia”, supor que o sistema é forçado a eleger mulheres que não representam o povo brasileiro, mas ingressaram lá por “cotas”.

A causa é legitima, por tudo que eu já demonstrei. Quem causa, contudo, não tem legitimidade, e não ajuda em nada.

A igualdade de gêneros é boa para todos. O difícil é convencer todos os players, quanto à isto…

A igualdade entre os gêneros é, de verdade, boa para todo mundo. Eu nem vou tentar detalhar TUDO que essa igualdade pode significar (até porque, cada ponto poderia ser um artigo, por si só), mas, vou falar de pontos básicos e imediatos que tal igualdade traria.

Hoje, o homem ainda é mais bem pago que a mulher, mesmo que ambos tenham o mesmo cargo e mesma formação profissional. Com isso, o homem tem menos liberdade para se demitir, ser demitido, e tomar qualquer rumo diferente na carreira, já que ele é o que traz o mais relevante rendimento para as finanças do lar, e tem a pressão extra de não poder fracassar nisto.

Ao assumir funções de mais prestígio, ou mais responsabilidade, o homem é privado de estar junto de sua família, participar da criação de seus filhos, e outros aspectos que deveriam ser mais importantes que qualquer carreira profissional. Se houvesse igualdade real e sustentável, a escolha de quem fica mais tempo com as crianças poderia ser livre de consequências para toda a família. Claro, não há bônus sem ônus, mas, do jeito que é, hoje, é quase impossível “inverter os papéis”.

Se a mulher é frágil, delicada, emotiva, e todos os adjetivos que são, paulatinamente usados para defini-las, os homens são fortes, valentes, corajosos, guerreiros, infalíveis, implacáveis, e uma série de besteiras que tentam definir genericamente, cerca de 7 bilhões de pessoas únicas. Como a sociedade só sabe funcionar se todo mundo jogar esse jogo, com essas cargas e papéis, qualquer indivíduo da espécie que falhe em entregar tais atributos, está mais perto da depressão, e de todos os problemas que advém disso. O sexismo, nesse caso, não aprisiona só a mulher, mas também o homem, já que o comportamento aceitável é estrita e rigorosamente imposto a cada um de nós.

Enfim….

Eu, embora costumeiramente pessimista, me forço a acreditar, sim, que um dia, cedo ou tarde, o dia 8 de março poderá ser um dia descartável.
Infelizmente, contudo, esse dia ainda não chegou, nem está no horizonte visível, e há muito do que reclamar, e muito pelo que brigar.

Eu, homem, branco, heterosexual, e todos os demais padrões básicos, ratifico meu apoio e reconhecimento de que a causa feminista tem validade e precisa, sim, ser defendida, não só pelas principais afetadas, mas por toda a sociedade.

Viver em uma sociedade igualitária não é uma ameaça para quem “está no controle” do personagem dominante (seja lá o que isso signifique, já que não me sinto sobre o controle de nada).
Pelo contrário: Viver em uma sociedade onde homens e mulheres são iguais (não quanto à atitude, ao gênio, estilo, ou postura, mas, quanto ao reconhecimento e tratamento social), é algo libertador para todas as partes.

Uma “farsa” pela qual, com certeza, vale a pena lutar.

Parabéns à todas vocês que, mesmo diante de tudo de ruim que eu citei aqui, ainda levantam e vão às ruas, continuar lutando por espaço e por igualdade, travando a boa batalha, caindo e sendo derrubadas, mas, achando fôlego e suporte para se levantar, e continuar em frente. Isso é a pura demonstração da fibra humana que todos nós partilhamos, a despeito do sexo, da cor, da origem, e todas essas divisões que em nada limitam ou definem o potencial humano.

Finalmente, um parabéns especial à minha mãe, Raquel; uma mulher de uma fibra incrível, “matando um leão por dia” desde que me conheço por gente.
E, para uma das mulheres mais guerreiras que conheço: Minha noiva, Bruna, que não obstante tantos desafios nos mais variados prismas da vida, sempre acha um jeito otimista e forte de ver o lado bom da vida, e seguir lutando e vencendo tantas batalhas quanto possível.

