Um problema aberto e a comunicação

Duas pessoas discutindo, com balões de texto demonstrando como seus cérebros são diferentes sobre um mesmo tema

Esse é um texto de opinião. Se você veio em busca de algo muito sólido, com pesquisas e fontes em suporte ao que falo a seguir, eu vou lhe desapontar. À essa altura, contudo, eu espero que você já não se desaponte com nenhuma das groselhas que surgem aqui, a cada seis ou dez meses. Queria escrever mais groselha, mas a endócrino proibiu tanto açúcar…

Quando eu criei o Sobre Tudo & Todos, eu imaginava que iria escrever por aqui com uma alta frequência. Foi ali no ocaso do Facebook como rede social mais utilizada no Brasil que eu decidi começar um blog. Mas, enquanto proposta, eu não poderia estar mais na contramão de tudo [parece rebeldia? Mas é só burrice.]. Mesmo o YouTube já dava alguns sinais de cansaço e tudo indicava que as pessoas queriam menos e menos conteúdo escrito e mais e mais conteúdo audiovisual – de preferência, curto. Aparentemente, para grande parte da raça humana é difícil focar em algo por mais do que um minuto. Uma pena.

Mas eu quase nunca aprendo as lições que a vida quer me ensinar. Eu ainda acredito que o texto tem algo mágico e só seu, algo que o vídeo não consegue fazer e que é, justamente, dar liberdade a quem escreve e a quem lê para imaginar frases e contextos da forma que melhor lhes aprouver. Há algumas regras nesse jogo, é claro, mas elas são bem flexíveis e a liberdade é tamanha.

A pergunta, então, passa a ser o que tem de bom nessa tal liberdade. Quando eu escrevo, você me imagina falando o que falo com arrogância no semblante ou com uma cara de louco quero dizer… neurodivergente?
Quando você lê, você consegue entender o que me corrói? Você entende que o que me faz escrever é uma sensação de mal-estar com algo ou alguém, ou… Comigo mesmo… Você consegue imaginar o que me motiva?
Escrever, para mim, surge de uma irritação. É um processo de urticária: algo irrita a pele e você tem que coçar. São milhares de anos de evolução biológica e a resposta ao estimulo é esta.

O que me irrita? Desde sempre, a deterioração social em marcha. Ela já foi mais brasileira do que de outros países mas, hoje, francamente, ela é mundial. Não, não é como se nós brasileiros tivéssemos partido de um sonho dourado e chegado no presente. Isso é tolice, posto que as provas e evidências dizem exatamente o contrário. É como dizer que videogames causam a violência no mundo e não explicar qual videogame jogavam aqueles que morreram e mataram na Segunda Grande Guerra Mundial, o mais violento dos conflitos armados em nossa breve História. Não, o passado não era melhor. Isso é uma armadilha na qual a mente humana cai com extrema facilidade.

O passado sempre parece melhor pelo simples fato de que nós já o vivemos. Aquele tempo e aquelas ocasiões estão todos resolvidos. Não importa se foram ruins, você sabe como a história terminou. Nosso cérebro já identificou os atores, as ações e os resultados. O passado é sempre seguro. O futuro é sempre incerto. Incertezas dão medo. E nós não gostamos de senti-lo.

Estou muito coach? Desculpe, eu não queria te ofender desse jeito. É que eu não sei bem o que fazer com essa liberdade. “Liberdade”… Isso se tornou uma obsessão bizarra, especialmente – mas não só – na política. Todos falam em “liberdade” de maneira compulsiva, quase em síncope. É um culto, um credo. Jamais explicam o que é essa “liberdade”, mas todos estão lutando por ela. “Liberdade”. “Corrupção”. “Igualdade”. “Inclusão”. O que isso realmente quer dizer? A resposta não pode ser outra que não um “depende”.

Está muito vago? Você já está pra desistir disso aqui? Eu não te culpo. A culpa é mesmo toda minha. A culpa é sempre de quem tenta dizer algo, mas falha em transmitir a mensagem. Pode falhar por não ter clareza sobre o que quer dizer. Pode falhar por ser muito conciso ou extremamente prolixo [eu, geralmente, estou no segundo time]. Falha porque erra o objeto ou confunde os meios com os fins.

