Um blog que trata de tantos assuntos, não pode ser definido em uma linha…
Autor: Rodrigo30Horas
Com 30 e tantos anos de Pindorama - e, para os mais moderninhos, Ilha de Vera Cruz - Rodrigo é apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior (Guarulhos-SP) ...
Com total compromisso com a clareza e transparência, é preciso que você, meu/minha caro(a) leitor(a), saiba:
Eu sou um Zé Ninguém. Como formações acadêmicas, sou formado em T.I. e Direito, mas quem não é, não é mesmo? Quando falo de medicina, não sou médico, de economia, não sou economista. Você tem de se lembrar disso o tempo todo.
Por uma questão de clareza e separação de papéis, preciso que você saiba que eu trabalho na Microsoft. Minha empregadora e meus superiores não têm conhecimento do conteúdo que veiculo por aqui e nunca me pediram ou me autorizaram para escrever nada, pró ou contra qualquer coisa.
"O trabalho mais importante e mais difícil não é encontrar a resposta correta, mas fazer a pergunta certa."
- Peter Drucker
Alan Luciano Ruschel: Resgatado com vida, mas com lesão na coluna cervical de gravidade e extensão ainda desconhecidas.
Ananias Eloi Castro Monteiro: 27 anos
Arthur Brasialiano Maia: 24 anos
Bruno Rangel Domingues: 34 anos
Aílton Cesar Junior Alves da Silva, o Canela: 22 anos
Cleber Santana Loureiro: 36 anos
Marcos Danilo Padilha: 31 anos
Dener Assunção Braz: 25 anos
Filipe José Machado: 32 anos
Jakson Ragnar Follmann: Vivo, mas, com amputação nos membros inferiores.
José Paiva, o Gil: 29 anos
Guilherme Gimenez de Souza, o Gimenez: 21 anos
Everton Kempes dos Santos Gonçalves: 31 anos
Lucas Gomes da Silva: 26 anos
Matheus Bitencourt da Silva, o Matheus Biteco: 21 anos
Hélio Hermito Zampier Neto, o Neto:Vivo, em estado grave, com traumatismo craniano e outras lesões.
Sérgio Manoel Barbosa Santos: 27 anos
William Thiego de Jesus, o Thiego: 30 anos
Por que não cito os jornalistas, a tripulação, a comissão técnica? Não acho que mereciam ser lembrados?
Jamais eu seria tão mesquinho. Jamais eu seria tão infeliz. Mas é que eu realmente queria falar sobre os sonhos interrompidos.
E porquê não consigo me livrar, desde as 4h da manhã, quando acordei com o notíciario dando os primeiros dados dessa tragédia, desse luto que não sei explicar de todo.
A midia só trazia dados. “Informação”, não, porque até agora, não se tem informação sólida sobre nada. A mídia só quer saber de noticiar primeiro, tudo pelo clique, tudo pela audiência,sem muito compromisso com o que decorre das informações que veiculam e do que causam nas famílias diretamente afetadas que vagueiam entre o terror e a esperança.
Só para exemplificar o que acuso: A mãe do goleiro Danilo já soube que o filho morreu e estava vivo, algumas vezes, se assistiu à mesma cobertura que eu assisti. Não quero mais falar disso. Não hoje.
Olho para os nomes e para as idades…
E penso: “Não deu tempo”. Eles não tiveram o tempo deles. O tempo deles “foi desrespeitado”.
Para um cara “99% ateu” como eu, e que não acredita em destino, é contraditório dizer isso. Eu sei, racionalmente, que não há à quem ou ao que se culpar.
Mas é exatamente aí; é nisso que o meu dia amarga, como se eu tivesse realmente conhecido os que embarcaram naquele último voo… Como se fosse um amigo, um parente, alguém do meu mundo que, ali, partiu em definitivo.
Você não precisa amar futebol para se comover com o que está se passando, hoje. Basta ter empatia. E vou além:
Se um dia, na sua vida, você já se sentiu “a zebra” do jogo… Se um dia, na sua vida, você teve a consciência de que era o mais fraco numa competição (pelo emprego, pelo objetivo, pelo sonho, por qualquer coisa que valha a pena lutar), o menos preparado, o não-favorito… E se, depois de tudo isso, de todo esse mal estar, você “virou o jogo”, e “deu as cartas”, surpreendentemente, então, meu/minha amigo(a)… Então, você sabe exatamente atrás do que esses rapazes (com o mais velho, tendo só 36 anos) estavam indo e de como eles se sentiam a esse respeito. E aí, dói mais.
Não era o dinheiro, em primeiro lugar, mas era uma comprovação de que até “os menores” (não que se sentissem assim, mas, sempre foram classificados assim) têm chance de tomar as rédeas do próprio sucesso e da própria realização, nesse mundo.
Mas o vôo que deveria marcar o começo da glória, encerrou, pelo menos, 71 histórias. A maioria delas, sequer “bem escritas”… Carentes de serem revisitadas, aumentadas e encorpadas. Merecedoras de muitos outros capítulos.
Quem, em nome de qualquer santidade, pode ter “cumprido seu destino” com 26 anos, nas médias das idades? Alguns, tinham se tornado pais, nos últimos meses. Outros, com 21 anos, começavam agora, o que chamamos de maioridade…
Disto, decorreu algo muito, muito, incomum para todos nós: Uma corrente de “humanidade” tomou corpo, primeiro com o adversário, Atlético Nacional, de Medellín, pedindo à Conmebol que declarasse o time arrasado pela tragédia, o campeão da Copa Sul Americana 2016.
Depois disso, a maior parte dos times da Série A do Campeonato Brasileiro, pediram que a CBF garanta imunidade ao rebaixamento, pelos próximos 3 campeonatos brasileiros, além de garantirem o empréstimo de jogadores, durante 2017, à custo zero.
O Palmeiras mudou seu perfil oficial, nas redes sociais, para o Alvi-Negro; a marca de seu maior rival: O Corintians; por sua vez, mudou seu perfil para o Alvi-Verde da Chape; cores proibidas com força de lei, dentro do clube, por serem as cores do Palmeiras.
E uma amiga me disse:
Por que não podemos ser assim, o tempo todo?
Não nego que desperte curiosidade a onda de generosidade e vontade de ajudar que surge, depois de um evento tão trágico, embora eu não tenha nem vontade, nem o clima, para teorizar muito à respeito.
Para não ficar no vácuo da “evazão de respostas”, penso que o brasileiro tem passado por momentos de tanto “racha”, tanto ódio, tanta discórdia e acusação… É tanto “dedo em riste” na cara, que a morte brutal de todo um time (que vai além da “simples” vida de cada um, para se tornar uma espécie de “encarnação terrena” de um ideal, de um sonho) que, diferente dos famosos clubes, lutava pelo seu espaço no plano esportivo nacional, há 6 anos, e agora, começava numa competição internacional; foi por tudo isto que se gerou essa força catártica enorme.
As pessoas, de repente, se deram – novamente – conta da efemêridade da vida. Se chocaram com tantos jovens, em busca de um objetivo coeso, de um ideal compartilhado, serem aniquilados em segundos. E isso nos demoveu da rusga, da rivalidade, e nos fez desejar que o pesadelo da pequena Chapecó, de 210 mil habitantes, nunca tivesse ocorrido. E que, tendo ocorrido, todo o poder e possibilidade sejam usados e realizados para que o dano seja o minímo.
Se temos opiniões diferentes, sobre tudo, imagina no futebol. Mas, por outro lado, ninguém tem uma opinião diferente sobre a Chapecoense. Ela era o futebol ausente de holofotes, grandes marcas e grandes patrocínios.
Ela era a representação de um futebol mais genuíno, menos industrializado, menos pasteurizado.
Era uma promessa de que, “mesmo no lixão nasce flor”, como dira Mano Brown. Era a nossa prova forte que, sendo todos nós pequenos, “as zebras”, as “grandes surpresas”, mesmo assim, tal qual como a Chape, poderíamos ousar não nos contentar com o “fim da tabela”. Mesmo pequenos, todos nós, como a Chape, podemos “ousar” sonhar com grandes vitórias. Sonhar com a glória. Sonhar com o primeiro campeonato internacional, ou qualquer outro objetivo que alguém diz “ser grande demais” para nós.
E é por isso que me dói tanto. Porque foi a covardia do acaso que quase que disse: “Não, vocês não podem.”.
Agora, depois de escrever esse texto por horas, entendo minha raiva com essa tragédia. Entendo o gosto amargo que invadiu e “sentou” sobre meu dia.
Olho pra Chape, e como uma “Zebra” olhando nos olhas da outra e se reconhencendo mutuamente; sei que eles estavam em busca da Glória, acima de dinheiro e valores mundanos. Eram o melhor de um grupo, tão coeso, e tão idemovível de um propósito maior, de uma missão maior.
E a “derrota” deles, diante de uma morte tão covarde, é também uma derrota sentida por mim. E é por isso que mesmo sem amar, tanto assim, o futebol, hoje, sinto um pesar digno das tragédias pessoais, sem jamais ter pisado no Estado de Santa Catarina, quanto menos em Chapecó.
Não acredito em destino. Nem em nenhum deus descrito pelo homem. E ainda assim, não tenho dúvida da canalhice que ocorreu no dia de hoje. A vida “não tinha esse direito”. Não porque matou 71 pessoas, ao menos. Mata-se e morre-se bem mais, todos os dias, às vezes, em condições e calvários bem piores do que a queda de um avião…
A verdadeira e profunda canalhice não são as 71 vidas. Mas é a destruição de um ideal e de um sonho, idealizado e sonhado e vivido e executado, por todo um time que junto nasceu, e ironicamente, junto tombou.
Mas, Chape, não sofra:
Mesmo a pior tragédia que a vida nos impõe, e mesmo esse pesado, inescapável, e inexorável “dedo na cara”, que nos lembra da nossa fragilidade… Mesmo essa amarga lembraça da nossa efemeridade, tem um “que” da força que vocês tinham em campo, e fora dele.
Sabes, Chape, de todos esses clubes querendo ajudar vocês? Sabe do Palmeiras usando preto e branco, e o Corinthians o alvi-verde? Sabe do seu adversário da grande final que, pelo seu presidente, visivelmente emocionado, foi até a Conmebol, pedir que o titúlo seja teu, Chape?
Sabe o porquê de tudo isso? A lição é de vocês. De que força e grandeza, nada tem a ver com o que nos atribuem, ou com o capital mundano que temos.
Se até um clube de Chapecó, feito pelo suor e sonho de 210 mil habitantes, e quase nenhum capital financeiro, pode ousar ser mais do que a vida sugere, o que dizer de todo um universo de pessoas, unidas sob um único ideal?
Essa é a vossa maior lição, Chape: Ousar e desejar ser sempre mais do que se pressupõe que sejamos capazes; não importa o quanto a jornada insista em dizer “não”.
Terminou para esses, tão jovens (insisto) atletas. Mas fica um enorme patrimônio imaterial, de fibra de caráter e de propósito constitutivo que, construido sobre a união de todos os clubes e torcedores brasileiros, talvez, transforme a Chape em algo inimaginavelmente maior e melhor.
E talvez, eu pague o preço de acreditar que algo bom pode vir de uma tragédia assim. Talvez, essa seja a derrocada da Chape, e seja impossível evitar a ruína. Mas, contrários à toda probabilidade e hipótese tradicional, vocês chegaram longe, onde ninguém achou que podiam. Vou tentar, uma vez, partilhar desse mesmo otimismo, diante da improbabilidade.
E tudo começa, de onde vocês pararam e pelo que vocês simbolizaram. Nunca duvidem disso…
Porquê você deveria estar muito preocupado, (e horrorizado com a chance enorme de Trump na Casa Branca) com a eleição presidencial estado-unidense…
Donald Trump e Hillary Clinton: Os presidenciáveis à Casa Branca mais famosa do mundo.
A foto é intencionalmente maldosa: Não posso enganar você. Vejo Trump e vejo tragédia. Bush filho parece até inofensivo perto do que Trump prenuncia no meu horizonte de previsibilidades e expectativas para a política internacional dos próximos 4 anos, no mínimo.
São 2h14 da madrugada em Brasília, onde estou enquanto escrevo. Parece um tanto quanto cabalístico e levemente conveniente que eu esteja na Washington D.C. brasileira (ok, foi só uma piada. Não tenha um ataque ufanista contra mim, logo agora) enquanto isso tudo me ocorre.
Enquanto escrevo, vejo este mapa de apuração da corrida Presidencial Americana:
O mapa preocupa e muito. O The New York Times, como qualquer outro veículo de comunicação, não é livre de opinião ou de viés. E mesmo sendo claramente a favor dos Democratas, o mapa que eles montam é terrível em sua cor vermelha (aqui, representante de Trump). Especialmente em estados como Winsconsin ou Michigan, onde os Democratas contavam com o apoio, o “rodo” foi enorme.
Um resumo para entender como funciona – o que, honestamente, eu também não entendo plenamente – a eleição americana é que cada estado tem um peso de votos… A soma de todos os votos disponíveis em cada estado é de 538. Ou seja, o primeiro candidato a obter 270 votos ganha, por ter metade, mais um, dos votos. Esse número, 538, não é igualitariamente disponível. O Texas, por exemplo, rende 38 votos, enquanto a Flórida rende 29. Utah, no entanto, só rende 6 votos para quem conseguir 50% +1 dos votos daquele estado. A mesma mecânica para os demais. tem estado que dá todos os votos para quem tem a maioria; alguns poucos racham o número de votos do estado proporcionalmente ao resultado das urnas… São 50 legislações eleitorais, e não uma unificada. Considero o caos.
Agora, porquê a eleição dos EUA importa para o brasileiro?
Bem (e em uma linha), porque seu país – o Brasil – quebrou, e depende muito de um mercado internacional estável, com um cambio – igualmente – estável, para voltar a crescer e controlar a inflação…
O problema nem é, de fato, as famigeradas commodities (matéria-prima). Se analisarmos o PIB brasileiro, as commodities respondem por menos de 10% do valor atingindo.