Parabéns a todas vocês!

O dia em que “saí” do Facebook

Os motivos que me tiraram do Facebook, e me levaram a fazer o “Sobre Tudo e Todos”…

3 décadas, 30 anos, 10.950 dias, 262.860 horas… O último grande texto (o maior); E os próximos passos…

Para dar um pouco de contexto a quem não me conheceu pelo Facebook: Em 31 de maio de 2016, anunciei aos amigos e seguidores que deixaria de utilizar a rede social. Os motivos estão todos neste post (que é, também, o motivo inicial para eu ter criado este Blog).

Mini-game! Um universitário mediano dos EUA leria esse texto em 8 minutos. Marque quantos minutos você leva e descubra se seu hábito de ler está enferrujado ou não.

Aviso: Esse é um texto reflexivo, trata de como me sinto sobre alguns aspectos da convivência com a sociedade digital contemporânea e, sinceramente, eu entendo que ele pode não ser do interesse da maioria da minha rede de contatos.
Sinto por isso e por poluir a rede social com mais essa “potencial” inutilidade, mas, também, é uma espécie de despedida que merece alguma explicação, ainda mais, em consideração aos 36 leitores (no Facebook) regulares que tenho, e por quem sou profundamente grato por me honrarem com a atenção.

“Pobre Rei Lear; tornou-se velho antes de torna-se sábio…”, diz o bobo da corte ao rei traído e renegado por todos.
É o resumo do ato I, cena IV, da peça “King Lear” de Shakespeare.

Desde que fui apresentado à essa peça, pelo excelentíssimo Professor Leandro Karnal, percebi como esse pensamento passou a perseguir minha paz: O risco de estar ficando velho sem me tornar sábio parece-me o maior risco que corro neste momento.
E isso me entristece e tem impacto sobre minha ansiedade com alguns tópicos. Não que o medo de morrer para uma “bala encontrada” por minha cabeça ou em uma colisão veicular com um embriagado ao volante não seja bem mais factível e sensato de se ter, no país em que vivo (a violência com armas de fogo fez mais de 61 mil mortos, e colisões automotivas mataram mais de 37 mil pessoas, em 2016)…

A escolha pelo estudo e, em especial, o gosto pelas áreas de Política, Sociologia, e Direito, sempre foi – eu acho – uma escolha ligada às chances: Os livros sempre estiveram ao alcance de quem estivesse disposto a lê-los e a verdade é que a maioria do meu povo não está. Em 2014, 71% dos brasileiros não leram um único livro, e somente um em cada três formados no nível médio de ensino têm alfabetização suficiente para ler [entender] um livro qualquer. E eu senti nisso a oportunidade de não ser mais um na multidão, já que eu tenho o que boa maioria não tem (a vontade de ler e aprender).
Esse era meu plano para saltar da mediocridade para um lugar de destaque. “Vaidade” é um termo que explica parte deste comportamento, mas, por outro lado, peço que me aponte o ser humano minimamente são que faz questão de ser idêntico aos outros 7 bilhões de sua espécie, ao ponto de escolher não fazer falta na face da Terra.

Bem, como isso tudo me leva ao desconforto, tal qual sentiu o Rei ao ser confrontado pelo bobo de “King Lear”?
Eu acho que venho emburrecendo. E eu tenho certeza – pela data de nascimento que consta no meu RG – que “novo” não é mais o preciso sinônimo para minha situação…
Então, eu começo, lentamente, a caber na sentença “tornou-se velho, antes de tornar-se sábio”.

A sabedoria é um dos principais atributos de beleza de um candidato a ancião. Não há nada mais chato do que falar com uma pessoa idosa que não tem nenhuma sabedoria. E não, não acho que só os livros e diplomas atendem ao requisito anterior. Na verdade, eles só provam que você abordou – ou tentou – algo de maneira sistemática e científica.
Aqui, falo da sabedoria de maneira holística: A sabedoria empírica, a pragmática, a experimental, a teorética…

Sabedoria: Acúmulo de conhecimentos; ciência. Justo conhecimento das verdades.