Mas, esse é o paradoxo dos nossos tempos: somos uma espécie de animal que depende fortemente do social. Não temos as qualidades para viver completamente isolados. Talvez, mais gregários do que sociais, mas, ainda assim, comunicação é parte fundamental do que nos faz humanos. A comunicação leva à cultura, um dos últimos mitos fundantes e ainda de pé (mas cambaleando) da divisão entre homem e o resto da fauna.
E aquele sujeito vivendo na montanha, matando animais com a mão e comendo carne crua? Ainda que ele exista, ele não é um animal que prescinde do social. Sem amamentação, sem cuidados, […] sem uma sociedade que o levasse até os seus 14 ou 16 anos, quando se deu conta de si e do que queria fazer dali por diante, sua renuncia ao mundo social seria impossível. Há animais que realmente nascem e crescem sozinhos, desde o primeiro dia. Esse não é o ser humano.
“Onde mora o paradoxo?” você se pergunta. E eu te digo: somos uma espécie de animal social. A comunicação é vital para o sucesso desta espécie (não só do indivíduo. Da espécie). Porém, quando a comunicação falha e falha de novo e chega ao fundo do poço de falhas acumuladas, a forma mais baixa de comunicação que existe passa a ocorrer: a violência.

Somos animais sociais, fadados à comunicação como pressuposto ao sucesso da raça; e quando essa comunicação vai mal, por muito tempo, acabamos por apelar à violência. Violência que nos assusta e, assustados, nos comunicamos pior. O que gera mais violência. E a solução para quebrar o ciclo está naquilo que inicia o ciclo: a comunicação. Eis o paradoxo.

Todos os nossos atritos nascem, de uma forma ou de outra, da má comunicação. Agora, calma, calma, eu sei: você não gosta de filosofia de boteco, e “teorias sobre tudo” – que visam explicar o macro e o micro – parecem fadadas ao fracasso. Mas, em verdade, “fracasso” e “sucesso”, neste contexto, são apenas medidas binárias para dizer quantas vezes o modelo explica a realidade com precisão. E como eu não canso de repetir o dizer alheio, “todos os modelos estão errados, mas algum são úteis”.

Então, se (por exemplo) você não aguenta mais sua mulher (ou marido), melhorar a comunicação pode não ser a resposta para a melhora da relação. Mas é A RESPOSTA e ponto. Por que?
Porque se na origem vocês se comunicaram mal e a relação cresceu por sobre um cadafalso de frases pela metade e mal-entendidos, todas as premissas adotadas pelas partes dessa comunicação estão (e provavelmente são) invalidas. Quero dizer que significante e significado são de todo diferentes no vocabulário compartilhado pelos atores da sua relação.
Manga é manga, claro! Mas esse é o significante. Como você bem sabe, o significado é obviamente a fruta (exceto que para a outra parte o significado é obviamente o recorte da camisa).

E como melhorar a comunicação é A RESPOSTA? Bem, porque aumentando a clareza da comunicação, vocês dois descobrem que conseguem falar das mesmas coisas, usando os mesmos signos ( = significantes), sem jamais compartilhar dos mesmos valores (= significados). Se essa for a conclusão, o problema fica claro: uma relação fundada sobre premissas falsas não pode dar certo. É sobre o valor para as pessoas na relação, não é sobre o mérito da relação em si (poxa, mas a gente se ama tanto!), de seus motivos de partida (ela me ligou naquela tarde vazia!), tampouco dos seus objetivos de chegada (temos três lindos filhos juntos!). O maior problema é que toda comunicação, quando falha demais, por muito tempo, leva à violência. E “violência” é só o significante, aqui. O significado pode ser o famoso sopapo na cara, mas há TANTAS formas de violência: psicológica, moral, social. Até o soco na cara e o B.O. na delegacia, há todo um calvário de violências como ignorar e ser ignorado, as ofensas gratuitas, as palavras que desqualificam o outro como um ser humano intitulado a dignidade, simplesmente por ter nascido humano. Mesmo a indiferença contra alguém que diz nutrir algo de bom por você tem o condão de infligir dor.

“De novo atacando de coach, Rodrigo? Cacete, duas vezes no mesmo texto…”. Pois é. Porém, há um motivo mais importante quando a tentativa é a de falar de uma “teoria de tudo”. Eu disse, lá no começo, que o que me incomodava era a deterioração social e que eu arbitrariamente escolhi a escrita como forma de me expressar, mesmo sabendo que o momento é contrário a essa via.