É claro que é ridículo que o país venda lingote de ferro para comprar, 3 vezes mais caro, uma chapa de aço usinada de forma não-usual (aço-carbono de alta qualidade, etc.). Claro que é ridícula a nossa incapacidade de ter uma cadeia de beneficiamento que venda o produto final, agregando valor real, para manter as cifras realmente relevantes aqui. Mas, não é isso, especialmente agora, que importa nessa avaliação do porquê se preocupar.
O que realmente importa é que o Brasil ainda não saiu da recessão. Ter um cenário econômico com acordos bilaterais (o que Dilma nunca fez, enquanto tínhamos Obama à frente da White house) e um câmbio entre o Real e o Dólar estável é a base para sair da recessão atual. É o jeito de recuperar empregos aqui e estabilizar o crescimento econômico na vida de todos nós.
Trump e a preocupante incógnita: O que é o personagem, e o que é a loucura…
Trump dá medo. Esse é o meu resumo do que representa a visão de um homem que vai assumir a maior potência financeira e bélica do mundo, e que, se é um personagem, é daqueles terríveis vilões de novela, pelos quais você não faz menos do que torcer pela hora da morte dele. Se é um personagem, é um de mal gosto. Ensina, ratifica e consolida que “vale tudo” para ganhar.
Esqueça dos muros entre Texas e México. Esqueça até do ódio às mulheres (misoginia que Hillary sentiu na pele, algumas vezes) e outras populações vulneráveis, como Gays e Negros. Vulneráveis sim, mas não necessariamente, minorias, já que em números, e só a título de exemplo, podem ser a maior parte da população (no caso de mulheres (51.6%) vs. homens (48.4%), em se falando de Brasil, e quase idêntica porcentagem para os EUA).
Trump prometeu agradar uma população que, analisada a grosso modo, parece ser de maioria retrógrada em suas declarações, convivência e tolerância; ultra-conservadora, sem grau de educação formal e – em boa medida – desempregada. Um vídeo com os apoiadores de Trump mostra o grau de insanidade dos seus mais fervorosos eleitores. Gente que acha que Obama é um terrorista de origem mulçumana, até hoje – e só pra citar um caso.
Mas, não há burrice maior de nossa parte do que simplificar e diminuir o eleitorado dele. O preço dessa inferiorização artificial, estamos vendo agora com Hillary virtualmente derrotada, e todos os especialistas boquiabertos, sem saber como explicar o que houve.
E Trump prometeu uma nacionalização improvável mas, perigosa. Prometeu um protecionismo econômico na maior potência econômica do mundo, que move as fábricas da China, que compra materiais do Brasil, que importa mão-de-obra e viabiliza progressos científicos.
Tudo isso pode vir a ruir nas mãos de um bilionário controverso em sua maneira de fazer dinheiro, com possíveis rombos em seu patrimônio por má gestão, e com acusações de fraudes às leis tributárias.
Um homem do Real State, num mundo onde o verdadeiro valor está nas ideias e na informação, e não mais no ativo e no patrimônio fungível… Terá Trump as qualidades para lidar com a economia da super-potência, em um mundo que, teoricamente, ele não entende?
E esse homem passa a ter uma super-potência bélica em suas mãos, diante de um cenário internacional extremamente delicado no Leste Europeu, de Ucrânia e Rússia. De um Oriente Médio caótico, com Síria e ISIS, e de uma histórica e crônica Coréia do Norte apoiada pelo monstro chinês, mesmo diante de suas sandices.
E é esse homem, das declarações mais irracionais e de uma instabilidade emocional GRITANTE (em caps lock, gritando, como ele gosta de se pronunciar) que vai mandar no país com mais armas de destruição em massa e força bélica do mundo.
O que nós – e todo o resto do mundo – não entendemos sobre os Estados Unidos de Eleições Presidências em 2016?
Bom, se serve de consolo (enquanto Trump vai garantindo, mesmo, o acesso a 4 anos de poder sem igual, pela atualização do mapa que vou vendo aqui), não é realmente que só nós não entendemos.
A realidade grosseira e assustadora é que ninguém “com cérebro” entendeu.
Sem preconceitos! Não estou insinuando que só gente burra vota ou entende Trump. Já disse que essa declaração, sim, é a verdadeira burrice.
Mas, vendo os colunistas do Washington Post e do próprio The New York Times, a incredulidade e a incompreensão dessa “virada de mesa” – que agora, fica claro, nunca existiu de fato: Trump sempre esteve à frente – entre a boca de urna, e a performance acachapante do candidato dos Republicanos é geral e espanta até mesmo os intelectuais da ala conservadora. Nem eles esperavam ganhar tantas posições no Congresso, no Senado e, menos ainda, a Presidência, depois de tudo que Trump disse e fez ao longo da corrida presidencial.
A verdade é que não se sabe o que (ou como) a Sociologia e a Ciência Política vão poder explicar do eleitorado de Trump. Dizer que são todos rednecks, caipiras, burros, brancos racistas e ignorantes é o mesmíssimo e cretino posicionamento que o mundo tomou ao avaliar Hitler e sua Alemanha Nazista, de apoio cego às suas ideologias e planos. E, de maneira menos radical, é o mesmo pensamento que sustentam os que condenam a ascensão de religiosos na política brasileira, ou chamam de ladrões e petralhas todos os que acreditam nos valores do Partido dos Trabalhadores (e não necessariamente nas pessoas daquele partido). Em resumo: É grosseiro e pouco respeitável rebaixar o pensamento de uma quantidade tão grande de pessoas. O que eu quero ressaltar aqui é que o erro é nosso (de quem não apoiava a ideologia “Trump”), por não entendermos o porquê desse resultado.
Parece-me claro, agora, que existe algo profundamente errado no prisma como as capitais (que reúnem o dinheiro, o conhecimento, a formação e a geração de informação e opinião) estão enxergando o resto do mundo. Isso vale para o susto dos londrinos com o BrExit da Inglaterra. Vale para nosso susto com Crivella no Rio, e com o conservadorismo de ressurgimento potente no Brasil.
Vale para o eleitorado dos EUA que vai fazendo história – pelo que estamos projetando (e talvez, de forma igualmente errada), terrível – e que “cala a boca” de todos os críticos e intelectuais das áreas que se propõem a estudar a Política e as sociedades; neste caso, especialmente a estado-unidense.
O erro de avaliação é grosseiro e ninguém entendeu a realidade. Explicaram e nós mesmos explicamos, por meses, tudo errado. Acreditamos em tudo que não se realizou.
E Trump (tudo indica) ganhou.
Quando você (ou qualquer um) simplifica as coisas e diz que Trump ganhou porque todo mundo que votou nele é burro e preconceituoso, você diminui a importância dessa ocorrência, e isso te coloca em uma posição de “baixa guarda”. Desse mesmo lugar (grupo de pessoas) que você preferiu ridicularizar e simplificar, coisas muito piores podem vir, enquanto você diminui a importância disto.
Mas, afinal, o Conservadorismo é algo ruim?
Resposta direta: Não.
Mas o ultra-conservadorismo é.
O Conservador não é um monstro. Esqueça a bobagem que seu amigo fanboyde Esquerda diz.
Conservador é o cara que, tendo filhos e mulher em casa, espera que seu emprego se conserve.
É o sujeito que, diante dos planos de vida, espera que o dinheiro que suou para ganhar por décadas continue a valer o mesmo daqui outras tantas décadas.
Pasme – claro, se você se definir como “Esquerda” (seja lá o que isso significa pra você) – mas, quando o Sindicato dos Trabalhadores “quebra tudo” para evitar que haja qualquer flexibilização (boa ou má) de alguma lei trabalhista (suponhamos: de desligamento simplificado de funcionários), ele está sendo muito conservador, às vezes, ao custo da geração de mais empregos no país, o que deveria interessar aos desempregados que o Sindicato diz se preocupar e representar.
Não há nada de errado em ser conservador, contanto que a racionalidade não se esvaia, e você não fique tão apegado à sua ideia de “real” que perverta o prisma de como vê as coisas ruins que precisam mudar, pelo bem de toda a sociedade.
O risco de Trump nem é tanto pelo Conservadorismo, porque, sinceramente, se você perguntar à instituições genuinamente conservadoras, propagadoras do pensamento Conservador; Trump quase não tem identidade político-filosófica com os pilares do Conservadorismo tradicional.
Trump é muito mais um risco porque cria a ideia de que a culpa dos problemas de uma grande parte da nação estado-unidense está no outro.
Sendo “o outro”, geralmente, o estrangeiro, a mulher, o negro, o gay, o país estrangeiro que produz o bem de consumo que se vende por lá, e enfim… “O inferno são os outros” é o lema central pelo qual Trump enxerga (ou diz enxergar) o mundo.
E isso pode justificar barbaridades em todos os níveis, para um Comandante-em-chefe que se sentirá invencível e, como eu disse: Talvez, nos cause saudades da época em que os EUA “só queriam matar uns barbudos no Oriente” e “lançar uns mísseis” aqui e acolá.
Pelo bem do Brasil (e do mundo), desejo que ocorra o menos pior na eleição dos EUA e nos fatos que dela se desdobrarão. Se Trump vencer, a torcida até seu primeiro dia de trabalho é para que ele seja apenas “um fanfarrão” que não mediu esforços para vencer, mas, não vai realizar as maluquices que propôs.
Se estivermos errados e Trump for 30% do que diz ser, o mundo vai amargar muito porque, goste você ou não, muita coisa, incluindo o preço do trigo que faz o pão que você acaba de comer (na hora em que esse artigo for publicado), depende das políticas e acordos que passarão pelas mãos desse homem e daquela nação.
Torcer pelo “melhor” já é, tecnicamente, impossível. Resta torcer para que seja o menos pior para todo o mundo. Afinal, moramos todos dentro de um mesmo planeta, e dele não vamos prescindir tão cedo. E os EUA têm um forte efeito na balança do destino deste lugar.
O Tweet que fervilhou no último dia da corrida presidencial dos EUA parece não ter surtido efeito algum. O texto faz referência aos gritos com que Trump faz seus discursos, e suas declarações de ódio a vários grupos vulneráveis. E termina dizendo que a Alemanha já esteve nessa posição e fez essa escolha, em clara alusão à ascensão de Hitler.
Sábado, 18h, e você não está muito certo sobre qual candidato merece seu voto. Ou está certo de quem não merece. Ou vai fazer a triste escolha do “voto menos pior”.
Amanhã, nesta mesma hora, o destino político dos 5.570 municípios brasileiros estará selado há 60 minutos.
Como ocorre a cada dois anos (ora em nível municipal, ora estadual e nacional), o brasileiro tenta decidir – mesmo que se negue a participar – por quais rumos e prumos o Brasil avança (ou em relação às soluções, ou às crises).
O ponto nevrálgico do (bom) processo eleitoral é que todos devem votar (ou não), conscientes de que fizeram a melhor escolha. No nosso país, no entanto, quase ninguém tem esse grau de compromisso com o poder do próprio voto, e acaba fazendo o famigerado “voto de protesto” (que, convenhamos, não tem essa consciência protestante em 99% dos casos) em candidatos despreparados, sem nenhuma formação (não apenas a formal) que os ajude a criar e melhorar as políticas públicas e a legislação das quais tanto reclamamos.
Para todas as pessoas que começam a se interessar por política, aqui vai a primeira dica: A reforma política não pode ser feita por analfabetos em sentido lato (sejam eles só desprovidos na política, ou até mesmo na capacidade de ler e entender um texto.).
Quando alguém falar pra você que o Brasil precisa de uma reforma política, lembre-se da deplorável cena dos votos “pelo meu país, pela família, por Deus, pelos Power Rangers, pelo Sport Club Recife”, etc.. Este é o seu Congresso. Ou melhor, o nosso. E são eles que vão escrever as regras, limites e obrigações de um novo paradigma político? Deus me livre, obrigado!
Com esse nível de elementos que elegemos, eu prefiro que reforma alguma ocorra. “Reformar”, em língua política quer dizer “oportunidade para mexer em tudo que diminui o meu poder”.
Não é minha pauta para hoje, falar sobre a real validade do voto. Disse Emma Goldman que:
“Se votar mudasse algo, eles tornariam isso ilegal.”
Eu não quero enveredar pela questão – extremamente válida, acrescento – sobre se a urna é segura, e se o processo eleitoral tem qualquer legitimidade e lisura em sua condução por aqui.
Independentemente da resposta para a proposição anterior, nossa obrigação, como cidadãos, é a de tomar a melhor decisão possível diante da informação que temos.
O que desejo, hoje, é simplesmente falar sobre o que você precisa saber antes de ir a urna, amanhã.
Se escolher um político por afinidade à legenda, não é grande idéia (já que a carta da legenda nem sempre rege o plano de governo do candidato [fidilidade partidária se aplica somente aos Deputados]), escolher pela “cara de bom moço” ou “porque você não suporta o atual” é uma péssima jogada para o valor da sua cidadania.
Precisamos de algumas ferramentas básicas, a fim de fazer uma decisão informada.
O segredo está em não ter preguiça e assumir a responsabilidade que o poder de escolha nos imputa.
1 – Afinal, o que o candidato a vereador pode fazer?
REGRA DE OURO: Se o candidato não sabe o que ele pode fazer pela população que quer representar, ele não serve para o cargo que quer ocupar.
É a tal história: Imagine que você tem uma empresa de médio porte. 100 funcionários e crescendo. Você ralou muito, foram incontáveis madrugadas e fins de semana trabalhando para que o seu sonho empreendedor desse qualquer tipo de fruto. Por várias vezes, você achou que ia falir, que o cliente ia calotear, que o funcionário ia te prejudicar.
Enfim, se hoje essa empresa dá lucro, só você e seu Deus sabem o quanto foi sofrido chegar até aqui.
E agora, chegou a hora de contratar seus primeiros diretores e alguns conselheiros.
A minha pergunta é simples: Para cuidar de sua empresa, do seu sonho realizado, do resultado de todas aquelas noites e aflições transcendidas, qual é o perfil do profissional que você exige, no mínimo?
Vou facilitar: O analfabeto (em sentido amplo) serve para tomar conta do seu setor financeiro? E para cuidar do seu RH?