Ser um velho inepto é tudo o que eu mais temo. E não se engane: Assim como os canalhas, os burros também envelhecem… Velhice nunca foi sinônimo, nem de bondade, nem de sabedoria.


O que você ganhou participando da minha neurose eu realmente não sei, mas, já que você chegou até esse ponto, vou descer um pouco mais nessa psicose e tentar chamar sua atenção para alguns movimentos e fatos que podem lhe interessar; vai ser minha contraparte por sua paciência.

Bem, eu acho, também, que estamos TODOS ficando mais burros (desculpem-me: É só o que acho) e, acho, adicionalmente e não sem alguma análise, que a culpa disso está, em parte, nas redes sociais como o Facebook e nos modelos de vivência e convivência que tais redes ensejam, quando não, impõem.
Motivo pelo qual pretendo, a partir da próxima semana, abandonar o uso dessa rede (o Facebook).
Vou me explicar, prometo. Não está havendo um “facebookcídio”; o objetivo final não é obter um tapinha nas costas, nem um pitoresco “fica, brother” coletivo. Seria engraçado, confesso, mas não é isso. Vou me explicar; aguente aí.

Quero compartilhar como conclui que não só o Facebook não me ajuda a me tornar mais sábio (nada de novo) como, também, ele tem colaborado para que eu fique mais burro (um risco que, talvez, você não tenha percebido, ainda).

Mas, primeiro, alguém arrisca qual é a missão do Facebook como empresa? Eu compartilho:

“Fundado em 2004, a missão do Facebook é dar às pessoas o poder de compartilhar e tornar o mundo mais aberto e conectado. As pessoas usam o Facebook para ficar conectadas com amigos e familiares, para descobrir o que está acontecendo no mundo, e para compartilhar e expressar o que importa para elas. ”.

Oras! Tem algo MUITO errado com a execução dessa missão, seu Mark! (Obviamente, a culpa não é mais dele do que é de quem utiliza e constrói as regras deste espaço social [se estiver em dúvida: nós]).

O primeiro artigo que convido à leitura, é este aqui: Facebook Manipulated User News Feeds To Create Emotional Responses
Para quem não tiver a paciência, ou mesmo para os que não gostam da língua inglesa, a matéria denuncia que o Facebook controla – ou já controlou – sem contar a ninguém, o seu feed de novos posts para obter resultados psicológicos, emocionais, de você (na verdade, dos estados-unidenses mas, se fizeram com eles sem avisar… Penso no que fazem conosco…).
O estudo conduzido por “cientistas” (faltou alguma ética para ser mais “científico”, né…) da empresa verificava como as pessoas reagiam ao serem expostas a posts e reações com maior tendência negativa ou positiva, em relação a elas e suas opiniões iniciais. Burrhus Skinner e seus ratinhos morreriam de inveja.

Pior do que isso: Outra matéria que li em revista impressa demonstrou que o Facebook “aprende” o tipo de post e fonte de conteúdo que lhe interessa e, a partir disso, passa a lhe expor somente ao que você mais gosta, criando uma “falsa bolha”, tanto de “felicidade” como de “pertencimento”, onde você, meu nobre leitor, é o experimento.
Trocando em miúdos, se você só curte páginas “de Esquerda”, chances são que o Facebook exponha mais conteúdo relacionado a isto do que “à Direita” política (e vice-versa), fazendo com que você “seja feliz” pois “o mundo concorda com você”. É o que seu feed lhe indica, não?

Outro estudo (Social Media Sparked, Accelerated Egypt’s Revolutionary Fire) relata como o Facebook e Twitter foram fundamentais na primavera Árabe. Quebrar as correntes de ditadores, eu acho ótimo. Parece-me um uso nobre do espaço de convívio social virtual. Mas, outra matéria revela que o Pentágono norte-americano tem gastado alguns milhares de dólares para manipular redes sociais com “bots” e perfis falsos para conseguir apoio popular às metas das forças armadas daquele país (Revealed: US spy operation that manipulates social media).
Em resumo, com a manipulação “certa”, o Facebook pode ser usado para construir e destruir conceitos, pessoas, e governos.

