Então, Greve… Mas, “Geral”??? Meh…

A última sexta-feira de Abril de 2017 começou difícil para muitos brasileiros. Sindicatos e partidos de esquerda convocaram greves e piquetes, e grupos radicais fecharam rodovias e terminais com violência e depredação.
Tudo isto como forma de rechaço às reformas da previdência e trabalhista.
Será que isso é tudo?

Imagem de manifestantes conclamando greve geral na Avenida Paulista - Março de 2017Manifestação de movimentos sindicais e partidos políticos, ligados ao pensamento de Esquerda na Avenida Paulista, em São Paulo, no mês de março de 2017. Crédito: Romerito Pontes/Flickr

As principais cidades do Brasil amanheceram com sua força de trabalho impactada pela convocação de uma “Greve Geral”; convocação realizada pelos sindicatos e partidos tradicionalmente ligados à Esquerda, como CUT, Força Sindical, APEOESP, PSTU, PCdoB e PT.

No entanto, a greve não foi tão “geral” como esperavam seus organizadores, nem tem o apoio da maioria dos trabalhadores afetados pelas reformas da Previdência e do Trabalho; o alvo principal do movimento grevista, ou, assim eles dizem…

Via de regra, “Greve Geral” era pra ser um negócio de maior impacto. A população como um todo, de empregadores à empregados, da iniciativa privada à pública, e enfim,  todo o extrato social envolvido na geração de riqueza do país, precisaria concordar com a paralisação e suas bandeiras, para conseguir PARAR o país, de fato.

Isso não acontece, na minha humilde opinião, não porque as bandeiras anti-reforma não tenham força entre os trabalhadores de modo geral. Mas, muito mais, por uma total descrença nessas organizações, seus representantes, e as figuras políticas que cada lado suporta.

Como paralisar o país, de fato, quando a CUT leva – para desconforto de outros comandos de Greve, como a Força Sindical – o ex-presidente Lula para discursar em seus palanques, como o fez no último 15 de março???

Como esses movimentos são incapazes de compartimentalizar suas frentes e ideais (campanha na hora da campanha, reivindicação na hora de reivindicar, e etc.), tudo se contamina e, por mais que a “bandeira da vez” do movimento possa ter sua razão de ser, ninguém “de fora” adere, para não ser confundido com tudo de mau que permeia e se dissemina pelos tecidos desses movimentos.

A mídia, claro, vai vender isso com toda a força que puder. O dia será de imagens de bloqueios rodoviários, confronto entre Policiais e manifestantes, depredações, e todo o repertório típico.
E isto ocorre porque… Bem, porque você (nós) assiste (assistimos) e consome (consumimos)… E a mídia é “all about IBOPE”…. Noticiar já não basta. É preciso manter você entretido. Quanto mais caos, melhor… Então… Sim: As imagens vão ser repetidas em looping, por todos os ângulos e quanto mais bagunça, melhor (para quem vende isso, claro).

Toda meia-verdade é, também, uma meia-mentira…

Parece um título no padrão “jogo é jogo e, treino é treino” mas, vou “forçar a amizade” e dizer que isso é um pouco maior.

O governo Temer está certo em dizer que a Previdência precisa de reforma. Não importa qual a sua opinião, e não importa “de que lado você está”, o problema da Previdência é matemático e está cheio de fatos que o comprovam.
E você não precisa de um bacharelado em Economia para saber o que acontece quando sai mais dinheiro do que entra, em um dado caixa. Essa é a situação da Previdência. E não é passível de opinião. Basta olhar para os números.

A reforma que segue sendo discutida via PEC 287/16 não vai – como de costume nas reformas do nosso país – implementar metade do que foi previsto nela. Não há cacife político para enfrentar os sindicatos e as classes trabalhistas que são estrondosas em atacar a reforma. Mesmo assim, você precisa saber o porquê de reformar, da forma mais enxuta possível:

  1. O brasileiro está vivendo mais. Bom pra ele; péssimo para a Previdência.
    No Brasil, segundo o IBGE, temos ~10% da população superando os 65 anos. A título de comparação, no Japão, um dos países com melhor estimativa de vida, 25% deles superam a marca.
    No entanto, a Previdência Brasileira consome quase 10% do PIB do nosso país. Isso equivale a assustadores ~50% de despesa primária da União (aquela que afeta o endividamento líquido), todos os anos.
    Imagine um orçamento em que metade paga direitos à pessoas que já não geram riqueza (Não significa que eu pense que elas não merecem. Mas, as contas não se importam com minha opinião, e seguem no vermelho).
  2. A Previdência tem Superavit (sobra dinheiro). #SQN
    Eu sei que você já ouviu isso: Não há dívida na Previdência. Ela recebe mais do que gasta.
    Infelizmente (para todos nós), isso não é verdade, especialmente porque você precisa olhar como a Constituição Federal compõe o fundo previdenciário.
    Também, é preciso dizer que a Previdência Pública opera em regime de repartição simples. Quer dizer que não há aplicação do dinheiro (como ocorre no VGBL ou PGBL), e ela só se mantém saudável se houver mais receita do que despesa.
    Segundo a CF/88, a seguridade social agrupa a previdência social, a assistência social (mesmo para quem nunca contribuiu com o fundo) e a Saúde. Suas receitas são contribuições de empregados e empregadores, a contribuição social sobre o lucro líquido, a COFINS, o PIS-PASEP e um percentual sobre as loterias federais.
    Ora! Se o que cada trabalhador e empregador pagam é mais que suficiente para manter a Previdência de todos os aposentados, por que então, o fundo tributa toda a sociedade com COFINS, PIS-PASEP e Loterias, desde sua constituição??? Porque sempre se soube que a conta não fecharia com o que se arrecada de cada trabalhador contribuinte (que, mais tarde, será um beneficiário). 🙂
    E não se engane, dizendo que o problema está nas outras 2 partes que consomem o fundo: A Previdência consome 58% do montante arrecadado, deixando 42% para a Saúde e a Assistência Social dividirem.
    Há, também o argumento dos desvios e corrupção… Certamente, a caixa d’água da Previdência lembra mais uma peneira, com tantos vazamentos e esquemas, mas, pra não entrar numa discussão enorme, o déficit da Previdência em 2016 foi de 257 bilhões de Reais (se considerar os cálculos otimistas do governo, “só” R$151 bi). Para falar de um mega-esquema de corrupção, estima-se que o rombo total da Petrobrás chegue à casa dos 20 bilhões.
    Mesmo que o sistema previdenciário seja inteiro revisto (e deve, de fato, o ser), ainda faltarão “alguns” bilhões de Reais para que a conta feche. A reforma parece, portanto, inevitável. Não é culpa, somente, da corrupção.
  3.  Quer pagar quanto (e como)?
    Não viva de sonhos: COM reforma ou SEM reforma, todos nós pagaremos pelo déficit. O dinheiro não será impresso (se for, vai dar m$@%&*).
    E do que adianta gritar “tenho direitos!”, se o caixa estiver vazio? Se a Previdência falir, não importa o que você acha que merece. Não há dinheiro pra te pagar. Vamos ver se a ideologia gera notas de 100 reais, do nada.
    Sem a reforma, o governo vai fazer o que sabe fazer de melhor: Aumentar impostos, criar novos, ou ambos (“ambos”, me parece o mais provável). Vamos pagar de qualquer forma.
    Se não criar/subir impostos, vai emitir mais títulos de divida pública e aprofundar o endividamento do Estado. E vamos todos, como Nação, pagar juros a quem quiser comprar os títulos. Em algum momento, mesmo que não agora. Não há como o Estado brasileiro dar calote. Não, sem virar a Somália ou a Venezuela.
    Se não fizer nada disso, resta ao governo imprimir dinheiro mesmo, o que significa “Inflação”: Você sai com seus mil reais que, por terem sido impressos sem geração de riqueza atrelada, agora valem 100.
  4. “Os Militares de fora da PEC da reforma”, foi uma decisão correta, sim.
    Não vou me estender muito mas, você precisa saber que a CF/88 trata da Previdência de servidores públicos civis, por simples pressão classista.
    Durante a composição da CF/88, seus sindicatos e seus parlamentares cederam à pressão e incluíram proteção com status constitucional para essas classes.
    Mas não é o caso dos militares. Os militares têm sua aposentadoria regulada por lei ordinária, e não pela Constituição, e isso é ótimo.
    Na verdade, deveríamos lutar (eu e você, que não temos regalia [eles preferem o termo “Prerrogativa”; é menos vergonhoso] alguma como quinquênios, licença Premium, readaptação e tantas outras firulas que fazem a aposentadoria, de fato, chegar bem mais cedo para o setor público, mesmo que não no papel) para que toda a regulamentação de aposentadoria do funcionalismo público fosse removida da Constituição.
    Estar lá significa ter mais proteção contra reformas, mais mecanismos de impedimento à reformas, e mais trabalho para se corrigir qualquer desvio. Incluir militares na PEC seria dar à eles todo esse respaldo que servidores públicos civis já contam.
    Ou seja: Militares teriam mais proteção à sua aposentadoria. Não significa que os militares não devam ter seu modelo de aposentadoria revisto (por que diabos parece sensato que a filha de um militar ganhe pensão se for solteira?) mas, não, não nessa PEC e não agora.
  5. Se o remédio amargo não for tomado agora, ele vai amargar ainda mais, logo ali na frente.
    É uma ilusão tremenda, típica do endividado crônico, fingir que se não encararmos o problema agora, e o escondermos por debaixo dos panos, ele se resolverá sozinho. Como em todo problema crônico, o tempo é amigo do monstrinho que vai crescendo em baixo da cama.
    Podemos não reformar agora. Podemos fazer como fizeram os últimos governos brasileiros, com anuência da sociedade, claro.
    Podemos empurrar essa situação até o limite, quando ela consumir 70, 80% da despesa primaria da União.
    Podemos.
    Mas, uma hora, com direito garantido por lei, e decisão favorável do Juiz, seu pai, sua mãe, seus tios, e até você, vão bater na porta da Caixa Econômica e vão encontrar a conta zerada. Pode espernear, tacar fogo em pneu, parar o transporte público. Não vai ter verdinhas. Ponto.
    Se não isto, então, impostos novos vão aparecer para cobrar de você, de qualquer forma, o que a reforma não corrigiu e não equalizou. E com mais impostos, é mais difícil rastrear pelo que você está pagando, e mais difícil de melhorar a tão criticada regra tributária brasileira que impede novos empregos e afunda o país em atraso e desemprego (também).
    O problema não irá desaparecer. Irá piorar.
    Não precisa ser genial pra saber disso: Deixe seu financiamento imobiliário atrasar, e volte daqui três meses para ver se a dívida melhorou. Talvez, você já esteja sem um teto, até lá.
    Por que seria diferente com as contas públicas? Ainda com dúvida? Pergunte ao compatriotas cariocas, como anda a vida no Rio…

Mas, qual é a meia-mentira?

Bem, eu disse que toda meia-verdade é também, uma meia-mentira.

A meia-verdade: A reforma da Previdência é tão necessária quanto a reforma Trabalhista. Não há como negar que a primeira precisa ser feita para salvar o modelo de Previdência pública, e a segunda continuará a agredir a geração de empregos, se não for feita.

A meia-mentira: Todos vão pagar o preço, como uma sociedade unida o faz, em momentos difíceis. Eu riria, não fosse a dor da úlcera de saber que só nós, os sem privilégio político ou de classe, vamos pagar o preço.
Nós, da “classe média”, aquela que o último governo classificou como “ganhando mais que R$1.164,00 mensais” (SAE 2014).

Os políticos: Não, eles não vão pagar o preço. Continuam nos melhores hotéis de Brasília, continuam com vale-paletó, vale-combustível, vale-torradeira, vale-máquina-de-lavar… Cobram o favor, a obrigação, o que deviam fazer e o que não deviam. Cobram pra ficar quietos, para falar, para serem bons e ruins. Cobram para tudo. E, claro, nunca farão nada que vá contra a sua capacidade de se grudar ao poder, e sugar tudo de bom que há nele, como carrapatos que parasitam um animal… O mais triste é que, nessa analogia, o “animal” sofre de síndrome de Estocolmo, e até luta para manter certos carrapatos mais famosos, se alimentando dele…

Os sindicalistas: Não, eles também não vão pagar o preço. Continuam com fartos salários, pagos via imposto sindical (recentemente removido, e um motivo real de tanta indignação dos sindicatos com o governo, bem mais do que a estória do “Nenhum direito a menos”), via lavagem de dinheiro, corrupção, frutos de acordos espúrios com os Empregadores das cadeias mais poderosas da Indústria nacional, e representantes de todas as esferas do poder Estatal… Comandam uma massa de manobra gigante, cega, barulhenta e violenta…

Os funcionários públicos: Não, eles também não vão. Já mostraram que mandam no país, sequestram o poder público em benefício da classe e benefício próprio; fecham, proíbem, atrapalham, atravancam toda a vida em sociedade, em todos os seus aspectos, caso sejam contrariados. Se, por um lado, são trabalhadores como quaisquer outros da iniciativa privada, por outro, detém funções com a qual a vida em sociedade não se sustenta sem, como o esparadrapo no pronto-socorro, a escola pública que precisa conceder o diploma, o passaporte que precisa ser emitido para se trabalhar e estudar, a Lei que precisa ser mantida, e tudo mais para qual o monopólio Estatal não pode, por inúmeras razões, receber as benesses da competição privada. Sabem o que sequestram, e sabem quem e o que fazer de reféns para manter tudo como está. Conservadores como qualquer partido de Direita, mas, com a desculpa de “lutar pela manutenção de direitos”…

Você, eu, todos aqueles que não tem poder visível (demonstrável) de eleger e remover do poder; alguém que, sem mérito ou conhecimento, decide os rumos do Estado brasileiro e de nossas vidas… Nós, sim, vamos pagar (todos) o(s) preço(s).

Então, essa é a meia-mentira. A de que somos iguais perante a Lei se comparados com todos esses outros, e que todos nós vamos pagar solidariamente, os custos da reforma de algo que foi quebrado não por um ou por outro, mas por todos até aqui. Não vamos… Ou melhor, só nós vamos…

Se correr o bicho pega, e se ficar o bicho come…

O xeque-mate está ali na esquina.

Você não gosta nada da reforma, seja porque não vê necessidade, ou porque não concorda em ser o único a realmente pagar o preço dela (fato com o qual eu concordo, também).

Por outro lado, a única turma fazendo barulho contra, é a turma que se alimentou das entranhas do poder – grosso modo – na última década.
Uma turma que usa o idealismo e o sonho de um mundo socialmente mais justo de seus filiados menos influentes e mais fiéis à causa, para fazer uma tropa de choque para-militar que quebra patrimônio público e causa a disrupção de serviços e direitos elementares (como o ir e vir Constitucional; superior ao direito de Greve, só pra constar) de todos nós, em nome dos interesses de alguns poucos caciques que deveriam estar presos pelo que fizeram e fazem, mas seguem “dando as cartas” no dia-a-dia do Poder, e discursando em palanques.

Eu, do fundo do coração, acredito no instituto legal da Greve como instrumento legitimo e digno, sim, de controle e equilíbrio das forças que o Capital confere – inegavelmente – ao Empregador; poder que esvazia-se no empregado.
Mas, de modo algum, eu teria coragem de reclamar de pagar essa conta sozinho, inflando os números em uma avenida, para que Lula ou qualquer outro safado subisse num palanque, na minha frente, e em desrespeito ao código eleitoral, fizesse pré-campanha para a Presidência em 2018, com eu, ali, dando quorum, ao menos visual, para as bobagens e mentiras que ele gosta tanto de dizer (Os safados da dita “Direita” [embora eu sofra em achá-la às claras, por aqui]… Os Aécios, Renans, Alckmins e todos os outros; estes não precisam do palanque, agora… Estão felizes como tudo segue e só por isso, não vão às ruas como o ex-presidente vai).

Estamos numa cilada. Vamos pagar a conta sozinhos. E não tem bandido e mocinho, mas só bandidos, pedindo nosso apoio ou repúdio, não em nome dos verdadeiros valores de igualdade e justiça social, mas, para atender à interesses completamente privados.

Esta é, ao meu ver, a estarrecedora situação da representatividade de cada um de nós, diante do Poder público, nos dias de hoje. E explica porquê é tão difícil entender para que lado “a corda puxa”, e para que lado ela vai chicotear.

Mas, deixe-me fazer uma única previsão final: Como sempre, essa corda vai chicotear para quem, proporcionalmente, recolhe mais impostos, e recebe menos benefícios do Estado… Nem o magnata do Petróleo, nem o miserável do programa assistencial…
Ela vai acertar bem no meio do nosso extrato social. Bem em nós. Como de costume.
E eu nem precisei de uma faculdade para prever isto.

8 de março: O porquê eu respeito a “farsa”…

Entre esperar Papai Noel ou ajudar alguém a ser respeitado, de maneira digna, eu acho que é melhor ficar com a farsa do “Dia das Mulheres”

Símbolos universais do masculino e feminino, combinados com o sinal de igualdade, no centro.
Será que, um dia, a anatomia será apenas um diferencial fisiológico e aparente entre nós?

8 de março, como 25 de dezembro, é uma farsa histórica…

Nem as mulheres foram queimadas vivas na fatídica fábrica têxtil de Nova York, nem Jesus nasceu, respectivamente, nas referidas datas.