Para ganhar não menos do que 15 mil reais mensais na sua empresa, quais são as qualificações mínimas que você exigiria?
Tem as respostas? Elas são exigentes?
Pensou algo como “15 mil? Estou contratando o melhor executivo do mundo?” ou foi algo como “para trabalhar na minha empresa, um diretor precisa, além de um currículo brilhante com MBA, especializações e línguas secundárias, uma carreira de sucesso(…)”?
Agora, se você pensou “Nah! Ninguém é perfeito… Na minha empresa dos sonhos, qualquer um com um bom slogan e uma cara apresentável, merece um cargo de diretor! Se ele não souber nada sobre o cargo, sem problemas! Eu dou tempo pra ele aprender. E se não aprender, mas continuar com um bom slogan, oras, qual o problema?! Mantenho ele no cargo assim mesmo”.
Pronto. Você tratou a empresa pela qual sangrou e lutou, da mesma forma que 90% dos brasileiros tratam a política nacional. Pelo menos, e diferentemente dos outros 90%, você é coerente com o seu dinheiro e o dinheiro público (de todos).
De algum modo bizarro, as pessoas estão se lixando para quem vai ganhar 15 mil reais como vereador em São Paulo. Não ligam se ele tem 17 assistentes que custam mais de 140 mil anuais. E se ele(a) tem outros 22 mil reais por ano para gastar com gráficas e materiais de escritório, dane-se. O Estado é quem paga. Com certeza não somos nós que mantemos isso tudo. Com certeza.
Agora, se você imagina o quão bom alguém tem que ser pra ter todo esse dinheiro disponível e trabalhar na sua empresa, então, por que é tão fácil avacalhar com a eleição – amanhã, municipal – e cooperar para eleger nada menos que 55 vereadores que custam tudo aquilo que eu citei, cada um?
Bem. Um diretor de finanças tem que saber fazer contas e entender algo sobre impostos e lei trabalhista. O diretor de marketing tem de saber como vender um produto em um mercado, e como não vendê-lo em outro.
O que seu candidato a vereador tem que saber?
O que faz um vereador?
Segundo o portal Brasil.gov.br:
Sabe aquele candidato à vereador que prometeu:
A ROTA na rua;
Benefício fiscal, ou bolsa auxílio (ou qualquer promessa que gere custo ao município);
Remoção de radar de vias públicas;
Estação de metrô no seu bairro ou rua;
Fim do racionamento de água;
Acesso gratuito à Internet para sua casa ou região.
Bem… Odeio ser esse estraga-prazeres mas, preciso lhe dizer: a relação candidato-eleitor dele com você já começou com 100% de mentiras. Não precisa ser um gênio para saber que ela não tem como terminar bem.
Mas, diz o ditado que “só tem malandro porque tem otário”.
Se preferir um ditado importado, os estado-unidenses dizem “fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me.”
Você pode até ser enganado uma vez pelo mau caráter de alguém. Mas, se você é enganado todas as vezes, o problema é você. Sorry.
Sabendo o que o vereador pode – e principalmente, o que não pode – fazer por sua cidade, seu bairro, e por você, suas chances de analisar com profundidade o ridículo discurso de 10 segundos para cada candidato na TV, já sobe um pouco.
Lamentavelmente, os partidos cobtrolam como bem entendem o tempo que têm na TV.
Em outras palavras, significa que os vereadores não têm tempo algum de dizer o que pretendem, se eleitos. E isso é mau por vários motivos. Vou citar 2:
Quando um cidadão pretende ingressar na vida política, ele, normalmente, começa pelos cargos municipais. O cargo de Vereador é como um cargo de Trainee. Um trainee muito caro, precisamos frisar. Oras, se este é um cargo que ajuda a política a introduzir “sangue novo” e não há o menor espaço para observamos a “categoria de base” e o que ela tem a dizer, quais são as nossas chances de virar o jogo político do Brasil? Perto de zero? Você, meu caro leitor, é um otimista se pensa assim.
Você só conhece a ruindade de um candidato, se o acompanhar por um tempo. Ouvir o seu candidato a Vereador falar seria uma excelente maneira de decidir se ele merece seu voto. A prova? A votação pela admissibilidade do processo de impeachment da – agora – ex-presidente Dilma. Quero fazer uma reflexão sobre isso: Quantos de nós, ao menos lembram da existência de canais da TV Câmara, TV Senado, NBR (Executivo Federal), TV Justiça(…)??? Eu não serei hipócrita: Assisto a TV Justiça com prazer, algumas vezes, mas não aguento 2 ou 3 minutos na TV Câmara. Por que? Porque o nível é péssimo. O nível é aquilo que você viu ao longo da votação pela admissibilidade. Pior: Quando eles estão “despreparados” – quando esquecem que estão sendo transmitidos – o nível cai. E é o pior possível.
Rodrigo, legal: A idéia sobre a valorização do voto para Vereador é muito bacana. Mas já é tarde. O que fazer com a eleição ocorrendo amanhã, e nenhuma idéia de quem votar?
Bem, nesse caso, use seu tempo da melhor forma possível.
Vários portais exibem rankings de vereadores e permitem que você, ao menos tenha uma decisão um pouco mais informada. Um deles é o Voto Consciente (http://www.votoconsciente.org.br/avaliacao-dos-vereadores-de-sao-paulo/), aqui, com o ranking da cidade de São Paulo, mas, com outros rankings para diferentes cidades.
O Voto Consciente é uma OSCIP (organização da sociedade civil de interesse público), e não tem, enquanto entidade, relação partidária com ninguém.
Sobre a neutralidade da avaliação, a menos que ela seja completamente objetiva (ou seja, medindo números) é impossível falarmos sobre “neutralidade”. Organizações e movimentos são constituídos por pessoas, e pessoas sempre têm uma opinião, por mais bem intencionadas que elas sejam.
Também, não adianta pegar o primeiro vereador do ranking, e fazer toda a família votar nele.
Você precisa se lembrar do infame quociente eleitoral.
Esse instrumento nefasto, criado por safados ainda mais nefastos que ele, faz com que uma corja de safados, amigos dos líderes do partido, sejam eleitos sem um único voto sequer. A lista é submetida pela presidência do partido e você não tem nenhum poder de impedir que seu voto eleja uma porção de vagabundos e bandidos, só porque você decidiu votar no “top 1” do ranking, com todos os votos que você pôde influenciar.
Como eu expliquei. Votar nos candidatos do ranking não é a melhor idéia do mundo, para a renovação da política.
O ranking só avalia quem já é vereador. Logo, se todos nós votarmos somente nos rankeados, a renovação da porta de entrada da política será de 0 (na verdade, um pouco mais que isso, mas você entendeu).
Ainda assim, agregar, de última hora, alguma qualidade no peso do seu voto, não pode nunca ser algo ruim. Bem melhor do que o tal voto de protesto que elege safados, mentirosos e incompetentes, para ganhar 15 mil mensais, por 4 anos. Somos, todos nós, os piores donos de empresa (nesse caso, paga por todos nós) que podemos conceber.
2 – E o Prefeito?
Para Prefeito, a situação é um pouco melhor do que é para Vereador. Mas só um pouco, também.
Novamente, insisto que é preciso saber o que é da alçada do prefeito e o que dele, todos podem e devem esperar e cobrar:
Pronto. Agora você tem uma visão macro do que pode e não pode fazer por sua cidade, sua excelência, o Prefeito.
Ele também tem um salário alto (mais de 24 mil reais em São Paulo), mas no caso da minha cidade, se serve de consolo, o atual prefeito tem qualificações curriculares e acadêmicas que lhe garantiram soldo muito similar na iniciativa privada. Pelo menos, este consolo…
E, com base nisso, fica mais claro acompanhar o projeto de governo que o candidato defende.
Preciso dizer: Se você escolheu seu candidato à prefeito pela cor do seu símbolo partidário, ou com base no que ele foi no passado, você está fazendo um péssimo negócio por “sua empresa” (vamos manter a metáfora, ok?).
É preciso ler qual é o plano que ele disponibilizou para os próximos 4 anos de seu provável governo.
Se ele não disponibilizou nenhum, não sei nem porquê você ainda cogita dar seu voto a ele.
O prefeito deve ser um estrategista: Ele tem recursos financeiros e prazo (4 anos) limitados. Em qualquer curso fundo-de-quintal, você vai aprender que qualquer projeto (de viajar para a praia no fim de semana, a colocar o primeiro ser humano em Marte), pode ser dividido em 3 dimensões :
Prazo
Custo
Requisitos
Você também aprenderá que o bom gerente de projetos não pode, nunca, perder o controle sobre as 3 dimensões, ao mesmo tempo. Se o cliente quer definir quanto tempo o projeto vai durar,e quanto vai custar, o gerente tem que definir o que o projeto vai entregar.
Ora, se prazo e custo (esse é um pouco discutível, mas, vamos simplificar) já estão definidos desde o primeiro segundo de um mandato de prefeito, o que resta ao prefeito é controlar os requisitos que serão entregues.
É aqui que entra a avaliação de plano de governo. Se ele está priorizando a praça na rua chique e o posto de saúde no bairro em que todos os moradores têm plano de saúde, esse candidato tem um péssimo senso de prioridades.
E aqui vai mais um dica de ouro: As palavras significam alguma coisa!!! (uau!)
Por exemplo: Prioridade significa:
“condição do que está em primeiro lugar em importância, urgência, necessidade, premência etc.”.
Incrível, não é? Quantos candidatos dizem, em questão de minutos, que educação, saúde e segurança, são suas prioridades? Sabe o que eles estão realmente dizendo? Que não vão fazer nada direito. Por que? Porque não há tempo, nem recurso para entregar todos esses requisitos.
Se o candidato fosse um bom gerente de projetos, ele não teria prometido o impossível. E se você praticasse o ato máximo da cidadania (o direito de votar e ser votado), com mais respeito por si e pelos outros, ele nunca teria sido eleito.
Olhando para os últimos números da pesquisa encomendada pela Rede Globo ao Datafolha, com margem de erro de 2%, demonstra-se que a maturidade do eleitorado na Capital econômica do país, continua igual:
Os motivos pelos quais Doria está com ~38% de intenções de voto, me interessam.
Não tem nada a ver com uma análise de prioridades entre Doria e Haddad, ou Doria e qualquer outro candidato. É pura e simples revanche.
Eu digo, sem medo de ser feliz: Não concordo com uma única ideologia do Partido dos Trabalhadores. Uma. E não vou, aqui e agora, discutir o porquê.
Mas, sendo racional e sem paixões, preciso emitir opinião que as prefeituras de Marta (então PT) e Haddad foram superiores à todas as prefeituras que me lembro, desde 1996, quando passo a ter memória para fatos políticos. Melhor do que Maluf, Pitta, Kassab, Serra etc.. Com tropeços, certamente, mas muito mais benefícios do que os outros trouxeram à população que já supera a dezena de milhão, na cidade de São Paulo. Ora, e porquê não vão reeleger o candidato que fez mais que os demais?
Porque política não é, e jamais foi ou será, uma Ciência exata. Fazer tudo certo, não garante o mandato pra ninguém. Carisma, simpatia, apoio popular, e outros fatores imponderáveis garantem mais 4 anos aos piores brasileiros que já se teve notícia, como mais de uma dezena de coronéis, historicamente no norte e nordeste brasileiro (onde o Clientelismo e Coronelismo surgiram com força, mas, obviamente, não estão mais restritos por lá), que empesteiam o Congresso Nacional. Ladrões de merenda, fraudadores da Receita Federal e INSS continuam se re-elegendo nos mais diferentes cargos do poder público. São recebidos com comícios, apertos de mão e abraços daqueles que mais são prejudicados por seus crimes e esquemas. Vez ou outra, um solitário pensador na multidão se nega a fazer parte do circo, mas o que é o maior grão de areia, diante de toda a areia da praia?
Sei que não adianta: Vamos discutir esse tema até o dia da minha morte. E tenho a triste confiança de que, até lá, meu povo vai continuar votando muito mal, e reclamando por todos os dias depois de cada eleição, da qualidade, honestidade e competência dos eleitos.
É algo que parece mais forte do que qualquer afirmação de bom senso: A vontade de se livrar do fardo que é ter que pensar, analisar, e arcar com as consequências das decisões que cada um decide tomar. Ao que parece, essa última frase é insuportável para meus compatriotas.
Enquanto isso, pagamos 15 mil por mês para ilustres desconhecidos que recebem esse salário e, porque são completamente incompetentes e ninguém os vigia (me diga o nome do seu candidato à vereador em 2012 e me diga se ele foi eleito e se fez algo de bom), recebem 15 mil para dar nomes a ruas e parques. É tudo o que podem fazer, com a qualidade com que povoamos a Câmara municipal.
Sorte deles. Azar o nosso. Como eu disse, essa é uma escolha de Sofia, da qual todos nós nos arrependemos, do momento em que ela é selada, pelo resto dos 4 anos que nos separam de outra rodada de escolha. Quando cometemos os mesmos erros, de novo.
Nos vemos em 2 anos, com o mesmo discurso, os mesmos problemas e as mesmas necessidades de correção. Dessa vez, para Deputados (estaduais e federais), Governadores, Senadores e Presidente.
Porquê insisto, então ? Sei lá. Porque sou brasileiro e não desisto nunca? “Água mole em pedra dura…” quemsabe…
(escrito no celular, perdoem-me por eventuais erros de linguagem e incorreções.)Revisado.
O slogan do filme era: “No matter who wins, we lose.”
Enquanto assistimos ao “Season finale” (Não… Isso não termina aqui… Acreditem em mim) do pitoresco show de horrores da política nacional, não consigo deixar de pensar na frase que acho que mais define o que é viver sob o Circo do Brasil (e que, exaustivamente, já proferi):
“Não importa quem ganhe, nós perderemos”
A frase do, também pitoresco (deixo você escolher se pela ruindade ou pela comicidade), filme “Alien vs. Predator”, é um retrato do que é viver no Brasil atual. Se o PT ficar, se o PMDB tomar o poder, se o PSDB for o próximo a comandar o país… Não importa: Nós é que vamos sair perdendo.