Como qualquer Jornalista poderá explicar e demonstrar a consequência: A neutralidade da rede é zero. Como – não posso negar – também costuma tender a zero para qualquer veículo de comunicação, impresso, radio-difuso ou televisivo; é verdade.

O problema, para mim, está na legitimidade: Por motivos que, talvez, um sociólogo possa teorizar, as redes sociais ganharam status de verdade incontestável. Talvez por sua pluralidade, talvez, por não ser um veículo com uma fonte de mão única de transmissão; as pessoas têm uma tendência a tomar como fato, com muita facilidade, o que as redes sociais ecoam.
E como a Wikipedia (com a qual contribuo inclusive com doações financeiras, por acreditar no valor da utopia do “conhecimento para todos, de graça”), as redes sociais podem ser fascinantes na transmissão de informação legitima, ou uma fossa sanitária de idéias enviesadas e ideologias mascaradas. Falando de Brasil (eu vivo aqui, e é dessa parte do mundo que eu “não-sei” menos), a segunda hipótese tem sido bem mais verdadeira do que o primeira, para meu total pesar.


Quando ingressei no Facebook em 2009~2010, a maioria dos meus amigos e colegas permanecia no Orkut. Ingressei por questões profissionais (todos os colegas de companhia estavam lá, afinal, o Orkut era do Google 🙂 ).
Na época – outra vantagem de ter 30 anos: Poder usar expressões como “na minha época” – o Facebook era majoritariamente feito por recursos de texto. Imagens, só no álbum pessoal e nada no mural (não sei se a função não existia ou se as pessoas não tinham o hábito).

Quando eu vejo as pessoas “de saco cheio dos textões” acho até engraçado porque, originalmente, era disso que o Facebook se tratava: Textos. Pessoas troncando idéias sobre tudo e todos. Qual bom livro não é um “textão”? Embora, um textão não seja – por si só – garantia de qualidade, a boa ideia, respeitosa e bem-intencionada, deve ser bem explicada e enseja o cuidado que leva – ok, “quase sempre” se faz necessário aqui – ao longo texto. Não: Não estou supondo – nem me ocorreu isso – que um texto longo é necessariamente bom. Só disse que todo bom texto costuma ser longo.

Claro que acho graça nos gif’s animados; claro que gosto dos vídeos engraçados e absurdos. Vivo compartilhando eles todos. Não é que o Face seria melhor se “elitizado” fosse… Não precisa ser o “cafofo de Homero” onde, todo dia, discorremos uma Ilíada.

Mas eu realmente acho que o Facebook foi para a “outra ponta da corda” entre o enfadonho (ou pomposo) e o fútil. E eu odeio futilidade como tônica da existência; pelo menos, da minha.

Usar uma rede social para socializar (procurem no dicionário: “Socializar” não se resume a fazer pose em fotos, nem ficar de porre em festas… Vão se surpreender…), é a última coisa que as pessoas querem e isso remove de mim o propósito de “socializar” por aqui.
A socialização só é bem-vinda se for rasa, oca, simulada. E, desculpem os amigos que gostam disto, mas, eu odeio conversas rasas como parte integral do meu dia a dia.

O filósofo Orterga y Gasset, em seu livro “A rebelião das Massas”, adverte, em 1929:

“Por toda a parte surgiu o homem-massa(…), um tipo de homem feito à pressa, montado apenas sobre umas quantas abstrações e que, por isso mesmo, é idêntico de uma ponta à outra (…) A ele, se deve o triste aspecto de monotonia asfixiante que a vida vai tomando(…) Este homem-massa é o homem previamente esvaziado de sua própria história, sem entranhas de passado e, por isso mesmo, dócil a todas as disciplinas(…)”