No entanto, como todo o mundo (literalmente) insiste em comemorar o Natal no ocorrer do Solstício de Inverno do Hemisfério Norte (uma data originalmente pagã, vale dizer), eu não vejo porquê não lembrar que o mesmo mundo ainda deve muito às mulheres, quando o assunto é “igualdade”; mesmo que através de uma data, também, inventada.
A história inventada do incêndio parece ter ocorrido porque feministas francesas não queriam que a data ficasse ligada à Comuna de Paris, e demais eventos comunistas, muitos destes, comemorados em Março, e que foram berços de algumas das primeiras manifestações dessa bandeira pelas mulheres e a igualdade de gênero.
Era mau (já naquela época) ligar a luta por igualdade, às bandeiras Comunistas, pensaram as moças… Titios Mao Tsung e Marx estão tristes – lá no céu vermelho – com vocês, garotas…

Eu sei, eu sei… Metade da audiência desse post foi perdida, quando eu disse que alguém devia algo para outrem. Ninguém quer ler que o mundo tem algo de errado e que, de alguma forma, este primeiro tem alguma culpa nisso. Incomoda. Muito. Eu sei, eu sei…

Você, meu amigo, sai de casa, faz seu melhor, paga seus impostos, não estupra ninguém… O que mais o sexo oposto pode exigir de você?

Vai minha sugestão, então: Consciência.

“Consciência” é tudo o que você precisa adquirir, , para começar a enxergar o que você diz (ou quer crer) não existir: Desigualdade entre homens e mulheres.

Somente alguém:

a) Cego;
b) Mal informado;
c) Mal intencionado;
d) Uma infeliz junção de tudo isso e, quem sabe, mais um pouco;

… Pode sugerir que toda a reclamação feminina não é mais que “bobagem”, e “mimimi”.

Ok, logo ali na frente, menciono que meu reconhecimento à necessidade da “farsa”, não tem nada a ver com suportar bandeiras político-partidárias de lado b ou lado a e, muito menos, que eu seja uníssono com as ativistas dos movimentos mais barulhentos, ou com seus modus-operandi.

Mas, vamos devagar com o andor, porque a idéia (como o santo) é de barro; e quebra fácil.

Consciência

Quando iniciei em meu primeiro emprego CLT, na Xerox do Brasil, surgiu o primeiro episódio de epifania quanto ao tema, após eu querer fazer algum tipo de reflexão coletiva sobre a data; na data.

Fiz um curto e-mail (juro pelo Solstício de inverno que não era tão longo quanto meus posts), creio que com pouco mais de 200 palavras, onde eu dizia que, embora quisesse felicitar as pouco mais de 20 mulheres com quem eu tinha contato profissional, por uma data simbólica, também queria dizer que reconhecia sua luta por igualdade e valorização na sociedade, e que sabia que estava longe o dia em que a data poderia ser só comemorada; em uma sociedade construída, não somente mas, também, sob suas costas e que, ainda assim, às subtraia o devido valor, à luz do dia, “na caruda”.

A reação das colegas e amigas me chocou porque muitas levantaram de suas mesas e me parabenizaram pessoalmente (seria eu, também, uma mulher? Tenho uns comportamentos estranhos, mas, não é pra tanto, não é?).
Algumas verbalizaram e disseram que, diferente dos chefes, outros amigos, parentes e namorados, e até mesmo do e-mail padrão do RH, eu havia sintetizado o “problema com a data”: A esmagadora maioria delas é feliz por ser mulher, por receber flores e bombons, e parabéns de todos os lados, no 8 de março.
Não há crime em felicitá-las, de verdade… Eu sempre procuro fazer esse tipo de coisa para as mulheres com grande significado em minha vida.

Mas, no fundo, não é uma data que pode ser pura comemoração e, na realidade, elas trocariam tudo isso e aprovariam o fim da data mundial, se isso garantisse a elas, igualdade com o outro sexo que compõe a espécie (tá com dúvida? Sim: Nós homens).

E a primeira coisa que você precisa reconhecer, meu querido amigo, é o tamanho do problema. E não duvide: Escrevo mais por você do que por elas… O que eu direi aqui, elas sentem na pele, todos os dias.

Segundo lugar, teu nome é mulher.

Se Shakespeare fez muita gente (“muita” mesmo, por gerações) suspirar com seu “Romeu e Julieta” (que, na verdade, é tudo, menos um aval poético à loucura de amor; e bem mais um aviso de que é idiota desrespeitar os pais e a sociedade), ele não era… Bem, como posso dizer… Um feminista…

A célebre frase de Hamlet, em contra-cena com Ofélia, em peça homônima ao primeiro citado, é bem conhecida:

“Fragilidade, teu nome é mulher”(…)

Na verdade, como 99.999% (deixei espaço para as exceções: elas sempre existem) dos entes de seu gênero e época, Shakespeare era, muito provavelmente, misógino.

mi·so·gi·ni·a
sf
MED, PSICOL Antipatia ou aversão mórbida às mulheres.

Ah mas, também, quem nunca?

Che Guevara, o Papa, nossos avós e, quem sabe, sua mãe e irmã… Todos tiveram, têm, ou terão uma antipatia com o gênero feminino (eu temo que alguém vá dizer que “mulher” não é gênero. Recomendo conversar com a Associação Americana de Sociologia [ASA] e avisar que a documentação deles está errada).
A frase de Shakespeare, em seu contexto original, é uma mentira. E, como muito do que pensamos do outro sexo, também o é, grande parte de tais conjecturas.
A fragilidade do sexo feminino, em sentido stricto, é mera construção social de dezenas de milhares de anos.
A nossa versão atual da raça humana (a espécie homo sapiens sapiens [isso mesmo: Sapiens que Sapiens]) tem cerca de 70 mil anos de história e, desse período, estima-se que a sedentarização (em oposição ao nomadismo) tenha ocorrido entre 25 e 17 mil anos antes de Cristo (ou, melhor dizendo, do primeiro Solstício geladinho dos Cristãos).
A agricultura surge, então, em torno de 10 mil, antes do “Primeiro grande festão de inverno” da Igreja Católica.
Noves fora, nada, são 12 mil anos executados de modo que o homem caça e guerreia, enquanto as mulheres colhem frutas e cuidam da “cria”.
Logo, se elas, de fato, agora são frágeis, foi por mera imposição, ou escolha (chame como quiser) social, há – mais ou menos – 12 mil anos; e não por uma inerente fraqueza constitutiva, genética, de gênero; como a frase tende a sugerir…
De mais a mais, a mulher mais forte do mundo (da última vez que vi, era Donna Moore, com a “mísera” carga de 330 Kg no Levantamento Terra; uma bobagem…) vai ser infinitamente mais forte do que 99.5% (ah, as exceções) dos homens do mesmo planetinha em que ela mora.
Não importa se você gosta de mulheres musculosas, ou não. O ponto é que elas não são inerente e intrinsecamente fracas.
Se no stricto-sensu é mentira, em sentido lato, também. Muito do que chamamos como fragilidade é, meramente (e novamente), milhares de ano em reiteração de condutas e posturas que visam o fortalecimento do bando, o estreitamento das relações que sustentam a tribo, e em última análise, a evolução darwinista, aplicada à sociedade humana, at its finest (no seu melhor).
E, se por um lado, elas abriram mão do poder natural e absoluto, em prol da comunidade que arquitetavam e suportavam (coisa que leoa alguma fez [ainda são as caçadoras mais letais e fortes de uma alcateia]), elas – as fêmeas de nossa espécie – ganharam em troca, uma banana (e, para o azar delas, nem foi no sentido bíblico [entendedores, entenderão] pois, assim, poderiam, ao menos, ser felizes sozinhas).
Sua abdicação lhes rendeu o título de “frágeis”.
Aliás, “afeminado” não é ofensa para a sociedade ocidental, à toa… Adjetivar um homem em semelhança à uma mulher, é um ótimo jeito de iniciar uma briga, enquanto ofensas ao caráter (como “canalha”, ou “vagabundo”), tem menos chances de chegar ao mesmo resultado… Vai entender o bicho-homem…

Se não são sinônimos de fragilidade ou fraqueza, com toda certeza foram forçadas ao sinônimo de “segundo lugar”…

Como eu disse, antes, foi mal negócio (não, em 1920, não em 1850, mas, há mais ou menos 12 mil anos atrás) para as mulheres, esse negócio de “sossegar o facho”.

Tivessem continuado a arranhar e morder como as leoas e, talvez, hoje fosse dia Internacional do Homem, e a Lei, talvez, chamasse João da Lapa.
Mas, como diria Mano Brown, “aqui é Capão Redondo, ‘tru’, não Pokémon”. Não adianta idealizar no faz de conta…

Não que eu acredite nas BOBAGENS que vejo em algumas homenagens, onde supõem os publicitários de “o Boticário”, ou do Dollynho, que, fosse o mundo governado por mulheres, de fora a fora, só haveria paz, amor e carinho…

“O homem é o lobo do homem”, enunciou o grande Thomas Hobbes… Sempre foi e sempre será a verdade mais triste da nossa espécie.
Com o poder e a força, homens e mulheres podem ser terríveis, ou maravilhosos. Esse fato nada tem a ver com a carga genética do 23º par de cromossomos da nossa espécie.

Mas, fato inegável é que a conjuntura da situação feminina no mundo, quanto à violência, a igualdade de oportunidades, de reconhecimento e de valor (social e econômico), é o que é, não porque assim deveria ser, ou por ser inerente do gênero feminino, mas, porque assim foi construída para ser.

Por todos nós, importante dizer. Que as moças que me leem, não tirem de seu fardo a culpa – em parte, óbvio – dessa construção, pois, “quem cala, consente” e “só tem malandro, porque tem otário“, diria o exímio Sr. embaixador da filosofia brasileira, Bezerra da Silva.
E, acima de tudo, porque o papel de vitima também não ajuda quem precisa ir à guerra. Sinto muito, de coração, meninas: Essa é uma briga que vocês não poderão se esquivar para sempre…

“Rodrigo… Quanto blá-blá-blá… Não vi um argumento bom de que elas sofrem alguma desigualdade real… Talvez, lá no Oriente Médio, mas, aqui no Ocidente, elas não têm do que reclamar…”

Fôlego… Fôlego… É tudo que preciso para não responder por lesão corporal grave, ao ouvir esse tipo de infelicidade… E, sim, eu ouço… Imagino elas…

Enquanto, “meu amigo”, você disser coisas como “eu ajudo em casa” (não se ajuda alguém a cuidar do lugar em que você mora… Se ambos trabalham fora, divide-se tudo por igual, para quem ninguém trabalhe mais, só porque tem xana e não pinto…), ainda que ela não trabalhe fora, a carga de trabalho doméstica é, muitas vezes, pior que a do escritório; sinta na pele para entender (e divida de forma justa);
Enquanto você se gabar da louça que lavou no último aniversário dela;
Enquanto você esperar “parabéns” por tudo que ela faz todos os dias, e você fez só na passagem do cometa Harley…
Bem, eu nem precisava escrever mais pra você pedir perdão (pra ela, não pra mim… Ainda tô decidindo se vale responder o artigo 129 do CP, por conta da sua infelicidade)…

MAS… Os fatos têm essa beleza inerente de bater na cara de babacas, sem que sejam facilmente ignorados… E muita gente contava com alguma pesquisa minha, para dizer o que estou dizendo, há 4 minutos, e não vou decepcionar…
Caro leitor, consciente, e que não diz bobagem à toa… Aos fatos:

Os Fatos… Tristes, e que mudam tão pouco, ou quase nada, ano após ano…

Os fatos são estes:

O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou, na última segunda-feira, dados tenebrosos de como anda a igualdade entre os sexos que você imagina boa, na Ilha de Vera-Cruz (vulgo, Brasil).

Brasileiras trabalham, em média, 7.5 horas a mais que os brasileiros.

90% das brasileiras fazem o trabalho doméstico, enquanto 50% dos brasileiros declararam fazer, também. Esse número, pasmem, é idêntico à 20 anos atrás. Nada mudou, e estamos em 1995 ( o estudo, em questão, finalizou a série histórica em 2015).
Significa, em outras palavras que, embora estejam mais presentes no mercado de trabalho, continuam, elas, as principais responsáveis pelo lar, levando-as a ter jornadas duplas de trabalho. E ainda perguntam porquê elas deveriam se aposentar mais cedo, em uma sociedade tão desigual com elas.

Em 1995, 23% dos lares tinham chefes de família, mulheres. Em 2015, 40% dos lares brasileiros dependiam das mulheres. E isso não significou nenhuma redução da dupla jornada (emprego e residência), nem a equalização dos salários que, na verdade, seguiram inalterados quanto à escala, ao longo dos últimos 20 anos, entre homens e mulheres brasileiras.

Confira por si: Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça – 20 anos

Mesmo que a mulher faça EXATAMENTE o mesmo trabalho do homem, no Brasil, ela ganhará apenas 73.7% do que ele ganharia.
Se você não acha assim tão relevante, pegue a diferença percentual desse montante, e dê para sua colega de função… Afinal, não é realmente relevante, não é mesmo?

Segundo ranking do Fórum Econômico Mundial, o Brasil precisa de 100 à 200 anos, para que homens e mulheres sejam economicamente, tratados como iguais.
As outras desigualdades, só o Pai celestial do dia mais longo do inverno no H.N., pode saber.

Ok… Talvez, o Brasil seja um lugar desigual para elas. Mas, é porque somos terceiro mundo, não?

Ha… Haha…

Não.

Aqui, um pouco do que é ser mulher, no terceiro planeta, de um dos 500 sistemas solares da Via Láctea, a contar a partir da estrela que chamamos de “Sol”…

Nos EUA, há mais CEOs (presidentes de empresa) chamados “John”, do que mulheres nessa posição. Obviamente, o que deveria qualificar alguém para uma vaga não é, nem o nome, nem o aparelho reprodutor, mas “há algo de podre no reino da Dinamarca”, como diria Hamlet, se vários John’s eram tão mais competentes do que todas as mulheres interessadas em ser CEOs, juntas, nessa corrida, naquele país.

A consultoria Ipsos realizou pesquisa com 17 mil pessoas, em 23 países com bons índices de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), e perguntou às mulheres se elas creem ter a mesma chance e oportunidade que os homens. Apenas 4,5 em 10, acreditavam que sim. Já, 6 em 10 homens, pensam que elas têm as mesmas oportunidades.

Nos EUA, a impressão errada só piora. 3/4 dos americanos acham que a sociedade é suficientemente igualitária entre os gêneros, enquanto só 50% das americanas acredita nisso.

Ah, se a violência contra a mulher fosse exclusiva do Brasil… Nos EUA, 1 em cada 4 mulheres sofrerá violência sexual, ao longo da vida. E, ainda por lá, o maior risco físico que uma mulher entre 18 e 44 anos sofre, dentro de sua casa, é o risco físico da violência doméstica. 80% das violentadas vão desenvolver problemas cardiovasculares, e 70% delas vai se tornar alcoólatras.

E, embora o mundo tenha quase a mesma proporção entre os gêneros (101,8 homens para cada 100 mulheres, segundo relatório do Instituto Pew, com base en dados da ONU de 2015), quando se trata de linha da miséria, as mulheres não ficam com o segundo lugar… Entre 10 adultos miseráveis, no mundo todo, 6 serão mulheres.

Desigualdade, ou simples diferença entre os indivíduos?

Talvez, e por incrível que pareça, o ponto em que geralmente as pessoas mais se atém, são os que citam a diferença salarial.

Também, pudera: Uma das mais recentes polêmicas salárias entre homens e mulheres ocorreu na Associação Profissional de Tênis (ATP), entre ninguém menos que Djokovic e Serena Williams. Salário é sempre hot topic….

Especificamente NESSE cenário da ATP, eu não acho que seja um problema central da causa feminista. De fato, em uma liga como essas, o teto salarial é determinado pelo valor que a liga arrecada com os eventos. Se eventos de tênis femininos vendem menos, ou vendem ingressos mais baratos, é uma questão muito mais de contratos, e de imposição das atletas às ligas e organizações, não obstante, é claro, a chance de que a expectativa errada dos organizadores seja de que elas aceitarão ganhar menos, por serem mulheres.
E aqui, sim, teremos um problema.

De todo modo, não estou defendendo que não existem diferenças que justifiquem salários diferentes. É claro que existem.
Só não podem existir se, sem politicagens e discursos ocos e completamente falsos, a real explicação para a diferença salarial seja uma vagina ou um pênis.
E não é só sobre isso que se resume a bandeira de igualdade entre os sexos.
Se há diferenças, vamos entende-las, tratá-las, e endereça-las. O que não pode continuar é a diferenciação por motivos que não determinam capacidade, competência, brilhantismo que cada ser humano (homem ou mulher) é capaz de ter.

Admiro e apóio a causa, mas não quem CAUSA…

Como eu disse, lá no começo, meu apoio à bandeira do feminismo e meu reconhecimento de que há, sim, muita coisa errada na relação social que homens e mulheres construíram, e no que cada um recebe de volta, no que deveria – idealmente – ser algo simbiótico; nada disso e dessa postura significa que eu concorde com práticas de boa parte das ativistas mais barulhentas nessa batalha.

Algumas e alguns dirão que não conseguirão o respeito e a igualdade que buscam, sendo comportados.

Do meu lado, me limito a dizer que, como na questão racial (que, na verdade, leva o nome errado: É uma questão de discriminação dermatológica, já que a raça é só uma: Homo Sapiens²) “jogar o jogo”, causando, é um ótimo jeito de enfrentar repressão, endurecimento do conservadorismo, e quase nenhum avanço.
Quando você me xinga e me convence que sou um monstro, como Maquiavel advertiu, eu posso decidir ser o monstro que você sugere que eu seja. Causas como a “Racial” e a da igualdade de gêneros precisam de gente inteligente e articulada à frente, e não de gente que sabe gritar e ofender (como 4 as feministas que bateram no arcebispo belga, ou os negros e negras que agrediram a brasileira branca com câncer, por “apropriação cultural” ao usar um lenço na cabeça… Bom, deixa pra outro artigo).