Mas, diferentemente da trama do filme, não há alienígenas ou monstruosidades – em resumo, não há terceiros – a se culpar, senão o voto popular; esse sim, uma aberração praticada por cada conterrâneo meu, à revelia de qualquer ligação com causa e consequência.
As narrativas de Dilma, coligados, e partidários de que se trata de golpe, é um golpe (publicitário). Dizem estar preocupados com a soberania, com a segurança jurídica, com a manutenção da Democracia… E para cada frase tragicômica dessa, eu tenho uma história para contar de como o PT de Lula e Dilma destruíram nossa soberania, acabaram com a segurança jurídica, e tentaram destruir a Democracia, para manterem-se perpetuamente no poder.
A narrativa da oposição-situação (porque é isso o que temos: uma oposição que odeia o PT, mas que joga com o PMDB que, junto com o PT, infligiu 4 eleições de resultados amargos contra eles. Sua convicção moral de oposição mal resiste à página 2 da história) de que “faz isso pelo futuro Brasil” é outro golpe (só que moral).
Nenhum deles… Nenhum, realmente, se importa com o que há no futuro do Brasil. E de como a palhaçada que orquestram e executam interfere nisso.
As pessoas ainda discutem quanto a admissibilidade do pedido de Impedimento, ainda dizem que não há o que se usar como prova cabal da necessidade da cassação. E eu não vou perder o meu e o seu tempo detalhando cada ato passível de punição.
Principalmente porque, se até o momento, você não se convenceu de que o governo de Dilma levaria o Brasil a falência, nos moldes venezuelanos, não vai ser uma lista corrida de crimes e desvios (que, se não foram feitos por Dilma, eram de sua responsabilidade quanto ao combate, a vigilância para que não ocorressem, e etc.), cometidos por “braços direitos” da Presidente, que vai lhe convencer.
Sincera e honestamente, nem eu estou aqui para convencer qualquer um de qualquer coisa. Estou aqui para ser pragmático:
Dilma vai cair, porque não nasceu para a política.
O que ocorrerá hoje, na conclusão da sessão que julgará Dilma culpada ou não é, por certo, a página final de uma biografia profissional trágica. A de Dilma, claro.
Enquanto seus colegas de guerrilha evoluíram (e evolução ≠ melhora) para o modelo de atuação política, Dilma continua a demonstrar a falta que lhe faz a boina, o uniforme camuflado, e a cadeia de comando inflexível. Eu nem sei se ela usou a boina e o uniforme, mas, para visualizar como ela enxerga a condução da vida pública no país, o imaginário vem bem a calhar.
O problema é que sua intransigência só poderia existir se seu partido não fosse tão moralmente comprometido, e não tivesse costurado tantos acordos com tantas partes (supostamente opostas, ou não) que não podem ver a luz de tão feios que são.
Sua intransigência, sintetizada na frase “eu mando, você faz”, lhe custou demais e seus “ofendidos” (e aqui, não questiono se mereciam ser ofendidos. Até acredito que muitos mereciam sim) arquitetaram o que, agora, assistimos.
Mas, se ela é merecedora da trama que enfrenta, ou não, isso pouco importa, aqui sim, pelo sucesso e pelo futuro do Brasil, de fato.
A situação de Dilma é insustentável, e eu, brasileiro, não pagarei o preço de sua intransigência, e das inimizades que conquistou com seu “jeito doce de ser”.
Senhoras e senhores: Uma presidente, chefe do Executivo, que não consegue minoria simples de votos, nas duas casas legislativas (Câmara dos Deputados e Senado), não tem nenhuma chance de continuar a governar o Brasil. Nas mãos dela, o Brasil parará pelos próximos 2 anos. Já vimos isto: Até seu afastamento temporário, o Brasil fazia água: Dólar em disparada, fechamento de vagas de trabalho aos milhares por dia, inflação…
Alguém, na multidão, pode dizer “não fosse o ódio dos parlamentares à ela, Dilma também poderia corrigir o Brasil”. É verdade. E aí faço uma pergunta “E quem foi que escolheu bater de frente com todos aqueles homens e mulheres???”. Respondo: Dilma.
Dilma escolheu o caminho da trincheira. Dilma escolheu dizer “vão ter que me engolir”. Dilma implodiu sua capacidade de se manter a frente da Presidência, e aceito que PODE SER por questões não-criminais. Mas, definitivamente, por escolha postural, e por ausência de competência política para o cargo que ocupa.
Argumentar que ela perdeu a capacidade de salvar o Brasil, porque foi traída, equivale a dizer que me arrebentei inteiro, porque o muro foi muito duro comigo. Dilma foi traída porque imaginou, e não enxergou, o mundo em que quis entrar. Quis entrar? Não sei… Não me canso de vê-la como fantoche de Lula.
Como disse, sou pragmático (tenho que ser, porque é aqui que eu moro. Meu idealismo só poderia ser o carro-chefe da interpretação se eu não dependesse do que acontece com esse lugar, a seguir): Para salvar o Brasil do caminho venezuelano, somente o afastamento definitivo da Presidente pode funcionar. Sua permanência fará voltar o que se via antes do afastamento temporário: Um timão travado e obstruído, em direção ao iceberg.
Dilma cometeu Crime de Responsabilidade?
As discussões sobre se cometeu crime de responsabilidade são, à essa altura, supérfluas. Eu não tenho dúvidas das “Pedaladas”. Não tenho dúvidas do parecer do TCU. Sobremaneira, não tenho dúvidas que a campanha presidencial de 2014, da reeleita presidente, foi uma mentira que nem o Diabo poderia arquitetar tão bem. Seus marketeiros criaram um sonho, um país forte, e sem grandes problemas, e com grandes programas sociais que, na continuidade dela, seriam eternos. Permanentes.
Em 2015, 3 meses após sua reeleição, vimos o Brasil quebrar de maneira profunda. Assustados, só os que acreditaram na campanha dela. Os economistas, de dentro e de fora do país, já falavam do quanto o Brasil estava perdido. Os analistas políticos que convivem no Distrito Federal, já demonstravam a corrosão da então “base aliada” de Dilma.
E, volto a dizer: Se Dilma não escreveu de próprio punho, a ordem para as “Pedaladas”, prevaricou de sua responsabilidade de zelar para que isto não ocorresse. Por ação ou inação, Dilma falhou. Outros fizeram? Sorte deles não terem sido levados à “justiça” (explico as aspas, abaixo). Dilma foi.
Como bem lembrou o ilustre jurista Miguel Reale, co-autor do pedido de impeachment, a qual reproduzo em conteúdo, mas não textualmente:
“A defesa da Presidente alega que não há provas de que Dilma autorizou, pessoalmente, que houvesse operação de crédito entre os Bancos públicos e o Governo. Ora essa! Isto foi uma fraude! O que espera a defesa? Que o fraudador redija uma carta dando autoria sobre a fraude?”.
A tecnicidade judiciária permitirá, à favor ou contra, categorizar Dilma como criminosa, ou inocente. O direto, em especial o brasileiro, permite que algo seja e não seja, ao mesmo tempo. Schrodinger morreria de inveja da tortuosa dualidade de qualquer coisa, na legislação brasileira.
Dilma está diante de um processo Político. Não Jurídico.
Não sou eu quem disse isso. Foi o Supremo Tribunal Federal, em acordão proferido pela egrégia Corte, sobre a matéria.
E isto quer dizer que o rito do Impeachment é um instrumento integral (e, portanto, não extraordinário) do conceito de Freios e Contra-pesos do sistema Democrático. Quem o invoca é a Casa baixa (Câmara dos Deputados), através do acolhimento de denúncia (que pode vir por meio de qualquer cidadão com acesso às vias de ingresso do mesmo) pela mesa diretora, regida por seu Presidente.
Se isto não parece importante, garanto que você, caro leitor, está ignorando a profundidade dessa compreensão: Em um processo político, como o Impeachment, critérios como Conveniência e Oportunidade são considerados, diferente de um julgamento Jurídico, onde os atos criminosos estão catalogados no Código Penal, e dependem de Materialidade e Autoria, entre outras coisas.
Portanto, diferente de um julgamento Jurídico, ainda que demonstrada a tipicidade da conduta de Dilma, os parlamentares podem absolver a ré, por motivos de pura oportunidade e conveniência políticas. A condenação, igualmente, passa pela mesma régua.
É golpe?
Tanto faz. Sério. Tanto faz.
Já foi o tempo em que se admitia que para fazer Justiça, o Estado viesse a falir. Roma permitia isso. Nós não podemos.
A injustiça a Dilma, se de fato constatada, será narrada história à fora. Se Dilma estava profundamente comprometida com os crimes que o PT e todos os demais partidos estão envolvidos e que temos notícias, todos os dias, também tanto faz.
O que não “tanto faz”, é a capacidade do país parar de afundar. O que importa é pararmos de gerar milhares de novos desempregados por dia. O que importa é aprendermos em quem votamos.
Se o PMDB é um partido de cobras, vigaristas, e traidores, não dê outro voto a eles (nem como vice! Bom citar…).
Se o PSDB é feito de ressentidos, golpistas, e anti-democráticos, não vote neles.
Se o PT mentiu e mente, durante toda a campanha e agora, se vendeu cargos para o “Centrão” que, mesmo assim, os traiu, se foge da Justiça da Lava-a-Jato como o Diabo foge da Cruz, se tem um candidato incapaz de fazer política…
Mais que isso: Se Hélio Bicudo, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, diz que o partido que amava e que ajudou a construir, está perdido e desvirtuado; e é co-autor do atual pedido de Impedimento. Não vote neles.
Se, hoje, assistimos à este circo dos horrores, é bom que se lembre que ele é feito com nossos monstruosos impostos, e com nosso consentimento repetido a cada 4 anos, aos palhaços que nos tornam ainda mais palhaços, por permitir que eles continuem por lá.
Dilma luta, não por seu mandato, mas pela democracia.
Sim, e eu sou alto e magro.
Dilma luta por uma ideologia. Ideologia que não é nada amigável ao conceito pleno de Democracia. Não que a oposição seja fanática por essa última, também.
Todos eles, sem exceção, pensam do seguinte modo:
Se não sou eleito, é porque o povo não sabe votar.
Se o povo vai para a rua, contra mim, ele não sabe o que pede.
Se o projeto de lei que eu quero não tem apoio popular, o povo não sabe o que é bom para ele.
Se minha visão de igualdade e justiça não é aplaudida pelos demais, é porque o povo não tem educação.
Dilma, como eu disse, lá no começo, ainda vive sonhando com a Boina e com a Farda. Seu livrinho – que eu não tenho certeza se leu – “O Manifesto Comunista” de Karl Marx, é claro em dizer que a população não sabe o como é bom viver no socialismo-marxista e, portanto, uma “Ditadura do Proletariado” é necessária.
Dilma, como Lula, antes dela, vive em um mundo polarizado, onde os comunistas são amigos e aliados, e os Imperialistas das super-potências devem ser combatidos.
Não vê que a China, “sua amiga” (não que a China pense o mesmo de nós), adora o sucesso dos EUA, que lhe garante a venda de muitos produtos ao país com o maior consumo per-capita do mundo.
Não vê que seus aliados latino-americanos, afundam seus países, não porque uma força sinistra acaba com cada governo bolivariano, mas porque o modelo é falido em sua essência. Não há como exigir que as pessoas trabalhem mais, produzam mais, e deem tudo para que o Governo-Pai-de-Todos decida para onde vai esse trabalho, para onde todo o esforço e a riqueza que esse trabalho gerou e gera devem ser destinados.
E, como a exemplo de toda sua história e biografia politica, Dilma Roussef não consegue enxergar a realidade com a ótica certa, e vive em um universo paralelo que vai sentenciar o fim precoce e melancólico de seu mandato.
Mas, não… Não me iludo. Não importa quem ganhe. Nós sempre vamos sair perdendo. Somos, de fato, incapazes, de nos responsabilizar pelas rédeas e pelo futuro político e diretivo do país em que moramos. Dilma sairá e, para aqueles que enxergam o mito da inocência, de maneira covarde e golpista, e para quem não enxerga, por justiça – o mito é, nem tanto porque ela foi corrupta (o que, TALVEZ, não se possa provar), mas porque se omitiu de sua responsabilidade de fazer política (isto por certo é inegável).
No fim, o que, de fato, me preocupa é que nós (todos nós) mantemos o jogo com as mesmas “cartas marcadas”, e esperamos resultados diferentes. Impossível.
De 1992 para 2016, as Olimpíadas são o evento feito pelo homem, que mais mexe comigo. Aqui, eu conto o porquê.
A visão da Arena Olímpica do Rio, no Parque Olímpico da Rio 2016, em nossa despedida, na noite de Sábado, dia 13 de Agosto. Foto: Bruna Andako
Acabou. :-\
Bem, para mim, “o melhor” já tinha acabado no último dia 14, quando, com uma precoce – e, honestamente, inesperada – tristeza nostálgica, me despedi do Rio de Janeiro, deixando o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (o “Galeão”) e, me dirigindo de volta à terra da garoa.
Dizer “adeus” aos Jogos olímpicos sempre me deixa um pouco chateado…
Os quase 9 dias que passei no Rio de Janeiro, em plena Olimpíada, foram uma das experiências mais marcantes da minha vida, em parte pelo meu forte carinho pelo Judô, mas, também, pela minha ligação com os Jogos olímpicos e a valorização que eu faço quanto ao evento.
Para provar que não é conversa de quem “de repente” virou o “fã número 1”, compartilho alguns fatos que justificam esse carinho.
Em rápido esforço, tento me lembrar da situação mais antiga da qual consigo recordar, na minha vida inteira. E lembro de 3 coisas:
Ganhar uma estrela amarela que falava/cantava e piscava, dos meus tios maternos, em 1990.
A chegada do meu irmão, em casa, em 1991.
O acendimento da Pira Olímpica, pelo arqueiro para-olímpico (me recuso a escrever “paralímpico”), Antonio Rebollo, em Barcelona, 1992; o que vi pela televisão.