Nesse alerta, Ortega y Gasset demonstra que a sociedade ocidental vem premiando a mediocridade e reconhecendo nela o verdadeiro antro de formação da verdade. E mais do que isso: A vontade, o desejo, de se destacar por uma sólida base racional, lógica e/ou bibliográfica, são combatidos como conduta reprovável, sendo uma espécie de “nova classe burguesa” a ser enfrentada e rechaçada:
A classe dos que leem e estudam antes de abrir a boca.
Uma espécie de “nova oligarquia nefasta” que comete “o crime” de desqualificar alguém que não sabe sobre o que está falando, através de argumentação embasada…
(Preciso acrescentar algo que é óbvio pra mim, mas pode não ser para quem lê: EU NÃO FAÇO PARTE desse grupo atacado. Tenho total noção da minha mediocridade acadêmica e intelectual. Estou estudando para fazer mais que isso, um dia, mas não o faço, agora… O que estou tratando aqui é sobre o desrespeito à opinião de gente que dedicou a vida inteira ao estudo e que é ridicularizada pelo Zé da Esquina em um post ou thread).

Nem mesmo os espaços digitais destinados ao debate funcionam mais para isso. São, antes, lugares de pregação e massificação de ideologia. Qualquer tentativa de questionar com qualidade o que ali se advoga é repreendida com o bloqueio de quem discordou. “Você pode ter opinião, contanto que seja igual a nossa” deveria ser o slogan das páginas “pensadoras” do Facebook.

Aí vem outro problema do mundo contemporâneo: Opinião. Todo mundo tem uma opinião. TODO MUNDO TEM QUE TER. Não ter é outro “crime” dos nossos tempos. E disto, surgem opiniões quase sempre prontas, inquestionáveis e irrefutáveis (assim pensa seu dono). Formadas, muitas vezes, em cima de desinformação, fontes não verificadas, boatos, preconceitos, e nenhuma leitura de autores com alguma autoridade sobre o assunto (“autoridade” que não é mero título, mas, consequência de anos – em geral, décadas – de estudo de um único tema, senão de um sub-aspecto desse tema maior).

Exemplos parecem ensinar mais do que teorias, então… Aqui vai um:
Eu debatia com um amigo que dizia que movimentos sociais sempre lutam por progresso social. Eu discorri que os movimentos trabalhistas na França e o movimento estudantil de Mato Grosso, estão em uma luta CONSERVADORA, tentando manter um Status Quo que não necessariamente vai de encontro aos interesses das sociedades em questão, como um todo.
Logo, esses NÃO são movimentos progressistas por “osmose” (ou, o tempo todo)… Em resumo, esse foi um debate com alguém que tem opinião pronta. Até aí, tudo bem, já que eu também tinha uma: Mas quando expus novos fatos (ou pontos de vista), nada mudou para ele; e aí está o problema. Não houve evolução (não estou pedindo por conversão, esclareço) do tema e dos envolvidos, esperada em um debate. Ele entende que quando alguém grita “companheiro”, não pode ser outra coisa senão um progressista. Fim de papo.

Umberto Eco, filósofo italiano, criou polêmica em recente declaração em 2011 em que disse:

“Embora tenha trazido muitas vantagens, a Internet também democratizou a imbecilidade” e “promoveu o idiota da aldeia, a porta-voz da verdade”.
Ele disse, ainda: “Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas, agora, eles têm o mesmo direito à palavra que tem um Prêmio Nobel”.

Umberto gerou revolta; as pessoas o acusaram de retrógrado, antidemocrático, reacionário, arrogante…
Eu deveria ser um dos primeiros a ficar revoltado com Umberto, já que quem assina meus textos sou eu mesmo. Não há um curador/historiador, um editor; ninguém revendo minhas fontes e validando que não estou distorcendo a verdade. Eu tenho um compromisso de validar o que escrevo, mas, isso não anula o que Umberto enunciou. O idiota pode mesmo ser alçado ao grau de arauto da verdade.

Mas, eu não vi como um ataque. Para mim, ele não criticou o direito ao debate. Ele questionou o fato de que alguém que não leu um livro de história inteiro sinta-se pronto a dizer sobre “as benesses da ditadura” ou “Como o Socialismo/Comunismo é melhor que o Capitalismo” e por aí vai. Ele questiona, na verdade, essa capacidade triste que a Internet revela de potencializar gente pronta a questionar, formar juízo de valor e criar proposições sem nenhum estudo do que já foi proposto quanto ao tema – de preferência, a favor e contra, pois opinião não costuma ser legitima se nega a chance do contraditório.