Por ser uma questão onde, um lado está “ganhando” e outro está perdendo, somente o diálogo e convencimento de que é um problema para todos os lados, sim, e não um problema “só das mulheres”, (ou “só dos negros”) pode fazer com que ambos os lados trabalhem na questão… Se só o “lado perdedor” se movimentar, e o outro lado “sentar” na causa, 200 anos é até pouco para alguma mudança nesses panoramas.
E a culpa, também é de quem grita demais e de quem causa demais. Essas pessoas podem até achar que estão nos seus direitos, pelo que passam e sofrem, mas, são tão inimigas da boa causa e da verdade, quanto seus carrascos (merecendo a alcunha, ou não).

Da mesma forma, nem toda idéia com a etiqueta “feministas aprovam”, terá o meu apoio. Em primeiro lugar, porque ninguém fala por mim. Em segundo, porque algumas são simplesmente idiotas, e buscam qualquer outra coisa, mas não IGUALDADE… Como a proposta de um número fixo, mínimo, de congressistas mulheres, eleitas.
A idéia de um número mínimo de candidatas me parece correta.
A idéia de candidatas eleitas na marra, não. É incompatível com “democracia”, supor que o sistema é forçado a eleger mulheres que não representam o povo brasileiro, mas ingressaram lá por “cotas”.

A causa é legitima, por tudo que eu já demonstrei. Quem causa, contudo, não tem legitimidade, e não ajuda em nada.

A igualdade de gêneros é boa para todos. O difícil é convencer todos os players, quanto à isto…

A igualdade entre os gêneros é, de verdade, boa para todo mundo. Eu nem vou tentar detalhar TUDO que essa igualdade pode significar (até porque, cada ponto poderia ser um artigo, por si só), mas, vou falar de pontos básicos e imediatos que tal igualdade traria.

Hoje, o homem ainda é mais bem pago que a mulher, mesmo que ambos tenham o mesmo cargo e mesma formação profissional. Com isso, o homem tem menos liberdade para se demitir, ser demitido, e tomar qualquer rumo diferente na carreira, já que ele é o que traz o mais relevante rendimento para as finanças do lar, e tem a pressão extra de não poder fracassar nisto.

Ao assumir funções de mais prestígio, ou mais responsabilidade, o homem é privado de estar junto de sua família, participar da criação de seus filhos, e outros aspectos que deveriam ser mais importantes que qualquer carreira profissional. Se houvesse igualdade real e sustentável, a escolha de quem fica mais tempo com as crianças poderia ser livre de consequências para toda a família. Claro, não há bônus sem ônus, mas, do jeito que é, hoje, é quase impossível “inverter os papéis”.

Se a mulher é frágil, delicada, emotiva, e todos os adjetivos que são, paulatinamente usados para defini-las, os homens são fortes, valentes, corajosos, guerreiros, infalíveis, implacáveis, e uma série de besteiras que tentam definir genericamente, cerca de 7 bilhões de pessoas únicas. Como a sociedade só sabe funcionar se todo mundo jogar esse jogo, com essas cargas e papéis, qualquer indivíduo da espécie que falhe em entregar tais atributos, está mais perto da depressão, e de todos os problemas que advém disso. O sexismo, nesse caso, não aprisiona só a mulher, mas também o homem, já que o comportamento aceitável é estrita e rigorosamente imposto a cada um de nós.

Enfim….

Eu, embora costumeiramente pessimista, me forço a acreditar, sim, que um dia, cedo ou tarde, o dia 8 de março poderá ser um dia descartável.
Infelizmente, contudo, esse dia ainda não chegou, nem está no horizonte visível, e há muito do que reclamar, e muito pelo que brigar.

Eu, homem, branco, heterosexual, e todos os demais padrões básicos, ratifico meu apoio e reconhecimento de que a causa feminista tem validade e precisa, sim, ser defendida, não só pelas principais afetadas, mas por toda a sociedade.

Viver em uma sociedade igualitária não é uma ameaça para quem “está no controle” do personagem dominante (seja lá o que isso signifique, já que não me sinto sobre o controle de nada).
Pelo contrário: Viver em uma sociedade onde homens e mulheres são iguais (não quanto à atitude, ao gênio, estilo, ou postura, mas, quanto ao reconhecimento e tratamento social), é algo libertador para todas as partes.

Uma “farsa” pela qual, com certeza, vale a pena lutar.

Parabéns à todas vocês que, mesmo diante de tudo de ruim que eu citei aqui, ainda levantam e vão às ruas, continuar lutando por espaço e por igualdade, travando a boa batalha, caindo e sendo derrubadas, mas, achando fôlego e suporte para se levantar, e continuar em frente. Isso é a pura demonstração da fibra humana que todos nós partilhamos, a despeito do sexo, da cor, da origem, e todas essas divisões que em nada limitam ou definem o potencial humano.

Finalmente, um parabéns especial à minha mãe, Raquel; uma mulher de uma fibra incrível, “matando um leão por dia” desde que me conheço por gente.
E, para uma das mulheres mais guerreiras que conheço: Minha noiva, Bruna, que não obstante tantos desafios nos mais variados prismas da vida, sempre acha um jeito otimista e forte de ver o lado bom da vida, e seguir lutando e vencendo tantas batalhas quanto possível.

Parabéns a todas vocês!

Espírito Santo: A Ameaça Fantasma

O Espirito Santo viveu uma violência, nas vias públicas, assustadora, logo após uma greve da Polícia Militar desse estado. Mas, o que o Espirito Santo esconde de perigoso, para o país, como um todo, é o que a maioria não está se atentando.

By Tânia Rêgo/Agência Brasil [CC BY 3.0 br (http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/deed.en)], via Wikimedia Commons
(ES) – Homens do Exército Brasileiro, atuando em Vitória, sob efeito de GLO (Garantia de Lei e Ordem) – (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Olhe a imagem, acima: O que você vê?
A tensão que salta dos homens fardados? A aparente tentativa das moradoras da região de demonstrar que não temem uma eventual repressão de um Estado tentando recuperar o controle sobre parte de seu próprio território? O sentimento de hostilidade que uma viela impõe, em uma região de clara construção desordenada (e, não difícil supor, ilegal)? A suposta ameaça dos homens, em posição mais elevada de terreno, talvez, em desafio à Ordem que os fardados deveriam trazer?

Bem, tudo isso está na imagem. E você estaria certo(a), se verificasse isso tudo.

Eu, por outro lado, não consegui tirar o olho da composição da fotógrafa que, intencional ou não, foi extremamente oportuna à fotografia como registro jornalístico e histórico, no melhor estilo “uma imagem vale mais que mil palavras”: A placa, afixada no poste, onde lê-se “Rua sem saída“.

Sem Saída…

“Sem saída”, é o exato resumo do sentimento que acredito que muitos capixabas sentiram, ao lidar com a volta da barbárie, anterior ao conceito básico de Sociedade Democrática, em uma “pequena” (porque, poderia ter sido bem pior) amostra do que é a falência total das funções primordiais de um Estado de Direito.

Quando Jean Jacques Rousseau escreve “Do contrato social”, ele não deixa espaço para dúvida quanto a função central de um Estado: Garantir direitos e impor deveres através do monopólio da Força (ou “violência”).

Tal monopólio é obrigatório porque, no Direito Natural em que todo ser vivo nasce, a Força é o instrumento central da manutenção do Direito: Eu posso o que você não pode, porque sou mais forte do que você. E você, em relação ao seu vizinho mais fraco, pela mesma razão.

Oras, sendo o Direito Natural tão mais benéfico aos que detém o maior poder natural (ou seja, o maior músculo, a maior arma, o maior poder de fogo), por que diabos eles teriam abdicado disto, em troca do Direito construído pelo Contrato Social? Bem, não há como resumir a resposta de Rousseau, já que ele escreveu um livro todo só para isto. Para não obrigar a leitura (muito embora, eu recomende, fortemente), vou tentar resumir este porquê, com uma síntese da própria obra de Rousseau, e outra sentença do, também francês, pensador, Etienne de La Boétie, respectivamente:

  • A Força não produz Direito. Por ser um elemento da física, nenhuma moralidade pode advir da Força. Logo, os direitos provenientes do uso da Força duram tão somente o tempo em que esse elemento físico puder ser sustentado, e tal tempo é sempre finito. O “verdadeiro” Direito descende de ideais. E ideais perduram indeterminadamente, enquanto forem benéficos à uma sociedade, em um dado período histórico.
  • Frágil por natureza, de onde, a todo instante despontam os escândalos pois, o tirano não tem amigos, não ama, nem é amado: “O que torna um amigo seguro do outro é o conhecimento de sua integridade. Entre os maus, quando se juntam, há uma conspiração, não uma sociedade; Eles não se entre-apóiam mas, se entre-temem. São cúmplices”.

Considerando, especialmente, o  que Etienne propõe, é fácil perceber que, na tirania e violência, não há amizade mas entre-temor. Em uma releitura minha, para sair de 1552:

O Dono do morro não dura mais do que o tempo que conseguir ser mais assustador em violência e possibilidade, do que aqueles que o servem, e que desejam sua morte e seu trono, em simultâneo.

Considerando essas idéias, fica mais claro o porquê de homens fisicamente fortes concordarem em se equivaler com homens mais fracos. Bem, pelo menos, boa parte deles. A “beleza” do Contrato Social está em propor que, ao abrir mão do Direito Natural, baseado na força que cada individuo é capaz de gerar, todo mundo ganha um Direito Cívil, legítimo por descender de ideais partilhados e onipresentes, defendidos e aspirados pela massa daquela comunidade.
É, também, tal troca que permite ao mais forte dormir como um bebê, sem temer que o mais fraco o assassine enquanto ele tenta dormir. Não há cúmplices porque o poder é entendido, assegurado e compartilhado por todos, e não mais imposto do mais forte ao mais fraco. Como a força não gera direito, matar que  tem mais do que eu, não me garante nenhuma vantagem sobre a minha vitima, já que desgraçarei minha imagem, serei encarcerado (ou mesmo, morto), e não vou ter conseguido tudo o que desejei, do mesmo modo.

Tudo isso, para dizer que a função básica do Estado é o monopólio da violência, como fonte, garantia e até mesmo ameaça para que cada um cumpra seus deveres, respeite direitos alheios e assim, possa ter seus próprios direitos garantidos e preservados.
Mas, se outras fontes, paralelas ao Estado legitimo, podem gerar a mesma ou ainda mais violência do que o próprio Estado, então, todo o sistema de garantia de direitos e cumprimento de deveres, corre o risco de implodir.
Como o cidadão(ã) não tem mais a garantia da proteção de seus direitos, sua lealdade ao Estado e ao Contrato Social é seriamente ameaçada, e ele passa a flertar com o retorno ao Direito Natural, já que este parece, ao menos, mais garantido do que aguardar por um Estado omisso que não virá resgatar a Lei e a Ordem de outrora.

146 mortos não são nada: O verdadeiro pavor está na disposição de cada um…

146 mortos em 10 dias? Isso não é nada. Nada. Estamos falando do país que, em 2014, matou 143 pessoas, diariamente, de forma violenta. 143/dia… 146 em 10 dias, capixabas? Isso não é nada para nosso record. E todos sabem como nós somos competitivos. Vamos lá, Espírito Santo! Vocês não estão nem tentando…

Mas, o verdadeiro pavor vem das cenas de saques, espancamentos, assalto de pessoas completamente vulneráveis, depredação da coisa pública, ataque aos meios de transporte: O horror do que se passa na sociedade capixaba está na disposição de grande parte de sua população em abraçar o caos social, como meio legitimo de ser e estar.

Para um país cujo o povo se gaba de ser pacífico e não estar em guerra, as cenas gravadas em Vitória dão conta de uma cidade na iminência da falência moral (não religiosa: mas, de olhar o próximo como alguém que poderia ser você e, daí, respeitá-lo, pelo simples exercício da empatia).
O silêncio era absoluto nas ruas, e o estado de depredação dos patrimônios era muito grande nas vias mais tradicionais do comércio capixaba, lembrando um local, pouco antes da tormenta, ou da invasão de tropas inimigas.
Igualmente tragicômico, para mim, foi o video veiculado na mídia, de um carro tocando “Imagine” de John Lennon, e projetando a palavra “Sem medo” em paredes, enquanto as pessoas gritavam “hurru”, por trás de grades e completamente apavoradas para pisar fora de suas casas (ou seria, “de seus cárceres”?). NADA contra a esperança. Mas, para o bem ou para o mal, palavras de ordem não corrigem a falência estrutural de medidas e políticas de segurança pública, e a erosão dos tecidos sociais do nosso povo. É, simbolicamente e na minha opinião, como tentar vender a imagem de um povo resistente e “raçudo”, por cima dos 146 corpos mortos, empilhados.

O maior pavor está na disposição malévola de cada cidadão. Claramente, muitos dos saqueadores não eram, até então, gente envolvida com roubos e furtos. O efeito mais nocivo dos eventos de Vitória para o imaginário do brasileiro (e, em algum grau desconhecido – por ora – no imaginário estrangeiro) é perceber que na falta de agentes fardados que façam o policiamento ostensivo (portanto, que é exibido com fins de manter o “fantasma” da punição no “radar” de cada um), qualquer cidadão brasileiro, mesmo aqueles sem passagem por crimes, se convertem logo à marginalidade, e implantam a imagem de um Estado em ruínas. Em pouco tempo, as ruas da capital do Espírito Santo, pareciam tiradas de cenas de filmes apocalípticos.
A central diferença é que, para meu completo pesar, a única praga devastando o local, não era uma horda de zumbis, ou uma raça alienígena, mas sim, o próprio povo que lá morava.
Um pequeno desequilíbrio no sentimento e na contabilidade/percepção do risco de sofrer uma sanção, e o brasileiro, mais uma vez, mostra o pior que pode ser.

E, se essa onda de paralisação afetou o Espírito Santo, por que não afetaria outros estados?

A Ameaça Fantasma…

By Tânia Rêgo/Agência Brasil [CC BY 3.0 br (http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/deed.en)], via Wikimedia Commons
Vitória (ES) – Clima de tensão durante protesto de moradores em frente ao Comando Geral da Polícia Militar do Espírito Santo em Maruípe. Militares do Exército fazem a segurança da região (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Eu já falei, por aqui, sobre o que penso quanto ao laço entre Segurança Pública e Nacional, e citei algumas razões que acredito explicarem o que há de errado com esse pilar da democracia, em nosso país. Não vou repetir aquilo tudo.

Mas, o que muito conterrâneo meu ainda não percebeu é que a situação das PMs, no Brasil, é um gigantesco barril de pólvora. E estamos brincando de acender e apagar o paviu, faz um tempo.
E o Espírito Santo foi, apenas, uma degustação do que pode vir por aí, se o governo federal não for capaz de cobrar dos estados o que a Constituição de 1988 os obriga (por exigência de seus antecessores [governadores] aos constituintes, diga-se de passagem):

  • Capítulo III – Da Segurança Pública
    • Art 144: (…)exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
      • §6 “As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”.
  • Resumindo: Segurança pública é dever regulatório e executivo da autarquia ESTADUAL, e não da União.
    • CURIOSAMENTE, como está ocorrendo no Rio de Janeiro, os estados, falidos, tentam empurrar a conta de sua incompetência para a União. E quem paga a conta do deslocamento  e manutenção das tropas, para estados onde a má gestão arruinou as finanças? O país inteiro.
    • Muitas pessoas dizem “onde está o governo federal que não intervém!?”, mas, por ignorância, ou por pura falta de noção de que políticas e manutenção de direito custam dinheiro, supõe que, como um pai, a União deve ficar acudindo estados que faliram por ingerência, tampando as consequências nefastas do populismo como ideal de gestão econômica, o tempo todo, em todas as ocorrências.

Muito mais por sorte do que por competência, a situação da paralisação policial ainda não se alastrou pelos estados falidos dessa nação, mas, o governo do Espirito Santo será decisivo na “jurisprudência” que deve ser utilizada para analisar outras eventuais paralisações de funcionários públicos tão críticos quanto militares estaduais, e que tipo de resposta, futuros movimentos similares devem obter se pressionar o governo de uma forma “indefensável”, dada a imensa gravidade da situação.

Mais do que isso, o tecido social brasileiro está fortemente desfiado. Temos um momento de muitas tensões políticas, uma total crise de representatividade com os políticos eleitos e sua distância das metas e das demandas de quem os pois lá, mais uma série de indicações duvidosas em cargos públicos, e tomadas de decisão ruins.

Os Policiais estão errados. Mas, a Sociedade também está…

Não há porque perder tempo, relativizando:  O artigo 142 da CF/88, §3, inciso IV, fala exatamente da proibição do direito de Greve ao Militar. Ponto. O crime, além de Constitucional, também é Militar, legislação muito mais “dura” em sua condução e aplicação, do que o Direito Penal “Comum”. Na verdade, e sem tornar eterno este artigo, afirmo que a militarização é uma das últimas amarras que faz a Polícia ostensiva brasileira trabalhar, mesmo sendo tão odiada e abandonada. Com certeza, um contra-senso para muitos que pedem a desmilitarização, mas, exigem que a tropa volte ao trabalho, imediatamente.

Além disso, a lei federal 7.783, que regula o direito à greve, é explicita ao dizer em seu artigo 11, que:

“(…)os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.

Em resumo, nenhum policial, militar ou civil, tem direito à greve como meio de reivindicação por melhores condições de trabalho, à luz da legislação brasileira vigente.

Não obstante à essa obviedade, ano após ano, assistimos à greves de Policiais Civis e Federais, além das “operações padrão”, que nada são além de uma “greve branca”, onde o servidor público bate ponto, mas não faz nada. No entanto, a parada dessas polícias, não causa efeitos tão visíveis quanto a paralisação da Polícia Militar.