Juro por tudo que pode ser jurado que essas são as 3 primeiras coisas mais marcantes que me lembro.
É óbvio que, em 1992, com 6 anos, eu não sabia nem que o arqueiro era para-olímpico e, muito menos, que se chamava Antonio. Muito menos sabia que era polêmica a história sobre se a flecha acendeu mesmo a Pira, e sobre toda a maluquice de terem 4 arqueiros (selecionados entre 200) de prontidão, e de que o nome do arqueiro saiu no último minuto, e de que ele foi instruído a errar o tiro, por segurança da platéia na abertura (mas, que acertou as pessoas do lado de fora do Estádio, sem nenhum cuidado maior). Nada disso, realmente, me ocorria na época.
Ao som do movimento mais conhecido de “Carmina Burana”, (que não é uma Opera, mas um conjunto de 254 poemas dos séculos XI~XIII, o que eu também não tinha a menor idéia, em 1992) chamado “O Fortuna”,(um dos 24 poemas musicalizados pelo alemão Carl Orff, sendo a peça clássica mais conhecida da Terra) que narra a sujeição de todos nós à Roda da Fortuna, que inflige ora dor, ora alegria no destino dos homens; aquela era a coisa mais grandiosa que eu já tinha visto. Tal abertura dos Jogos de 1992, devia ser “o maior espetáculo da Terra”, eu pensava… Dos jogos em si, confesso que lembro muito pouco. Mas a abertura ficou gravada para sempre.
Lembro-me também de perguntar para meu pai qual era a “mecânica” dos jogos (não usei essas palavras, certamente), e lembro de receber uma resposta simples, mas, bem válida: Os melhores do mundo em cada esporte, são chamados e, então, competem entre si para saberem quem é o melhor. Simples, um tanto quanto impreciso, mas marcante: Já eram os melhores. Restava saber qual era O melhor.
Em 94, o Brasil de Bebeto, Romário, Dunga e companhia foi tetracampeão do futebol mundial, e isso, para um garoto de 8 anos, nascido no país do futebol, tirou um pouco do meu foco nas Olimpíadas. A prova disso é que, em Atlanta, 1996, eu praticamente não acompanhei os jogos. Aposto que os próprios adultos – baseado no que ouço dos mais velhos de hoje – da época menosprezavam as Olimpíadas, tendo em vista nossa histórica má performance nos jogos, e o alívio imediato de dizer “Podem ficar com seus jogos. Somos os reis intocáveis do Futebol”. Diante disso, a história de 1996 é, pra mim, um simulacro: Eu sei da história de 1996, da abertura, dos resultados e etc., não porque vivi e tive aquilo marcado em mim, mas, porque assisti depois de adulto aos filmes oficiais do evento e etc.
Em 1998, o Brasil faria o papelão diante da França de Zidane, e machucaria um pouco do meu prazer de amar só e somente o futebol. Hoje, não posso não ser grato a Zidane, por isto. Triste seria minha limitação, até como ser humano, se só tivesse alegria no futebol, e não tivesse aberto meus olhos ao universo dos esportes que vão MUITO além do esporte bretão. No embalo que eu vinha, e tendo em vista minha ignorância à Atlanta-96, cercado pelo discurso dos mais velhos que em nada se alterava: “Nosso negócio é futebol. Deixa esse negócio de Medalhinha para os gringos.”, ou “Copa do mundo é MUITO melhor que Olimpiada”, o destino era a ignorância esportiva e o raso conhecimento de quem só assiste “se valer ouro”.
Sidney 2000
A derrota para Zidane me fez voltar a assistir, com mais seriedade, à Sidney 2000. Lembro da abertura, e lembro de várias competições.
Lembro de ouvir falar de “um tal” Tiago Camilo (sim, em 2000) que ganhara a Prata, no Judo. Carlos Honorato trouxe outra. Nessa época, o Judo não significava nada pra mim, mas eu já sabia, de tanto ouvir os comentaristas, que este era o “carro-chefe” do Brasil, em todas as edições dos Jogos, até então. Eu não poderia imaginar que eu ia me emocionar de conhecer um deles, 16 anos depois.
Os velejadores Robert Scheidt (prata) e Torben Grael (bronze), eram os queridinhos da mídia nacional, e estavam sempre aparecendo.
Na natação, o “monstro” Gustavo Borges era nosso sonho de Ouro, mas tivemos que nos contentar com o Bronze. O Xuxa (Fernando Scherer) estava presente também, e angariou outro bronze. A natação, ao lado do Judo, sempre foi a modalidade onde mais depositávamos esperança de medalha. Nessa edição, trouxe uma.
Assistir os jogos e competições de madrugada, em canal aberto, era um grande desafio. Até porque, eu acordava cedo para ir à aula no outro dia. Pelo menos, o fuso-horário salvou os jogos de terem de competir com o Brasileirão, ou a Novela. Até porque, se competissem, iam ser sempre os últimos no “pódio” das prioridades da grade.
Quando alguém reclamar da performance do Brasil em 2016, lembre esse alguém que em 2000, só tivemos 12 medalhas (6/6), e nenhuma era de Ouro. Terminamos em 52º lugar no ranking de medalhas. Muito pior que nosso definitivo 13º lugar de agora, com 7/6/6 medalhas.
Tantas coisas ocorreram em 2000, em especial, em prol das mulheres, como mostrou o filme oficial de Sidney, recentemente reprisado na ESPN; como de costume, antes da abertura de novas edições dos Jogos. Eu não tinha consciência da importância de Sidney para muitas delas. Pesquise e você também poderá se surpreender.
Em 2002, o Brasil, novamente, ganha a Copa, e eu volto a oscilar entre o que vivi em 2000, torcendo por dezenas de atletas, em diferentes modalidades, e o reacendimento da chama que dizia : “Brasil, o país do futebol”.
Atenas 2004
Mas, com 18 anos e bem mais consciente, não me deixei levar e assisti, tanto quanto pude (já que não tinha TV a cabo), a Atenas-2004. Emocionante retorno dos Jogos ao seu berço, uma abertura fantástica e rica em cultura (afinal, era da Grécia que estávamos falando!) e mesmo com toda a dificuldade de depender da rede Globo para assistir, tive a “sorte” de não ingressar na Fatec-SP de primeira, o que me permitiu ter mais tempo para ficar em casa e ver os jogos mais de perto.
Em 2004, arrasamos nossa marca anterior, terminando em 16º colocados, com 5/2/3 medalhas (ouro/prata/bronze). Até a Rio 2016, a nossa melhor atuação, sem dúvida.
Tivemos nosso Volleyball masculino brilhando com Nalbert, Giba, Dante, Mauricio, Sérginho e tantos outros, com o ouro no peito.
Tivemos Scheidt e Grael, agora com o ouro reluzente pendurado neles.
Tivemos Rodrigo Pessoa com aquele 100% inesperado ouro no Hipismo (Hipismo? No Brasil?).
Tivemos as meninas do futebol, com Marta em campo, chegando na final e ficando com a prata.
Tivemos Leandro Guilheiro e Flávio Canto, no Judo, com 2 bronzes.
Mas, acima de todos esses nomes, pódios e rankings, tivemos Vanderlei Cordeiro de Lima: Sem sombra de dúvidas, o brasileiro que melhor representou o Brasil para o mundo nas Olimpíadas de 2004. Liderando uma prova de maratona, e perto do fim que o coroaria com o ouro, Vanderlei foi atacado por um Cristão lunático Irlandês. Perdeu tempo, ritmo, força, mas, nunca desistiu.
E mesmo ficando com o bronze, quando deveria ser ouro, sorria como um menino feliz ao entrar no Estádio onde a prova se encerrava. Um exemplo que, na época, eu não conseguia entender (por que ele não esmurrou o ex-padre? Eu matava o cara de porrada se me levasse a chance clara de ouro, como levou), mas que tocou o mundo do desporto, e fez com que o COI o presenteasse com a medalha “Pierre de Coubertin” (o patrono da moderna Olimpíada). A maior honraria que um atleta olímpico pode receber. Muito maior do que um ouro e entregue, até hoje, a somente 18 pessoas… Eu só soube disso depois, e se ele tivesse agido como eu imaginava agir, jamais teria ganhado essa honra.
2004 foi o nosso melhor momento, e eu tive a sorte de ver, tanto quanto pude, essa festa mundial do esporte.
Em 2006, o Brasil do melhor futebol do mundo, voltaria a cair para a França, com uma Seleção que, no papel, deveria ser o estado da arte. Na prática, contudo… Deu no que deu.
À essa altura, eu estava mais e mais convencido de que o futebol recebia muito amor do brasileiro, por pouco “resultado” de performance (não títulos, necessariamente, mas qualidade da exibição). Para mim, no auge da polarização, “atleta de verdade” era Vanderlei, que treinava no chão de terra, e não com as chuteiras mais caras do mundo, como Ronaldo Fenômeno.
Claro que, hoje, diante do que eu sei, percebo o quão bobo era o meu comentário: Eram todos Atletas com A maiúsculo. Por suas biografias no esporte, seus caminhos, tropeços e recomeços. Cada um, no entanto, exposto à uma realidade bem diferente de incentivo – o que não: Não pode ser colocado como culpa do atleta, em si.
Em 2007, iniciei meu treinamento no Judo, graças ao convite do amigo, Fernando de Bem, e logo descobri que aquele era meu lugar nos esportes. Eu me sentia muito à vontade (o que não quer dizer que eu era bom. Apenas que amava aquilo). Assistir ao PAN de 2007 foi um “esquenta para o que estava por vir”. É claro que eu queria assistir, muito mais pelo Judo, mas o PAN tinha uma cara de “mini-olimpíada” e, num dado ponto, eu já estava torcendo por 5 ou 6 modalidades.
Beijing (Pequim) 2008
Chegou 2008 e Beijing (Pequim, se preferirem) também. Muitas pessoas assinavam TV à cabo, para ter mais filmes, mais canais com cultura útil (o que é discutível), e etc. Eu assinei só para poder ver as Olimpíadas. Não me envergonho. Aliás, no meu primeiro emprego com carteira assinada, eu fiz questão de pagar a cara TV a cabo brasileira, com aquele salário de 622 reais, e ainda me desdobrei para aprovarem minhas férias no mesmo mês dos Jogos. A meta era só uma: Assistir o máximo de eventos possíveis.
Foi a minha primeira Olimpíada de “gente grande”. Chega da palhaçada de ter que ver a luta do Judo no quadradinho menor da tela. Chega de perder o jogo de Vôlei no meio, só porque o técnico de futebol local estava dando entrevista. Agora, eu tinha quase um canal por modalidade, e todo o tempo do mundo. Eu estava muito feliz.
E que sorte! Foi a abertura mais sensacional, megalomaníaca, alucinógena, profunda (contar a história da China… Não faltou assunto) e cara (~R$300 mi), da história dos jogos.
Em 2008, a China foi um monstro na competição, engolindo todas as medalhas que apareciam. A performance chinesa atropelou EUA e Rússia, sempre tão tradicionais, sem muito apuro.
O Brasil teve 3/4/9 medalhas, ficando em 23º lugar.
Tivemos o Vôlei femino, Maurren Magi, e Cielo, trazendo a mais dourada medalha para casa.
Tivemos a prata na Vela, no Vôlei masculino…
Tivemos Katleyn Quadros, Guilheiro e, novamente, Camilo, com o Bronze no Judo…
Enfim, 2008 foi o ano em que, definitivamente, eu passei a amar mais a Olimpíada do que o futebol. E isso apenas se ratificou nos eventos seguintes.
Londres 2012
2008 foi um ano muito difícil para o mundo. A crise dos mercados devastou o velho continente e, claro, engolfou a Grã-Bretanha e, obviamente, a Inglaterra. Não tenho toda essa memória, então, talvez esteja falando bobagens, mas, não lembro de um caso de cidade-sede dos Jogos com tantos protestos contra sua realização.
O temor do londrino era que gastassem tanto dinheiro que a cidade – que é o coração econômico da terra do Chá das 17h – viesse ao colapso financeiro inexorável.
Surpreendentemente, e em total oposição – podemos dizer: em um irônico Yin e Yang à Beijing, a abertura de Londres foi totalmente cost-smart. Os valores gastos na abertura de Londres (cerca de R$120 milhões) foram muito enxutos para os padrões Olímpicos, mas a execução foi primorosa o bastante para que os expectadores não ficassem horrorizados ao comparar Beijing 2008 (que custou quase R$300 milhões) e Londres 2012. Palmas para os britânicos.
Mais uma vez, no meu segundo emprego com carteira assinada, eu “me virei nos 30” e fiz minhas férias casarem com os jogos. Eu tinha que estar totalmente disponível para um evento que só ocorre à cada 4 anos. Pecado era não ter tempo de assistir nada.
A transmissão de 2012 foi muito mais inteligente do que as anteriores, muito embora 2008 não tenha sido ruim. No entanto, a maestria com a qual Londres foi televisionada criou, em minha opinião, uma nova marca na barra de qualidade da cobertura televisiva e jornalística do evento mundial.
Em 2012, o Brasil terminou em 22º, com 3/5/9 medalhas.
Mesmo sendo “fresco” na memória da maior parte das pessoas, relembro que Sarah Menezes trouxe o Ouro inédito no Judo.
Arthur Zanetti detonou nas argolas e trouxe a medalha dourada, também.
O Volleyball feminino de Jacqueline, Thaísa, Dani Lins, Sheila, Fabi, e tantas outras; mais um ouro.
Ainda tivemos a surpresa de Thiago Pereira na prata, com a Natação.
Os times de Futebol e Volleyball masculino, mais uma vez, trazendo a prata pra casa.
E, talvez, a maior surpresa tenha sido Esquiva Falcão, com sua prata inesperada.
Kitadai, Mayra Aguiar e Rafael “Baby” Silva, o Bronze, no Judo.
Scheidt sempre medalhando, e Cielo, também trazendo o Bronze para o Brasil.
E como não falar de Yane Marques e a inesperada medalha de Bronze no Pentatlo (Pentatlo? 🙂 )?