Como Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, postulou sobre o “mundo líquido” em que vivemos:

“(…)os tempos são tais que o fim das utopias representa a perda do caráter reflexivo em relação a sociedade e, por consequência, a perda da noção de progresso como um bem que deve ser partilhado. (…) Uma corrente de incerteza e insegurança guia o sujeito pós-moderno, que não tem mais referencial nenhum para construir sua vida, a não ser ele mesmo.”.

Para quem não entendeu o cerne da teoria de Bauman, aí vai o exemplo:

Um garoto de 20 anos sente-se pronto para questionar todo um conceito e invalidar Immanuel Kant e sua filosofia moral do Imperativo Categórico após ler um resumo da Wikipédia; as décadas de Kant, dedicadas ao estudo das classificações aristotélicas e o fato de ele ser “pai” da linhagem moderna de pensadores alemães do quilate de Hegel e Schopenhauer (para citar os principais) são solenemente renegadas e desqualificadas por um garoto que só leu o resumo da obra e a tabela do Brasileirão 2016; os valores pessoais desse garoto, em plena formação, são muito mais válidos do que os valores construídos por centenas de anos (juntando Aristóteles e Kant) em iteração, revisão, contestação, conceito, prova e crítica.

Esse garoto pode vir a ser o próximo Kant? Pode. Sem estudar filosofia (e Kant) a fundo? Nunca.
Talvez, esse garoto, em específico, seja assustadoramente genial, construa conceitos muito mais profundos que Kant, sem jamais estudar, e faça eu me calar mais tarde; mas, as chances de todos nós sermos essa “peça rara” são as mesmas de eu ser um alienígena.
Não: Não me sinto fazendo “uma defesa da aristocracia intelectual” ao esperar que a opinião de alguém sobre algo que não se resume a gosto (exemplo de gosto: Odeio queijo, não importa o que os suíços mais importantes pensem disso), seja embasada no que já se estudou, contra e em favor do ponto defendido para que, depois, haja formulação de nova postulação (exemplo de teoria sobre um sistema de governo existente e já teorizado: Democracia não deve ser um sistema de governo que atende só à maioria; não importa sua opinião pessoal sobre isso).

Isso, na verdade, é pedir por honestidade intelectual. “Honestidade”, aliás, uma palavra que vem se tornando antiquada.


E eu entendo uma parte disso: O Facebook é feito de personagens. As pessoas aqui não são as pessoas do mundo real. Seus posts, suas falas, suas frases de efeito… Tudo aqui costuma ser encenado e – mesmo que elas não se deem conta – em certo grau, premeditado.

Somos todos personagens. Eu sou um personagem. O Rodrigo da rede social não é o Rodrigo do dia a dia; impossível ser.
Além disso, a rede tem baixa – ou nenhuma – aceitação por pessoas que expõem outra face de seus sentimentos além da positiva. Por este motivo, Karnal diz que “Shakespeare é anti-Facebook”: Seus personagens têm “profundidade demais” e riem e choram publicamente, o que os tornaria detestáveis nessa rede.

E aqui vem outra crítica: O Facebook não serve para discutir – já constatei e provei – mas, tampouco serve para eu conhecer as pessoas, fazer e manter amizades e conviver mais com os que eu quero bem.
Como todos estão ocupados encenando felicidade e ostentando suas conquistas, eu estou fazendo um trabalho porco como amigo ao dar likes e usar frases como “aí sim!” quando o cara tira uma foto na piscina com uma cerveja, sem que eu saiba que em seu dia a dia, ele está às vésperas de se divorciar e perder o emprego, ou atravessando uma grande depressão emocional sozinho.
Um amigo “à moda antiga” saberia, porque na confidencialidade de uma conversa particular que não será julgada por centenas, senão milhares, ele pode ser o ser humano que ele precisa ser, para desabafar, para dizer que “não, não está tudo bem” e daí por diante…

A vida que se compartilha no Facebook é a vida simulada e dissimulada. O Facebook, sem querer, ou querendo, traiu sua própria missão empresarial. E não é diferente nas outras redes. Na verdade, em redes como o Instagram, isso fica ainda pior.