Estou tentando, de maneira iterativa (observe: iterativo, sem n) demonstrar que a comunicação, quando melhora, esclarece exatamente a natureza das relações humanas. Não é o mesmo que dizer que quando a comunicação melhora, as relações humanas que já estão postas melhoram. Porque pode ser que elas não tenham como melhorar, já que as partes envolvidas nelas podem não partilhar de significados equivalentes para os significantes sendo utilizados. Se isso vai longe, por muito tempo, a violência (que é a forma mais baixa de comunicação) surge. No seu surgimento, o processo iterativo de se comunicar se converte num ciclo vicioso. Uma espiral destrutiva. Por medo, nos comunicamos pior. Da pior comunicação, gera-se violência. E a violência causa medo.

Eu tenho que fazer uma breve pausa para pedir perdão: se isso parecer a você como algo absolutamente novo e revolucionário saiba que eu estou, não intencionalmente, te enganando. É claro que inúmeros intelectuais, do passado e do presente, se debruçaram nesse tema. Cada qual com seu enfoque. Cada qual privilegiando aquilo que lhes chamava mais a atenção, ou que parecia mais promissor como resposta ao problema que apresentaram.

O que eu faço “de novo” é propor a reflexão pública e em termos simples, sobre como a resposta “a comunicação ruim leva à violência que gera mais comunicação ruim, em infinitos ciclos” se adequa ao problema “a deterioração social de nossos tempos”.
Se quiser um autor, dentre tantos, Niklas Luhmann, falecido em 1998, já estudava a sociedade pelas lentes da Teoria de Sistemas e abordava a comunicação como o objeto a ser explorado, para compreender o que os n sistemas sociais deixam de eco uns para os outros, mutuamente se alimentado e mutando por meio dessa troca. É mais (bem mais) complexo do que isso, mas meu ponto por aqui é sempre o mesmo: não precisa ser sempre mais complexo. Precisamos, pelo contrário, cada vez mais, melhorar a comunicação e isso significa, de algum modo, baixar certas barras, abrir mão de certos rigores, viabilizar que pessoas “a dez por hora” alcancem quem já está “a sessenta por hora”.

Isso é “inclusão”? E eu sei lá?! Não estou preocupado com o bingo da responsabilidade social; não me preocupo com a formação da minha reputação a partir da opinião de gente que mal conheço. Por que não dependo deles (ui, ui, ui)? Quanta petulância eu teria se assim pensasse! Não. É porque eu simplesmente não controlo como essas pessoas me veem, tampouco controlo seus significados aos significantes que uso. O que controlo é quantas vezes eu consigo explicar o mesmo significante, de diferentes formas, tentando garantir que a redundância de explicações afaste o risco de um mal-entendido.

Estou preocupado com a deterioração social [ou do contrato social vigente] e elegi a comunicação (ou melhor dizendo, a [falta de] qualidade dela) como a resposta para o problema. Então, se todos nos comunicarmos melhor, o mundo será uma grande “ciranda, cirandinha”? Mas é óbvio que não. Há significados irreconciliáveis. Há valores que não permitem a convivência. Exemplifico:

Se o que você chama de “criminoso” é o “neguinho no farol” que toma o seu celular, mas não chama assim o empresário que destrói um ecossistema e explora descaradamente uma mão de obra alienada de sua própria realidade, eu não posso concordar com você sobre quais criminosos devemos combater com mais ou menos prioridade.
Porque por de trás da sua definição (seu significado) para o significante “criminoso” mora sua resoluta certeza de que o “neguinho” é preguiçoso e moralmente corrompido, mas brilha nos seus olhos que em nome do sucesso de um CNPJ vale (quase, espero) tudo. Desse ponto em diante, nós dois não temos como prosseguir em um contrato social que nos obriga a partilhar dos mesmos deveres e direitos, porque sempre vamos discordar frontalmente quanto à execução de tal contrato.

Está ficando estranho? Muito separatista? Muito “esquerdista”? Não era bem a intenção, mas comunicação tem dessas coisas. Bem feita ou mal feita, ela ainda gera colaterais que, por definição, não são desejados, mas ocorrem assim mesmo. Eu disse, antes: se a gente realmente entender qual é o significado (e deixar de acreditar no valor de face do significante) no discurso de cada parte, vai ficar mais claro o que é mal-entendido, o que é valor moral, o que é reconciliável e o que não é. Daí em diante fica TÃO mais fácil desenhar um caminho que passe longe da violência (em todos os seus significados). E o caminho pode ser, inclusive, o fim da comunicação entre as partes. Veja: isso é totalmente diferente de “guerra”. Guerra ainda é a tentativa de, por meio da violência, forçar o outro lado a aceitar aquilo que o lado agressor está propondo e comunicando. Ainda é comunicação.