Nunca vimos, em um passado um pouco mais distante, a paralisação de policiais militares. Pense em 10 ou 20 anos atrás, e notará que essa força, responsável pelo policiamento ostensivo, nunca parou de trabalhar, independentemente das condições oferecidas. O primeiro protesto grevista, pós-democratização, nesse tipo de organização, ocorreu somente em 2014, na PM da Bahia.

Temos uma Polícia Militar odiada pela população que ela deve proteger, abandonada à própria sorte quanto à investimento em materiais de trabalho (coletes balísticos vencidos ou fora das especificações, viaturas “baixadas”, esperando peças e sem nenhuma blindagem [muitos policiais morrem, no Brasil, só por entrar de viatura na “rua errada”] e armas que disparam com o simples chacoalhar do corpo, com dedo fora do gatilho), sem treinamento adequado e sem remuneração que justifique melhores recrutas.

Re-significando um artigo do Blog “Para entender Direito“, “se pagar bem a Polícia não garante sua qualidade, pagar mal é uma receita certa para o desastre”.

Para ficar no básico, um policial em São Paulo, treina tiro a cada 12 meses, se der sorte. Vários especialistas em Segurança Pública, no entanto, recomendam um treinamento trimestral, que, muito além de mirar em alvos de papel, e ficar cheirando a pólvora, deveria cobrir:

  1. Correção de falhas com ambas as mãos;
  2. Simulações de falhas de funcionamento de diversos tipos;
  3. Recarga tática e de emergência com qualquer mão;
  4. Manipulação de travas e mecanismos com as 2 mãos;
  5. Baixa luz e julgamento (tomada de decisão) de tiro;
  6. Disparo enquanto deslocando-se para o abrigo;
  7. Disparo com uma mão;
  8. Disparo e correção de falhas de várias posições de “policial abatido”;
  9. Enfrentamento de múltiplos alvos.

A primeira idéia que deve ocorrer em muitos que lerão isso é que “não devemos treinar o policial para ser mais letal, ensinando-lhe a ser melhor com armas de fogo”. E é por esse tipo de afirmação que acredito que engenheiros não devem fazer operações cardiológicas, e mecânicos não devem lecionar botânica.

Se cada um ficar no seu quadrado de competência, a sociedade vai bem mais longe. Supor que um policial é mais letal  por conhecer melhor o equipamento (e o framework que envolve o emprego desse equipamento) que protege sua vida, é o mesmo que supor que um piloto de fórmula 1 é mais perigoso que o jovem recém habilitado, nas estradas.

 Então, temos uma tropa que é mal recrutada (porque tem um salário que espanta qualquer candidato de nível melhor), mal treinada, odiada, tida como inimiga de boa parte da população, e alguém se espanta quando eles decidem parar? Para mim, o espanto é ter dado certo por tanto tempo, a despeito de tudo o que se constata em erro.

O rompimento entre Sociedade e Polícia é pra lá de cretino porque, nós, sociedade, deveríamos nos lembrar que abrimos mão do Direito Natural, por alguma razão (porque os tiranos são sempre mortos por sua “linha sucessória”). A Polícia é a realização da idéia de “Monopólio da Força/Violência” que faz o Estado ser respeitado, as leis, cumpridas, e os Direitos, individuais e coletivos, garantidos.

Se a Polícia é má, corrupta, ineficiente, é bom lembrarmos que ela não recruta estrangeiros (só brasileiros e, no máximo, nacionalizados), somos nós, sociedade, que  desprezamos seu trabalho, sua formação e importância, e nós que não ligamos se ela é sucateada e arruinada por iniciativas da gestão pública, década após década.

Em uma sociedade, como a nossa, que crê ter uma miríade de direitos, mas pouquissímos deveres, não é difícil entender como chegamos ao ponto em que estamos. Achamos merecer muito, sem fazer absolutamente nada, e vemos deveres de todos outros para conosco, enquanto só temos o dever de reclamar do que não temos. Mergulhados nesse egocentrismo, não conseguimos perceber o óbvio: O que explodiu em Vitória, foi só o que ocorre todos os dias, à meia-luz, e em becos escuros.

Mas, análogo a pedir um prato em um restaurante baiano, não importa quanto tempo demore, a conta sempre chega.
E se a piada lhe pareceu ofensiva, para mim, mais ofensivo é ouvir de alguém que se considera inteligente, que estaríamos melhor sem a Polícia.
Somente um louco que ignora a essência humana, em especial, a essência do nosso povo, pode propagar as bobagens de uma sociedade auto-regulada, como algo viável.
Na ausência de um Estado Uno, monopolizador da Força, o Contrato Social é rasgado; o tecido social é destroçado, e o país inteiro se torna um pesadelo ampliado, aos moldes exatos do que vimos ocorrer com o infeliz povo capixaba.
O extrato que forma nossa nação, sem o medo da repressão estatal, não é 1% melhor do que vimos em Vitória.

Do Povo, Pelo Povo, Para o Povo: A Violência é o melhor que temos à oferecer, uns aos outros?
O Espírito Santo parece dizer “Sim”.

Doria, o piche, e o estranho “Instituto do Direito Colateral” brasileiro…

Existe essa idéia, muito louca e onipresente, entre meus compatriotas de que a ausência de alguns direitos, leva a outros “direitos colaterais” sem nenhuma ligação ou equivalência. País algum pode ser bom, com um pensamento assim…

Antes de qualquer discussão, peço que assistam ao vídeo, abaixo:

Bem, metade da nossa discussão gira em torno desse vídeo e outra metade, sobre parte da argumentação contra as medidas (e, em especial, o combate à pichação) do novo prefeito da cidade de São Paulo.

Doria completou o primeiro mês de sua gestão no último sábado, dia 4 de fevereiro.

Em apenas um mês, já conseguiu alguns avanços significativos para seu plano de governo, e polêmicas dignas de alguém com muito mais tempo no cargo.

Ao meu ver, bem ou mal, Doria parece estar cumprindo parte do que foi sua promessa de campanha, e em pouco tempo.
E aqui, faço a primeira advertência para quem insiste em brincar de futebol na política: Você não pode cobrar algo que ele não prometeu como candidato, e isso vale para os demais candidatos. É óbvio que surgem novas prioridades, e é óbvio que as demandas mudam ao longo de 4 anos de gestão.

Mas, até aqui, ele parece estar com uma boa memória do que foi sua campanha, e quem votou nele deve estar satisfeito de vê-lo cumprido um bom punhado das metas que propagandeou na corrida pela prefeitura de SP, já “na largada”.

Outra coisa cômica do “Corinthians vs. Palmeiras” que é a política por aqui, especialmente na maior cidade do Brasil, é que enquanto Doria é chamado, pejorativamente, de playboy, “armário da Ralph Lauren” e etc, Fernando Haddad nunca foi criticado por sua classe social, sua riqueza, e o fato de ser professor em importantes universidades e viver em um bairro de alto padrão da cidade.
Claro: Como isto é uma briga de torcidas, não é difícil ver o tipo de elogio feito a Doria, não surgir para as boas ações (e foram mais do que uma só) da gestão anterior. É pitoresco. Mas é, também, triste. Delata o tamanho da vergonha que deveríamos ter quanto ao nosso nível de evolução cultural e consciência política.

Bem, esse não é o centro da minha argumentação de hoje. O centro é:

Por que alguém teria o direito de pichar propriedade alheia?

Vi uma porção de movimentos historicamente mais ligados a discursos socialistas e outras vertentes do pensamento da Esquerda política, criticando fortemente a ação de limpeza do corredor Norte-Sul que, entre outras vias, inclui a Avenida 23 de Maio; historicamente também, um local repleto de grafites, além de pichações.

Uma das matérias mais reveladoras sobre o assunto foi veiculada na Globo News, no programa “Entre Aspas” com o arquiteto e urbanista, Martin Corullon e, também, o atual secretário da Cultura da gestão Doria, André Sturm.

Um dos pontos-chave da argumentação de Martin é que “a pichação não pode ser combatida com tinta, mas, as raízes e os porquês do pichador têm de ser entendidos, primeiro. Eles não têm acesso a lazer, à cultura” e, bem… Como de costume, “o grito dos excluídos” surgiu, de novo. “Grito dos Excluídos” é o nome real de um movimento que tem importância e representatividade, mas também é como eu, sarcasticamente, chamo esse tipo de argumentação que justifica toda e qualquer ação a partir da inexistência de um fato ou premissa que o argumentador julgava necessária ou indispensável para que o autor da ação questionada, não a fizesse.

Para o azar de Martin, dá pra ver que o pichador do “Profissão Repórter” não tem nenhuma pichação na casa dele… Afinal, “em casa é o descanso, o lar, a tranquilidade… Só na mente e no coração”… HAHAHA… Difícil não rir alto… Especialmente, depois de ver a argumentação de Martin de que “o pichador está gritando suas verdades, e angustias, de tudo que ele foi privado pela sociedade”, e etc. e etc…

O nome técnico do “grito” seria “Instituto do Direito Colateral”…

Em Direito, durante a faculdade, os alunos se deparam, aqui e ali, com “Institutos”. O Instituto do Habeas Corpus; o Instituto da Prescrição; o Instituto da Presunção de Inocência (que, em termos técnicos é sempre explicado erroneamente. Não existe “Presunção de Inocência”, mas sim, o “Princípio da Presunção de Não-culpabilidade” [parece a mesma coisa, eu sei, mas acredite: Nos meandros da execução penal, não é!]).

Enfim, um “Instituto”, no Direito, é um conjunto de idéias e mecanismos legais e para além da norma (como os costumes, as aplicações e os casos práticos) que formam um conceito sólido do Direito como ele o é, e fundamentam tanto peças de defesa, como “dão munição” às denúncias do Ministério Público, e daí por diante.

Pois bem: Eu ainda não posso fazê-lo, e espero que ninguém roube minha idéia até lá, mas, meu mestrado em Direito será sobre “o Instituto do Direito Colateral Brasileiro“.

Talvez você até consiga achar o termo “direito colateral” por aí, mas o Instituto… Ah, esse é de meu próprio cunho. Inédito. E será meu caminho para o Stricto Sensu.

Tal instituto é arraigado e está na cabeça de quase todo brasileiro (o que torna minha tese ainda melhor e mais forte, já que “o costume gera lei”) da seguinte forma:

  • Na ausência de um dado direito, ainda que ele seja só uma expectativa de direito, outros direitos e garantias surgem.
  • Como nada explica melhor do que exemplos:
    • “Como meus pais não se preocuparam com meu ensino, e o Estado não tinha escolas excelentes, é meu direito roubar o carro que nunca terei trabalhando”.
    • “Como minha mulher me chifrou, após ter me jurado fidelidade na frente de um Juiz de Paz, ou do Padre/Pastor, é meu direito meter a mão na cara dela”.
    • “Lá perto de casa não há parques. Logo, tenho o direito de pichar nos bairros chiques da cidade”.

Como deve ter sido suficiente, vou parar por aqui.

O “Instituto do Direito Colateral” surge sempre que você, individuo, cidadão ou não, entende que a ausência, supressão, falha, ou qualquer outro problema com um dado direito seu, lhe concede outros tipos de direito que, na verdade, você não tem.

No estudo do Direito, uma das máximas é “Dois erros nunca farão um acerto”.

Como toda lei e regra que se preze, é preciso ter algum tipo de exceção para lidar com a realidade, e essa idéia de “dois erros” também tem exceções. Nós as conhecemos como “Excludentes de Ilicitude”.
Talvez existam outros exemplos de exceção, mas, as Excludentes são um capítulo interessante e demonstram como o Direito lida com a excepcionalidade da vida.

A definição teórica de “Crime” é de que há necessidade de conduta humana positiva (ação) ou negativa (omissão) e, ainda, que essa conduta seja típica, ou seja, que a mesma esteja descrita em lei como infração penal/crime. Também, o fato precisa ser anti-jurídico, ou seja, contrário ao Direito, sem condição que exclua sua injuridicidade. A tudo isso, damos o nome de divisão tripartida (culpabilidade, tipicidade, antijuricidade) que transforma “Fato” em “Crime”.

E é no critéiro central, a Antijuridicidade, que as Excludentes atuam. Elas são reguladas pelo artigo 23 do CP (Código Penal) e são 4, ao todo:  O estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito. (grifos e negritos para facilitar a identificação/separação).
Através dessas 4 situações, o Direito permite que um fato tipificado na lei como transgressão/infração/crime, seja considerado Juridicamente perfeito, e portanto, “não-criminoso”.

Não vou detalhar um por um, já que isso de nada acrescenta ao assunto central, mas vejamos o que essas Excludentes demandam, e como um individuo se enquadra (ou não), nelas.

O estado de necessidade é uma condição onde há iminente ou atual perigo a um direito, perigo este, não provocado pelo agente, e para proteger tal direito, outro direito será preterido/desrespeitado. É o estado de necessidade que torna o furto famélico um “não crime”. O furto famélico é aquele em que o individuo, para proteger a vida (sua ou de outrem), ameaçada pela inanição corrente ou iminente, furta alimentos para manutenção de sua vida ou da vida de alguém por quem ele é responsável.

  • De cara, algumas coisas devem ser ditas: O estado de necessidade não pode ser forçado pelo agente que, mais tarde, o alegará como excludente de ilicitude. Se você queimar todo  seu dinheiro em apostas, e der todos os seus alimentos para doação, você causou a inanição que, agora, tenta combater.
  • Também, o Estado de necessidade é estrito em dizer que os direitos não podem ser equivalentes. Por este motivo, não existe “roubo famélico”. Se você tinha dinheiro para ter uma arma (ou o fato de ter um bem [a arma]) por que não a trocou por dinheiro para cessar sua fome? Da mesma forma, se sua vida está em risco, você não pode ameaçar a minha para manter a sua (nesse caso, inclusive, eu passo a ter a próxima excludente ao meu favor). Toda vida tem o mesmo valor.

Sobre a legitima defesa, nem preciso explicar muito, exceto por 2 ou 3 pontos que as pessoas costumam ignorar ou ter a explicação errada:

  • O primeiro ponto é que a legitima defesa pode ser minha ou de outrem: Ao ver um vizinho ou vizinha, ou mesmo um transeunte na via pública sendo agredido por um terceiro, eu posso, com o uso progressivo e moderado da força, proteger os direitos dessas pessoas. A legitima defesa não me limita a proteger somente a mim, e o entendimento contraditório é um equivoco comum.
  • O segundo ponto é que, não cabe legitima defesa somente pela minha vida. Posso, sem problemas, defender qualquer direito meu, ou de outrem, que está sendo ameaçado. Como, por exemplo, um carro que está sendo furtado. Ou, um muro sendo pichado… Cabe acrescentar que a Doutrina costuma tender à legitimação da legitima defesa de terceiros somente para bens indisponíveis (vida, liberdade, etc.), mas eu posso defender bens disponíveis, com o consentimento do ofendido, ainda que seja consentimento presumível, e sustentar esse consentimento como de interesse do ofendido (exceto se o ofendido negar tal consentimento).
  • O terceiro ponto é que, de modo geral, o uso moderado e progressivo da força é esperado como ponto central para a validação da autoridade quanto à essa excludente. Logo, eu não devo atirar com uma bazooka contra um ladrão de galinhas, mas eu não preciso efetuar um disparo para cima, e outro no ladrão, e torcer para ele parar a agressão com um único tiro.
    Se preciso for, posso acabar com as 17 munições no carregador da minha pistola, caso a agressão não cesse com “apenas” 16.

O estrito cumprimento do dever legal é o que o nome já sugere: Um agente, que tem o DEVER (e não apenas o direito), de fazer ou não fazer algo, pode em função desse dever, cometer ato típico, que deixa de ser antijurídico, por conta de tal excludente.

  • Também cabe a observação do uso progressivo da força, e das medidas estritamente necessárias para a manutenção do cumprimento do dever, sob pena de responder por abusos e excessos.

Por fim, o exercício regular do direito, talvez seja o mais estranho/incomum das excludentes para explicar (embora ocorra O TEMPO TODO), mas, basicamente, é a lei garantindo que, se você está simplesmente exercitando um DIREITO seu, dentro de todos os limites e obrigações que a lei demanda, mesmo que gerando fato tipificado, você estará livre de sofrer sanção cível, penal, e etc.

  • Imagine que seu vizinho, indevidamente, constrói muro em seu terreno, devidamente demarcado junto ao órgão regulador, com documentação em dia, impostos recolhidos e etc.
    • SEM CAUSAR DANO FÍSICO (esqueça o uso de explosivos, portanto) a ninguém, é vosso direito destruir o muro que está dentro da propriedade que lhe pertence, e embora destruição de patrimônio (o muro, o cimento) alheio, seja ato típico, não é crime aqui, pois, a lei lhe garante o uso de vosso terreno regulamentado e pago, da forma como lhe convir, dentro dos limites legais, obviamente.
  • Outro exemplo, muito prático, é o do pai que põe seu filho de castigo, para educar-lhe por algum excesso que o menor comete. Não fosse um direito garantido ao pai (e alguns dirão que é dever, embora isso esteja meio perdido em nossa sociedade), ele poderia ser preso por carcere privado, ao fechar o filho no banheiro. Aqui, fica evidenciado que a razoabilidade também é avaliada: Um castigo de uma hora é algo razoável. Um castigo de 30 dias trancado é, sem dúvidas, um abuso de direito e será punível, afastando qualquer chance de alegação de tal excludente.

“Ok, Rodrigo. Entendi. E o que isso tudo tem a ver com a pichação?”

“A parede externa de uma propriedade, pública ou privada, é meu quadro em branco, e eu faço nela o que eu quiser, com ou sem consentimento de seus proprietários”…

Então, esse é o mote do movimento “pró-pichação”? E é por isso que Doria está errado?

E o mote se justifica porque… Porque… Por que?

Olhando para as Excludentes de Ilicitude, não vejo UM único enquadramento que diga que a depredação e vandalismo de patrimônio alheio seja justificada em caso de o agente ter algum de seus direitos negados.