Em resumo, Londres 2012 foi fantástica, não por ter melhorado nossa marca no ranking, ou superado a melhor marca que continuava sendo Atenas, em 2004. Mas, foi o melhor ciclo olímpico para apresentar diversidade de esportes com potencial, e que mereciam a atenção e o apoio dos brasileiros.
Nesse sentido, eu acredito que Londres ajudou a “evangelizar” nossa população sobre a beleza de se assistir à uma Olimpíada, como nenhuma outra edição conseguiu fazer.
(Terminei de redigir esse texto às 4h18 da manhã, e ainda pretendo reler e, talvez, precise editar algo. Peço desculpas de antemão, caso tenha algum erro grosseiro de português ou de argumentação, mas, prometo corrigir mais tarde. No entanto, eu queria muito lançá-lo hoje, no primeiro horário. Daí a pressa).
No próximo post, vou falar, exclusivamente, do que vi, ouvi, senti, vivi (vocês entenderam a idéia, né?) na Rio 2016, in loco, e pela TV.
Nota em 2019, agosto: Quando escrevi esse artigo, a ideia era mesmo que ele possuísse duas partes. A segunda era para falar sobre como as olímpiadas tinham a chance de mudar a interação entre o povo do Rio e sua cidade, as possibilidades para os jovens, especialmente aqueles que costumam não ter acesso à oportunidades, eo que restou das Olímpiadas no Rio pós-2016.
Para meu total pesar, e de qualquer um que sente carinho pelos jogos olímpicos, lamentavelmente, o que restou no Rio foram escombros, e a situação apenas decaiu até o mais baixo nível de Estado. Um estado quebrado pela corrupção, fálido e estupidamente violento. Diante disso, desisti de tentar ver “o lado bom” da história porque, sinceramente, não houve nenhum. Por este motivo, não haverá uma parte II. De todo modo, o texto segue aqui, inalterado, senão por uma tentativa de melhorar o português contra o qual eu sempre peco, aqui e ali.
O território francês, nas cores da bandeira nacional, sob o símbolo do luto de uma nação que está, tristemente, se acostumando com o Terror. Fonte: Montagem própria com Wikipedia + Internet.
Começar o texto com uma pergunta que não pode ser respondida – ao menos, não com “‘A’ resposta certa” – não é a jogada mais inteligente…
Por outro lado, fazê-la, parece-me inevitável: Afinal: Mas por que, de novo, a França?
É preciso lembrar tudo o que já ocorreu – de ruim – no território onde os Gauleses viveram, e fazer menções à alguns aspectos que, talvez, e só talvez, possam explicar o porquê do Terror ter escolhido a França como seu novo alvo predileto.
O número de ataques à França não é pequeno. É o país desenvolvido, mais atacado pelo DAESH (ou ISIS, como preferir…), em todo o mundo ocidental, desde o começo da escalada do novo emissário do Terror.
O primeiro ataque da organização à França, ocorreu entre 7 e 9 de Janeiro de 2015, quando a sede parisiense da revista “Charlie Hebdo” foi alvo de 2 atiradores, os irmãos Kuachi, franco-argelinos, com pouco mais de 30 anos. Na mesma série, outro atirador na mesma faixa de idade, Amedy Coulibaly, tomou um comércio de donos Judeus. Ao todo, 17 pessoas foram mortas durante 3 dias em que a França ficou acuada e trancada, dentro de casa, enquanto as autoridades tentavam achar os terroristas.
Depois, em Fevereiro de 2015, um homem de 30 anos, esfaqueia 3 soldados que protegiam uma rádio Judaica em Nice. Sim, a mesma do lunático motorista do Caminhão da última quinta-feira.
Intrigantemente, o agressor tem o mesmo sobrenome do terceiro atirador da primeira onda de Terror. Não há divulgação concreta sob o parentesco dos 2 (mas, no caso da Charlie Hedbo, sabe-se que eram irmãos e nacionais descendentes de argelinos).
Sendo o primeiro terrorista capturado vivo (os 3 primeiros morreram), Moussa declara, em depoimento, “ódio à França, ao Militares, ao Governo, e aos Judeus e Infiéis”.
Após essas duas ocorrências, em Abril, outro Argelino, Sid Ahmed Ghlam, com visto de estudante, é detido em Paris, sobre suspeita de homicídio, e de estar preparando um atentado contra os trens da cidade, onde o objetivo seria “matar 150 infiéis, ou mais”. O alvo secundário era a Basílica Sacré-Coeur.
Mais tarde, em Junho de 2015, um homem é decapitado em Lyon, dentro de uma fábrica de combustíveis. O autor é o seu funcionário, Yassin Salhi, de 35 anos. Ele é nascido na França, com pai argelino e mãe marroquina. Depois da decapitação, envolto em bandeiras com símbolos do Islã, ele tenta explodir toda a planta, mas, sem sucesso. Foi capturado pelas forças policiais.
O ponto mais assustador é atingido em Novembro de 2015, quando Paris sofre uma série de ataques coordenados, com o pior ocorrendo na casa de Shows “Bataclan”. 130 pessoas foram mortas, e 350 ficaram feridas.
Salah Abdeslam, o único envolvido com o atentado a sobreviver nas buscas e confrontos policiais, se nega a comentar qualquer questão relacionada ao caso, após ter sido extraditado para a França, tendo sido capturado depois de uma longa operação no território belga. Com 26 anos, e de origem Belga, é o terrorista mais novo da lista, até agora. Com pais de origem Argelina, ele engrossa a lista de ligações com aquele país, e os atentados na França.
No mais recente episódio de Terror na Gália, o motorista Mohamed Bouhlel, tunisiano de 31 anos, atropelou e matou 84 pessoas (mais dezenas de feridos, em estado crítico), ao longo de 2 quilômetros, percorridos com um caminhão-baú, na Promenade des Anglais (Passeio dos Ingleses), onde a cidade de Nice comemorava a data histórica da Queda da Bastilha (14 de Julho) que é fundamental na história da Revolução Francesa.
O DAESH assumiu a autoria do ataque, mas, tudo ainda soa incerto. As fontes, versões e fatos vão se desdobrando, e os órgãos de inteligência ainda não sabem com quem Mohamed se relacionava, seus contatos no celular e no computador, e detalhes que ajudem a compreender a dimensão de seu ato.
Por ora, apenas um casal de Albaneses que ajudaram Mohamed com acesso à armamento, foram detidos, por SMS com conteúdo incriminador, trocado entre o marido e o Mohamed.
Entre a chance de blefe do DAESH, as alegações de algumas fontes de que trata-se de um ato de um desequilibrado mental que foi indevidamente capitalizado pelo grupo terrorista, nenhuma hipótese pode ser totalmente descartada, ainda.
Não vamos falar sobre os ataques em Orlando, San Bernardino, e Boston (EUA), Bélgica, Iraque e Turquia, pois, falar da França já rende assunto o bastante. No entanto, parece evidente a escalada da violência do grupo terrorista e, não somente, algo pontual e localizado.
Alguns analistas apontam que, embora o DAESH mire em todo o ocidente, a França, por ser simbolo das Revoluções que pavimentaram o Iluminismo, a forte crença de seu povo em valores como Democracia, República, e Laicismo, é um contraponto absoluto à tudo que o DAESH prega e deve ser destruída, como prova maior da determinação dos terroristas.
De maneira mais objetiva (ou menos simbólica), podemos citar o tratado de 1916, Sykes-Picot, assinado entre França e Reino Unido, que acabou com o império Otomano, criando fronteiras artificiais (de onde surgiram, por exemplo, Síria e Iraque), destruindo a base do sonho de muitos radicais, sobre um Califado que dominasse todo o Oriente Médio, por vezes, referido como Oumma (Comunidade de crentes).
Todos esses motivos podem ser a real causa do porquê Abu Mohamed Al-Adnani, porta-voz oficial do DAESH, disse, em 2014, “Mate com pedras, facas, ou seu carro (…) em especial, os sujos e desprezíveis franceses”.
Jovens, homens, 30 anos, nacionais, com descendência islâmica.
Não se trata de profiling (preconceito), mas, como eu identifiquei, ao longo da história recente dos ataques à França, existe sim, um padrão de “recrutamento”.
A esmagadora maioria dos agressores tem a origem na Argélia.
A Argélia é um país entre o Norte da África e o Saara, e já foi colônia francesa. A colonização não foi nada pacífica (a França invade a Argélia em 1830, mas só toma o território, por completo, no meio do século XX), e, para não chegar às 8000 palavras, eu vou resumir dizendo que houve um “mini-apartheid” aos moldes dos colonizadores holandeses, na África do Sul.
Só ao fim de vários conflitos é que a França estendeu direitos de cidadania aos Argelinos muçulmanos (por anos, eles não eram considerados cidadãos, e os índices de analfabetismo – por exemplo – eram agressivos para essa parte da sociedade).
A independência Argelina só ocorre no fim do século XX, e é pavimentada através de muito terrorismo. A guerra civil é uma realidade entre tropas francesas, a FLN (Frente de Libertação Nacional), e a OAS (Organização do Exército Secreto).
A FLN representa parte da sociedade reprimida pelas décadas de opressão dos colonizadores, e o OAS é um braço radical do Exército Argelino, guiado por um general Islâmico, sendo que o terrorismo é a arma de ambos. Depois, OAS e FLN se enfrentam, com mais terrorismo.
Em 1962, Charles de Gaulle, presidente francês, se vê forçado a assinar armísticio com essas organizações, onde reconhece a independência da Argélia, e garantia de direitos aos franceses, ainda residentes na Argélia.
Ao fim do processo, apenas 1% de Cristãos restam no território e, o novo governo, formado pela FLN, edita decreto que restringe o culto ao Cristianismo, e a perseguição aos Cristãos começa. Terrorismo, como se percebe, é o triste meio pelo qual a Argélia é constituída, ao longo de sua história recente.
E a França está no epicentro disso tudo, por todos os seus atos e medidas com sua ex-colônia.
Mais que isso, o processo, em larga escala, contínuo, de imigração da região do Maghreb (o noroeste do continente Africano) para a França, e a criação de “ghettos” ao redor de Paris, onde essa população é “estocada” – na falta de palavra melhor – só aprofunda a gigantesca cisão com o sentimento de pertencimento desses indivíduos, dentro do território francês. Antes de supor a culpa dessas pessoas, é bom lembrar que a França bancou e patrocinou essa imigração, para fins de reconstruir a nação no pós-guerra, onde o país encontrava-se devastado pela ocupação alemã, e demais desdobramentos históricos.
A França é mais vulnerável ao terrorismo?
Difícil de responder (comparado à quem?), embora tudo indique que não.
A França é a quinta maior economia do mundo (PIB nominal), sendo a segunda maior, dentro da Europa.
A França também tem o terceiro maior orçamento militar do mundo. Mas, em contrapartida (para compreender o risco à que está exposta), também é o país mais visitado por turistas, no mundo todo. Por ano, são 82 milhões deles. Para ter uma idéia do que isso representa, a população regular da França é da ordem de ~65 milhões. Significa que, praticamente, “outra França + 1/3” entra e sai das fronteiras do país, todos os anos.
Como líder mundial, a França pode se orgulhar de ser uma das nações fundadoras da União Europeia, além de possuir a maior área e a segunda maior economia do bloco. Também ajudou a fundar a Organização das Nações Unidas, além de pertencer ao G8, ao G20, à OTAN, à OCDE, e à OMC.
Acredito que, diante do exposto, fica difícil supor que a França não invista valor considerável na manutenção de sua Segurança Nacional, ou que seja imatura em lidar com imigração, controle de fronteiras, e etc. Ela investe muito (o 2º maior investimento), e ela lida com um volume de estrangeiros, sem igual (sua própria população + 1/3).
Mas… O terrorismo nas fronteiras francesas, não é aquele “terrorismo regular”, hollywoodiano, que tanto nos acostumamos a imaginar com os filmes da década de 80 e 90.
Como o perfil dos agressores bem demonstra, a gritante maioria é de franceses (e não de estrangeiros, viajando com a missão de perpetrar os ataques, furando barreiras e controles de imigração…), descendentes de pais com outra nacionalidade (em especial, argelinos). Portanto, a guerra travada contra o terrorismo, não consegue gerar um “escudo protetor” no país, porque seus inimigos nasceram e estão lá dentro, desde sempre. Não há barreira ou proteção a ser superada.
Na minha opinião, a recente política externa da França, com fulcro na relação às suas colônias, começa a cobrar um alto preço. Especialmente, a forma como esses imigrantes foram tratados – renegados aos ghettos parisienses – parece gerar a condição perfeita de mágoa, não-pertencimento, frustração, segregação, e ausência de identificação com os valores nacionais, tornando esses indivíduos, alvos perfeitos para o recrutamento da organização terrorista, o DAESH.
O que pode ser feito?
Cansativo fazer um texto para o qual as respostas são vagas, ou imprecisas, e onde não há consenso.
O que a grande maioria dos cientistas políticos e professores de Lei vão dizer (não sem oposição respeitável e considerável) é o seguinte:
A guerra ao DAESH precisa ser feita e levada, em seus territórios de domínio. Se colocar homens em solo, talvez (e só talvez, já que pode não haver real alternativa), venha a ser má idéia (como outras forças de ocupação já demonstraram ser, antes), continuar lançando bombas teleguiadas, não fará nenhum efeito na força do grupo terrorista. Não funcionou, até agora.
A guerra precisará ocorrer porque, atualmente, o poder físico e territorial do DAESH mantém o grupo armado, alimentado, organizado, com moral e poderoso. A idéia de que o DAESH estava acabado, com os recuos no território Iraquiano, foi enganosa e descolada da realidade. Na verdade, a aceleração dos eventos de Terror, e o número de ataques, sugerem exatamente o contrário: O DAESH tem ficado cada vez mais poderoso e tem células em diversos países. Estima-se que, atualmente, o DAESH está atuando em 50 países, seja por meio de territórios dominados, ou países alvos de ataques.