Como eu não me comunico com ninguém em Kuala Lumpur e vice-versa, os malaios não me fazem qualquer mal e eu tampouco faço a eles. Agora, é claro, essa tese tem seus limites impostos por um sistema maior que o de origem humana, que é o próprio planeta. Se um malaio, mesmo sem qualquer comunicação comigo, afeta o rio do qual eu tiro a água que bebo, passamos a ter um problema e surge uma comunicação mal feita (se estivesse com boa fé, ele deveria ter suspeitado que mexer na água de um rio importante de outro país geraria consequências, mas decidiu fazê-lo sem maiores comunicações com os interessados. Cometeu uma violência, e violência é comunicação, mesmo que seja a pior delas).

E aqui, fica interessante. Neste caso hipotético, ele teria abusado da liberdade que imaginava ter, ou ele “só” falhou em se comunicar com os interessados? “Ambos” parece bem razoável como resposta, mas eu forço a barra mais um pouco: não é que ele teria abusado da liberdade e isso causaria um problema comunicacional.
A liberdade absoluta que ele pensa ter, motivada ou equivocada, só existe num contexto em que ele não precise se relacionar com mais ninguém. Na realidade de um mundo partilhado e de infinitos sistemas interconectados e retroalimentados, toda a ação, mesmo que individual, gera uma consequência que, se não prévia e propriamente comunicada a todos os interessados (que podem nem saber que o são), leva a um problema de má comunicação (que, se não corrigida, leva à violência, que leva…).

Essa é uma outra forma -mais complexa forma, admito – de dizer “não, você não é livre para fazer o que quiser”. Esse tipo de liberdade incontida só é possível em sistemas fechados (como num videogame, por exemplo). No mundo real, praticamente todas as suas ações e comunicações geram efeitos nos n sistemas que lhe cercam, dos menores (como o almoço da família de domingo) aos maiores (como a eleição presidencial, de quatro em quatro anos).

Esse texto lhe parece muito “comunista”? O erro segue sendo meu. Sim, fingindo que essa dicotomia entre “esquerda” e “direita” é suficiente para explicar o pensamento político de alguém (dica: não é), eu me considero dotado de uma interpretação política mais ligada à esquerda, pelo simples fato de que eu não acho que o mundo e os contratos sociais estão bons do jeito que estão. Se eu tenho uma tendência à reforma, e especialmente ao tipo de reforma que busca tirar poder de grupos homogêneos e redistribuir esse poder para grupos mais fragmentados, ou mesmo de refundar instituições de Estado, logo, eu tendo ao pensamento comum à grande parte do que se chama de “esquerda”. Seja como for, ainda que eu não seja esquerda (posto que eu concordo quase sempre com os diagnósticos, mas raramente com as prescrições que a esquerda faz), “direita” eu certamente não sou. Eu não acho que tudo vai melhorar por si só, desde que todos obedeçam à Lei, pelo simples fato de que a Lei foi construída por sobre um enorme baldrame de más comunicações.

Por exemplo: é claro que a Lei brasileira beneficia quem tem mais dinheiro. Isso não é uma opinião, quero ser agressivamente claro quanto a isso. Isso é um fato. O desenho legal brasileiro permite que endinheirados escapem das punições com pouca ou nenhuma restrição às suas liberdades e direitos. É um universo paralelo onde ações não têm consequências ou se têm, elas são marginais, ínfimas. Ações sem consequências, em sistemas conectados e que se retroalimentam por meio da comunicação, por definição não podem existir. Exceto no universo paralelo criado para uma elite econômica, por meio da adequação do sistema legal que ocorreu por aqui.

Então, eu sou um defensor dos pobres e oprimidos? Meh… Que bobagem. Eu sei que sou oriundo da classe pobre, e sei que, correntemente, por n circunstâncias da vida, eu faço parte de uma decadente classe média que agoniza entre o chicote da classe alta e os dentes da classe mais pobre. Essa agonia não a torna uma classe de coitados, mas, certamente gera medo, e o medo… Bem, você já sabe. Agora, ter “consciência de classe”, como se diz por aí, não me faz vilanizar ricos e beatificar pobres. Na real, todo mundo sabe que tem filho da puta em todo tipo de estrato social. Não se enganem, senhoras e senhores do respeitável público: os canalhas vêm em todas as formas e cores, salgados e doces, brilhantes e opacos. E, acima de tudo, os canalhas também envelhecem. Tem canalha pai de família, tem canalha avô de família. Tem canalha solteiro e solteirão. E, claro, como não poderia deixar de ser, tem “canalha fêmea”, também. Canalha gay, canalha hetero… Infinitas possibilidades. Quero ser enfático para que a comunicação não se torne descolada do significado de cada significante utilizado.