As pessoas que são contra o abandono da rede dizem “você vai perder o contato com seus amigos!”.
A verdade é que eu já perdi. O Facebook não me fez ver mais as pessoas. Pelo contrário. Agora, vejo fotos delas; facetas delas; só parte delas. Uma espécie de “melhores momentos”, eternamente. Mas, essa não é a vida real.
Não vejo, nem convivo, com as pessoas “de verdade”. Ouso dizer que o falso sentimento de que elas estão ali todo o dia, “ao alcance do click”, me fez mais preguiçoso e descuidado no trato e no carinho com essas relações.
Substituímos o insubstituível contato humano e pessoal por um like virtual, aqui e ali.
Ok! O descuido pode ser só meu, admito essa hipótese. Mas, sinceramente, eu duvido que sou caso isolado.

Não é meu interesse encerrar a conta do Facebook. Isso poderia significar um pouco como “ei, olhem pra mim! estou indo embora!”.
Essa realmente não é a intenção disso tudo, como tentei demonstrar.
Só vou remover os aplicativos de acesso e “esquecer” a senha. O Messenger do FB – para quem precisar falar comigo – segue funcionando. 🙂

Outra pergunta que devem me fazer: Vou continuar escrevendo em outro lugar? Improvável. Mas, se eu mudar de ideia, farei com que saibam. 🙂
(PS: Agora, vocês já sabem que sim, pois, estão lendo isso no meu Blog.) 🙂


E, de onde tirei que o Facebook era relevante para a problemática que discorro? Para ter uma ideia do quão significante era meu investimento de tempo na rede, eu instalei um programa no meu celular (“QualityTime” para quem se interessar) para medir quanto tempo passo por aqui. Em geral, uso o Facebook para debater e escrever sobre o que me interessa. Nos últimos 3 meses, eu superei 60 horas de uso do Facebook, fora algum momento em que usei o PC como método de acesso. Então, coloquemos 80 horas (um terço a mais).

Bem, um aluno universitário mediano deveria ler, em média, 450 palavras por minuto (Do You Read Fast Enough To Be Successful?). Usando uma fonte Arial, 12, com espaço simples, isso dá (também, em média) uma página por minuto.

Isto me leva a concluir que eu poderia ter lido umas 4.800 páginas de teorias importantes, sobre os temas que mais gosto como Direito, Filosofia, Economia, Política, mas, fiquei aqui, debatendo com meia dúzia de bons argumentadores (obrigado a todos vocês, de verdade – são fundamentais na minha evolução e o motivo de eu continuar pesquisando, aprendendo e escrevendo) e um bocado de gente que já me acusou de pedante, de inventar textos para ser bajulado, de gente que escreve “não concordo” mas, não consegue ou não tem como defender o ponto que quer sustentar e de gente que não perde tempo “com textão”… Eu não conheço nenhum bom livro feito com “textinho”, repito. É arrogância minha comparar um “textão” meu, com um bom livro? Definitivamente. Nem queria significar isso.

De todo modo e como nenhum dos que reclamam jamais leu um dos meus textos por inteiro, eles não têm como denunciar as falhas que fazem dos meus grandes textos (no sentido literal) apenas textos grandes (também, literalmente) e sem qualidade. Em suma, você só saberá se um “textão” é apenas um texto grande, lendo. Depois, com o tempo, você já sabe o que esperar daquela fonte. Para o bem e para o mal.

Há quem diga “não concordo” só para marcar uma posição que, como um torcedor de clube de futebol, sente ser a coisa certa a fazer. Mesmo que, na lógica e na argumentação, não caiba a paixão como motor de uma discussão… Paixão leva a irracionalidade, e a irracionalidade leva a qualquer coisa menos ao bom argumento.

O outro lado dessa história também não é muito motivador.
Eu não escrevo o que escrevo para que batam no meu ombro e digam “pô cara, que legal”.
Óbvio que fico feliz quando meu texto atinge padrão de construção textual e lógica ao ponto de merecer a parabenização, mas, mais do que isso, fico muito emocionado que ele mereça o tempo (este que é sempre menos do que ontem) de tantas pessoas.