A guerra ao DAESH não se resume à ação militar. O DAESH criou um novo tipo de Terror, onde o agressor não atravessa fronteiras, mas, para desespero das autoridades, nasce e vive, desde o princípio, no seu alvo. Essa capacidade mobilizante, e de propaganda que atinge, principalmente, homens jovens, por volta dos 30 anos, residentes nos países-alvo, e com descendência de famílias de fé Islâmica, precisa ser estancada e combatida. O discurso e a retórica do DAESH precisa deixar de ser tão contundente nos corações e mentes dessas populações. E se é tão efetivo, é sinal de que essas populações estão desassistidas e isoladas da sociedade desses países; motivo pelo qual à mensagem é tão efetiva.
De um ponto de vista histórico, o radicalismo islâmico tem sido sustentado, muito por conta do abismo no desenvolvimento social desses povos. A miséria do indivíduo é justificada como fruto do seu distanciamento da lei de Allah.
A distorção do Corão – não obstante o fato que seu texto seja, por vezes, patrocinador da guerra abençoada (embora, ela possa ser interpretada, de forma light, como uma “guerra” só no campo da fé e das idéias) – para justificar a Jihad, tem o poder de arrebatar aqueles que estão completamente descrentes de uma chance de vida digna.
Vale dizer, também, que tal radicalismo não é exclusivo do Corão. A Bíblia do Cristianismo, em seu Velho Testamento, justifica atrocidades não muito distantes do que pregam os radicais do Islã.
A diferença é que o ocidente continuou seguindo em frente, e chegou no século XXI (com seus defeitos e qualidades, cabe enfatizar).
As sociedades do Oriente Médio, no entanto, parecem ter parado no século XI, e ainda vivem os dilemas e valores das épocas das Cruzadas européias: Sociedades com castas claras e intransponíveis, hierarquias familiares, e dogmas inquestionáveis, a submissão da mulher ao status de objeto e propriedade e, por fim; o triste conceito de que, em nome da fé, não há limite, nem ato que possa ser execrado, diante da aprovação de uma deidade – que, curiosamente, só pode ser ouvida por alguns indivíduos que nunca se matam, mas mandam outros para a morte.
Como fica a Rio 2016?
Quantas vezes já citei esse evento? Bem, pode parecer sensacionalismo, mas, não é brilhante, nem exige uma mente maligna e genial, perceber que o evento que concatena dezenas de países, será um alvo muito tentador ao DAESH e outras organizações que propagam sua ideologia pelo Terror (exempli gratia: Al-Qaeda).
Para se ter uma idéia, vamos à breve análise:
A Copa de 2014, no Brasil, teve ~350 mil pedidos de credenciamento, entre autoridades, delegações, jornalistas, profissionais envolvidos com os jogos, e etc.
A Olimpíada de Londres, em 2012, teve ~420 mil.
A Olimpíada do Rio, já tem 460 mil pedidos de credenciamento. Destes, 11 mil foram indeferidos.
E já sabemos: Nesse mar de gente, 4 deles estão, comprovadamente, envolvidos com o terrorismo internacional.
Não quer dizer que um ataque ao Rio é inevitável. Mas, quer, sim, dizer que o alvo interessa.
Está em vigor, desde já, o novo procedimento de inspeção da ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil).
O que isso significa?
Bem, eu sempre me programava para chegar 1h, antes do meu vôo doméstico. Isso não vai funcionar mais.
Eu gastei 30 minutos a mais, só para passar pela inspeção (raio-x, revista e verificação), em um vôo e horário vazio, com baixo volume de passageiros no aeroporto.
Em horários de pico, os passageiros estão levando até 2h só para passar da entrada do aeroporto, até os gates de onde partem os vôos.
O novo procedimento inclui o tradicional raio-x da bagagem de mão, revista corporal “frente e verso”, inspeção minuciosa de todos os compartimentos das malas e mochilas levadas à bordo (eles estão abrindo todas, sem amostragem), e separação do notebook, da bagagem principal.
A operação será mantida ao longo de toda a duração dos Jogos Olímpicos e Para-Olímpicos do Rio de Janeiro.
O motivo do novo procedimento é o alto nível de ameaça terrorista ao país, por conta dos jogos.
Foto de Andréa Farias / Agência O Dia / Rio de Janeiro
Bar·bá·ri·e sf
1 Multidão de bárbaros.
2 Ação própria de bárbaros; atrocidade, barbarismo, crueldade..
3 Hábito de bárbaros.
4 Falta de civilização; atraso, barbarismo, grosseria, selvageria.
– Michaelis Online
Bem, não é preciso ser genial para perceber: O Brasil é um lugar muito inseguro.
“Uau! Parem as prensas! Já foi muita revelação para o meu fraco coração…”. ¬¬
Bem, eu acho que preciso ser mais enfático, mesmo: O Brasil é um lugar muito inseguro, comparado à países em guerra… Acho que melhorou, (a compreensão da desgraça) né?
Segundo o Atlas (também conhecido como “Mapa”) da Violência de 2016 (curiosamente, você não vai achar o estudo no site do IPEA [o link está “quebrado”, às vésperas das Olimpíadas, mas, isso pode ser só mais uma teoria conspiratória infundada, da minha parte], contudo, ele foi encontrado aqui: http://infogbucket.s3.amazonaws.com/arquivos/2016/03/22/atlas_da_violencia_2016.pdf), o Brasil perde 59 mil e 500 indivíduos para a violência, todos os anos, com base no ano de 2014. Não há – ainda – consolidação dos dados para 2015 e 2016, o que é esperado para um estudo de consolidação estatística, feito por um órgão público.
Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica e MS/SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM
Em termos de taxa média, são 29,1 mortos para cada grupo de 100 mil habitantes, e isso é relativamenteimportante para não tornar o número, puro golpe midiático.
Explico-me: Se você mora em um país com 324 milhões de compatriotas (demografia dos EUA), a morte de 2.6 milhões de indivíduos por ano é absolutamente regular (dados, também, de 2014). Se seu país tem menos de 2 milhões de habitantes (como na Irlanda do Norte), por outro lado, 500 mil mortos anuais são 25% de toda a população – e seu país vai falir, ou ficar vazio (não necessariamente nessa ordem), em pouco tempo.
A taxa média nos ajuda a comparar laranjas com laranjas, e bananas com bananas, portanto.
Então, para te fazer perceber a estupidez do nosso número, aqui vai um TOP-5 macabro: Países com conflitos deflagrados (em guerra), os mortos em 2015, e a taxa para cada 100 mil habitantes.
País – População – Mortos em 2015 – Mortos/100 mil habitantes
Afeganistão (desde 1978, em guerra) – 35.6 milhões – 36.345 – 102,09
Iraque (desde 2003) – 37.1 milhões – 21.433 – 57,77
Somália (em guerra civil, enfrentando insurgentes e engolfando até o Quênia, desde 1991) – 55.9 milhões* – 4.365 – 7,81 *Somália e Quênia somados, já que os mortos estão em todos os lados.
África (continente enfrenta o Boko Haram desde 2009) – 235.6* – 11.651 – 4.95 *Nigéria + Camarões + Níger + Chade somados: Todos sob ataque dos insurgentes.
Então, comparando a taxa nacional de mortes violentas para cada 100 mil habitantes, compensa continuar enfrentando o Boko Haram, ou morrendo de fome e na facada na calamitosa Somália. Você está mais seguro lá, do que aqui.
Em números absolutos, isso fica ainda pior. Nós matamos, violentamente, 59.5 mil brasileiros/ano. Isso é 7.7% acima do país com a guerra mais violenta no momento; a Síria. Portanto, matamos uma Síria por ano, mais 8% arredondados. Compensa, pelos 8% a menos de risco, ficar por lá.
E só ficamos “bem na foto” (se é que se pode dizer isto), pela média nacional… Se olharmos a taxa de mortos/100 mil habitantes nordestina, compensa (no, primeiro caso, por MUITO) ficar até mesmo no Iraque:
Alagoas: 63/100 mil;
Ceará: 52,2/100 mil;
Sergipe: 49.4/100 mil.
“Legal, estou convencido: Somos um país muito violento. Mas, o que tem de novo?”
Esse é, sem sombra de dúvidas, o maior problema:Não há nada de novo.
Sequer nos chocamos. Sequer nos apavoramos. Somos, enquanto sociedade, cidadãos, pais, irmãos, amigos, colegas; entorpecidos, anestesiados para “a Síria que morre” violentamente por ano, em nossa pátria. Melhor não citar “a outra Síria”, morta no trânsito brasileiro, anualmente, também.
A guerra do Vietnã durou 12 anos para os EUA (que entrou em 1963), e matou pouco mais de 58 mil norte-americanos. E o choque social dessas 58 mil mortes, ao longo de mais de uma década, pode ser sentido em movimentos sociais e frentes nacionais contemporâneos, ferrenhos em criticar a política externa norte-americana atual; horror e revolta provocada e mantida pela morte de militares, ao longo de uma Guerra de 12 anos e que já completou 36 anos de fracasso.
12 anos de combate. 58 mil militares mortos.
Matamos mais que isso por ano (crianças, mulheres, jovens e, não só militares [não que a vida de alguém valha menos, em função de sua profissão, claro]), sem remorso, sem susto, sem piedade, sem horror; conformados, calados, resolutos, resignados, apáticos… Nada mais nos comove, enquanto nação, enquanto sociedade civil; sociedade civil que é parte tanto da solução, quanto do problema.
Matamos sistematicamente, no que parece um macabro compromisso com a sustentação desses números, ano após ano, como se fosse um record a ser mantido e superado. Nosso maior desafio anual. Sabe como é: Com a gente, o negócio é deixar a meta aberta e dobrar!
Mas, “tristemente”, temos um desafiante nos destronando, e é hora de matar mais, porque o brasileiro não desiste nunca!
No momento, lamentavelmente, a coroa é da Venezuela com 90 mortos por 100 mil habitantes/ano. Oficialmente, o país que não está – declaradamente, ao menos – em guerra, mais violento do mundo.
Um tema pra lá de comum, quando esses números aparecem é:
“Ah, mas, no Brasil, a polícia mata demais! Quem mais morre são os negros, os pobres, os desassistidos e marginalizados!”.
Foto: André Gustavo Stumpf – PM-DF
O mote, acima, tem uma porção de informações comprováveis, e outra porção de mitos, desinformação, e intenções questionáveis. Já adianto…
Verdade é que de 2013 para 2014, a letalidade policial subiu 37,2%.
Estima-se que ~3 mil pessoas foram mortas pelas forças policiais em 2014. Isso representa, no entanto 5% do total de mortes registradas no período. Embora pudesse ser perto de 0% e, embora possamos aceitar uma conspiração no sentido de que esse número está sub-notificado (aceitemos 10%, então, para a alegria dos opositores ao trabalho policial brasileiro; não obstante os dados de SP, RJ, sejam considerados realistas até por entidades ligadas à bandeiras típicas dos Direitos Humanos), ainda há que se falar em 90% dos 53 mil mortos, que não vêm da prática ruim do policiamento.
Mais: Para cada 4 pessoas mortas em confrontos com a Polícia, um policial morreu. A população do Estado de São Paulo? 43 milhões (segundo o SEADE). E a população da Polícia Paulista (PM, Civil, Cientifica)? 138 mil. Faça as contas da taxa por 100 mil, você mesmo, e diga-me quem deveria estar mais aterrorizado.
Também é verdade que jovens negros têm muito mais chances de morrer do que jovens de outras etnias (147% a mais, segundo o Atlas/2014). Mesmo considerando que mais da metade da nossa população é de negros e pardos (51%, segundo o Censo 2010), 147% a mais de chances, não é um número relativizável.
No entanto, o que se ignora é que educação é um fator preponderante de exposição à morte pelo crime. Grupos de jovens de 21 anos, de qualquer etnia e cor de pele, com menos de 7 anos de estudo formal, têm 16,9 vezes mais chances de morrer violentamente, do que aqueles que estudaram. Não é muito difícil supor, então, que há uma grande abstenção escolar (maior do que nas demais etnias), entre os grupos de etnias afro-descendentes.
E, oras: Se mais da metade da nossa população é de negros e pardos, e se a Polícia “só” tem autoria em 5% (convencionamos 10%, para agradar os que acham o número sub-notificado), então é bastante provável que negros e pardos estejam matando negros e pardos, ou, o número de Carecas do ABC seja estrondosamente maior do que apontam as autoridades.
Brincadeiras (de mal gosto, eu sei; como os números que ignoramos) à parte, a guerra entre gangues rivais não é ficção. É a realidade periférica da nação.
Pedro Paulo Soares Pereira, “vulgo” Mano Brown, vocalista dos Racionais MC’s, em uma entrevista ao “Roda Viva” da TV Cultura, em 2007, declarou que para ele, o Brasil convive com 3 grandes enfrentamentos:
Os ricos contra os pobres.
Os negros contra os negros.
Os brancos contra os negros.
Não obstante a minha discordância com os critérios dele para montar a lista, não posso negar que ele está muito mais envolvido com a conscientização do combate à violência, ao menos na periferia de São Paulo, do que eu estou. Deve, portanto, ter algum pesar em assumir essa consideração, tão triste para um líder (oficialmente ou não) do movimento de Consciência Negra.
Vou propor um rápido exercício: Só 5% dos 59 mil brasileiros morrem em confronto policial, então, pelo menos outros 50% têm que, seguindo a lógica, ser fruto do confronto entre os próprios criminosos. E outros 45%, imagino, entre criminosos e população. Não há, no estudo, números separados por “criminosos mortos” e “pais de família mortos”.
Toda essa divisão (exceto pelos 5% mortos pelas forças policiais), é arbitrária, claro.
Logo, tirando o que é morte por confronto com a polícia, não temos como saber quem morre mais: Cidadão por bandido, ou bandido por bandido.
Então, antes de mais nada, longe de ser “bonzinho e amável”, o brasileiro é um indivíduo violento, só pela simples reflexão dos números expostos, até o momento, e sem falar da violência estatal.
Para dar “mais alento” à todos nós, fica o “calmante” de que para toda a criminalidade registrada nas delegacias, não são apurados mais do que 8% dos crimes. Desses 8%, 2% são homicídios.