Está ficando difícil fechar essa hemorragia em forma de texto. Por “fechar”, eu quero dizer “dar um sentido tal que as ideias compartilhadas ganhem coesão entre si e rumem para uma conclusão.”. E aí vem o paradoxo final da minha divagação de hoje: Na matemática, isso tudo seria um problema em aberto.

A resposta“, seja ela qual for, nunca será completa, porque o que motiva a busca por ela (ou seja, o problema) nunca está completo. O problema em aberto que nós todos, membros de n sociedades (da mesa de almoço na casa da sogra, passando pelo futebol de domingo com a moçada, indo até o bairro, a cidade, o estado e, ufa…, o país), precisamos encarar é o problema de que, sendo animais sociais, reféns com Estocolmo da comunicação como pré-requisito ao sucesso da espécie, estamos acreditando em uma porção mentiras que envenenaram a comunicação no que diz respeito a maioria dos significados.

Calma… Deixa eu me redimir antes de dar tchau: Eu não sei se são mentiras o que nos envenena. Eu não posso afirmar que são. Afirmar isso implicaria em eu ter que saber de cada vez que uma comunicação desse tipo foi feita e em que medida o(a) Emissor(a) conhecia ou não do risco de que os significados dos significantes que ele(a) empregou fossem diferentes nos Receptores (audiência) em que ele(a) mirou a mensagem. Ou seja: só é mentira se eu, comunicador, sei que o risco do que eu digo signifique algo diferente para você e, dolosamente, eu persigo que esse risco se realize. Se eu digo o que eu digo e você entende outra coisa, sem que eu realize esse risco, eu não estou mentido. Na pior hipótese, só me comunico mal.

Mentira ou mal-entendido, tanto faz: uma enorme parcela de nós, nas n sociedades [ = sistemas] em que somos parte, está com o significado errado para quase tudo o que se comunica por meio dos significantes que circulam.
Exemplos de conceitos equivocados, frutos da má comunicação: não dependemos de ninguém. Nosso sucesso (ou o de outros) é fruto único e irrevogável do nosso esforço e mais nada. Nossa liberdade permite qualquer coisa (de ouvir funk na praia, a pôr um crucifixo na vagina; passando por andar com um revolver na cintura, como se um xerife você fosse). Todos os valores são uma construção histórica e nada tem valor em si, logo, toda a moral é descartável.

Nós precisamos corrigir a nossa comunicação. Com a mulher, com o filho, com o patrão, com o vizinho. Com a polícia e com o bandido. Ao corrigir, não quer dizer que vamos todos cirandar. A promessa nunca foi essa. Mas nós vamos entender o que dá para salvar e o que não dá. E aí, se constrói o acordo possível.

O atual contrato social está fadado ao fracasso. Porque o significado que cada um lê nele não é partilhado pelos demais. E a comunicação já vem falhando há muito tempo. E quando ela falha por muito tempo…

Autor: Rodrigo30Horas

Com 30 e tantos anos de Pindorama - e, para os mais moderninhos, Ilha de Vera Cruz - Rodrigo é apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior (Guarulhos-SP) ... Com total compromisso com a clareza e transparência, é preciso que você, meu/minha caro(a) leitor(a), saiba: Eu sou um Zé Ninguém. Como formações acadêmicas, sou formado em T.I. e Direito, mas quem não é, não é mesmo? Quando falo de medicina, não sou médico, de economia, não sou economista. Você tem de se lembrar disso o tempo todo. Por uma questão de clareza e separação de papéis, preciso que você saiba que eu trabalho na Microsoft. Minha empregadora e meus superiores não têm conhecimento do conteúdo que veiculo por aqui e nunca me pediram ou me autorizaram para escrever nada, pró ou contra qualquer coisa. "O trabalho mais importante e mais difícil não é encontrar a resposta correta, mas fazer a pergunta certa." - Peter Drucker

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