Não há uma justificativa sequer, valida, que torne a conduta tipificada anteriormente no artigo 163 do Código Penal e, mais tarde, alçada ao status de crime ambiental (artigo 65 da Lei 9.605/98), em algo “razoável, artístico, aceitável”, ou qualquer outro valor positivo.

O grafite, por outro lado, envolve algum grau de competência técnica e artística e, se autorizado, acaba sendo parte integral da paisagem urbana de grandes centros, como é o caso de São Paulo. Como foi dito no programa “Entre Aspas”, alguns grafites também foram cobertos, seja porque o painel estava deteriorado, pichado, ou descaracterizado, seja porque não tinha autorização para ter sido feito. A escolha da cor cinza (que também foi alvo de críticas (por pessoas que não se deram ao trabalho de pesquisar) também tem motivos técnicos, como explica o secretário.

Este é um país com uma sociedade MUITO atrasada para assuntos de convivência e socialização. Se algo não é legal, e se há previsão na lei que criminaliza a conduta, e se nada justifica sua prática, então, por que diabos alguém que faz a lei ser cumprida, é considerado “reprovável”, mas não o criminoso?
Se ele é um adversário para alguém, até o momento, é um adversário de criminosos. Alguma dúvida? Favor, compartilhar para que debatamos.

Peço, encarecidamente, que me elucidem como o prefeito se torna “pobre-fóbico”, “separatista”, ou seja lá qual adjetivo utilizaram por fazer a lei ser cumprida – ao menos, neste caso.

Doria é um marketeiro de natureza e de formação. Veio da TV, e tem uma empresa de grande porte. Alguns até arriscaram compará-lo com o temerário Donald Trump, o que me parece, em qualquer escala, uma grande bobagem.

Mas, até aqui, só estou vendo ele fazer a lei ser cumprida, e se preocupar com estado decadente de ruas e avenidas importantes da nossa cidade.

Quem tenta justificar que “a opressão, exclusão” ou qualquer outro “grito dos excluídos” é a justificativa para o “direito” à pichação, precisa, em primeiro lugar, ver o vídeo onde o pichador explica que “na casa dele, não” e, depois, tem que pensar que ainda que exista um pichador oprimido e excluído, em algum lugar da cidade, e que picha a própria casa, quarto e etc.; ainda assim, ele não tem nenhum elemento jurídico que o permita cometer esse crime ambiental, sem enfrentar as consequências de cometer ato típico, antijurídico, e de ação positiva (dolosa) por parte do autor: Um criminoso.

Querem criticar Doria? Tenho certeza que, cedo ou tarde, motivos reais e fundados surgirão, porque essa é a sina do Brasil: Ter políticos que nos envergonham.

Mas, até aqui, só crítica a ação de Doria pela restauração dos muros quem deseja que alguns vivam na sujeira visual, com muros públicos e privados com “letras” irreconhecíveis e despidas de QUALQUER aspecto artístico, enquanto os autores “ficam com a mente e o coração” limpos, em casa.

Pura e inequívoca hipocrisia.

O que aprendemos em 2016?

2017 vai ser um ano novo em folha. Como prometemos para 2016, em 2015…

Nada. Pode ir curtir seu réveillon.

 

 

 

 

 

 

 

Ainda por aqui? Não tem nada melhor pra fazer, não? Vá preparar o salpicão, fazer o manjar que prometeu pra sua mãe,  botar a cidra pra gelar, etc…

Vai insistir? Você é um bom (ou boa) amigo(a) por continuar aqui. Só posso retribuir, tendo uma conversa franca contigo.

Via de regra,  antes de sair escrevendo por aqui, eu leio um pouco,  acho algumas fontes e, quando possível,  tento achar mais de um ponto de vista,  numa tentativa de calibrar as minhas opiniões.

Hoje, contudo,  não vai ter nada disso. Hoje, a conversa é franca e, também,  é de pura opinião.  Não estou esmiuçando números e pesquisas,  nem lendo opiniões de pessoas mais competentes e experientes que eu.

E, assim sendo,  este é um texto “100% opinião”.

Aviso dado,  sigamos.

Para mim, 2017 vai ser uma cópia de 2016, como 2016 foi de 2015:

  • A economia vai continuar naufragada, porque o caixa continua a sangrar com super-salários, acordos espúrios entre Estados e União, corrupção,  e ilegalidades no pagamento de benefícios;
  • A política vai continuar no olho do furacão, e as delações que vem por aí devem ser devastadoras,  especialmente pela dimensão que devem atingir;
  • A  nossa sociedade vai seguir desorganizada e conflagrada consigo mesma, gritando contra os ventos do Norte e do Sul, sem nenhuma idéia clara de onde quer chegar, apenas descontente com o que tem, hoje;
  • Não teremos grandeza de espírito para tomar as decisões necessárias – especialmente,  quando quase nunca o “necessário” é “agradável”;
  • E o mais importante disso tudo: Contamos com a raposa para a reforma do galinheiro.

Tratando por tópicos, vemos que a máxima da Economia segue sendo a maior verdade:

A economia está à deriva. E poderá ir à pique.

A primeira lição da Economia é a escassez: Nunca há tanto de qualquer coisa que pensemos,  a ponto de atender toda a demanda dos que a desejam.

A primeira lição da Política é ignorar a primeira lição de Economia.

E, ato contínuo,  lembro de Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara, dizendo aos colegas legisladores que, embora o Ministério da Fazenda diga A ou B, todos devem votar livremente.

É o equivalente a você, formado em Contabilidade, pedir conselhos para um Cardiologista que lhe confirma os efeitos nocivos da alimentação muito gordurosa e do fumo, e você dizer, em seguida,  “o que sabem os médicos?”.  É, mais ou menos,  a crença atual da Câmara.

Não entenda mal: Você é totalmente livre para procurar outras opiniões, mas, se você, por si só, não entende do assunto, não há o menor sentido em fazer do seu jeito. A menos que você queira que dê errado. Aí, tudo bem.

Também,  não vamos tão longe: É o mesmíssimo Congresso,  com as mesmíssimas Excelências que, no último agosto, gritavam “pela minha mãe,  pelo meu pai, pela Xuxa e pelo Jaspion”.

Como esperar muito mais desse conjunto de massas cizentas tão… Peculiares?

O cofre seguirá sangrando.  E sangra porque a conta nunca fecha. Não importa se você é da Esquerda ou da Direita.  “5 – 6” sempre sera “1 negativo”. Mas nossos políticos discordam. Obviamente,  não fatoramos o custo político na última equação.

House of cards é mato. Prefiro Brasilia.

Logo, vem a Lava-Jato. E a Odebrecht. E 77 delatores do alto escalão,  que conheciam todas as figuras de poder em Brasilia. E eles tem MUITA história para contar.

Dilma não caiu porque ficou comprovado que roubou ou permitiu que roubassem. Crime exige materialidade. E nem se deram ao trabalho.

Dilma perdeu a presidência num processo – que sempre foi e sempre será – político,  chamado impeachment.

E esse processo se instalou porque, basicamente,  ela perdeu a maioria no Congresso Nacional,  e depois, perdeu a base aliada,  que se fragmentou. Nem a vendinha de ministérios que – vergonhosamente – tentou,  rendeu o apoio necessário.

E Temer? Temer tem muito o que temer (trocadalho do carilho) em 2017, porque os últimos pleitos legislativos de 2016, foram bem menos sólidos em demonstrar a coesão e apoio ao seu governo,  do que foram, logo após sua posse.

Pode, sim,  ser mera coincidência,  mas, em Brasília,  pouca coisa é “sem querer”.

Temer e seus intermediadores têm o seguinte inferno pela frente: Apoiar integralmente a Lava-Jato, ganhando o apoio do eleitor, ou estancar o estrago da operação com medidas “tapetão”, e manter uma base aliada que aprova tudo o que o Executivo planeja. As duas afirmações são,  apenas, remotamente compatíveis. As reais chances são de que ou uma,  ou outra.

E se Dilma, com grande apoio de parte da população, caiu,  o que dizer da etiqueta de validade do “vice Decorativo” que ninguém – ou quase ninguém – morre de amores?

A vida política de 2017 promete ser muito,  muito,  turbulenta.

Protesto, logo existo…

O otimista diz “esse é o melhor dos mundos”,  e o pessimista diz “temo que você esteja certo”.

Eu não lembro da autoria dessa frase (e não tenho como pesquisar porque estou em uma chácara, com sinal oscilante, redigindo isso de um celular), mas ela expressa bem a minha expectativa com relação ao povo brasileiro que vai às ruas, seja para apoiar ou derrubar medidas, leis, políticos e etc.

Ok! Eu consigo reconhecer que, bem ou mal, avanços foram alcançados. O povo está brigando mais pelo que acredita – e não há cabimento de que eu tente julgar a legitimidade de cada causa, suas bandeiras, e etc., aqui,  em um post feito pelo celular. Não estou,  de certo,  aqui para isso.

O ponto que quero, na verdade,  abordar é que de nada adianta sermos um país de adolescentes irritados e briguentos. Não há nenhum avanço por uma avenida ser depredada. Também,  não há avanço quando um pato ou o Pixuleco são inflados, e as pessoas vestem a camisa da seleção brasileira de futebol.

O meu pesar,  aqui,  nada tem de contrário ao protesto,  per si.

Meu avesso à tudo isso começa quando, tudo isso é só isso.

As pessoas do meu país,  via de regra, não sabem exatamente pelo que estão brigando,  ou contra o que estão brigando. Só sabem que “aquilo não presta”.

Vai lá,  pausa a leitura aqui,  e pega qualquer reportagem de um protesto, contra ou a favor de qualquer coisa, onde os manifestantes sejam entrevistados. É um show de horror. Geralmente,  o rapaz com a placa “Não à PEC xyz” não consegue, de modo algum,  explicar claramente o que a PEC propõe,  e como ela prejudica a Nação.

Perguntar sobre como deveria ser a solução do problema é um despautério da sua parte, então, nem ouse.

E esse é o mega-problema do grau de consciência dos manifestantes. Odeiam mútua e gratuitamente, ao outro lado, sem, contanto, ter nenhum conhecimento para explicar o que o lado que atacam quer. Vamos reescrever isso daqui: Não sabem, muitas vezes nem o que eles mesmo querem, seja inflando balões, ou quebrando lixeiras e prédios.

Estão ali, como para qualquer outro evento festivo. Não requere-se nenhuma prévia consciência para ali estar.

Agora,  se você é parte de um desses lados, e se ofendeu porque,  diferentemente dos outros 100 entrevistados, saberia explicar o que combate,  eu te peço desculpas e te faço a próxima pergunta,  à qual quase ninguém presta muita atenção: Como é que se arruma o que está quebrado? 

Desculpe-me, mesmo, por jogar areia na sua fogueira,  mas, diferentemente de muita coisa na vida, quando o assunto é um problema nacional,  não dá pra simplesmente dizer “Minha parte eu fiz: Apontei o problema.  Agora,  alguém que conserte.”.

Não, meu amigo e minha amiga: Endireitar um país com tanto histórico de desvio de causa e propósito, requererá um pouco mais de dedicação nossa.

Entendo se você se revoltar com todas suas obrigações diárias,  mais o peso de resolver o que as raposas não vão (logo falo delas), mas é assim que funciona uma sociedade: Se a culpa não é sua, infelizmente,  o problema é. 

Não adianta gritar “ninguém vai roubar nossa previdência”,  ou, “Chega de impostos”, se você não consegue propor como fechar a conta do INSS, ou como pagar pela máquina pública com o tamanho e o portfólio que tem, sem mais dinheiro.

E, devo acrescentar: É frustrante. 

Você deve oferecer umas 2 ou 3 boas idéias, e chances são de que ninguém goste delas, porque a realidade é que ao interferir na vida pública do país,  você está mexendo na vida e no interesse de cada um. E como somos uma sociedade muito amadora, no que diz respeito à solidificação,  o que ocorre é que, quase sempre,  o meu interesse vem na frente do conceito de “bem maior”.

Resumindo,  meu caro amigo(a) que quebra vidraça ou enche balões, se você quer ser encarado com maior seriedade,  sugiro que:

  1. Saiba exatamente contra o que você se opõe,  e porquê aquilo é ruim para a Nação (não vale ser ruim só pra você.  Nesse caso você é um sindicalista antes de ser um cidadão.  Péssimo para o país);
  2. Identificado o que você é contra,  é hora de estudar como outros povos enfrentaram o problema (talvez,  você descubra que foi do jeito que você é contra, e que não há remédio menos amargo), e então,  depois de estudar,  proponha sua solução. Propor soluções esdrúxulas, sem nenhum lastro na realidade,  torna você tão útil aos problemas nacionais,  quanto os titulares do Congresso nacional,  assinando papéis que arrasam o país, com planos insanos e sem fundamentação.
  3. Por fim: Você terá que trabalhar na venda da sua idéia para o maior número de pessoas no seu movimento anti-qualquer coisa. E terá que lidar com gente dizendo que seu plano é pior do que o problema original. Faz parte da democracia.
  4. Aprendendo o que precisa sobre problema e solução que você enfrenta e propõe,  você pode, então,  e só então, fazer o barulho que desejar, até ser ouvido.

Pular essas etapas e fazer exatamente como foi feito até aqui, faz de você um cidadão “adolescente, irritado e irritante”.  Você quer ser ouvido mas,  se e quando te derem o “microfone” para falar, você estará totalmente despreparado. E será mais um motivo para desacreditarmos do futuro desse lugar.

A sociedade brasileira vai ter que, em algum momento,  lidar com sua infantilidade.

Vai ter horas em que as soluções para nossos problemas,  envolverão dores e implosões. Vamos precisar de muitos remédios amargos e de muitos explosivos para consertar o que foi, sistematicamente quebrado, ou construído para dar errado.

E quando eu vejo um sindicalista gritando que não aceita isso ou aquilo,  quando,  do outro lado, a única opção é a demissão dos funcionários,  diante da recusa em ceder, eu fico pensando quem são os conservadores de verdade? Quem está,  de fato,  lutando pelo status quo?

Por outro lado, é óbvio que não apóio novos impostos, para, ato consecutivo,  um dos poderes aumentar teto de gastos de gabinetes, e salários maiores. Não é preciso ser uma ovelha.  Mas rosnar pra tudo que envolve seus direitos não te faz um visionário.

É preciso refletir e pensar como todos devem agir,  para corrigirmos problemas tão estruturais e tão crônicos. Repito: Não há remédio doce para o que estamos vivendo. E isso me leva à última parte do problema:

As raposas e a reforma do galinheiro…

Estamos deixando para as raposas, o trabalho de selar o galinheiro. Queremos um caixa-forte contra ladrões e safados, e, atualmente, depositamos neles, a fé para a solução desses problemas.

Se você está, nesse momento, gritando coisas como “Bolsonaro 2018”, precisa ler de novo a parte em que sugiro estudar antes de falar. Ele está na função de legislador há mais de 20 anos, ou duas décadas,  e sugiro que você  veja o que ele fez de projeto de lei para corrigir os problemas estruturais da política nacional…

Bem, se eu vejo um problema, eu tenho que apontar uma solução, certo? Foi o que cobrei de quem se manifesta.

Certo, então, aqui vai minha sugestão:

Uma nova constituinte, com indivíduos de todas as áreas sociais do país, engenheiros, sociólogos, cientistas políticos, advogados e etc.

Pessoas notáveis em suas áreas (eu sei: essa palavra foi arruinada, da última vez que foi usada),  e essas pessoas fazem um pacto onde estão todas inelegíveis à qualquer cargo público,  pelo resto da vida, assim como todos os seus parentes de primeiro grau.

É pesado, e eu sei: Estão renunciando à parte da lei atual que diz “votar e ser votado”, e pela vida toda, e de seus filhos, e companheiros e etc.

Mas,  pelo menos, eles estão fazendo um gesto enorme de altruísmo e compromisso com as futuras gerações de brasileiros. Já tenho mais fé no output, só pela renúncia ao poder, que tanto seduz e corrompe.

Compromissados, unicamente, com um projeto de Estado e Nação, e não com um projeto partidário, vão reescrever a constituição e reformar todo o sistema político brasileiro. 

Não é o mesmo que colocar um punhado de 3 ou 4 leis, com 5 artigos cada, e achar que um sistema construído para dar errado,  vai funcionar.

O ser humano sempre irá falhar. É nossa essência.

Sistemas ativos de monitoria da vida do indivíduo que se candidata ao cargo público,  são a saída factível para mim.

Só por exemplo,  eu proporia que todo candidato eleito tem, durante seu mandato,  o sigilo financeiro sempre aberto, e é fiscalizado por uma divisão do Ministério Público,  independente e soberana. Seus parentes de primeiro grau recebem o mesmo tratamento.

Antes de mais nada,  é preciso lembrar que não é um favor ser político. Deveria ser uma honra. E sendo questão eletiva, candidata-se (e se submete) quem quer. Ninguém é obrigado a expor seu sigilo. Basta não querer mexer com a coisa (e o dinheiro) pública.

Delírio,  utopia,  ineditismo…  Tem um pouco de tudo isso. Mas, o que faz da idéia, “maluca”,  também é o que pode garantir seu sucesso.

Mas, claro: Enquanto eu mandar propostas anti-raposa, para que as raposas votem, coisas como a mutilação que assistimos às medidas anti-corrupção, serão a regra do jogo. Quem no poder está,  não quer que nada mude.

E é por isso que o jogo, por mais que cheio de reviravoltas, está fadado ao mesmo desfecho: Veremos Sarneys filhos, ACMs netos,  e toda a realeza se re-elegendo,  até a nossa morte, importando muito pouco,  o que aconteça, exemplarmente,  com um ou outro cacique.