Eu vou diminuir – só um pouco – nossa vergonha, e não vou contabilizar o fato que juntando a estatística de mortos pela violência, e do mortos no transito brasileiro, matamos 2 guerras da Síria/ano.
Em resumo, sem falar de doenças, velhice, acidentes domésticos (todos estes, grandes ofensores da mortalidade nacional), só o crime e o trânsito superam os 100 mil mortos por ano, com facilidade e margem folgada.
A Segurança Pública como um “braço” da Segurança Nacional.
Foto: Wikipedia.org – Forças Especiais em revista, no 7 de Setembro.
O capítulo “Segurança Nacional”, no Brasil, é bem complicado, controverso e feito de avanços e atrasos mensuráveis em décadas, em atos sub-sequentes.
Por “Segurança Nacional” quero significar aquela que se faz para proteger a Nação de agressores externos e internos, quanto aos interesses do Estado que, por sua vez, representa a sociedade que o empodera, e os interesses desta última, deve defender.
“Segurança Nacional” ≠ “Segurança Pública”
A Segurança Pública, de acordo com a nossa Constituição (art. 144), é assunto destinado aos estados. Daqui, já desdobra-se um dos efeitos dos anos de Ditadura: A desconfiança dos estados, em relação a uma Federação (União) intervencionista, levou os constituintes a garantirem a autonomia estadual quanto ao assunto, no Pacto Federativo.
Portanto, a organização, investimento, e políticas públicas que pautam as polícias civis, militares e órgãos correlatos, é do Chefe do Executivo Estadual (Governador[a]). Já a Polícia Federal é de responsabilidade do Chefe do Executivo Federal (Presidente).
Assim, temos essas situações bizarras de um Estado informatizando suas delegacias e interligando sua polícias com GPS, sistemas de câmera e OCR de placas de carro e etc. (SP), e um Estado onde as novas turmas de Policiais Militares são dispensadas ao meio-dia, todos os dias, por falta de dinheiro para pagar o almoço dos alunos (RJ). No entanto, mesmo sem a carga horária esperada, pode apostar que estes últimos estarão nas ruas, sem nenhuma reposição da carga perdida.
É claro que, sob a lupa, nem SP, nem RJ, têm seriedade no investimento (não só de verba, mas de qualidade e planejamento) que fazem para a Segurança Pública. Mas, essa “liberdade administrativa” total, gerou um desequilíbrio difícil de transpor, aprofundado por anos, e que gera aquele triste mapa do começo desse artigo.
A Segurança Nacional, no entanto, é uma política muito mais abrangente, e essencialmente, mais militarizada.
Segurança Nacional que, aliás, inexiste em nossa lei Federal, e muito menos na Constituição.
Não vou contar a longa história (acreditem, é bem mais longa do que vou expor). Vamos ficar com a curta:
A idéia de “Segurança Nacional” aparece, no Brasil, no pós Segunda Guerra Mundial. Especialmente, os militares de carreira com grau de oficialato, foram mandados para os Estados Unidos da América que treinou e ensinou o conceito norte-americano nesse assunto.
É bom contextualizar que o pós WW-II, é o começo das tensões entre URSS e EUA, e isso leva às páginas da bem conhecida Guerra Fria. Assim, os EUA, abertamente, ajudaram países a “resistir” ao avanço comunista, e esse programa de treinamento de militares era uma das faces desse portfólio.
Dessa leva de militares de carreira, formados nos moldes das escolas dos EUA, nasce a ESG (Escola Superior de Guerra), instituída pela lei 785/49, e diretamente ligada ao Ministério da Defesa.
Não respondendo á nenhuma das 3 forças armadas, mas, formada por todas elas, a ESG tem a missão atual de prover Altos Estudos de Política, Estratégia e Defesa, sendo um órgão de puro desenvolvimento Acadêmico (inclusive para civis), e não tendo desenvolvimento de táticas e exercícios militares práticos em seu currículo. Puras estratégia, política, diplomacia, e inteligência compõem a grade dos cursos.
A ESG tem uma história muito polêmica, pois, era considerada uma Escola de formação do pensamento conservador de Direita. É dessa escola que surge o embasamento para o Ato Institucional nº 1 que, entre várias medidas arbitrárias, tem a agressiva medida de mudar a eleição presidencial para o modelo indireto, colegiado (embora as pessoas apenas se lembrem do nome “AI-5” [que não é uma divisão ou um grupamento, mas, uma lei], é o AI-1 que inicia, legalmente, a ditadura no Brasil).
Mas, é também essa linha de pensamento que fundamenta a ESG, que fundamentaria o capítulo de Segurança Nacional da Constituição de 1946, e mais tarde, a própria ESG aumenta o entendimento de “Segurança Nacional” na CF/1967 (inclusive, com pena de morte para os crimes contra ela), e que estabelece os padrões de atuação, engajamento, e estruturação da proteção Nacional, bem como dos órgãos de inteligência, como o finado SNI (Sistema Nacional de Inteligência), sendo um órgão que, a despeito do seu triste emprego ditatorial, era muito avançado e organizado.
Com a redemocratização brasileira e, tendo em vista a grande fobia militar dos constituintes de 88 (que excluíram o capítulo de Segurança Nacional, e substituíram pelo atual capítulo III, “Segurança Pública”), culminando com a ascensão de Collor, em 1990, o presidente (que viria a ser impedido) decreta o fim do SNI. O fim do órgão não é só um momento de vácuo administrativo e executivo, mas, gera tal desordem na Inteligência brasileira que os operadores do Sistema deflagraram uma crise (que ficou conhecido como Escândalo dos Arapongas, na década de 90) onde espionavam candidatos e oposição, a serviço dos poderosos de Brasília.
Atualmente, o termo “Segurança Nacional” aparece apenas uma vez na CF/88, e sequer dá-se o tom do que ele significa para nossa Nação e para a própria lei. É mera citação, vazia e sem contexto.
Como não temos Segurança Nacional – nem o conceito, nem a lei, nem “nada” – as idéias são difusas, espalhadas, pontuais. Não há um grande plano, esquematizado, construído ao longo dos governos, e incrementado conforme a evolução do cenário global, das ameaças regionais, e dos objetivos do Estado Brasileiro. O que interessa é o agora. O que interessa é a Urna, no próximo turno.
E que Deus salve essa terra, de seus inimigos e vilanescamente interessados. Porque nós, povo, não temos nenhum compromisso respeitável com esse capítulo.
Para não passar total vergonha, podemos citar o SISFRON, projeto elogiado e estudado em países como os EUA, patrocinado e mantido pelo Ministério da Defesa Brasileiro, e que junta um tripé de vigilância, inteligência, captação e triagem de dados e informações, mais o emprego de grupamentos e equipes especializadas, nas áreas de fronteira mais perigosas do Brasil.
Atual e lamentavelmente, o programa só existe na fronteira com a Bolívia e Colômbia. Devido ao forte “tremor” político, o programa perdeu espaço, pauta, destaque, investimento e orçamento.
Seu futuro é, agora, incerto. Mesmo sendo internacionalmente elogiado, o programa que seria um grande aprendizado à Segurança Nacional, não tem prestígio em uma Nação onde população e políticos, só sabem discutir segurança de uma maneira remediativa, pontual, midiática e sensacionalista.
A ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) que foi recentemente instituída no ano de 1999, por FHC, tem seus acertos e melhorias, mas, não é preciso ser genial para saber que inteligência – do ponto de vista militar – é algo mantido com dinheiro. Inteligência não dá votos, em um país que não tem nenhum interesse no assunto.
Afinal, como todos sabem– e se não sabem, não deviam falar com a propriedade que demandam, sobre o assunto – o crime organizado brasileiro é totalmente baseado no tráfico de drogas e armas.
O “senhor do crime e seus asseclas”, nos morros desse Brasil à fora, não mantém seu controle com pistolas .380 (as únicas à disposição da população para auto-defesa, de forma legal) mas, com armas que, por vezes, sequer o Exército brasileiro possui.
A porosidade da nossa fronteira é conhecida para qualquer um que acompanha as apreensões de drogas e contrabando em geral. São dezenas de toneladas anuais.
A droga é a mercadoria do Morro. E a droga é a moeda que faz o caixa, o capital do crime. E a droga não é feita aqui (via de regra).
Então, quando pensamos em Segurança Pública de qualidade, ela é, na verdade, uma necessária decorrência de uma política séria, embasada, e de longo prazo, sobre o assunto “Segurança Nacional”. Sufocamos o contrabando internacional, e as drogas param de abastecer os morros, e as armas de longo alcance ficam sem munição e reposição.
Já vimos que, como programa, projeto de Estado (e não de governos que se sobrepõem e se recusam a continuar as idéias boas dos antecessores) a Segurança Pública é minada pela “liberdade administrativa”, como me referi, anteriormente.
E agora, com a completa ausência de um plano previsto, elaborado e amparado em lei, para falar em Segurança Nacional e começar a combater a origem do dinheiro do crime (as drogas que entram por todas as fronteiras nacionais), e a força que este emprega em sua manutenção territorial (as armas de grosso calibre e letalidade de “nível militar”, também, “imigrantes” em abundância, via fronteiras), fica bastante claro que a solução para a violência, no Brasil, está muito, muito distante.
O Brasil, diante das Olimpíadas, e a missão aterradora de fazer um evento pacifico, diante das ameaças do DAESH, e de uma ameaça bem mais presente: O crime do Rio.
Colagens do DAESH, Comunidades do Rio ocupadas, e os Anéis das Olimpíadas. Imagens com reuso e modificação, para fins não-comerciais, autorizados.
Não quero me estender nesse tópico, mas, sinceramente, como um dos futuros expectadores dos Jogos, estou severamente preocupado com as Olimpíadas do Rio, a iniciarem-se em 4 de Agosto de 2016.
Mais do que com minha própria segurança, não consigo deixar de ver a falência de estratégias de Defesa e Segurança Nacional com décadas de bagagem, como é o caso da França, da Turquia (esta que, ao contrário da Europa, vive com a violência terrorista há muito tempo) e pensar: Como um país tão imaturo em, praticamente, tudo… Estamos prontos para enfrentar as ameaças externas e internas, à segurança e integridade de um “mini-mundo” a estadiar no Rio, pelos próximos 2 meses???
A França acaba de sofrer mais um atentado em seu território, e não faz nem um ano do Massacre na Casa de Shows de Paris. A Turquia lida com carros-bomba, regularmente. A estratégia de Defesa e Inteligência das duas nações (em especial, da França), está ano-luz do que engatinhamos por aqui. E não foi suficiente.
O Chefe do Estado Maior, Almirante Ademir Sobrinho, fez questão de demonstrar profunda tranquilidade com as informações disponíveis, e ratificou que as agências norte-americanas, europeias, e até Israel, trabalham ativamente com a ABIN e as Forças Armadas brasileiras, para detectar qualquer ameaça aos jogos. Mas, saberia a CIA, ou o Mossad, como monitorar as favelas da Maré, ou o Complexo do Alemão?
A pacificação do Rio falhou, miseravelmente, e basta ver o resgaste cinematográfico, recentemente perpetrado no Hospital do Rio, ver as faixas das organizações Policiais no saguão dos aeroportos, mais as recentes declarações de Eduardo Paes à jornais estrangeiros, para saber que, não: Não está tudo bem.
Polícia Interligada, Inteligência, Melhor armamento, Treinamento… É isso? Essa é a solução para a violência cotidiana, no Brasil?
Foto: Wikipedia.org – Criança em lixão no Distrito Federal.
Não… Infelizmente, diferente dos vídeo-games de simulação, colocar delegacias, aumentar a verba da Segurança (Nacional e/ou Pública), abrir acadêmias de Inteligência… Nada disso; nada disso resolve o índice de “sucesso” do crime no Brasil.
A teoria básica para um Estado bem-sucedido, é fundada em três pilares:
Educação Pública, de qualidade, do fundamental ao médio (procurem os dados da nossa performance no PISA; é para morrer de desgosto).
Saúde Pública, Universalizada, ou, pelo menos, saúde privada, plenamente acessível (procurem o teste que o SUS idealizou [IDSUS] e em que ele mesmo não passou).
Segurança, em toda a sua complexidade e dimensão (releiam o post :-p ).
O Brasil é péssimo, em todos esses aspectos. Quero ver algum contra-argumento. Sério: Quero ver. Por favor, me animem com alguma boa notícia, em algum desses temas… É sério: Vou ficar grato.
Quando penso nas fileiras de candidatos às carreiras das Ciências exatas (famosas por gerar tecnologia, patentes, indústria, empregos)…
Quando penso no perfil estudantil da maior parte dos candidatos às carreiras de professorado (os piores alunos são esmagadora maioria dos que querem lecionar, no Brasil)…
Mas, principalmente, quando penso nos salários das profissões disponíveis para quem tem uma escolaridade tão triste, como a grande maioria da periferia… E comparo com o dinheiro (e o poder) que o tráfico e o crime oferecem à todos eles…
Colocando-me nos calçados (quando tem) de um menino, cujo pai é inexistente, e a mãe é uma viciada em crack; frequentando uma escola falida, com uma quadra esburacada, livros didáticos com erros de matemática, português, grafia de palavras… Professores com dificuldades de ler e compreender um texto…
Quando penso nesse menino… Nessa menina… Não consigo ver como pode o Estado Brasileiro; como pode a lei brasileira do Estado legítimo, ser o caminho escolhido para trilhar, desse futuro “projeto de problema social”.
Não: Não estou a fazer NENHUMA abonação, atenuação, ou sequer relativização sobre o certo e o errado: Obrigação de cada cidadão é de fazer o bem e ponto, independente da história de vida, pois, não existe Estado; não existe Nação, não existe nenhuma dessas construções sociais, sem a presença de cidadãos responsáveis, honestos, dedicados ao bem; exatamente o que esperam do país em que moram.
Mas, isto tudo dito e ratificado… Insisto que, não vejo como convencer um jovem engolido por esse mundo nefasto em que nasceu e cresceu, e como convencê-lo da validade de jamais desistir do bom caminho.
Afinal, diante da total privação de esperança, o homem deixa de temer o mal.
Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois, quem não espera o bem, não teme o mal.