Isso tudo realmente me deixa orgulhoso e feliz, mas, não: esse não é objetivo central da escrita que faço.
Bem mais que o “parabéns”, quando sou confrontado com opinião contrária, o melhor possível ocorre: Sou obrigado a defender meus argumentos e melhorar a qualidade deles, com novos autores e novos fatos. Isso é o melhor dos mundos, para mim. E se não consigo melhorar meus argumentos, melhor ainda. Acabo descobrindo que minha visão de mundo não é perfeita e não resiste à toda a complexidade da realidade. E aí aprendo com quem está falando e me mostrando algo que não posso justificar com a visão atual.
Mas, isso já não acontece mais. As pessoas não querem debater. Querem vencer. E se não vislumbram como “ganhar”, não se envolvem.
“Aprendizado” não é tido como prêmio suficiente de um debate. Os novos advogados só aceitam causas ganhas…


Outro grande objetivo com o que escrevo e escrevi, até hoje, era (e é) ajudar quem não tem uma opinião formada a procurar os autores e os argumentos que possam ajudar a embasar uma opinião, seja a favor ou seja contra o que exponho; de repente, quando escrevo algo que incomoda, meu texto leva a pessoa do simples “não gostar” ao saber de fato, por ela ter que pesquisar para responder. Ela saiu com opinião contrária à minha, mas teve que aprender o porquê para poder se opor. E aí, sinto que fiz minha parte.

Mas, essa pessoa não existe (mais). Quem não tem opinião e segue “contrariando o Facebook” e a necessidade de ter uma opinião sempre (o que é péssimo), geralmente odeia os “textões”. Talvez – e aqui, sou um pouco desleal, pois, não tenho provas – essa pessoa esteja na estatística dos 71% que não gostam de ler.

Lamentavelmente, se o Facebook tem esse péssimo habito de criar “bolhas de felicidade” e ele não é nem representação da realidade, nem um espaço de convivência social, mas, um grande massageador de egos, ou um espaço para compartilhar fotos legais e vídeos engraçados, e se essas são as únicas atividades consideradas “corretas” para serem feitas no Facebook, eu prefiro não perder mais tempo com ele.

Melhor do que 80 horas com fotos (fofas, não estou negando) de gatinhos, e vídeo de acidentes engraçados (é preciso rir, claro que é), eu vou tentar combater o que o bobo da corte fica dizendo repetidas vezes na minha cabeça: De que estou ficando inevitavelmente velho sem me tornar sábio – o que poderia ser evitado.
Devo estudar mais, ler mais livros, e buscar conhecimento que autoridades (não por força de lei, mas por esmero e uma vida de dedicação) nos assuntos que me interesso, compartilharam com a raça humana.

Está tudo escrito, quando não está gravado em vídeo – meio que anda ficando mais comum para a divulgação de boas idéias. Como exemplo, os vídeos do TED.com, em grande parte já com legendas em português.

Agradeço, profundamente, a todos que sempre acompanharam, opinaram, e – segundo relatos dos mesmos 🙂 – esperaram pelo próximo texto.
É um grande orgulho que alguém sem a formação acadêmica em Jornalismo, História, Sociologia, Economia(…), como eu, faça textos que mereçam a atenção e o tempo de qualquer pessoa.

Sinto certo orgulho por ter trazido à atenção do cotidiano corrido de cada um, temas que vislumbro atuais e fundamentais para o futuro do lugar e sociedade em que convivemos. É um pouco arrogante supor isso, eu sei, mas gosto de pensar que são temas importantes, sim.

Nesse sentido, sou feliz pelo tempo dedicado a esta rede social.

No entanto, eu sigo ficando mais velho, sem ficar mais sábio. Tudo que posso fazer é tentar usar meu tempo da melhor forma possível para reverter essa tendência já que a idade é “inevitável”.

O Facebook (e outras redes sociais), com tudo que expus, não me parece mais uma boa forma de investir meu tempo.