A morte política de um presidente da Câmara, só ocorre para que nós acreditemos que a máquina funciona como está,  e que todos os infratores serão pegos. Mas, fica óbvio que isso está longe de ser a verdade.

Só mais um detalhe: Sou totalmente contrário à plebiscitos e referendos para essa reforma, em especial.

Num país onde a maioria não lê um livro por ano, e as opiniões são as mais pobres e mal formuladas que se pode imaginar, colocar este povo “comum” para reestruturar o país é, ao meu ver, o maior golpe de mestre de todos: Cria-se a ilusão de que o processo renovador não poderia ser mais legitimo,  já que todos participaram, e na verdade,  por ignorância,  desinformação,  preconceito e burrice,  o sistema é recriado com o mesmo número ou ainda mais falhas do que o atual.

Eu não ensino o engenheiro em Aeronáutica,  como calcular o coeficiente aerodinâmico de um perfil. Não quero um analfabeto me ensinando a ler, nem pessoas despreparadas ditando como montar o esqueleto do país.

Preconceito,  elitização, segregação… Chame como quiser. Como eu disse, é preciso lidar com a divergência,  em democracias.

Eu não vim aqui vender minha solução, mas, apenas, mostrar um mini pedaço do quebra-cabeça que pensei para responder à miríade de problemas que meu país tem, só na vida política.

E pra mostrar que, se eu criticar algo, é melhor que eu tenha alguma idéia de como resolvê-lo,  mesmo que não seja a melhor idéia do mundo. Até porque, para cada um, normalmente , a melhor idéia é sempre a própria.

E 2017 chega em algumas horas…

E assim, chego ao último dia do ano. Sei que esse texto causa mais desesperança do que alento,  mas pra mim, o ano novo é nada mais do que a confirmação de que tenho menos tempo por aqui. As alegrias de ser cético e realista…

Nada, realmente,  muda porque o ano no calendário, agora termina com um algarismo diferente do dia anterior.

É uma ilusão tremenda,  achar que 2017 terá qualquer poder renovador,  se jogarmos o jogo com o mesmo baralho de cartas marcadas e as mesmas regras. Este jogo está fadado a ter sempre o mesmo resultado.

E daí,  a minha falta de fé de que 2017 vai ser o “ano da renovação”. Nem me atrevo ao uso de chavões tão populistas e tão rasos.

Mas, ao mesmo tempo, resta torcer para que nós (Não o governo,  não o Estado, não nada que nos livre da responsabilidade) mudemos a forma com que interagimos com a vida pública do país.

Sinto que a hora já passou e já retornou um milhão de vezes,  quanto ao momento em que o brasileiro para de ter dó tremendo de si, para de perguntar o que Estado,  as autoridades, o governo e etc. podem fazer por ele, e começa a dizer o que ele pode fazer pelo lugar, e pela sociedade em que ele vive.

Só quando essa fase acabar, e sairmos da infância social,  para uma sociedade que se responsabiliza e se cobra mais, é que, realmente,  poderemos encher o peito de esperança de que há, à frente,  de verdade,  um novo ano.

Antes disso,  sinceramente: Como brasileiro e cidadão, só estou mais velho,  mais feio e mais morto. Que vantagem isso tem?

Feliz ano novo (só pela tradição: Não tem nada de “novo” para este espaço, realmente).

Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.

– Einstein

“Brasileiro é muito baba-ovo! Dá audiência até para eleição nos EUA!”: Diz o insensato…

Porquê você deveria estar muito preocupado, (e horrorizado com a chance enorme de Trump na Casa Branca) com a eleição presidencial estado-unidense…

Foto "3x4" de Hillary e Trump, lado a lado.
Donald Trump e Hillary Clinton: Os presidenciáveis à Casa Branca mais famosa do mundo.

A foto é intencionalmente maldosa: Não posso enganar você. Vejo Trump e vejo tragédia. Bush filho parece até inofensivo perto do que Trump prenuncia no meu horizonte de previsibilidades e expectativas para a política internacional dos próximos 4 anos, no mínimo.

São 2h14 da madrugada em Brasília, onde estou enquanto escrevo. Parece um tanto quanto cabalístico e levemente conveniente que eu esteja na Washington D.C. brasileira (ok, foi só uma piada. Não tenha um ataque ufanista contra mim, logo agora) enquanto isso tudo me ocorre.

Enquanto escrevo, vejo este mapa de apuração da corrida Presidencial Americana:

http://www.nytimes.com/
Mapa em tempo real, fornecido pelo New York Times, em seu site: http://www.nytimes.com/

O mapa preocupa e muito. O The New York Times, como qualquer outro veículo de comunicação, não é livre de opinião ou de viés. E mesmo sendo claramente a favor dos Democratas, o mapa que eles montam é terrível em sua cor vermelha (aqui, representante de Trump). Especialmente em estados como Winsconsin ou Michigan, onde os Democratas contavam com o apoio, o “rodo” foi enorme.

Um resumo para entender como funciona – o que, honestamente, eu também não entendo plenamente – a eleição americana é que cada estado tem um peso de votos… A soma de todos os votos disponíveis em cada estado é de 538. Ou seja, o primeiro candidato a obter 270 votos ganha, por ter metade, mais um, dos votos. Esse número, 538, não é igualitariamente disponível. O Texas, por exemplo, rende 38 votos, enquanto a Flórida rende 29. Utah, no entanto, só rende 6 votos para quem conseguir 50% +1 dos votos daquele estado. A mesma mecânica para os demais. tem estado que dá todos os votos para quem tem a maioria; alguns poucos racham o número de votos do estado proporcionalmente ao resultado das urnas… São 50 legislações eleitorais, e não uma unificada. Considero o caos.

Agora, porquê a eleição dos EUA importa para o brasileiro?

Bem (e em uma linha), porque seu país – o Brasil – quebrou, e depende muito de um mercado internacional estável, com um cambio – igualmente – estável, para voltar a crescer e controlar a inflação…

O problema nem é, de fato, as famigeradas commodities (matéria-prima). Se analisarmos o PIB brasileiro, as commodities respondem por menos de 10% do valor atingindo.

É claro que é ridículo que o país venda lingote de ferro para comprar, 3 vezes mais caro, uma chapa de aço usinada de forma não-usual (aço-carbono de alta qualidade, etc.). Claro que é ridícula a nossa incapacidade de ter uma cadeia de beneficiamento que venda o produto final, agregando valor real, para manter as cifras realmente relevantes aqui. Mas, não é isso, especialmente agora, que importa nessa avaliação do porquê se preocupar.

O que realmente importa é que o Brasil ainda não saiu da recessão. Ter um cenário econômico com acordos bilaterais (o que Dilma nunca fez, enquanto tínhamos Obama à frente da White house) e um câmbio entre o Real e o Dólar estável é a base para sair da recessão atual. É o jeito de recuperar empregos aqui e estabilizar o crescimento econômico na vida de todos nós.

Trump e a preocupante incógnita: O que é o personagem, e o que é a loucura…

Trump dá medo. Esse é o meu resumo do que representa a visão de um homem que vai assumir a maior potência financeira e bélica do mundo, e que, se é um personagem, é daqueles terríveis vilões de novela, pelos quais você não faz menos do que torcer pela hora da morte dele. Se é um personagem, é um de mal gosto. Ensina, ratifica e consolida que “vale tudo” para ganhar.

Esqueça dos muros entre Texas e México. Esqueça até do ódio às mulheres (misoginia que Hillary sentiu na pele, algumas vezes) e outras populações vulneráveis, como Gays e Negros. Vulneráveis sim, mas não necessariamente, minorias, já que em números, e só a título de exemplo, podem ser a maior parte da população (no caso de mulheres (51.6%) vs. homens (48.4%), em se falando de Brasil, e quase idêntica porcentagem para os EUA).

Trump prometeu agradar uma população que, analisada a grosso modo, parece ser de maioria retrógrada em suas declarações, convivência e tolerância; ultra-conservadora, sem grau de educação formal e – em boa medida – desempregada. Um vídeo com os apoiadores de Trump mostra o grau de insanidade dos seus mais fervorosos eleitores. Gente que acha que Obama é um terrorista de origem mulçumana, até hoje –  e só pra citar um caso.
Mas, não há burrice maior de nossa parte do que simplificar e diminuir o eleitorado dele. O preço dessa inferiorização artificial, estamos vendo agora com Hillary virtualmente derrotada, e todos os especialistas boquiabertos, sem saber como explicar o que houve.

E Trump prometeu uma nacionalização improvável mas, perigosa. Prometeu um protecionismo econômico na maior potência econômica do mundo, que move as fábricas da China, que compra materiais do Brasil, que importa mão-de-obra e viabiliza progressos científicos.
Tudo isso pode vir a ruir nas mãos de um bilionário controverso em sua maneira de fazer dinheiro, com possíveis rombos em seu patrimônio por má gestão, e com acusações de fraudes às leis tributárias.
Um homem do Real State, num mundo onde o verdadeiro valor está nas ideias e na informação, e não mais no ativo e no patrimônio fungível… Terá Trump as qualidades para lidar com a economia da super-potência, em um mundo que, teoricamente, ele não entende?

E esse homem passa a ter uma super-potência bélica em suas mãos, diante de um cenário internacional extremamente delicado no Leste Europeu, de Ucrânia e Rússia. De um Oriente Médio caótico, com Síria e ISIS, e de uma histórica e crônica Coréia do Norte apoiada pelo monstro chinês, mesmo diante de suas sandices.
E é esse homem, das declarações mais irracionais e de uma instabilidade emocional GRITANTE (em caps lock, gritando, como ele gosta de se pronunciar) que vai mandar no país com mais armas de destruição em massa e força bélica do mundo.

O que nós – e todo o resto do mundo – não entendemos sobre os Estados Unidos de Eleições Presidências em 2016?

Bom, se serve de consolo (enquanto Trump vai garantindo, mesmo, o acesso a 4 anos de poder sem igual, pela atualização do mapa que vou vendo aqui), não é realmente que só nós não entendemos.

A realidade grosseira e assustadora é que ninguém “com cérebro” entendeu.

Sem preconceitos! Não estou insinuando que só gente burra vota ou entende Trump. Já disse que essa declaração, sim, é a verdadeira burrice.

Mas, vendo os colunistas do Washington Post e do próprio The New York Times, a incredulidade e a incompreensão dessa “virada de mesa” – que agora, fica claro, nunca existiu de fato: Trump sempre esteve à frente – entre a boca de urna, e a performance acachapante do candidato dos Republicanos é geral e espanta até mesmo os intelectuais da ala conservadora. Nem eles esperavam ganhar tantas posições no Congresso, no Senado e, menos ainda, a Presidência, depois de tudo que Trump disse e fez ao longo da corrida presidencial.

A verdade é que não se sabe o que (ou como) a Sociologia e a Ciência Política vão poder explicar do eleitorado de Trump. Dizer que são todos rednecks, caipiras, burros, brancos racistas e ignorantes é o mesmíssimo e cretino posicionamento que o mundo tomou ao avaliar Hitler e sua Alemanha Nazista, de apoio cego às suas ideologias e planos. E, de maneira menos radical, é o mesmo pensamento que sustentam os que condenam a ascensão de religiosos na política brasileira, ou chamam de ladrões e petralhas todos os que acreditam nos valores do Partido dos Trabalhadores (e não necessariamente nas pessoas daquele partido). Em resumo: É grosseiro e pouco respeitável rebaixar o pensamento de uma quantidade tão grande de pessoas. O que eu quero ressaltar aqui é que o erro é nosso (de quem não apoiava a ideologia “Trump”), por não entendermos o porquê desse resultado.

Parece-me claro, agora, que existe algo profundamente errado no prisma como as capitais (que reúnem o dinheiro, o conhecimento, a formação e a geração de informação e opinião) estão enxergando o resto do mundo. Isso vale para o susto dos londrinos com o BrExit da Inglaterra. Vale para nosso susto com Crivella no Rio, e com o conservadorismo de ressurgimento potente no Brasil.
Vale para o eleitorado dos EUA que vai fazendo história – pelo que estamos projetando (e talvez, de forma igualmente errada), terrível – e que “cala a boca” de todos os críticos e intelectuais das áreas que se propõem a estudar a Política e as sociedades; neste caso, especialmente a estado-unidense.
O erro de avaliação é grosseiro e ninguém entendeu a realidade. Explicaram e nós mesmos explicamos, por meses, tudo errado. Acreditamos em tudo que não se realizou.

E Trump (tudo indica) ganhou.

Quando você (ou qualquer um) simplifica as coisas e diz que Trump ganhou porque todo mundo que votou nele é burro e preconceituoso, você diminui a importância dessa ocorrência, e isso te coloca em uma posição de “baixa guarda”. Desse mesmo lugar (grupo de pessoas) que você preferiu ridicularizar e simplificar, coisas muito piores podem vir, enquanto você diminui a importância disto.

Mas, afinal, o Conservadorismo é algo ruim?

Resposta direta: Não.

Mas o ultra-conservadorismo é.

O Conservador não é um monstro. Esqueça a bobagem que seu amigo fanboy de Esquerda diz.

Conservador é o cara que, tendo filhos e mulher em casa, espera que seu emprego se conserve.
É o sujeito que, diante dos planos de vida, espera que o dinheiro que suou para ganhar por décadas continue a valer o mesmo daqui outras tantas décadas.

Pasme – claro, se você se definir como “Esquerda” (seja lá o que isso significa pra você) – mas, quando o Sindicato dos Trabalhadores “quebra tudo” para evitar que haja qualquer flexibilização (boa ou má) de alguma lei trabalhista (suponhamos:  de desligamento simplificado de funcionários), ele está sendo muito conservador, às vezes, ao custo da geração de mais empregos no país, o que deveria interessar aos desempregados que o Sindicato diz se preocupar e representar.

Não há nada de errado em ser conservador, contanto que a racionalidade não se esvaia, e você não fique tão apegado à sua ideia de “real” que perverta o prisma de como vê as coisas ruins que precisam mudar, pelo bem de toda a sociedade.

O risco de Trump nem é tanto pelo Conservadorismo, porque, sinceramente, se você perguntar à instituições genuinamente conservadoras, propagadoras do pensamento Conservador; Trump quase não tem identidade político-filosófica com os pilares do Conservadorismo tradicional.

Trump é muito mais um risco porque cria a ideia de que a culpa dos problemas de uma grande parte da nação estado-unidense está no outro.
Sendo “o outro”, geralmente, o estrangeiro, a mulher, o negro, o gay, o país estrangeiro que produz o bem de consumo que se vende por lá, e enfim… “O inferno são os outros” é o lema central pelo qual Trump enxerga (ou diz enxergar) o mundo.
E isso pode justificar barbaridades em todos os níveis, para um Comandante-em-chefe que se sentirá invencível e, como eu disse: Talvez, nos cause saudades da época em que os EUA “só queriam matar uns barbudos no Oriente” e “lançar uns mísseis” aqui e acolá.

Pelo bem do Brasil (e do mundo), desejo que ocorra o menos pior na eleição dos EUA e nos fatos que dela se desdobrarão. Se Trump vencer, a torcida até seu primeiro dia de trabalho é para que ele seja apenas “um fanfarrão” que não mediu esforços para vencer, mas, não vai realizar as maluquices que propôs.
Se estivermos errados e Trump for 30% do que diz ser, o mundo vai amargar muito porque, goste você ou não, muita coisa, incluindo o preço do trigo que faz o pão que você acaba de comer (na hora em que esse artigo for publicado), depende das políticas e acordos que passarão pelas mãos desse homem e daquela nação.

Torcer pelo “melhor” já é, tecnicamente, impossível. Resta torcer para que seja o menos pior para todo o mundo. Afinal, moramos todos dentro de um mesmo planeta, e dele não vamos prescindir tão cedo. E os EUA têm um forte efeito na balança do destino deste lugar.

Tweet "da Alemanha" aos EUA, avisando dos perigos de Trump.
O Tweet que fervilhou no último dia da corrida presidencial dos EUA parece não ter surtido efeito algum. O texto faz referência aos gritos com que Trump faz seus discursos, e suas declarações de ódio a vários grupos vulneráveis. E termina dizendo que a Alemanha já esteve nessa posição e fez essa escolha, em clara alusão à ascensão de Hitler.

A difícil – e Bienal – “escolha de Sofia” dos Brasileiros

Sábado, 18h, e você não está muito certo sobre qual candidato merece seu voto. Ou está certo de quem não merece.  Ou vai fazer a triste escolha do “voto menos pior”.

Amanhã, nesta mesma hora,  o destino político dos 5.570 municípios brasileiros estará selado há 60 minutos.

Como ocorre a cada dois anos (ora em nível municipal, ora estadual e nacional),  o brasileiro tenta decidir – mesmo que se negue a participar – por quais rumos e prumos o Brasil avança (ou em relação às soluções, ou às crises).

O ponto nevrálgico do (bom) processo eleitoral é que todos devem votar (ou não), conscientes de que fizeram a melhor escolha. No nosso país, no entanto,  quase ninguém tem esse grau de compromisso com o poder do próprio voto,  e acaba fazendo o famigerado “voto de protesto” (que,  convenhamos,  não tem essa consciência protestante em 99% dos casos) em candidatos despreparados, sem nenhuma formação (não apenas a formal) que os ajude a criar e melhorar as políticas públicas e a legislação das quais tanto reclamamos.

Para todas as pessoas que começam a se interessar por política,  aqui vai a primeira dica: A reforma política não pode ser feita por analfabetos em sentido lato (sejam eles só desprovidos na política,  ou até mesmo na capacidade de ler e entender um texto.).

Quando alguém falar pra você que o Brasil precisa de uma reforma política,  lembre-se da deplorável cena dos votos “pelo meu país,  pela família,  por Deus, pelos Power Rangers, pelo Sport Club Recife”,  etc.. Este é o seu Congresso. Ou melhor, o nosso.  E são eles que vão escrever as regras, limites e obrigações de um novo paradigma político? Deus me livre,  obrigado!

Com esse nível de elementos que elegemos, eu prefiro que reforma alguma ocorra. “Reformar”, em língua política quer dizer “oportunidade para mexer em tudo que diminui o meu poder”.
Não é minha pauta para hoje, falar sobre a real validade do voto. Disse Emma Goldman que:

“Se votar mudasse algo, eles tornariam isso ilegal.”

Eu não quero enveredar pela questão – extremamente válida,  acrescento – sobre se a urna é segura, e se o processo eleitoral tem qualquer legitimidade e lisura em sua condução por aqui.

Independentemente da resposta para a proposição anterior,  nossa obrigação, como cidadãos, é a de tomar a melhor decisão possível diante da informação que temos.

O que desejo, hoje,  é simplesmente falar sobre o que você precisa saber antes de ir a urna, amanhã.

Se escolher um político por afinidade à legenda, não é grande idéia (já que a carta da legenda nem sempre rege o plano de governo do candidato [fidilidade partidária se aplica somente aos Deputados]), escolher pela “cara de bom moço” ou “porque você não suporta o atual” é uma péssima jogada para o valor da sua cidadania.

Precisamos de algumas ferramentas básicas, a fim de fazer uma decisão informada.

O segredo está em não ter preguiça e assumir a responsabilidade que o poder de escolha nos imputa.

1 – Afinal,  o que o candidato a vereador pode fazer?

REGRA DE OURO: Se o candidato não sabe o que ele pode fazer pela população que quer representar, ele não serve para o cargo que quer ocupar.

É a tal história: Imagine que você tem uma empresa de médio porte. 100 funcionários e crescendo. Você ralou muito,  foram incontáveis madrugadas e fins de semana trabalhando para que o seu sonho empreendedor desse qualquer tipo de fruto. Por várias vezes, você achou que ia falir, que o cliente ia calotear, que o funcionário ia te prejudicar.

Enfim, se hoje essa empresa dá lucro,  só você e seu Deus sabem o quanto foi sofrido chegar até aqui.

E agora, chegou a hora de contratar seus primeiros diretores e alguns conselheiros.

A minha pergunta é simples: Para cuidar de sua empresa, do seu sonho realizado, do resultado de todas aquelas noites e aflições transcendidas, qual é o perfil do profissional que você exige, no mínimo?

Vou facilitar: O analfabeto (em sentido amplo) serve para tomar conta do seu setor financeiro? E para cuidar do seu RH?

Para ganhar não menos do que 15 mil reais mensais na sua empresa, quais são as qualificações mínimas que você exigiria?

Tem as respostas? Elas são exigentes?

Pensou algo como “15 mil? Estou contratando o melhor executivo do mundo?” ou foi algo como “para trabalhar na minha empresa, um diretor precisa, além de um currículo brilhante com MBA, especializações e línguas secundárias, uma carreira de sucesso(…)”?

Agora,  se você pensou “Nah! Ninguém é perfeito… Na minha empresa dos sonhos, qualquer um com um bom slogan e uma cara apresentável, merece um cargo de diretor! Se ele não souber  nada sobre o cargo, sem problemas! Eu dou tempo pra ele aprender. E se não aprender, mas continuar com um bom slogan, oras, qual o problema?! Mantenho ele no cargo assim mesmo”.

Pronto. Você tratou a empresa pela qual sangrou e lutou, da mesma forma que 90% dos brasileiros tratam a política nacional. Pelo menos, e diferentemente dos outros 90%, você é coerente com o seu dinheiro e o dinheiro público (de todos). 

De algum modo bizarro, as pessoas estão se lixando para quem vai ganhar 15 mil reais como vereador em São Paulo. Não ligam se ele tem 17 assistentes que custam mais de 140 mil anuais. E se ele(a) tem outros 22 mil reais por ano para gastar com gráficas e materiais de escritório, dane-se. O Estado é quem paga. Com certeza não somos nós que mantemos isso tudo. Com certeza.

Agora, se você imagina o quão bom alguém tem que ser pra ter todo esse dinheiro disponível e trabalhar na sua empresa, então, por que é tão fácil avacalhar com a eleição – amanhã,  municipal – e cooperar para eleger nada menos que 55 vereadores que custam tudo aquilo que eu citei, cada um?

Bem. Um diretor de finanças tem que saber fazer contas e entender algo sobre impostos e lei trabalhista. O diretor de marketing tem de saber como vender um produto em um mercado, e como não vendê-lo em outro.

O que seu candidato a vereador tem que saber?

O que faz um vereador?

Segundo o portal Brasil.gov.br:

Sabe aquele candidato à vereador que prometeu:

  • A ROTA na rua;
  • Benefício fiscal, ou bolsa auxílio (ou qualquer promessa que gere custo ao município);
  • Remoção de radar de vias públicas;
  • Estação de metrô no seu bairro ou rua;
  • Fim do racionamento de água;
  • Acesso gratuito à Internet para sua casa ou região.

Bem… Odeio ser esse estraga-prazeres mas, preciso lhe dizer: a relação candidato-eleitor dele com você já começou com 100% de mentiras. Não precisa ser um gênio para saber que ela não tem como terminar bem.

Mas, diz o ditado que “só tem malandro porque tem otário”. 

Se preferir um ditado importado, os estado-unidenses dizem “fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me.”

Você pode até ser enganado uma vez pelo mau caráter de alguém. Mas, se você é enganado todas as vezes, o problema é você. Sorry.

Sabendo o que o vereador pode – e principalmente, o que não pode – fazer por sua cidade, seu bairro, e por você, suas chances de analisar com profundidade o ridículo discurso de 10 segundos para cada candidato na TV, já sobe um pouco.

Lamentavelmente, os partidos cobtrolam como bem entendem o tempo que têm na TV.
Em outras palavras, significa que os vereadores não têm tempo algum de dizer o que pretendem, se eleitos. E isso é mau por vários motivos. Vou citar 2:

  • Quando um cidadão pretende ingressar na vida política, ele, normalmente,  começa pelos cargos municipais. O cargo de Vereador é como um cargo de Trainee. Um trainee muito caro, precisamos frisar. Oras, se este é um cargo que ajuda a política a introduzir “sangue novo” e não há o menor espaço para observamos a “categoria de base”  e o que ela tem a dizer, quais são as nossas chances de virar o jogo político do Brasil? Perto de zero? Você, meu caro leitor, é um otimista se pensa assim.
  • Você só conhece a ruindade de um candidato, se o acompanhar por um tempo. Ouvir o seu candidato a Vereador falar seria uma excelente maneira de decidir se ele merece seu voto. A prova? A votação pela admissibilidade do processo de impeachment da – agora – ex-presidente Dilma. Quero fazer uma reflexão sobre isso: Quantos de nós, ao menos lembram da existência de canais da TV Câmara, TV Senado, NBR (Executivo Federal), TV Justiça(…)??? Eu não serei hipócrita: Assisto a TV Justiça com prazer, algumas vezes, mas não aguento 2 ou 3 minutos na TV Câmara. Por que? Porque o nível é péssimo. O nível é aquilo que você viu ao longo da votação pela admissibilidade. Pior: Quando eles estão “despreparados” – quando esquecem que estão sendo transmitidos – o nível cai. E é o pior possível.

Rodrigo, legal: A idéia sobre a valorização do voto para Vereador é muito bacana. Mas já é tarde. O que fazer com a eleição ocorrendo amanhã, e nenhuma idéia de quem votar?

Bem, nesse caso, use seu tempo da melhor forma possível.

Vários portais exibem rankings de vereadores e permitem que você, ao menos tenha uma decisão um pouco mais informada. Um deles é o Voto Consciente (http://www.votoconsciente.org.br/avaliacao-dos-vereadores-de-sao-paulo/), aqui, com o ranking da cidade de São Paulo,  mas, com outros rankings para diferentes cidades.

O Voto Consciente é uma OSCIP (organização da sociedade civil de interesse público),  e não tem, enquanto entidade, relação partidária com ninguém.

Sobre a neutralidade da avaliação, a menos que ela seja completamente objetiva (ou seja, medindo números) é impossível falarmos sobre “neutralidade”. Organizações e movimentos são constituídos por pessoas, e pessoas sempre têm uma opinião, por mais bem intencionadas que elas sejam.

Também, não adianta pegar o primeiro vereador do ranking, e fazer toda a família votar nele.

Você precisa se lembrar do infame quociente eleitoral. 

Esse instrumento nefasto, criado por safados ainda mais nefastos que ele, faz com que uma corja de safados, amigos dos líderes do partido, sejam eleitos sem um único voto sequer.  A lista é submetida pela presidência do partido e você não tem nenhum poder de impedir que seu voto eleja uma porção de vagabundos e bandidos, só porque você decidiu votar no “top 1” do ranking, com todos os votos que você pôde influenciar.

Como eu expliquei. Votar nos candidatos do ranking não é a melhor idéia do mundo, para a renovação da política.

O ranking só avalia quem já é vereador. Logo, se todos nós votarmos somente nos rankeados, a renovação da porta de entrada da política será de 0 (na verdade,  um pouco mais que isso, mas você entendeu).

Ainda assim, agregar, de última hora, alguma qualidade no peso do seu voto, não pode nunca ser algo ruim. Bem melhor do que o tal voto de protesto que elege safados, mentirosos e incompetentes, para ganhar 15 mil mensais, por 4 anos. Somos, todos nós,  os piores donos de empresa (nesse caso,  paga por todos nós) que podemos conceber.

2 – E o Prefeito? 

Para Prefeito, a situação é um pouco melhor do que é para Vereador. Mas só um pouco,  também. 

Novamente, insisto que é preciso saber o que é da alçada do prefeito e o que dele, todos podem e devem esperar e cobrar:

Pronto. Agora você tem uma visão macro do que pode e não pode fazer por sua cidade, sua excelência, o Prefeito.

Ele também tem um salário alto (mais de 24 mil reais em São Paulo), mas no caso da minha cidade, se serve de consolo, o atual prefeito tem qualificações curriculares e acadêmicas que lhe garantiram soldo muito similar na iniciativa privada. Pelo menos, este consolo…

E, com base nisso, fica mais claro acompanhar o projeto de governo que o candidato defende.

Que projeto??? 

O Jornal Metro fez um comparativo,  resumindo o programa de governo (projeto)  dos principais candidatos em SP.
Fonte: http://www.metrojornal.com.br/wp-content/uploads/2016/08/plano-de-governo-sp-b.jpg

Preciso dizer: Se você escolheu seu candidato à prefeito pela cor do seu símbolo partidário, ou com base no que ele foi no passado, você está fazendo um péssimo negócio por “sua empresa” (vamos manter a metáfora, ok?).

É preciso ler qual é o plano que ele disponibilizou para os próximos 4 anos de seu provável governo.

Se ele não disponibilizou nenhum, não sei nem porquê você ainda cogita dar seu voto a ele.

O prefeito deve ser um estrategista: Ele tem recursos financeiros e prazo (4 anos) limitados. Em qualquer curso fundo-de-quintal, você vai aprender que qualquer projeto (de viajar para a praia no fim de semana, a colocar o primeiro ser humano em Marte), pode ser dividido em 3 dimensões :

  1. Prazo
  2. Custo
  3. Requisitos

Você também aprenderá que o bom gerente de projetos não pode, nunca, perder o controle sobre as 3 dimensões, ao mesmo tempo. Se o cliente quer definir quanto tempo o projeto vai durar,e quanto vai custar, o gerente tem que definir o que o projeto vai entregar.

  • Ora, se prazo e custo (esse é um pouco discutível,  mas, vamos simplificar) já estão definidos desde o primeiro segundo de um mandato de prefeito,  o que resta  ao prefeito é controlar os requisitos que serão entregues.

É aqui que entra a avaliação de plano de governo. Se ele está priorizando a praça na rua chique e o posto de saúde no bairro em que todos os moradores têm plano de saúde, esse candidato tem um péssimo senso de prioridades.

E aqui vai mais um dica de ouro: As palavras significam alguma coisa!!! (uau!)

Por exemplo: Prioridade significa:

“condição do que está em primeiro lugar em importância, urgência, necessidade, premência etc.”.

Incrível, não é? Quantos candidatos dizem, em questão de minutos, que educação, saúde e segurança, são suas prioridades?  Sabe o que eles estão realmente dizendo?  Que não vão fazer nada direito. Por que? Porque não há tempo, nem recurso para entregar todos esses requisitos.

Se o candidato fosse um bom gerente de projetos, ele não teria prometido o impossível. E se você praticasse o ato máximo da cidadania (o direito de votar e ser votado), com mais respeito por si e pelos outros, ele nunca teria sido eleito.

Olhando para os últimos números da pesquisa encomendada pela Rede Globo ao Datafolha, com margem de erro de 2%, demonstra-se que a maturidade do eleitorado na Capital econômica do país, continua igual:

O telejornal
Fonte: http://g1.globo.com/sao-paulo/eleicoes/2016/noticia/2016/10/datafolha-votos-validos-doria-tem-44-russomanno-e-haddad-16-e-marta-14.amp&ved=0ahUKEwiIr_6q8LrPAhWBD5AKHQ5hDP0QiJQBCBswAA&usg=AFQjCNGDiUXqaO_BoLBdAEDhyZ7Qe-eiyg&sig2=RONTCA3OCV5vOa23nmne2A

Os motivos pelos quais Doria está com ~38% de intenções de voto, me interessam.

Não tem nada a ver com uma análise de prioridades entre Doria e Haddad, ou Doria e qualquer outro candidato. É pura e simples revanche.

Eu digo, sem medo de ser feliz: Não concordo com uma única ideologia do Partido dos Trabalhadores. Uma. E não vou, aqui e agora, discutir o porquê.

Mas, sendo racional e sem paixões, preciso emitir opinião que as prefeituras de Marta (então PT) e Haddad foram superiores à todas as prefeituras que me lembro,  desde 1996, quando passo a ter memória para fatos políticos. Melhor do que Maluf, Pitta, Kassab, Serra etc.. Com tropeços, certamente,  mas muito mais benefícios do que os outros trouxeram à população que já supera a dezena de milhão, na cidade de São Paulo. Ora, e porquê não vão reeleger o candidato que fez mais que os demais?

Porque política não é, e jamais foi ou será, uma Ciência exata. Fazer tudo certo, não garante o mandato pra ninguém. Carisma, simpatia, apoio popular, e outros fatores imponderáveis garantem mais 4 anos aos piores brasileiros que já se teve notícia, como mais de uma dezena de coronéis, historicamente no norte e nordeste brasileiro (onde o Clientelismo e Coronelismo surgiram com força, mas, obviamente, não estão mais restritos por lá), que empesteiam o Congresso Nacional. Ladrões de merenda, fraudadores da Receita Federal e INSS continuam se re-elegendo nos mais diferentes cargos do poder público. São recebidos com comícios, apertos de mão e abraços daqueles que mais são prejudicados por seus crimes e esquemas. Vez ou outra, um solitário pensador na multidão se nega a fazer parte do circo, mas o que é o maior grão de areia, diante de toda a areia da praia?

Sei que não adianta: Vamos discutir esse tema até o dia da minha morte. E tenho a triste confiança de que, até lá, meu povo vai continuar votando muito mal, e reclamando por todos os dias depois de cada eleição, da qualidade, honestidade e competência dos eleitos.

É algo que parece mais forte do que qualquer afirmação de bom senso: A vontade de se livrar do fardo que é ter que pensar, analisar, e arcar com as consequências das decisões que cada um decide tomar. Ao que parece, essa última frase é insuportável para meus compatriotas.

Enquanto isso, pagamos 15 mil por mês para ilustres desconhecidos que recebem esse salário e, porque são completamente incompetentes e ninguém os vigia (me diga o nome do seu candidato à vereador em 2012 e me diga se ele foi eleito e se fez algo de bom), recebem 15 mil para dar nomes a ruas e parques. É tudo o que podem fazer, com a qualidade com que povoamos a Câmara municipal.

Sorte deles. Azar o nosso. Como eu disse, essa é uma escolha de Sofia, da qual todos nós nos arrependemos, do momento em que ela é selada, pelo resto dos 4 anos que nos separam de outra rodada de escolha. Quando cometemos os mesmos erros, de novo.

Nos vemos em 2 anos, com o mesmo discurso, os mesmos problemas e as mesmas necessidades de correção. Dessa vez, para Deputados (estaduais e federais), Governadores, Senadores e Presidente.

Porquê insisto, então ? Sei lá. Porque sou brasileiro e não desisto nunca? “Água mole em pedra dura…” quem sabe

(escrito no celular,  perdoem-me por eventuais erros de linguagem e incorreções.) Revisado.

A minha semana na Rio 2016 (Ou “Porque eu amo os Jogos Olímpicos”) – Parte 1

De 1992 para 2016, as Olimpíadas são o evento feito pelo homem, que mais mexe comigo. Aqui, eu conto o porquê.

Arena Olímpica na Rio 2016
A visão da Arena Olímpica do Rio, no Parque Olímpico da Rio 2016, em nossa despedida, na noite de Sábado, dia 13 de Agosto. Foto: Bruna Andako

Acabou. :-\

Bem, para mim, “o melhor” já tinha acabado no último dia 14, quando, com uma precoce – e, honestamente, inesperada – tristeza nostálgica, me despedi do Rio de Janeiro, deixando o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (o “Galeão”) e, me dirigindo de volta à terra da garoa.
Dizer “adeus” aos Jogos olímpicos sempre me deixa um pouco chateado…

Os quase 9 dias que passei no Rio de Janeiro, em plena Olimpíada, foram uma das experiências mais marcantes da minha vida, em parte pelo meu forte carinho pelo Judô, mas, também, pela minha ligação com os Jogos olímpicos e a valorização que eu faço quanto ao evento.

Para provar que não é conversa de quem “de repente” virou o “fã número 1”, compartilho alguns fatos que justificam esse carinho.

Em rápido esforço, tento me lembrar da situação mais antiga da qual consigo recordar, na minha vida inteira. E lembro de 3 coisas:

  1. Ganhar uma estrela amarela que falava/cantava e piscava, dos meus tios maternos, em 1990.
  2. A chegada do meu irmão, em casa, em 1991.
  3. O acendimento da Pira Olímpica, pelo arqueiro para-olímpico (me recuso a escrever “paralímpico”), Antonio Rebollo, em Barcelona, 1992; o que vi pela televisão.

Juro por tudo que pode ser jurado que essas são as 3 primeiras coisas mais marcantes que me lembro.

É óbvio que, em 1992, com 6 anos, eu não sabia nem que o arqueiro era para-olímpico e, muito menos, que se chamava Antonio. Muito menos sabia que era polêmica a história sobre se a flecha acendeu mesmo a Pira, e sobre toda a maluquice de terem 4 arqueiros (selecionados entre 200) de prontidão, e de que o nome do arqueiro saiu no último minuto, e de que ele foi instruído a errar o tiro, por segurança da platéia na abertura (mas, que acertou as pessoas do lado de fora do Estádio, sem nenhum cuidado maior). Nada disso, realmente, me ocorria na época.

Ao som do movimento mais conhecido de “Carmina Burana”, (que não é uma Opera, mas um conjunto de 254 poemas dos séculos XI~XIII, o que eu também não tinha a menor idéia, em 1992) chamado “O Fortuna”,(um dos 24 poemas musicalizados pelo alemão Carl Orff, sendo a peça clássica mais conhecida da Terra)  que narra a sujeição de todos nós à Roda da Fortuna, que inflige ora dor, ora alegria no destino dos homens; aquela era a coisa mais grandiosa que eu já tinha visto. Tal abertura dos Jogos de 1992, devia ser “o maior espetáculo da Terra”, eu pensava… Dos jogos em si, confesso que lembro muito pouco. Mas a abertura ficou gravada para sempre.
Lembro-me também de perguntar para meu pai qual era a “mecânica” dos jogos (não usei essas palavras, certamente), e lembro de receber uma resposta simples, mas, bem válida: Os melhores do mundo em cada esporte, são chamados e, então, competem entre si para saberem quem é o melhor. Simples, um tanto quanto impreciso, mas marcante: Já eram os melhores. Restava saber qual era O melhor.

Em 94, o Brasil de Bebeto, Romário, Dunga e companhia foi tetracampeão do futebol mundial, e isso, para um garoto de 8 anos, nascido no país do futebol, tirou um pouco do meu foco nas Olimpíadas. A prova disso é que, em Atlanta, 1996, eu praticamente não acompanhei os jogos. Aposto que os próprios adultos – baseado no que ouço dos mais velhos de hoje – da época menosprezavam as Olimpíadas, tendo em vista nossa histórica má performance nos jogos, e o alívio imediato de dizer “Podem ficar com seus jogos. Somos os reis intocáveis do Futebol”. Diante disso, a história de 1996 é, pra mim, um simulacro: Eu sei da história de 1996, da abertura, dos resultados e etc., não porque vivi e tive aquilo marcado em mim, mas, porque assisti depois de adulto aos filmes oficiais do evento e etc.

Em 1998, o Brasil faria o papelão diante da França de Zidane, e machucaria um pouco do meu prazer de amar só e somente o futebol. Hoje, não posso não ser grato a Zidane, por isto. Triste seria minha limitação, até como ser humano, se só tivesse alegria no futebol, e não tivesse aberto meus olhos ao universo dos esportes que vão MUITO além do esporte bretão. No embalo que eu vinha, e tendo em vista minha ignorância à Atlanta-96, cercado pelo discurso dos mais velhos que em nada se alterava: “Nosso negócio é futebol. Deixa esse negócio de Medalhinha para os gringos.”, ou “Copa do mundo é MUITO melhor que Olimpiada”, o destino era a ignorância esportiva e o raso conhecimento de quem só assiste “se valer ouro”.

Sidney 2000

A derrota para Zidane me fez voltar a assistir, com mais seriedade, à Sidney 2000. Lembro da abertura, e lembro de várias competições.
Lembro de ouvir falar de “um tal” Tiago Camilo (sim, em 2000) que ganhara a Prata, no Judo. Carlos Honorato trouxe outra. Nessa época, o Judo não significava nada pra mim, mas eu já sabia, de tanto ouvir os comentaristas, que este era o “carro-chefe” do Brasil, em todas as edições dos Jogos, até então. Eu não poderia imaginar que eu ia me emocionar de conhecer um deles, 16 anos depois.
Os velejadores Robert Scheidt (prata) e Torben Grael (bronze), eram os queridinhos da mídia nacional, e estavam sempre aparecendo.
Na natação, o “monstro” Gustavo Borges era nosso sonho de Ouro, mas tivemos que nos contentar com o Bronze. O Xuxa (Fernando Scherer) estava presente também, e angariou outro bronze. A natação, ao lado do Judo, sempre foi a modalidade onde mais depositávamos esperança de medalha. Nessa edição, trouxe uma.
Assistir os jogos e competições de madrugada, em canal aberto, era um grande desafio. Até porque, eu acordava cedo para ir à aula no outro dia. Pelo menos, o fuso-horário salvou os jogos de terem de competir com o Brasileirão, ou a Novela. Até porque, se competissem, iam ser sempre os últimos no “pódio” das prioridades da grade.

Quando alguém reclamar da performance do Brasil em 2016, lembre esse alguém que em 2000, só tivemos 12 medalhas (6/6), e nenhuma era de Ouro. Terminamos em 52º lugar no ranking de medalhas. Muito pior que nosso definitivo 13º lugar de agora, com 7/6/6 medalhas.

Tantas coisas ocorreram em 2000, em especial, em prol das mulheres, como mostrou o filme oficial de Sidney, recentemente reprisado na ESPN; como de costume, antes da abertura de novas edições dos Jogos. Eu não tinha consciência da importância de Sidney para muitas delas. Pesquise e você também poderá se surpreender.

Em 2002, o Brasil, novamente, ganha a Copa, e eu volto a oscilar entre o que vivi em 2000, torcendo por dezenas de atletas, em diferentes modalidades, e o reacendimento da chama que dizia : “Brasil, o país do futebol”.

Atenas 2004

Mas, com 18 anos e bem mais consciente, não me deixei levar e assisti, tanto quanto pude (já que não tinha TV a cabo), a Atenas-2004. Emocionante retorno dos Jogos ao seu berço, uma abertura fantástica e rica em cultura (afinal, era da Grécia que estávamos falando!) e mesmo com toda a dificuldade de depender da rede Globo para assistir, tive a “sorte” de não ingressar na Fatec-SP de primeira, o que me permitiu ter mais tempo para ficar em casa e ver os jogos mais de perto.

Em 2004, arrasamos nossa marca anterior, terminando em 16º colocados, com 5/2/3 medalhas (ouro/prata/bronze). Até a Rio 2016, a nossa melhor atuação, sem dúvida.
Tivemos nosso Volleyball masculino brilhando com Nalbert, Giba, Dante, Mauricio, Sérginho e tantos outros, com o ouro no peito.
Tivemos Scheidt e Grael, agora com o ouro reluzente pendurado neles.
Tivemos Rodrigo Pessoa com aquele 100% inesperado ouro no Hipismo (Hipismo? No Brasil?).
Tivemos as meninas do futebol, com Marta em campo, chegando na final e ficando com a prata.
Tivemos Leandro Guilheiro e Flávio Canto, no Judo, com 2 bronzes.

Mas, acima de todos esses nomes, pódios e rankings, tivemos Vanderlei Cordeiro de Lima: Sem sombra de dúvidas, o brasileiro que melhor representou o Brasil para o mundo nas Olimpíadas de 2004. Liderando uma prova de maratona, e perto do fim que o coroaria com o ouro, Vanderlei foi atacado por um Cristão lunático Irlandês. Perdeu tempo, ritmo, força, mas, nunca desistiu.
E mesmo ficando com o bronze, quando deveria ser ouro, sorria como um menino feliz ao entrar no Estádio onde a prova se encerrava. Um exemplo que, na época, eu não conseguia entender (por que ele não esmurrou o ex-padre? Eu matava o cara de porrada se me levasse a chance clara de ouro, como levou), mas que tocou o mundo do desporto, e fez com que o COI o presenteasse com a medalha “Pierre de Coubertin” (o patrono da moderna Olimpíada). A maior honraria que um atleta olímpico pode receber. Muito maior do que um ouro e entregue, até hoje, a somente 18 pessoas… Eu só soube disso depois, e se ele tivesse agido como eu imaginava agir, jamais teria ganhado essa honra.

2004 foi o nosso melhor momento, e eu tive a sorte de ver, tanto quanto pude, essa festa mundial do esporte.

Em 2006, o Brasil do melhor futebol do mundo, voltaria a cair para a França, com uma Seleção que, no papel, deveria ser o estado da arte. Na prática, contudo… Deu no que deu.

À essa altura, eu estava mais e mais convencido de que o futebol recebia muito amor do brasileiro, por pouco “resultado” de performance (não títulos, necessariamente, mas qualidade da exibição). Para mim, no auge da polarização, “atleta de verdade” era Vanderlei, que treinava no chão de terra, e não com as chuteiras mais caras do mundo, como Ronaldo Fenômeno.
Claro que, hoje, diante do que eu sei, percebo o quão bobo era o meu comentário: Eram todos Atletas com A maiúsculo. Por suas biografias no esporte, seus caminhos, tropeços e recomeços. Cada um, no entanto, exposto à uma realidade bem diferente de incentivo – o que não: Não pode ser colocado como culpa do atleta, em si.

Em 2007, iniciei meu treinamento no Judo, graças ao convite do amigo, Fernando de Bem, e logo descobri que aquele era meu lugar nos esportes. Eu me sentia muito à vontade (o que não quer dizer que eu era bom. Apenas que amava aquilo). Assistir ao PAN de 2007 foi um “esquenta para o que estava por vir”. É claro que eu queria assistir, muito mais pelo Judo, mas o PAN tinha uma cara de “mini-olimpíada” e, num dado ponto, eu já estava torcendo por 5 ou 6 modalidades.

Beijing (Pequim) 2008

Chegou 2008 e Beijing (Pequim, se preferirem) também. Muitas pessoas assinavam TV à cabo, para ter mais filmes, mais canais com cultura útil (o que é discutível), e etc. Eu assinei só para poder ver as Olimpíadas. Não me envergonho. Aliás, no meu primeiro emprego com carteira assinada, eu fiz questão de pagar a cara TV a cabo brasileira, com aquele salário de 622 reais, e ainda me desdobrei para aprovarem minhas férias no mesmo mês dos Jogos. A meta era só uma: Assistir o máximo de eventos possíveis.

Foi a minha primeira Olimpíada de “gente grande”. Chega da palhaçada de ter que ver a luta do Judo no quadradinho menor da tela. Chega de perder o jogo de Vôlei no meio, só porque o técnico de futebol local estava dando entrevista. Agora, eu tinha quase um canal por modalidade, e todo o tempo do mundo. Eu estava muito feliz.

E que sorte! Foi a abertura mais sensacional, megalomaníaca, alucinógena, profunda (contar a história da China… Não faltou assunto) e cara (~R$300 mi), da história dos jogos.

Em 2008, a China foi um monstro na competição, engolindo todas as medalhas que apareciam. A performance chinesa atropelou EUA e Rússia, sempre tão tradicionais, sem muito apuro.

O Brasil teve 3/4/9 medalhas, ficando em 23º lugar.
Tivemos o Vôlei femino, Maurren Magi, e Cielo, trazendo a mais dourada medalha para casa.
Tivemos a prata na Vela, no Vôlei masculino…
Tivemos Katleyn Quadros, Guilheiro e, novamente, Camilo, com o Bronze no Judo…

Enfim, 2008 foi o ano em que, definitivamente, eu passei a amar mais a Olimpíada do que o futebol. E isso apenas se ratificou nos eventos seguintes.

Londres 2012

2008 foi um ano muito difícil para o mundo. A crise dos mercados devastou o velho continente e, claro, engolfou a Grã-Bretanha e, obviamente, a Inglaterra. Não tenho toda essa memória, então, talvez esteja falando bobagens, mas, não lembro de um caso de cidade-sede dos Jogos com tantos protestos contra sua realização.
O temor do londrino era que gastassem tanto dinheiro que a cidade – que é o coração econômico da terra do Chá das 17h – viesse ao colapso financeiro inexorável.
Surpreendentemente, e em total oposição – podemos dizer: em um irônico Yin e Yang à Beijing, a abertura de Londres foi totalmente cost-smart. Os valores gastos na abertura de Londres (cerca de R$120 milhões) foram muito enxutos para os padrões Olímpicos, mas a execução foi primorosa o bastante para que os expectadores não ficassem horrorizados ao comparar Beijing 2008 (que custou quase R$300 milhões) e Londres 2012. Palmas para os britânicos.

Mais uma vez, no meu segundo emprego com carteira assinada, eu “me virei nos 30” e fiz minhas férias casarem com os jogos. Eu tinha que estar totalmente disponível para um evento que só ocorre à cada 4 anos. Pecado era não ter tempo de assistir nada.

A transmissão de 2012 foi muito mais inteligente do que as anteriores, muito embora 2008 não tenha sido ruim. No entanto, a maestria com a qual Londres foi televisionada criou, em minha opinião, uma nova marca na barra de qualidade da cobertura televisiva e jornalística do evento mundial.

Em 2012, o Brasil terminou em 22º, com 3/5/9 medalhas.
Mesmo sendo “fresco” na memória da maior parte das pessoas, relembro que Sarah Menezes trouxe o Ouro inédito no Judo.
Arthur Zanetti detonou nas argolas e trouxe a medalha dourada, também.
O Volleyball feminino de Jacqueline, Thaísa, Dani Lins, Sheila, Fabi, e tantas outras; mais um ouro.
Ainda tivemos a surpresa de Thiago Pereira na prata, com a Natação.
Os times de Futebol e Volleyball masculino, mais uma vez, trazendo a prata pra casa.
E, talvez, a maior surpresa tenha sido Esquiva Falcão, com sua prata inesperada.
Kitadai, Mayra Aguiar e Rafael “Baby” Silva, o Bronze, no Judo.
Scheidt sempre medalhando, e Cielo, também trazendo o Bronze para o Brasil.
E como não falar de Yane Marques e a inesperada medalha de Bronze no Pentatlo (Pentatlo? 🙂 )?

Em resumo, Londres 2012 foi fantástica, não por ter melhorado nossa marca no ranking, ou superado a melhor marca que continuava sendo Atenas, em 2004. Mas, foi o melhor ciclo olímpico para apresentar diversidade de esportes com potencial, e que mereciam a atenção e o apoio dos brasileiros.

Nesse sentido, eu acredito que Londres ajudou a “evangelizar” nossa população sobre a beleza de se assistir à uma Olimpíada, como nenhuma outra edição conseguiu fazer.

(Terminei de redigir esse texto às 4h18 da manhã, e ainda pretendo reler e, talvez, precise editar algo. Peço desculpas de antemão, caso tenha algum erro grosseiro de português ou de argumentação, mas, prometo corrigir mais tarde. No entanto, eu queria muito lançá-lo hoje, no primeiro horário. Daí a pressa).

No próximo post, vou falar, exclusivamente, do que vi, ouvi, senti, vivi (vocês entenderam a idéia, né?) na Rio 2016, in loco, e pela TV.

Nota em 2019, agosto: Quando escrevi esse artigo, a ideia era mesmo que ele possuísse duas partes. A segunda era para falar sobre como as olímpiadas tinham a chance de mudar a interação entre o povo do Rio e sua cidade, as possibilidades para os jovens, especialmente aqueles que costumam não ter acesso à oportunidades, eo que restou das Olímpiadas no Rio pós-2016.

Para meu total pesar, e de qualquer um que sente carinho pelos jogos olímpicos, lamentavelmente, o que restou no Rio foram escombros, e a situação apenas decaiu até o mais baixo nível de Estado. Um estado quebrado pela corrupção, fálido e estupidamente violento. Diante disso, desisti de tentar ver “o lado bom” da história porque, sinceramente, não houve nenhum. Por este motivo, não haverá uma parte II. De todo modo, o texto segue aqui, inalterado, senão por uma tentativa de melhorar o português contra o qual eu sempre peco, aqui e ali.

Vai viajar de avião, dentro do Brasil? Chegue bem mais cedo…

Pessoal, esse é um post “utilidade pública”.

Está em vigor, desde já, o novo procedimento de inspeção da ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil).

O que isso significa?

Bem, eu sempre me programava para chegar 1h, antes do meu vôo doméstico. Isso não vai funcionar mais.

Eu gastei 30 minutos a mais, só para passar pela inspeção (raio-x, revista e verificação), em um vôo e horário vazio, com baixo volume de passageiros no aeroporto.

Em horários de pico, os passageiros estão levando até 2h só para passar da entrada do aeroporto, até os gates de onde partem os vôos.

O novo procedimento inclui o tradicional raio-x da bagagem de mão, revista corporal “frente e verso”, inspeção minuciosa de todos os compartimentos das malas e mochilas levadas à bordo (eles estão abrindo todas, sem amostragem), e separação do notebook, da bagagem principal.

A operação será mantida ao longo de toda a duração dos Jogos Olímpicos e Para-Olímpicos do Rio de Janeiro.
O motivo do novo procedimento é o alto nível de ameaça terrorista ao país, por conta dos jogos.

Mais informações: http://www.anac.gov.br/noticias/procedimentos-de-inspecao-no-transporte-aereo